domingo, dezembro 31, 2023

Domingo, 31.

Chega dos milhares de palavras que ao longo deste annus horribilis nos trouxeram até aqui, e fixemo-nos apenas com o coração apertado de emoção neste desejo sincero: BOM 2024 para todos os que me acompanham no duro ofício da escrita.  




quinta-feira, dezembro 28, 2023

Quinta, 28.

Passa já de 21 mil os mortos em Gaza no conflito que está a estender-se por toda a região. Entre os mortos, estão para cima de uma centena de homens e mulheres que chegaram em nome da ONU para ajudar os que nada têm. Entretanto, Israel deixou de passar vistos automáticos que permitiam à organização acudir aos inocentes da guerra EUA/Israel. Talvez retaliação pela atitude digna de António Guterres. Como começou aquele inferno todos sabemos, como vai terminar ninguém sabe. 

         - Faleceu Jacques Delors. Foi um grande homem, profundamente cristão, empenhado numa UE digna em sintonia com os princípios humanos que defendia com trabalho e inteligência. Também nos deixou Odete Santos. Comunista depois do 25 de Abril, vivia aqui perto e muitas eram as vezes que nos encontrávamos. Era, como se costuma dizer, uma carta fora do baralho. Um outro óbito (tantos se vão, céus!) foi o do antigo ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble. Um tipo duro, frio, que só vergou quando enfrentou o colega Centeno. Que todos descansem em paz. 

         - Uma multidão de pobres, mais de 10 mil, fazem a caminhada para a fronteira dos Estados Unidos. É um espectáculo horrendo de se ver, o retrato do mundo dos nossos dias. 

         - Diz Santos Silva na defesa intransigente do patrão e ataque ao Ministério Público, que a este falta cultura democrática. Olha quem fala! O senhor absoluto do Parlamento, tem mostrado em muitas e muitas ocasiões, que é antidemocrata. As suas arrogantes atitudes face ao Chega, por exemplo, são disso prova que devia ficar calado. Os partidos agem como associações de mafiosos, não defende a verdade, defendem os seus interesses e correligionários.  

         - Outro dia, levei às duas vendedoras de legumes, uma pequena prenda de Natal. Eu explico. Todos os sábados, assim que me abeiro delas, saúdo-as com um nome que invento no momento – isto ao longo de todo o ano. A dada altura, uma e outra, começaram a reclamar a prenda ao padrinho e com razão. Ninguém imagina o ar, o sorriso aberto, daquelas duas mulheres. Parecia que nunca na vida tinham recebido a gentileza de alguém. Até os clientes que assistiam à cerimónia, me olharam do fundo de uma inveja perdida no tumulto dos seus pensamentos. 


quarta-feira, dezembro 27, 2023

Quarta, 27.

A exploração atingiu alturas incomensuráveis de desprezo pela vida humana. Tudo serve, tudo se inventa para que os modernos escravos se tornem internacionais. São catadupas de cidadãos para as guerras, ou para o lucro de uns quantos, que se deslocam ao serviço do capitalismo selvagem sem rosto nem identidade. Desta vez, ao que tudo indica, foi fretado um avião cheio de homens, mulheres e crianças de várias idades, todos indianos, que descolou dos Emirados Árabes Unidos  com 303 passageiros a bordo e, numa operação de abastecimento e ante denúncia, ficou retido três dias num aeroporto de França. Falava-se em tráfico de pessoas. Depois meteu-se a política e as afirmações de Daniel Ortega, Presidente da Nicarágua, segundo o qual “os Estados Unidos são um inimigo que deve ser atingido tanto quanto possível” porque “a migração é um mecanismo de política externa e ao mesmo tempo uma oportunidade económica”. De seguida a contra resposta: “O que o governo da Nicarágua fez foi facilitar o negócio de uma rede de serviços aéreos internacionais para que as pessoas possam chegar mais rapidamente à fronteira com o México e os Estados Unidos através do território da Nicarágua como uma ponte de transição.” Como é manifesto os infelizes não contam para coisa nenhuma. 

         - A Associação República e Laicidade, veio a terreiro condenar a mensagem de Natal do patriarca de Lisboa, Rui Valério. Nada disse sobre as muitas intervenções na televisão e por todo o lado de sua eminência o bispo de Setúbal. O que disse D. Rui Valério está em consonância com o sofrimento do povo e não convém à República instalada; pelo contrário, o que afirmou o bispo de Setúbal vai na linha do blá-blá político actual. É tão simples como isto. O cinismo presidencial, segue no mesmo sentido. 

         - Não olvides, rapaz. Não olvido embora não o tenha escutado. Trata-se da “conversa em família” do primeiro-ministro. Disse sua excelência, amarguradíssimo, que aquela era a última vez que se dirigia aos portugueses porque tinha sido corrido do pedestal. Quanto a mim, peço a Deus, que seja efectivamente a finalíssima propaganda, a derradeira “confiança” num Governo que agonizou na praça pública, olhando com indiferença o povo pobre e desprezado pelo socialismo à portuguesa. O Governo que vier que venha, pura e simplesmente, para limpar a sociedade de toda a podridão em que vive atulhada. 

