Terça-feira, 8.
Pelo que
vou observando, temos a geringonça no Governo e a caranguejola no Parlamento. Que
cómico país este!
- Fui levar o resultado dos exames ao
colesterol ao meu médico: “Estão muito bem”, responde ele. Discutimos um pouco
à volta disso, pela razão que ele me dizia que com a idade... etc. e tal. Se é
dos membros inferiores que me queixo, a lengalenga é: “Com esse problema na
perna!” Bom. Ponho-me a pensar com a minha cabeça onde ainda não entrou a
velhice nem qualquer tipo de coxearia, e sou levado a concluir que há muitas
vezes nas análises clínicas a tendência a propor diagnósticos baseados na
padronização. Se se é velho, logo vai um arrastão deles para um lado, como se
os velhos fossem todos iguais quando chegam à idade avançada e possuíssem todos
por igual as mesmas doenças, com os chiliques incluídos; se se é coxinho,
coitadinho, logo todos os males são jogados à conta da deficiência. Quando eu
há dias disse que tudo o que somos e contraímos está no que comemos, tinha
razão e foi essa constatação que levei ao Dr. Valente. Para mim é claro que a
velhice hoje não é a mesma de há cinquenta anos. Há no indivíduo moderno, que a
medicina trabalhou para lhe acrescentar anos de vida, uma espécie de acumulação
de vontades e conhecimentos que lutam contra a sociedade de consumo que tudo
faz no sentido contrário à ciência. A indústria da alimentação, com os enteados
supermercados, na sua obsessiva luta para ganhar à medicina e aos avanços da
gerontologia, cava no gosto e nos hábitos das pessoas a sepultura que guardará
o corpo derretido na pasta pegajosa de todos os produtos saborosos que
aniquilam os incautos. Porque, caros leitores, a cultura desde os primeiros
passos aos derradeiros, é obreira do ser humano e é ela que o mantém digno na
doença como na saúde. Viver a vetustez com ou sem cultura faz toda a diferença.