sexta-feira, abril 30, 2021

Sexta, 30.

Há anos que andamos a fazer uma lei que condene os governantes que enriquecem no exercício de cargos públicos e estatais. O PS que nessa matéria é mestre e nunca quis (pois claro) abordar o assunto, vem agora dizer pela boca escancarada da senhora dona Ana Catarina Mendes, que o partido “está como sempre esteve no combate à corrupção” e que “ao longo dos últimos vinte anos o edifício legislativo foi construído sob a égide dos governos do PS”. É preciso ter descaramento! Deve ser por isso, que a procissão pelos tribunais, bem feitas as contas, é constituída mais de camaradas da dita deputada que de qualquer outro partido. E pensar eu que nos anos invocados por Madame, quem esteve no Governo e em maioria, foi aquele que recebeu 37 milhões de euros, passou dois anos a aprender francês e a tocar piano em Paris, e se pavoneia de peito inchado no paredão da Ericeira. Em socorro da dita senhora, vem também Jorge Lacão, naturalmente imaginando que sofremos todos de amnésia, dizer de sua justiça e recordando que “foi o seu partido que criou o Conselho de Prevenção da Corrupção e instituiu o crime de recebimento indevido de vantagem”. Que afinal de nada serviu. A menos que os ministros e secretários de Estado, andassem cegos e surdos enquanto o seu primeiro-ministro surripiava a tripa-forra milhões. Mordam aqui a ver se eu deixo. Que trupe nos governa, Santo Deus! 

         - A partir de amanhã acaba o confinamento. Passa a ficar tudo escancarado e, se bem conheço os meus concidadãos, o vírus vai poder circular, rindo-se dos incautos e dentro de pouco tempo a tragédia recomeça. Dizem que é forte e sólido quem for rico, mas o coronavírus mostra-nos o oposto. Do tamanho de uma pulga, enfrenta o mundo financeiro e económico, os governos arrogantes, as nações abastadas, os exércitos temerosos, os ditadores compulsivos ou simplesmente tudo o que à face da terra pura e simplesmente se move.  

         - Um terrível incidente ocorreu no sopé do Monte Meron quando decorria o Festival Lag B´Omer, um acontecimento religioso no nordeste de Israel que atrai milhares de judeus ortodoxos. Morreram pelo menos 44 pessoas e o número de feridos ultrapassa a centena. As razões da tragédia ainda não foram apuradas. 

         - Ontem meti férias. Há muitos meses que não tirava um dia de descanso. Fui ao encontro do comité central na Brasileira e, como o dia estava de estalo, por ali me quedei em conversa amena. Depois apareceu o Guilherme e convidou-nos, ao Carlos e a mim, para um almoço nas docas de Belém. Simpaticíssimo repasto, bem bebido, bem comido, bem conversado, com o rio espelhado na linha do horizonte e uma espécie de aurora humana a marcar cada palavra, cada passo, cada relacionamento. Deixei o local abastado de felicidade. 



quarta-feira, abril 28, 2021

Quarta, 28.

Agir. Houve um tempo em que nos encontrávamos no Príncipe. Eu não o conheço, digamos, pessoalmente, mas sempre que o via piscava-lhe o olho. Ele ria-se, eu idem e a vida seguia. O que me atrai nele é o seu aspecto fora do tempo, onde desaguam primitivos povos de vários continentes, encrustados na sua natureza europeia, infelizmente portuguesa, que o obriga a dar nas vistas, contra sua vontade, e é olhado pela burguesia sem cheta nem consciência do outro, diferente da ralé arrastada no padrão nacional do conformismo. O homem é secreto, discreto, sim, discreto, ensimesmado numa auréola familiar onde a arte impera e o arrasto talentoso também.  Tudo nele respira, vive e resfolega música. Há nele um talento, uma harmonia que salta da pauta musical para se espalhar em beleza e alegria, na combinação dos naipes musicais, nos arranjos do som e das notas que nos invadem o cérebro, acariciam o coração e transformam-nos em seres etéreos, sublimemente transcendentes, transmovidos para outra galáxia onde só ele é rei e senhor. Pelo menos foi isto que eu experienciei ao ver, arrepiado, o concerto que Agir deu no Cineteatro Capitólio. O objectivo foi recriar Abril revisitando as canções e os excelentes exegetas de então, entre eles o seu próprio pai, Paulo de Carvalho. Não é por acaso que digo “exegetas”. Na verdade o espectáculo, sob a batuta e arranjos e orquestrações de Agir, da sua interpretação, da forma como esteve em palco, da engenharia das luzes, das dezenas de músicos, dos muitos instrumentos onde não faltou um naipe de violinos, toda a encenação de uma simplicidade sábia, de um estalar de dedos, de uma vénia,  de uma sublimação, na simplicidade e naturalidade da maravilhosa voz do interprete e das duas acompanhantes, toda aquela mise en scene teve a dignidade, a reverência, a intimidade de uma missa solene. Agir celebrou Abril sem nunca se referir a ele, sem demagogia, centrado na arte enquanto expressão dos sentimentos humanos e, às vezes, políticos. Mas a política só acredita nela quem quer, ao passo que a Arte interpela o que há de mais profundo na natureza humana. Agir, a próxima vez que te veja no Príncipe, dou-te uma milonga que se projete para além da eternidade... 

         - Apesar, sendo quarta-feira e haver no TV5Monde um programa que não perco nunca, Des racines et des ailes, vou dar a preferência à RTP1 e prosseguir a narrativa de Vento Norte. É bem feito, de uma maneira geral há boas interpretações, a época foi bem estudada, os meninos das telenovelas com aqueles físicos de saldo, saídos das maternidades de actores e actrizes em série, mal pagos e ainda por cima com o frete de terem que passar uma qualquer vez por baixo ou por cima de alguém, estão excluídos; porque ali o trabalho é documentado, historicamente estudado e a estação quando quer ou lhe dão dinheiro até sabe fazer bem. Vou aprender a gravar o francês, mas o que não perco é o português. Enfim, por uma vez... 

         - Não saí daqui. O tempo também não convidou, céu negro, ameaça de chuva, frio, desconforto. Aproveitando o facto, estive uma hora a devastar o caramanchão junto à piscina onde gostava de instalar um banco de jardim. É um sonho que alimento há anos, mas o raio do dinheiro nunca chega. Isso, não obsta a que no verão me imagine deitado sob a sua ramagem, um livro nas mãos, uma aragem fresca, um soninho leve, um mergulho entremeado. É uma espécie de rêve dans le rêve


terça-feira, abril 27, 2021

Terça, 27.

Numa espécie de frenesi, li de uma assentada as primeiras cem páginas de Alegria. Manuel Vilas mantém o mesmo registo autobiográfico, misturando o passado e o presente, tudo articulado num intrépido esforço de impregnar de filosofia e poesia as suas páginas. É a sua marca, a sua beleza, a sua arte. Que me diz imenso, com quem sem esforço me identifico e partilho o modo de estar e aceitar a vida. Ele e Cioran comungam de uma sorte de desafio lúcido, implacáveis com a morte, sem esperar pelo fim para concluir como Filipe II quando chamou o filho e lhe diz: "Voilà où finit tout, et la monarchie.” Contudo, a Manuel Vilas, interessa-lhe o presente onde a solidão irmã da morte faz parte de cada segundo.  “Construímos a ilusão do acompanhamento. Fizemo-lo através da invenção da família, da invenção do amor, da amizade, dos vínculos incondicionais, e essa ilusão funciona bem até a idade decantar uma sensação nova: a sensação de que morreremos sozinhos, pois todos morremos sozinhos. Sozinhos estão os mares, as montanhas, as estrelas e as árvores, assim é o meu sentido da solidão: uma exaltação maravilhosa do mistério de estar aqui, na vida e na Terra.” 

         - Volta que não volta, amigos dizem-me: “Estás muito magro.” Outro dia o Simão, depois o João. De todas as vezes assusto-me e vou ter com a balança que me remete o peso do costume: 64kg. 