         - Faz frio, muito frio. Tenho tudo aceso e ouço os chineses da EDP, perdão da Su Eletricidade (quando é que nos revoltamos com esta monstruosidade de nome de um ridículo sabujo), cantar em chinês, o Hino de Portugal. 


segunda-feira, dezembro 25, 2023

Segunda, 25.

Marcelo voltou à carga com a história das gémeas brasileiras - quanto mais se defende mais se enterra. Ninguém imagina como estou farto dos seus pareceres a propósito de tudo e nada, que se me tornou insuportável ouvi-lo.  

         - Percebemos melhor as razões que levaram o Papa Francisco a designar para bispo e patriarca de Lisboa D. Rui Valério em detrimento do bispo de Setúbal D. Américo Aguiar. Basta escutar o discurso de um e outro nesta quadra natalícia, para se perceber ao que cada um vem. Não é por acaso que Marcelo se foi ajoelhar na igreja de Setúbal à Missa do Galo. O beato Marcelo entende-se às mil maravilhas com o santo Américo Aguiar – ambos comungam da vaidade própria dos infelizes solitários. Por mim não quero a bênção nem de um nem de outro - satanás passeia com os dois.  

         - Quando me desloco de carro, inevitavelmente ouço a rádio. E o que escuto por estes dias, é uma avalanche incrível de canções de Natal compostas expressamente e à pressa pela chusma de cantores saídos dos concursos televisivos. Que tristeza! Que poemas pelintras, para infelizes, analfabetos e pobres de espírito! O curioso é que toda esta harmonia embrulha no mesmo doce encanto os ditos jornalistas, homens da rádio e da televisão. Está tudo em sintonia com a pobreza de espírito que alastra alegre por todo o país.

         - O último legado do PS foi a morte de uma grávida estrangeira. Alheio a tamanha desgraça, Marcelo veio mais uma vez elogiar Costa, propondo-o para presidente da União Europeia. Que susto! 

          - Quem não se recolheu em oração a festejar o nascimento de Jesus, foram os americanos e os judeus. A aliança EUA/Israel para a conclusão do genocídio palestino, não parou nunca. No dia 24 os bombardeamentos não foram suspensos e mais umas dezenas de palestinianos foram mortos. Só um ataque aéreo matou 76 membros de uma mesma família. Horror! Horror! 

         - O novo título para o romance que nestes últimos tempos me obceca: A Outra Face de Ana Boavida.  

         - Por estes dias frios de Dezembro, é à lareira que remurmuro nas tardes lentas e noites sem fim. Que conversas! Que entretenimento comigo, soltando fantasias, memórias, viajando por lugares hoje inacessíveis, num diálogo com as chamas que mesmo quando repousam nas brasas, continuam a aspergir momentos inolvidáveis de serenidade! 


sábado, dezembro 23, 2023

Sábado, 23.

A unidade desta gente que nos governa, vai desde a cor das ceroulas que usam às verdades que nos impingem. Sem esquecer o novo-riquismo que prevalece por sobre actos e mentiras, aparência e hipocrisia. Reaparece nesta dentada efectuada por João Miguel Tavares no Público de hoje e que vale ab-so-lu-ta-men-te a pena ler, o caso das gémeas brasileiras. A turbamulta que liga tudo e todos e até o nefando bispo Ornelas a este facto, no centro da qual está o senhor Nuno Rebelo de Sousa, economista, em serviço no Brasil, descendo do avião todo aperaltado e descrito como vedeta brasileira dos anos Sessenta pelo cáustico jornalista que prontamente o fotografou: “A sua chegada em silêncio absoluto ao aeroporto de Lisboa, cheio de estilo e vaidade, óculos escuros à noite, boné preto da Mercedes, mochila Monblanc de 1500 euros às costas, um homem rico que ajudou amigos ricos a usufruírem dos meios limitados do SNS - e é mais um prego na popularidade de Marcelo Rebelo de Sousa.” Eu posso afirmar com conhecimento de causa, que o pai é totalmente o oposto neste aspecto ao filho. 

         - Continuemos, portanto, no Público para registar o início da crónica de António Barreto. “O vocabulário político é reduzido e estereotipado. A oratória política é pobre e previsível. A retórica eleitoral cada vez mais enfadonha. A linguagem política tem-se transformado, ao longo das últimas décadas, numa torrente palavrosa sem significado. Os termos, as expressões e os conceitos raramente traduzem o que realmente se pensa e quer dizer, mas quase sempre o que se deve dizer e que não se pode deixar de dizer. Perde a cultura. Perde a política. Perdemos todos.” Acontece que o que está subjacente neste escrito, é que os políticos são cultos e por conveniência utilizam meios linguísticos que melhor servem a sua ambição. Ora não é verdade, caro António Barreto. Basta ouvi-los falar, para percebermos que não só são incultos como básicos. Não sabem, são ignorantes  pura e simplesmente. Apesar de sermos dos poucos países da Europa que exige o curso superior aos candidatos ao Governo do Estado. Blá-blá-blá. 

