terça-feira, outubro 08, 2019

Terça-feira, 8.
Pelo que vou observando, temos a geringonça no Governo e a caranguejola no Parlamento. Que cómico país este!


         - Fui levar o resultado dos exames ao colesterol ao meu médico: “Estão muito bem”, responde ele. Discutimos um pouco à volta disso, pela razão que ele me dizia que com a idade... etc. e tal. Se é dos membros inferiores que me queixo, a lengalenga é: “Com esse problema na perna!” Bom. Ponho-me a pensar com a minha cabeça onde ainda não entrou a velhice nem qualquer tipo de coxearia, e sou levado a concluir que há muitas vezes nas análises clínicas a tendência a propor diagnósticos baseados na padronização. Se se é velho, logo vai um arrastão deles para um lado, como se os velhos fossem todos iguais quando chegam à idade avançada e possuíssem todos por igual as mesmas doenças, com os chiliques incluídos; se se é coxinho, coitadinho, logo todos os males são jogados à conta da deficiência. Quando eu há dias disse que tudo o que somos e contraímos está no que comemos, tinha razão e foi essa constatação que levei ao Dr. Valente. Para mim é claro que a velhice hoje não é a mesma de há cinquenta anos. Há no indivíduo moderno, que a medicina trabalhou para lhe acrescentar anos de vida, uma espécie de acumulação de vontades e conhecimentos que lutam contra a sociedade de consumo que tudo faz no sentido contrário à ciência. A indústria da alimentação, com os enteados supermercados, na sua obsessiva luta para ganhar à medicina e aos avanços da gerontologia, cava no gosto e nos hábitos das pessoas a sepultura que guardará o corpo derretido na pasta pegajosa de todos os produtos saborosos que aniquilam os incautos. Porque, caros leitores, a cultura desde os primeiros passos aos derradeiros, é obreira do ser humano e é ela que o mantém digno na doença como na saúde. Viver a vetustez com ou sem cultura faz toda a diferença.