         - Vou, enfim, voltar à antiga vida. Apliquei-me na busca de alguém que viesse repor os canais que me alimentam a curiosidade intelectual, instruem-me, e mesmo quando me divertem, ensinam-me. Por isso, adeus porcaria portuguesa onde só entrarei acidentalmente para ver um ou outro programa; noticiários vão ser passados na TV5Monde, France 24 ou BBC. Para o resto basta-me o Público. Era assim que fazia no pico da pandemia e dei-me muito bem com o esquema. A minha sanidade mental agradeceu. 


segunda-feira, abril 26, 2021

Segunda, 26. 

O grande “berbicacho” (falando o português de Costa) que se tinha a certeza viria a transformar a TAP, não demorou a confirmar-se. De facto, o prejuízo da empresa dos socialistas chegou no final de 2020 a 1230,3 milhões de euros! Dizia outro dia no seu editorial o Director do Público que “uma reestruturação feita por um conselho de Administração de uma empresa ou por um Governo de direita é uma coisa; um despedimento assinado por um Governo e, em particular, por um ministro de esquerda é outra coisa muito diferente”. Não exemplificou quais as diferenças. Gostava de saber em quê e, sobretudo, desejava obter a resposta pela boca das centenas de trabalhares despedidos, forçados a assinar reduções salariais, impelidos a reformas antecipadas, etc. Mais adiante, continua num volte-face impressionante o articulista: “Os trabalhadores não têm culpa dos erros de gestão anteriores, nem da pandemia, nem da carência financeira do país.” Se bem me lembro o Estado tinha na administração da empresa (sempre teve) representantes seus pagos a peso de ouro, e ainda quando o senhor todo poderoso desvairadamente investiu sobre ela, os ordenados dos príncipes da industria aeronáutica nada tinham a ver com a crise da TAP e muito menos com as esmolas  dadas aos escravos ao seu serviço. Este particular aplica-se igualmente aos trabalhadores num todo, às empesas, aos reformados, aos pobres, ninguém tem culpa do vírus chinês, nem dos erros de gestão do país, dos negócios criminosos que nos arruinaram e deram milhões aos Sócrates, aos banqueiros, aos deputados-advogados, aos advogados-deputados, aos autarcas, aos gestores iluminados que ganham milhares a gerir empresas estatais falidas. Não nos esqueçamos que, em 2019, foram distribuídos lucros de milhões às cúpulas da companhia, entre os bafejados da sorte, não estaria um tal Miguel Frasquilho? Céus! É tão fácil impor ideologias com o dinheiro dos contribuintes! Amocha, miserável português! Se te revoltares podes ter a certeza que não passas de um incorrigível fascina! Cadeia com ele. 

         - Ontem, 47 anos depois de 25 de Abril, por todo o lado, ouviu-se reivindicar aquilo por que se fez a revolução. Sintomático, não é ? 

         - A marinha indonésia encontrou o submarino a 850 metros de profundidade, nas águas de Balie, depois de buscas durante vários dias. Não houve sobreviventes, os seus 53 tripulantes ficaram sepultados no mar.  

         - Observei uma cena de antologia quando abri a televisão para ver o telejornal. António Costa e o seu “ministro de esquerda” está no Norte para assistir a qualquer coisa relacionada com a ferrovia. Ontem, dia da Revolução e hoje, são cada vez mais os queridos trabalhadores ou para utilizar a terminologia de Jerónimo de Sousa, o “nosso povo”, se agigantam face os membros do governo. O chefe dos infelizes tem um papal para ler ao primeiro-ministro. Este recebe-o das mãos do contestatário e entrega-o in petto ao seu ministro das Infra-Estruturas, Nuno dos Santos, e dá meia volta deixando-o a dialogar, perdão, a enfurecer-se com o representante dos ferroviários. Costa, grande senhor, não se ocupa das minudências dos súbditos. 

         - Chove, faz frio. Todo o mar azul do céu mudou para tom pardacento e pesado. Aproveitando as primeiras horas da manhã, andei a roçar erva. Muita urtiga em volta das figueiras. Para me livrar da programação portuguesa, prossigo as buscas para encontrar um técnico de parabólicas, mas o que por aqui aparece são aprendizes de aldrabões. Hoje um pediu-me 80 euros pela deslocação, 30 por cada hora, gasolina à parte e material também. Disse-lhe não sou pago em dólares. “Pena. Daqui a meia hora estava aí.” Pois. 

A Piedade ocupa-se de passar a ferro: eu de fazer estas instalações cheias de cor onde a memória mergulha em êxtase num mundo outro...   



sábado, abril 24, 2021

Sábado, 24.
Na sua crónica de hoje, António Barreto, põe o dedo na ferida e diz aquilo que eu também pressinto estar a acontecer na sociedade portuguesa : a luta entre os políticos que entendem que só eles são senhores da democracia e da verdade e uma faixa imensa da sociedade que está farta das suas mentiras, oportunismos e privilégios. O autor diz ser perigoso este antagonismo, eu, pelo contrário, acho salutar e a democracia só ganha com isso. É tempo de dizer à esquerda que ela sabe tanto dos valores democráticos como a direita, desde que esta se inscreva na luta parlamentar com honestidade e transparência. O problema da direita é que deixou o campo vasto da política entregue às esquerdas que o aproveitam com todo o tipo de propaganda. O contraditório desapareceu, o combate das ideias idem, o campo está minado pelo radicalismo da esquerda. Grupo com meia dúzia de votos e outros tantos de pessoas, invade o espaço em guerrilha constante. O poder a qualquer preço. 

         - Reparem. Ainda nada aconteceu nem irá acontecer nos próximos tempos, mas a propaganda saiu à rua para festejar o facto de Portugal, entenda-se o PS, ser o primeiro a enviar para Bruxelas (às sete da manhã, atentem no pormenor!) o Plano de Recuperação e Resiliência. Portugal é especialista em estender a mão à esmola; no caso presente acrescido de urgência. Estamos com a corda ao pescoço, mas chui não fales nisso!   

         - Tentei dormir os meus dez minutos depois do almoço – em vão. Ao meu cérebro acudiam uma sucessão de poemas – estrofes do Canto IV dos Lusíadas, Pessoa, Manuel da Fonseca, Régio – que me desassossegaram de tal modo, me exaltaram mesmo, que me levantei para conseguir acalmar. 

         - De manhã fui ao mercado dos pequenos agricultores. O tempo manteve-se cai-que-não-cai e no momento em que escrevo estas linhas, o sol inundou o campo. Uma ténue aragem acaricia os ramos das árvores, uma porta sacudida pelo vento corta o silêncio. A Black que não tenho ainda o certeza se é donzela, dorme no sofá embrulhada na manta inglesa que utilizo para cobrir os joelhos. A noite passada acordei com frio e fui buscar um cobertor suplementar. Que mais? Shut up

sexta-feira, abril 23, 2021

Sexta, 23.

Nunca saberemos na hora da morte como reagem os agnósticos, os incrédulos, os ateus ante o que se segue. Alguns mais corajosos, contam-nos o que lhes aconteceu perante o sofrimento, a iminência do fim, a entrada naquele “túnel de luz” como me narrou o Alexandre Ribeirinho uns dias antes de falecer. Daniel Sampaio esteve em situação limite por Covid-19, e ao Expresso fala dessa experiência. Deus não fazia parte do seu convívio quotidiano até que... André Malraux que também afirmava não beber dessas águas, quando o filho morreu exigiu enterro católico “porque ele não era um saco de batatas”. Diz Sampaio: “Sempre disse que não era ateu, mas agnóstico e lembrei-me de uma frase de Voltaire que, quando indagado sobre a sua relação com Deus, dizia: `Cumprimentamo-nos, mas não nos falamos.` Eu tenho muito respeito pela ideia de Deus, não sou crente, mas confesso que muitas vezes pensei em Deus, e se Ele me podia ajudar. Tive imensa gente a dizer que estava a rezar muito por mim, eu agradecia e foi muito reconfortante. Nunca minimizei a fé dos outros e a ideia de que Deus eventualmente me poderia estar a ajudar-me foi uma ideia boa.” 

         - Este país de Costa e companhia, é um lugar que precisa urgentemente de ser sulfatado com Roundup. A erva daninha e o escalracho que tem medrado desde que os “socialistas” montaram ao poder por artes que a votação popular não lhes deu, é impressionante. Todos os corruptos parece terem percebido que é fazendo-se membro de uma tal organização, ficam com acessibilidade ao tacho sem fundo. Só esta semana a PJ andou numa roda-viva à cata de documentação que prove o que denuncias anónimas e factos concretos, confirmam. Vejamos. Só na câmara dirigida pelo bebé Nestlé, foram nada mais nada menos que sete, 7, negócios inspeccionados por suspeita de corrupção, com a assinatura de Manuel Salgado que foi quase o rei de Lisboa, quem mandava na câmara era ele, o Presidente parecia seu lacaio. (Eu cruzei-me com o homem uma vez, sob pressão do Patrício Gouveia. Fui ao seu escritório, ao Chiado, e depois de o ouvir devo ter sido o único que lhe bateu com a porta e o deixou a falar sozinho. O sujeito parecia alucinado. Mas isto foi contado em pormenor noutras páginas.) Mas há mais alastrado pela grande cidade: um prédio na Praça das Flores (julgo saber qual porque vivi anos a fio ali), a reabilitação da piscina de Penha de França (onde aprendi a nadar com a ajuda e amizade do Mário Frota), as Twin Towers  e Convento do Beato. A operação cujo nome é Olissipus, é bem demonstrativo da teia de interesses que se abrigam debaixo das asas dos socialistas. São os outros melhores, quero dizer os do PSD?, não. Claro que não. O que sei é que esta gente dá mais trabalho ao Ministério Público que toda a ladroagem que assalta galinheiros. Há seis, 6, procuradores a trabalhar em oito, 8, inquéritos sob a alçada do Departamento de Investigação e Acção Penal Regional de Lisboa. Foram feitos vente e oito, 28, mandados de busca, dos quais dez, 10, domiciliárias, e dezoito, 18, não domiciliárias. Mas a coisa não se fica por aqui: houve mais no Algarve e Madeira, quase tudo sob protecção socialista. Que diz sua excelência o imperador da cidade? “Estou tranquilo.” Ufa! Ufa! 

         - A prova de que a democracia está à venda, reside na festança do 25 de Abril. Abrigados pela Covid-19 que dá para tudo, o que resta da brigada dos “militares de Abril Sempre”, quer impor quem entra e quem fica de fora do desfile. Vai por aí mais uma diarreia de palavreado. Mas a mim, o que acho devia ser feito, era questionar o tipo de democracia que temos, contar o número de pobres, de trabalhadores que não ganham para pagar um simples quarto, dos velhos a morrer de tédio nos lares, perdão, nas residências sénior, na diferença de vida entre o cidadão comum e os senhores deputados, gestores públicos, governantes e assim. É o país real que devia descer às ruas a chamar os bois pelos nomes, e não esta velha e relha lembrança de um tempo, passada a euforia, se aquietou numa lânguida e destruidora máquina humana. 

         - Fui à pressa a Lisboa. Entrada por saída na Brasileira e logo desci o Chiado para ir à Fnac adquiri livros sendo hoje o dia deles. Comprei o último de Manuel Vilas. Alegria. Como o que li anteriormente, também neste a editora decidiu atribuir-lhe outro título : E, de repente, a alegria; Aquilo em que acredito de Hans Kung; um romance de Valter Hugo Mãe... Almocei no Vitta Roma também à pressa e regressei a casa sob ameaça de chuva intensa. Mas aqui, embora o céu estivesse pesado de nuvens escuras, ainda não choveu. São 17, 48. 


quinta-feira, abril 22, 2021

Quinta, 22.

É um despautério tomar os dias no fio tenso das obrigações. Ausente deste registo por cansaço, por medir a temperatura do tempo presente e vê-la crescer por sobre a sorte de milhões de pessoas entregues ao espectáculo do sofrimento e da propaganda mais desonesta e descarada. Já tínhamos os políticos, os comentadores, os jornalistas-funcionários, veio agora juntar-se os cientistas sabichões. Não quero encher estas páginas dessa turbamulta, do seu patuá mal alinhavado, do seu português de caserna, circunscrito a umas quantas palavras porque o seu dicionário oral é limitadíssimo. O chefe deles todos, de vez em quando, atira com uma palavra cheia, redonda, mas infeliz, para fazer figura: “berbicacho” . Vou chamar o meu amigo António Guerreiro, que há dias na sua coluna semanal no Público, a ela se referiu e ao seu autor. “(...) vem alguém que tem uma relação desastrosa com as palavras e a quem nunca ouvimos uma frase que tivesse elaboração merecedora de aplauso. Há sempre um momento na relação dos cidadãos com os seus governantes, em que se solta uma queixa radical que é sinal de que há uma separação irreversível. “Não posso mais ouvi-los.” António Costa, sejamos justos, não é desde sempre um político que dê prazer ouvir. (...) A palavra “berbicacho”pode fazer alguma coisa pelas suas debilidades discursivas, mas é preciso mais um esforço...”

         - Estive já algumas vezes no Corte Inglês e na livraria. Outro dia, o livreiro que me costuma atender, dizia-me que o best-seller de José Sócrates é um falhanço – não há quem lhe pegue. Adiantei: “Engana-se. Aqui e em todas as livrarias não vai ficar um só exemplar – ele encarregar-se-á de comprar toda a edição.”Saúdo os tipos honestos, que felizmente ainda os há. Por exemplo, José Luís Peixoto e o homem do café Mestre Rui Nabeiro. Só por isso, aconselho a leitura de Almoço de Domingo. Eu encontrei-me com o simpático gestor duas vezes: uma na companhia do Rocha Pinto e outra em Badajoz no restaurante em frente ao Corte Inglês. Estão os dois encontros narrados a páginas distantes desta.  

         - O Inverno arrependeu-se e voltou a instalar-se empurrando a brilhante Primavera. Toda a semana chuva e frio. Apesar disso, levo os dias ocupados em serviços de jardinagem e quase nada a alinhar palavras ou a ler, farto, farto. Tomemos a jornada de hoje. Cedo fui ao Auchan, em Setúbal, de seguida andei a aparar relva no espaço em frente ao salão, intervalando para fazer o IRS (à primeira, bravo rapaz!), tratar da correspondência, improvisar o almoço, dormir dez minutos, voltar ao corte do relvado desta vez em torno da piscina e... basta! Praticamente de confinados, já pouco falo ao telefone, tendo-me encontrado na Brasileira com os habitués. Ontem com a Gi que me contou que a mãe está no S. João por ter caído e desarticulado um ombro. É assim, com quedas, que todos nos despedimos. Terminei a semana passada as 500 páginas do livro de Paul Bowles A Casa da Aranha e engatei La petite Fadette de George Sand. Oportunamente falarei dele. E cala-te agora! 


sábado, abril 17, 2021

Sábado, 17. 

A única voz que destoa na loa à vida corrupta de José Sócrates, é a de a mãe de António Costa. Maria Antónia Palla, minha colega no O Século, a quem devo muita simpatia e até ternura, faz a diferença não que desdiga dos crimes, mas porque entende que o homem precisa de compaixão e justiça. De resto, tudo o que leio por todo o lado, é indignação, e aqui e ali os saudosos do PS, alguma nostalgia pelo fosso em que caiu o arrogante e patético ex-primeiro-ministro. O passado de Sócrates está morto e enterrado pelo seu presente. A Justiça que se revolta por sua causa, é mais grave e vai levar muito tempo no arrasto dos danos que o Partido Socialista terá de explicar.  

         - 3 milhões de mortos no mundo por Covid-19. Um susto insuportável! 

         - O que prepara Putin com a expulsão de dez diplomatas em resposta às sanções dos EUA, somadas à sua intervenção militar na Ucrânia onde os confrontos se preparam em grande escala? Talvez tudo isto não passe de um ensaio como diz Jorge Fernandes, a ver até onde vai Joe Biden. A seguir. 

         - É do vazio que nasce a acção. 

         - Dia admirável a lançar sobre a terra a semente de um verão promissor. Depois de uma semana com deslocações diárias a Lisboa, soube-me bem entregar-me à minha modesta vida onde as coisas do espírito ganham força e são estimulantes. Falei com a Carmo, Robert, Príncipe, António. Carlos Soares. 


sexta-feira, abril 16, 2021

Sexta, 16.

Pois lá fui ao anexo da antiga Escola Politécnica para ser vacinado. Serviço impecável, aprendido com desastres iniciais, sem filas de espera, suficientes estruturas, de modo a que a operação decorresse célere. Antes de ser inoculado, deram-me um cartão onde consta aquela primeira dose e a última. Diz-me a rapariga espanhola no seu português divertido que devo voltar no dia 13 de Maio para segunda toma. Enquanto a escuto, penso na data e em tantos outros momentos complicados em que me cruzei com os números 12 e 13, dito de outro modo, com a presença da Virgem protectora. Logo ela, parecendo ler os meus pensamentos: “É no dia de Nossa Senhora de Fátima.” Sorrio. Sorrimos os dois. 

Depois da picada da Pfizer sou conduzido ao recobro por uma rapariga que, ao ver-me sacar da mochila um livro da Poche, se mostra interessada em saber de que se trata. Falo-lhe por alto de George Sand de quem ela nunca havia escutado o nome. Ali ficamos muito tempo, com ela a fotografar a capa, a procurar no portátil informação sobre a escritora, dizendo-me que é empregada na Câmara de Lisboa e adora ler. A coisa foi tão excitante, que me perdi entusiasmado contando a vida da autora de Lélia e de perto de meia centena de livros, esquecido do que me tinha levado aquele lugar. Sou alertado por uma outra donzela simpática que em nome do bebé Nestlé, nos oferece um saco com uma pequena merenda: água, duas bolachas de água e sal, uma maçã Gália. Penso: o homem tudo inventa para conservar o posto, sabendo de ante-mão que os velhos estão em maioria no acto de votar. (Há instantes tendo-me telefonado o Príncipe, conto-lhe o que acabei de narrar, acrescentando: “O bebé Nestlé quer-nos comprar com um cabaz de coisa nenhuma e de imediato ele: “Então é melhor que nada.” Até compreendo devido às suas origens humildes – que não impediram que tivesse chegado à cátedra universitária - mas traduzem a sociedade miserabilista que é a nossa, para quem o pouco sabe a muito. É neste tipo de comunidade que os chicos-espertos progridem e exemplos não faltam. 

         - Saí para a rua onde uma chuva miúda caía. Esbarro com a pintora Graça Morais que ia entrar e depois de uma ligeira troca de palavras devido à pressa que tinha, alcanço o meu velho Alsaciana, quero dizer a paragem de eléctrico que aí existe. Como o transporte demorasse, entrei no saudoso café e encomendei o jantar. Estou a aguardar que os pastéis de bacalhau fritem, quando um rapaz de uns 18-20 anos se aproxima. Grande e descontraída conversa, com dois ou três convites a dança, simpatia a jorros, bonitinho de cara, corpo elegante e uma irresistível descontração como se nos conhecêssemos de longa data. A dada altura digo-lhe que já antes da Covid tinha fechado a loja e ele que percebia de encriptação, abriu os braços e exclamou:“Já!” 

         - O Figaro Magazine desta semana traz uma entrevista com o novo embaixador da Hungria em França. É um Habsbourg, Georges Habsbourg-Lorraine de seu nome, neto do imperador da Áustria e rei da Hungria Carlos I (Carlos IV da Hungria) e filho de Otto de Habsbourg que faleceu em 2011. A Hungria que a nossa esquerda tanto condena, tem, todavia, políticas que eu gostava de ver serem defendidas pelo BE e PCP. Como já aqui disse, tinha marcado viagem para Budapeste em Abril do ano passado e, embora tenha escrito uma série de e-mails para reaver o dinheiro do hotel, a seriedade imperou e o montante entrou na minha conta bancária, coisa que não fez a TAP tão nacionalista aos olhos do pagode da esquerda. Acresce que o seu irmão, Eduard Habsbourg-Lorraine, acaba de ser nomeado embaixador da Hungria junto da Santa Sé. É dele estas palavras que o escritor Rentes de Carvalho traduziu do semanário EW Weekbland. "O governo de Orbán tem sido ridicularizado acerca da sua política familiar, mas esta tem resultado. A Hungria sofre de uma crise demográfica e o governo tenta há anos desesperadamente para que aumente o número de nascimentos. Isso é importante para o Estado, pois as crianças são quem no futuro pagará os impostos. Desde o ano passado entraram em vigor novas medidas. Após o terceiro filho o cidadão paga um IRS muito baixo, e após o quarto filho deixa de pagar IRS para o resto da vida. Há hipotecas para casais jovens e após o nascimento do primeiro filho só se tem de pagar dois terços, com dois filhos um terço, e nada depois do terceiro filho. Além disso o casal recebe dinheiro para comprar um carro familiar e o governo paga aos avós para que cuidem dos netos."

         - Não resisto a transcrever a parte final do artigo de Francisco Teixeira da Mota, no rescaldo do caso Sócrates:“Este primeiro-ministro está a responder em tribunal por crimes graves e, por isso, não é agradável bater-lhe, antes devendo ser objecto de compaixão, mas ao esquecer-se de tudo o que ficamos a saber e ao insistir publicamente  na tese da cabala como razão de ser da Operação Marquês, atribuindo-se, assim, um estatuto público de mártir ou mesmo herói, comporta-se como se estivesse convencido que somos todos estúpidos e que não percebemos o penoso papel que desempenha na vertente não judicial desta tragicomédia: a de um pantomineiro que, infelizmente para todos nós, fez e faz mais pelo descrédito do regime democrático do que qualquer perigoso populista.”


quinta-feira, abril 15, 2021

Quinta, 15.

Ontem, enquanto esperava para ser recebido no dentista, dei uma olhada ao texto de Sócrates (Só Agora Começou) que o Filipe me havia enviado para o iphone. O homem não tem tratamento, está de todo transtornado. Logo no preâmbulo leio: “Nada possuir e a nada estar agarrado – eis a melhor posição de combate,” De quem fala o mestre do embuste? Em princípio dele próprio. E aqui se inicia uma defesa condenada ao fracasso. Porque a substância que lhe dá tálamo, é a mesma que ele diz nunca ter existido ou lhe ter interessado. A ajuizar pela vida que foi a sua em Paris (a propósito as citações na língua de Molière deixam muito a desejar e percebe-se que foram aprendidas nos cafés do bairro Latino) ou nos sítios turísticos onde gastou centenas de milhares de euros em férias de luxo, ou a vidinha de primeiro-ministro inchado de importância e amealhando milhões para poder manter a arrogância e a subordinação dos outros à sua majestosa figura. Só concordo com ele num aspecto: quando diz que Medina, qual lacaio de António Costa, foi mandado por este que governa o Partido Socialista a fazer as afirmações de ontem sobre o ex-camarada exilado em Ericeira.    

         - Com desespero, ontem de manhã, atirei-me ao romance. Há muito tempo que não nos confrontávamos, mas pouco progredi. Revi cinco páginas, corregi umas quantas linhas e por aí me fiquei. Hoje fui mais produtivo e avancei uma página. 

         - Vou a Lisboa na sequência de um contacto para ser vacinado. Falei à Carmo, António, Maria José, João, Alzira. Tempo sombrio. Céu pesado. Silêncio cavado. Vazio. Soturnidade. 


terça-feira, abril 13, 2021

Terça, 13.

Um em cada cinco portugueses é pobre. Uma vergonha que devia paralisar toda a esquerda. Porquê a esquerda? Porque ela prometeu se um dia derrubasse o sistema salazarista e marcelista e a vida alienante de então, erradicaria as desigualdades e daria à vida uma dimensão mais humana e digna. Falhou em tudo. Resta a liberdade, mas até essa vai faltando em favor dos corruptos, dos gananciosos e dos políticos trapalhões e oportunistas. A democracia toca já a finados. 

         - Vem esta observação a propósito do estudo feito pela Fundação Francisco Manuel dos Santos agora publicado sobre a pobreza em Portugal. Nele se diz que 32,9% são trabalhadores, um terço do total de pobres encolheu, pelas minhas contas, em dezasseis anos, de 20,4 para 16,2. Foi bom, dir-me-á um político perverso. Um ser humano que saia da pobreza extrema, é sempre um aliviar de tristeza do conjunto nacional. Agora, o que há repugnante, é que esta gente é pobre trabalhando. Portanto, são os novos escravos da era moderna. E para haver tanto trabalhador pobre, é porque a diferença entre eles e os ricos não cessa de se acentuar. Os que detêm a riqueza, chutam caritativamente para baixo as migalhas que lhe pesam na consciência; daí haver tanta associação disto e daquilo, tanto lar-prisão, tanta pobreza solitária e envergonhada. Esta desumanidade, passa-se diante de uma classe política e empresarial que a democracia ligada à UE desenvolveu, criando uma rede criminosa de interesses político-partidários, que nunca esteve interessada em encurtar e muito menos em a eliminar. A este quadro vergonhoso, já nem os licenciados escapam. Pelo menos 5% de indivíduos em 2016 estava na pobreza. Deste número impressionante de pobres, 98,7% vive de pensões miseráveis e passo sobre os desempregados que não cessam de aumentar situando-se na altura do estudo em 13%, muitos deles em desemprego desde a crise de 2008-2014.  

         - A trajetória da nossa vida democrática devia ser interrogada. Não há sistemas políticos sem pessoas. Mas quando observamos a organização social e política nos países nórdicos, por exemplo, verificamos que as diferenças são abissais porque é no respeito entre governantes e governados que assenta a dignidade de cada um e se exerce em consonância a democracia. Entre nós a força dos partidos é absurda. Bem sei que são indispensáveis ao exercício da democracia, mas impõem uma abrangência ideológica que abarca em si toda a vida política, montados numa luta constante “quem não é por mim é contra mim”. Estamos hoje em Portugal, como esteve uma parte da Europa no séc. XIX, quando o comunismo deu os primeiros passos anunciando a desaparição da ilegalidade revoltante da riqueza extrema a par da extrema pobreza. Por volta de 1840 Paris fervia de bajuladores do socialismo nunca exercido. Depois, veio o séc. XX que o testou e o resultado foi o desaparecimento do ser humano com identidade própria e indivisível; os indivíduos postos ao serviço do Estado; as experiências com o seu sudário de crimes na guerra Espanhola de 1936, para dar lugar a uma fantasia – o poder do proletariado. O desastre que se seguiu todos conhecemos. Hoje o comunismo carrega um enorme caixão de horrores, de milhões mortos, de campos de concentração, de “gulags”, de guerras bárbaras. Em parte alguma vingou sem que o povo fosse agrilhoado, governado por uma classe dirigente corrupta, inchada de luxo e mordomias, a economia paralisada e os direitos humanos espezinhados. O comunismo é inimigo da democracia e persiste na mente de certos românticos como um objectivo a alcançar, uma vez que segundo Marx devemos caminhar para um estado de perfeição. Por outras palavras, para algo que nunca poderá ser alcançado. Porque para que as ideias do século XVIII do Iluminismo francês, com a sua carga romântica de que a História é móvel e tende a subir em vez de descer, que decerto modo foram retomadas por Karl Marx, para que tudo isto se junte numa fórmula revolucionária, é indispensável mudar o homem. Pô-lo de fora de uma causa que deveria partir dele, é consentir numa qualquer forma de ditadura do proletariado ou outra. Percebo que a filosofia marxista deva ser estudada à luz de uma possível aplicação, mas sempre sem rejeitar a democracia parlamentar e, sobretudo, sem afastar o indivíduo da sua liberdade individual. Todos os socialistas e comunistas que conheço, salvo raríssimas excepções, são poços de contradições e desconhecimento da realidade. Muitos não passam de puros oportunistas. Portugal, quarenta anos depois da instalação da democracia, continua a sofrer da supremacia de um campo que os portugueses nunca sufragaram e julgo nunca o farão. Pelo menos nas gerações mais próximas. 

         - Escrevo estas linhas na esplanada do café ao lado da oficina que arranja o elevador do vidro que se afundou na porta do condutor. Nunca aqui estive e o que observo, em sucessivas camadas de clientes, é um mundo de gente de escuro vestida, falando um português para mim incompreensível, talvez já tocados do vinho a esta hora da manhã, que se esquece de si num murmúrio quedo no adiantado das horas. São na maioria homens sós, que fumam cigarros atrás de cigarros, encardidos de rosto, expressões paradas no fundo de abismos que guardam histórias permanentemente recordadas e logo olvidadas. O tempo acordou pesado, tendo chuviscado durante a noite, o desconforto deste café está em linha com a tristeza da clientela e do dia. Há uma napa de pobreza em cada corpo, na decoração da esplanada, no próprio ar que se respira impregnado dos vírus da indigência. Aqui toda a gente berra, porque todos são surdos e para se imporem mesclam nas cordas vocais o arrumo da existência. O ar é consecutivamente atravessado por perguntas que se perdem na viagem entre mesas, ficando sem resposta nem vaticínio, como se o que questiona falasse a si próprio do fundo de um tempo ido... (interrompido pelo mecânico informando que o carro ficou pronto). 

         - Junte-se aos milhares que reclamam justiça  petição que ainda circula. 


segunda-feira, abril 12, 2021

Terça, 13.

O artigo de José Sócrates publicado no Público de hoje é a defesa de um puro corrupto; de um gajo que tem lata para tudo e é por isso muitíssimo perigoso. Não lhe bastou uma actividade de larápio enquanto primeiro-ministro, pretende agora convencer-nos que a “Operação Marquês” é um pacto político com a direita e que foi graças a ele que Marcelo foi eleito Presidente, entre outras teses que alimentam a sua personalidade egocêntrica e delirante. Pobre connard

Eu, se me fosse dado encontrá-lo, perguntar-lhe-ia como é possível com a sua aposentação de governante, no valor de 2.372,05 €, pôde levar a vida que levou e leva ainda! Não é decerto com a venda dos seus miríficos livros, traduzidos em várias línguas e indispensáveis ao pensamento político contemporâneo!  

         - Estive em Lisboa a tratar de vários assuntos. Cheguei tarde à Brasileira e quando apareci já os tertulianos tinham debandado. O Igor serviu-me o café na esplanada e tanto ele como eu concordámos que fazia frio para desfrutar do lugar. Por isso,  levantei amarras e fui ao Corte Inglês fazer umas compras, segui depois para o Vitta Roma onde levantei o jantar e rumei a my sweet home. Tempo cinzento. Apesar de ser Abril, pedi à Piedade que voltasse a pôr o edredão na cama. A noite passada acordei com frio. 


domingo, abril 11, 2021

Domingo, 11.

A minha adolescência foi inquietada por duas guerras: as coloniais e da Irlanda do Norte. Todos os dias em casa se falava disso, todos os dias os horrores eram servidos ao jantar nos telejornais. Parece agora que temos de regresso a que dividia católicos e protestantes. Ou antes, os que queriam manter-se ligados a Coroa Britânica e os separatistas. Com o desentendimento de quem sai e de quem fica na União Europeia, os ânimos ensandeceram-se e as mortes e guerrilha acontecem como então, isto é, 30 anos depois em Belfast. Há crianças de 12 anos metidas no conflito e muita juventude parece aderir à violência quotidiana. Nestes últimos dias mais de 80 polícias foram feridos e houve várias mortes. Quem disse que a história não se repete?  

         - Assim as escaramuças entre a Rússia e Ucrânia sobem em horror. A Europa aceitou, pacificamente, a anexação da Crimeia no conflito de 2014. O pretexto da parte de Moscovo, é de que os cidadãos de língua russa na parte Leste da Ucrânia estão a ser violados. A Presidente da Ucrânia ameaça intervir e tem de pronto a resposta do Kremlin: “Uma acção militar junto da fronteira, é uma ameaça à segurança da Federação Russa.” A seguir os próximos episódios.  

         - Estive a ler o que os jornais dizem da intervenção televisiva do julgamento do Ministério Público – é sinistro. O Código Penal parece ter sido invertido pondo a salvo não só os principais criminosos, como os secundários a eles associados ou por eles manipulados. O número de processos caducados, é impressionante. Aquela manga de leis aldrabadas e veredictos em consequência, levou quatro horas a ler, e pôs a democracia de joelhos e os cidadãos atirados, de súbito, para um tempo onde os ditadores faziam as leis à medida. Curiosas a reacções do BE e PCP sobre o assunto. A mim não me enganam. 


sábado, abril 10, 2021

Sábado, 10.

Incontornável. Não pela personagem em si que é repulsiva sob todos os pontos de vista, mas porque quem esteve a julgamento ontem foi o Ministério Público. Ainda por cima acusado por um dos seus: Ivo Rosa. O juiz que dos 31 crimes cometidos, sim cometidos, por José Sócrates apenas seis vão a julgamento. A Justiça portuguesa é terceiro-mundista, alimenta-se dos pobres coitados que roubam duas batatas aqui e um nabo acolá; é construída para dar fortunas às centrais de advogados que enriquecem a olhos vistos, alimenta a classe política, particularmente o PS que nos tem dado notáveis corruptos. Desde que os socialistas estão no poder, que muitas têm sido as iniciativas para alterar a lei da corrupção e até o novo dirigente da associação de juízes, Manuel Ramos Soares, insiste em regular a fiscalização dos rendimentos dos titulares de cargos públicos, assim como o dever de justificarem a aquisição de património durante o exercício do cargo, tudo em vão. O PS não está interessado porque no seu seio há uma chusma de interesses e enriquecimento obscuros. Devido a trama em torno do ex-primeiro-ministro, se fôssemos um país democrático, seria o regime que teria sido posto em causa. Quando Portugal lá fora e a esquerda cá dentro se insurge contra a Hungria e a Polónia, devido aos direitos humanos restringidos naqueles países, devia olhar à sua volta: um país com esta Justiça que eles alimentam, não pode falar de direitos humanos. Por arrasto, o juiz Ivo Rosa, pôs nos rostos de Ricardo Salgado, Granadeiro, Bava, Vara e Carlos Santos Silva um sorriso de satisfação de orelha a orelha. O crime, de facto, entre nós compensa. 

         - A técnica da esquerda é esta: detecta-se um descontentamento, quase sempre baixos salários, e depois cavalga-se em cima. É a mesma habilidade do Chega. 

         - Terminei a limpeza do mato em frente à casa. Dia tristonho, salpicado de gotas de chuva. Fui de manhã aos pequenos agricultores. Uma nuvem de tristeza varreu o meu interior. Três horas na cozinha a preparar pratos para arquivo no congelador. Falei com a Maria José, o Nuno (sobrinho), Fortuna, Glória, um chato do banco e uma chata da loja onde fui há dias devolver a box e o dinheiro adiantado para o “técnico” que de parabólica nada percebia. 


sexta-feira, abril 09, 2021

Sexta, 9.

Francamente, desde o início, não estava interessado em me vacinar com a vacina que a UE nas contas de merceeiro quis impor aos cidadãos. Mas agora, com o número de casos infortunados, fora os que nos escondem, estou decido a fazer meia-volta no dia em que for chamado para abater o número de unidades ao stock baratinho. A trapalhada é tal e  tanta, que não podemos acreditar em ninguém e de nada serve tentar tapar o sol com a com a peneira. A França que andou muito mal no início, oferece agora a liberdade a todos e a cada um de escolher a vacina com que desejam ser inoculados. A barraca da AstraZeneca está às moscas. 

         - Ontem, quando saí do Hospital dos Capuchos, tomei um táxi que me levou ao Chiado. Curioso como sou, tento saber como vai a vida destes operacionais. O homem diz-me que está a trabalhar desde as seis da manhã e que aquele é o seu segundo serviço. Mas na véspera, depois de dezasseis horas ao volante, foi para casa com 25 euros! Pergunto por ajudas estatais, responde-me que esteve parado dois meses e que a Segurança Social lhe mandou 10 euros/mês!! E acrescenta: “O presidente da Câmara de Lisboa, prometeu ajudar-nos com 500 euros/mês – até hoje nem um tostão!” Sem palavras. É por isso que, andando cá por baixo, posso falar à vontade e com revolta apurada. Prefiro falar com as pessoas, que ler relatórios, estatísticas, números e pregação televisiva – esta gente não mente. Os relatórios são aldrabados e respondem à propaganda que está detrás deles. 

         - Hoje vou citar o meu amigo António Guerreiro a propósito do emprego do português por António Costa, de resto igual ao dos seus camaradas: “(...) vem de alguém que tem uma relação desastrosa com as palavras e a quem nunca ouvimos uma frase que tivesse uma elaboração merecedora de aplauso. Há sempre um momento na relação dos cidadãos com os seus governantes, em que se solta uma queixa radical que é sinal de que há uma separação irreversível. “Não posso mais ouvi-los.” António Costa, sejamos justos, não é desde sempre um político que dê prazer ouvir.”  E  no remate do artigo: “A palavra “berbicacho” pode fazer alguma coisa pelas suas debilidades discursivas, mas é preciso mais um esforço...” Eu digo: cultura. Ou de outro modo, é preciso abandonar a linguagem de feirante.  


quinta-feira, abril 08, 2021

Quinta, 8.

Pudesse eu contar sem ter que narrar. Ter ideias todos os dias, é um suplício. E todavia nunca conheci outro trabalho senão o que nasce no meu cérebro e se estende nos tecidos nervosos para se estatelar na página em branco. Esta é uma actividade misteriosa, que destrói a textura nervosa, alaga de insegurança os dias, mas qualifica, equilibra, dá sentido, constrói, afasta a morte e é intrinsecamente indispensável ao meu viver. É por isso sagrada. 


quarta-feira, abril 07, 2021

Quarta, 7. 

Saiu o Relatório Anual de Segurança Interna do ano passado. Nele se diz que houve um aumento de ciberespionagem “de origem estatal”, sem se explicar de que países se trata. O Público que deu a notícia foi mais além e chegou à conclusão que se fala da China e da Rússia. À primeira interessa-lhe espionar instituições de saúde (claro, naturalmente), à segunda entidades ligadas ao Estado. O que é surpreendente é a cobardia do documento todo tremeliques face a países onde impera a ditadura. Mais uma vez somos fortes com os fracos e fracos com os fortes. António Costa, às perguntas do jornalista, disse nada ter a dizer sobre o assunto. Como se vê é um homem corajoso e zelador dos interesses nacionais. 

         - No dia do Pai (parece que há um dia assim designado; quem diria sabendo que pais, avós, tios acabam nesses hospícios que crescem como cogumelos por todo o país chamados lares ou mais hipocritamente residências para seniores!) o Filipe mandou-me esta sms: “Parabéns, “pai” o Helder foi o meu pai na publicidade, foi o meu primeiro emprego, quem acreditou num puto que pouco tinha trabalhado, embora neste momento não esteja melhor a nível laboral não posso deixar de lhe agradecer por isso, obrigado, um abraço.” 

         Filipe é uma pessoa original. Se o seleccionei na altura – já lá vão vinte anos! – foi por ter visto nele um ser humano onde imperava o desassossego, a inadaptação e, naturalmente, a necessidade de trabalhar. Não me lembro de nunca o ter visto chegar à agência com o mesmo look. Todos os dias aparecia diferente: um brinco, uma écharpe, um corte de cabelo, um amuleto, uma roupa onde não batia a bota com a perdigota e um estado de alma que ora levava adiante o trabalho com criatividade e sentido, ora patinava fazendo n´importe quoi. Uns dias era o “arrancanço” total, outros uma merdelhice que me levava ao descontrolo. Hoje, casado e pai de dois filhos, com quarenta anos, permanece o mesmo que a foto documenta. Quem o contactar para o telemóvel, é recebido com esta foto que continua a marcar a sua personalidade. Viva a originalidade e a loucura! Farto de gente arrebanhada ando eu! Nunca nos separámos de vista, é leitor atento deste diário e não deixa escapar qualquer corruptela que se insinue no texto. Farto de gente politicamente correcta, subservientes como não havia tantos no tempo do fascismo, idiotas com certezas que nunca se enganam, mendigos da esmola pública, arregimentados em torno hoje da hegemonia da esquerda e amanhã da direita, tipos cheios de tiques de importância, broncos que falam como lhes ensinaram nos bairros de lata de onde emergiram para a fama da dupla vida que não os larga. 

         - António matava-me se não aparecesse à reabertura da Brasileira. Lá fui pois, segunda-feira. As mesas em frente à entrada, foram ocupadas pelo grupo de habitués: Virgílio, Maria Luísa, João, Mário (advogado) a quem abracei nas tintas para o corona com a simpática companheira, Guilherme, Teresa, Castilho e dois outros que não recordo os nomes. Havia no ar desde que entrei no comboio uma fanfarra de cor e alegria. No Chiado o movimento era corrido, o reencontro com os amigos um aceno de normalidade apesar das máscaras e da distância, do sol a encharcar os espaços e da luz do Tejo a desenhar por todo o lado a faiscante presença. Os temas atropelavam-se, a política não faltou logo sacudida como peçonha que não queríamos crescesse do lado do Corregedor. O sentimento que me assaltou e ficou, foi que todos envelhecemos um tanto. Esta malvada pandemia que nos isola e nos confina, trouxe consigo um anátema contra a vida tout court.   

         - Um pouco mais tarde encontrei-me com o Simão e juntos, saudosos dos livros, percorremos a Fnac. Simão diz-me então que continua a apreciar este blogue e sobremaneira os meus textos tocados de desespero, acrescentando que são muito bem escritos. Eu apetecia-me responder-lhe com a frase de George Sand a vida é “une longue blessure qui s´endort rarement et ne se guérit jamais”, mas outros assuntos surgem e neles nos demoramos até à entrada no metro: o Diário (integral) de Green, S. Paulo, Gide, Gabriel Matzneff. Às tantas, ante o seu ar admirado pela fluidez do que conto, recuo e digo-lhe que não pense que sou erudito, apenas um curioso e a curiosidade leva-me a todo o lado. Matzneff está em maus lençóis devido ao livro que uma ex-amante escreveu sobre a sua relação com ele quando tinha quinze anos, ele teria 35, portanto há mais de trinta anos, estando o julgamento marcado para Setembro deste ano. Acontece que o autor nunca escondeu as suas preferências por raparigas e rapazes imberbes e disso se alarga nos seus muitos diários. Não se percebe esta súbita revolta que se estende por todo o lado; muita desta gente aproveitou-se para subir na vida, gozou (espero que sim) e agora ainda acrescenta à conta bancária normalmente rapada, uma soma de números.  Matzneff, com 84 anos e uma reforma de 700 euros, sem editor (a Gallimard cortou-lhe a mensalidade e recolheu as edições), conseguiu que um único editor que mantém o anonimato, publicasse (em edição de autor) a resposta à senhora Vanessa Springora. Título: Vanessavirus (um achado!), 85 páginas, preço 600 euros. Voltarei a este assunto. Os moralistas merecem e as senhoras da emancipação feminina, também. 

O escritor multifacetado aos 84 anos 

         - Ausente deste diário para me consagrar aos trabalhos no campo. Com este tempo de céu azul como poucas vezes se vê, é de olhos postos nele que me vou exaurindo em estado de graça.  


domingo, abril 04, 2021

Domingo, 4.

No mundo de hoje, o Papa Francisco é o único que vê claro e nas suas palavras não se vislumbra qualquer espécie de facciosismo mesmo religioso. Antes do Urbi et Orbi, ele pronunciou algumas palavras e todas na direcção desse mundo sofredor: Haiti, Síria, Moçambique, Iraque, Líbano ... devastado por guerras, miséria, suor, sangue e sofrimento. Ouvi-lo é recentrar a vida nos autênticos problemas que urge tratar, encaminhar, resolver. 

         - Regressar ao interior da casa banhada pela luz cristalina da manhã e recolher-me a escutar os sons longínquos derramados nas tardes habitadas das recordações que não se contam a ninguém, tornadas segredos que as paredes guardam e o silêncio abraça até se liquefazerem num murmúrio tangível, espécie de confissão sem remissão, choro sossegado que acalma a dor e reinventa e anima a chegada de novos dias...  

         - O António ligou-me a transmitir-me estas palavras: “O João diz que te vai ligar porque tu és muito religioso.” Bom. Entretanto, recebi dois longos telefonemas: um para o telefone de casa, outro para o portátil. Quando desliguei tinha várias chamadas do João Corregedor e quando me preparava para responder, eis que o tenho no iphone. “Olha, estou a ligar-te, embora não seja católico, para te desejar um bom Domingo de Páscoa.” Depois seguiu-se a ladainha do costume. A dada altura digo-lhe que não compreendo a atitude do seu partido, ao sistematicamente votar contra o confinamento. “Sabes o partido vota contra por medo dos despedimentos colectivos. - Entretanto, morrem milhares e sofreu daqui a nada um milhão. - Tens razão. Eu quando estiver com eles vou levantar o assunto.” Acontece que, àquela gente, só lhes interessa quem pode tratar dos seus assuntos e o Corregedor ainda não compreendeu que depois de ter deixado a Assembleia onde foi deputado julgo que trinta anos, representa zero. Não lhe perguntei onde foi ele buscar aquela de que sou “muito religioso”. Se tivesse dito que não posso viver sem Deus, eu que sou um inveterado pecador, estaria no centro da verdade.  

         - Estrondoso dia de luz suave, límpida, com uma leve presença humana a dispersar-se no espaço. Ontem e hoje, graças à televisão, pude participar nos ofícios litúrgicos de Roma. Não obstante a distância, um grão de emoção e sentimento de partilha instalou-se aqui. Com ele entrou uma rajada de paz, silêncio, doce tranquilittate. Suspendo-me para ver o concerto no Arte. 


sábado, abril 03, 2021

Sábado, 3.

Vou dar a palavra mais uma vez a António Barreto que também entrou na discussão da constitucionalidade ou não do que propuseram no Parlamento as esquerdas com as chamadas ajudas sociais: “Se o Tribunal Constitucional aceitar a lei dos apoios sociais (que Costa mandou para o Palácio Ratton), estará a legitimar a incerteza do direito, a avalizar o governo da assembleia e a legitimar a demagogia. Não haveria, depois disso, qualquer razão para impedir que o Parlamento alterasse à vontade os orçamentos, decidisse gastar o que lhe apetece, fizesse demagogia eleitoral e se entregasse voluptuosamente a irresponsabilidade. A tradição de seriedade e de responsabilidade, para já não dizer de rigor, permite pensar que o Tribunal não cairá nesta armadilha.” O testo no Público continua e fecha deste modo: “Se esta lei passar e for considerada constitucional, nunca mais a demagogia (e o populismo acrescento eu) conhecerá um freio.” Como tenho escrito aqui por diversas vezes, às esquerdas ultra-minoritárias quanto pior melhor. Eles querem alcançar o poder pela destruição da Constituição que dizem respeitar, porque pelo voto têm de ficar séculos deitados à espera. Contudo, se eles têm tanto protagonismo, é por culpa da oposição que não dá uma para a caixa. 

         - Tempo instável propício, todavia, ao trabalho lá fora. Assim segui com o corte da erva daninha em frente à casa que o Raul ontem admirou e elogiou. Falei com o Virgílio, António, Gi (sobrinha), Rui. 


sexta-feira, abril 02, 2021

Sexta, 2.

O brouhaha que por aí vai por causa do Presidente da República se ter juntado à esquerda na aprovação de 40 milhões mensais de apoios sociais aos que recebem reformas de 150 euros/mês e aos que têm de subsídio de desemprego 300/400 euros, perdão, perdão, em que país pensas tu que vives, idiota, aos que, estando em casa em teletrabalho, trabalhadores independentes, sócios-gerentes, a toda essa turbamulta de gente que tanto preocupa as esquerdas nacionais, coitadinhos, subitamente a ultrapassar em miséria os milhões de velhos no limite da pobreza, de jovens sem emprego, da classe média a raiar a indigência, para não falar nos dois milhões de pobres com que a democracia nunca se preocupou. Neste indecoroso jogo político, os mais fracos não entram. A madre superiora do BE que portanto devia começar por ter atenção ao essencial, esbraceja idiotamente por valores que os seus 4% deviam conter. Quanto à querida Constituição que todos dizem respeitar, depende dos dias: em dias pares curva-se perante ela a direita; em dias ímpares a esquerda. 

         - Eu não dou importância nenhuma às teses da esquerda – têm a mesma cólera das da direita. Por exemplo, relativamente, a Hungria e Polónia, a primeira não cheguei a embarcar e a TAP, baluarte dos socialistas, quer-me dar 15 euros dos cento e tal que paguei pela viagem que a Covid me privou de realizar; quanto à Polónia estive lá há três anos e regressei encantado com o país que a nossa esquerda detesta. O facto, porém, é que vi cidades e vilas impecáveis, gente feliz, nenhum pobre a pedir ou a dormir na rua, desenvolvimento e estruturas rodoviárias excelentes, seriedade nos processos administrativos, simpatia e civilidade nas pessoas, nada comparado com Portugal que a esquerda governa há quase 50 anos. E acabo de confirmar no Público que tenho razão. Países preocupados com os cidadãos, na forma de cobertura completa, não hesitando em desobedecer à UE (Hungria), possuem, ainda por cima sem militares camuflados na sua gestão, um coeficiente muito interessante relativamente à vacinação. Por exemplo, taxa de população completamente vacinada: Hungria 7,8 %, Polónia 5,33 (apesar da desconfiança da população em geral), Portugal 4,67!     

         - Muito cedo fui ao Auchan. Avancei no corte da erva. Tomei chá em casa da Glória e deixei ao Raul uma lista de livros para que mos traga de Paris para onde parte terça-feira. Assisti pela TV a Via-Sacra de São Pedro, Roma. Faleceu a nossa amiga Madame Guyollo diz-me o Robert por sms. 


quinta-feira, abril 01, 2021

Quinta, 1 de Abril.

A par da epidemia que alastra por todo o mundo e não se vê meio de parar, outras pragas aproveitam a estupefacção dos países para os atacar. É o caso de Moçambique, aquele terno país com gente maravilhosa, que não merecia o que lhe está a acontecer. O velho Daesh que Bush filho criou (apoiado pelo corrupto e anafado Durão Barroso, entre outras quejandas criaturas) ao atacar o Iraque, decidiu dizimar centenas de pessoas e deixar sem pais pelo menos uma centena de crianças que fugiram de Palma para escapar aos combates. Aquela obsessiva e criminosa dinâmica dos jihadistas vem de longe, embora a comunidade internacional e Portugal nunca tivessem avançado para proteger as aldeias do susto da morte inesperada. Foi preciso que um ou outro estrangeiro fosse apanhado no fogo cruzado, para que a América e Portugal, enfim, olhassem de frente o drama que se desenvolvida há meses debaixo dos seus olhos. 

         - O segundo país que tem aproveitado a fundo o drama causado pela Covid-19 é o Brasil, mais exactamente o seu destravado Presidente Bolsonaro. Ou eu me engano muito, ou vai ser ele a realizar aquilo que Trump não conseguiu numa democracia robusta como a dos EUA – implementar um regime duro apoiado no Exército. Vou estar atento. 

         - Mas também a China de onde partiu o vírus. A pouco e pouco vai fazendo a uniformização política: Hong Kong, Taiwan e agora Macau. Xi Xinping ping ping não descansa enquanto não pisar com a sua bota de espinhos pervertidos, a liberdade que esses países conheceram na sua longa história. “Ver aquilo que temos diante do nariz, dizia Orwell, requer uma luta constante.”  

         - A que acrescento a Birmânia onde nestes dias as forças armadas mataram mais 114 pessoas. Em todos estes países o que está em causa é a liberdade, a justiça, os direitos humanos - matéria que o buda chinês ignora. Não calo a invasão do pacifico Tibete hoje mais uma província da China. O Ocidente não se dá conta da paciência de caracol dos chineses e acha piada a Rota da Seda que eles estão a tentar construir a partir do Oriente profundo, mas que esconde um domínio futuro. Tudo, assim como a quantidade de empresas adquiridas na Europa, a manápula sobre os seus sistemas de produção e de segurança, fica à mão do seu sonho imperialista, tudo está estrategicamente planeado. Os políticos, obcecados com poder, fingem não perceber. 

         - Com a ajuda de Putin, o ditador Lukashenko que governa a Bielorrússia há quase trinta anos, deteve em Minsk nada menos que três editores e uma centena de pessoas. Eles protestavam contra a manipulação que o sujeito fez quando das presidenciais de Agosto passado, abotoando-se com 80 por cento dos votos. Como se vê o mundo tem cada vez mais tiranos que se julgam iluminados por uma qualquer providência que os distancia dos demais. George Orwell pede-nos vigilância – acatemos o seu aviso. 

         - Todos os anos sou tocado pela raiva de ter que vender este espaço quando sinto não ter capacidade física e anímica para dele tratar. Este ano com o joelho da perna que nestes tempos de pandemia afasta os seus admiradores, homens feitos ou rapazes imberbes, todos atraídos pela sua perfeição, robustez e originalidade, andou um tempo travada de doença. Tinha muitas dores e o senhor Baker que ainda não a largou completamente impedia que puxasse pela outra que a senhoras idosas e as jovens debutantes nessa arte de expor o desejo à cupidez dos sentidos, tanto idolatram. Este ano, pois, pensava ser impossível tratá-lo como sempre o tenho feito. Mas depois (tal como acontece quando chego a Paris e sinto que não vou ser capaz de calcorrear a cidade a pé) as coisas arranjaram-se e eu voltei a ser aquele jardineiro ou lavrador que conscienciosamente trabalha o seu pedaço de terra. Assim, toda a zona à frente da casa, está quase limpa e o espaço cresceu em beleza. Bendito seja Deus! 

         - Em certas alturas da vida, caio abruptamente e nada posso fazer senão esperar que toque no fundo para depois iniciar a ascensão. Sempre assim fui e as crises existenciais, espirituais, os desânimos da vida, as descrenças pessoais afectam-me de tal modo que me vejo em mil fragmentos encostado ao desânimo que é mais forte que a vontade de me erguer. Claro que a forma como vivemos hoje me condiciona. Porque uma coisa é gostar de ser solitário e viver em consonância, outra é imporem-me essa condição. Eu sou por natureza intrínseca um ser livre, pautado por valores que outorguem na desordem do espírito, em contra-corrente com a vida comezinha, dada a valores triviais, dissecados de conjugações familiares e sociais, padronizadas por uma ideia altruísta impregnada na vivência colectiva em cujos padrões não me revejo. A fantasia guardo-a para os livros, o delírio também. Por isso, sofro de coração aberto, expondo os meus sentimentos, numa luta constante por ir mais além de cabeça erguida e coração exposto à compaixão e à entrega do outro. Este que habita em mim e o meu semelhante que é o meu íntimo complemento. Ao contrário do que diz o cascalho analfabeto orientado por doutrinas morais ou políticas, é mais interdependente aquele que se apoia na solidão construtiva sem perder de vista o outro, que o concubinato na sua essência egoísta. Há no ser solitário um mistério que inquieta não só o poder porque não o controla facilmente, como o grupo quase sempre de uma grande fragilidade e disposto a aceitar o que lhe dão. Todos os ditadores sabem isso. É mais fácil vencer um punhado de homens armados, que um ser isolado, perdido no emaranhado de um café, de uma gare, de um campo de centeio.  

         - Falei com a Annie, Corregedor, Carmo Pólvora, Alice, Francis, António. Tempo pesado. Fins de dia a puxar ao peso do firmamento, como um castigo para que nos agachemos ante a omnipresença que do alto nos vigia.