Tomei o hábito de dizer aos meus leitores como fui preenchendo os dias em diálogo com os meus amigos recentes ou de longa data durante o ano que agora finda. Portanto, aqui fica a lista que desejo possa ser aproveitada nem que seja por um só leitor.   

Toute Ma Vie (Journal 1946-1950) – (Releitura) Julien Green 

Evangelhos Apócrifos  - Tradução de Frederico Lourenço 

In memoriam – Jean Schlumberger 

Metamorfose Necessária/ Reler São Paulo – José Tolentino Mendonça 

Jardim das Tormentas – Aquilino Ribeiro 

Une Vie – Simone Veil

Bíblia (Os Livros Históricos, Tomo I) – Tradução de Frederico Lourenço

La Sérénité passionnnée – António Costa Gomes 

Un Voyaguer solitaire est un diable - Henry de Montherlant 

L´atelier noir – Annie Ernaux

A Torre dos Segredos – Edward Wilson-Lee 

Diário Inédito – Vergílio Ferreira 

Idiss – Robert Badinter 

Correspondance – Gustave Flaubert et Guy de Maupassant 

Evangelhos Apócrifos  - (Releitura) Tradução de Frederico Lourenço

Le vin, le vent, la vie – Abû Nuwâs 

48 Ensaios – Virginia Woolf 

         - Um drama terrível em Praga, nos lugares da minha perdição, por onde deambulei inúmeras vezes entre a universidade e o cemitério judaico, um rapaz de 24 anos, aluno da faculdade, matou a tiro com arma semi-automática 14 colegas. Antes de sair de casa, liquidou o pai do mesmo modo. Que dizer? Que pensar? Não se tratou de nenhum crime passional, político, religioso, terrorista. Talvez o desajuste da vida, do mundo actual onde os jovens não têm a quem se agarrar, perdidos na fantasia da Internet, que lhes dá o melhor como o pior. 

         - Ontem encontrei-me com o João e mais tarde vieram juntar-se a nós a filha e o genro na Brasileira. Bons momentos. Dali, depois de nos separar-nos, fui ao C.I. liquidar a conta do mês passado e regressei ao Chiado para me refugiar no café da Fnac para duas horas de escrita. Momentos ainda mais felizes, felizes como nenhuns outros. 

         - No início da semana almocei com o Simão. Para surpresa minha, ele vai separar-se da mulher de quem tem uma filha. Motivo: não ver nela o amplexo espiritual que ele busca e quer viver em sintonia. Não conheço casal algum que se tivesse divorciado por este motivo. Mas o que há de arrebatador na natureza humana, é a constante surpresa que nos sacode. Pela minha parte é extraordinário ter amigos assim desformatados. Se um escritor tivesse estruturado hoje uma narrativa com esta temática, todos o achariam louco ou misterioso. Ou diriam que Dostoievski estava de regresso.

         - Quando vou a Lisboa, aproveito para distender as pernas. Ontem o meu iPhone registou: 8,5 km andados; 13 lances e escadas subidos; 12392 passos, 8 horas e 30 minutos de sono. Não é magnifico? 


quinta-feira, dezembro 21, 2023

Quinta, 21.

Eu quando tenho paciência para ver os noticiários portugueses, sintonizo a SIC e no canal os comentários de José Milhazes e Nuno Rogeiro sobre a guerra na Ucrânia. Faço-o porque detesto a TVi e a RTP1 porque não suporto aquele jornalista esganiçado, que me pisca o olho como se me estivesse a engatar, ele que não faz o meu género. Contudo, a impressão que por vezes Rogeiro me dá, é a de estar ao serviço dos Estados Unidos. Prefiro mil vezes Milhazes, embora ele não tenha o dom da palavra, nem seja abonecado, mas possui a verdade como algo natural, sem floreados nem arrebites linguísticos. Os temas são o que são e de quando em vez incendiados por afirmações e naifadas certeiras que cortam a eito, sem cerimónias nem medos. O outro é um género muito meu conhecido, politicamente correcto, medindo as palavras, pesando-as até, por medo dos muitos medos que o banham. Nada nele é espontâneo, tudo é pensado tendo o pensamento centrado na sua imagem e na dos outros. Todavia, nem um nem outro, alguma vez referiram as grandes manifestações das mães ucranianas, cada vez em maior número e frequência, contra os dois anos de ausência dos maridos na frente de batalha. Elas reclamam de Zelensky não o fim da luta pelo seu território, mas a substituição por outros mancebos de modo a que os pais e maridos possam descansar e estar com as famílias que há dois anos não vêem.   

         - Julgo que foi Teresa de Sousa que incitou os seus leitores a revisitarem a propósito do estado da Europa face à perda da guerra pela Ucrânia, a ler O mundo de Ontem de Stefan Zweig . De facto, está lá tudo o que contribuiu para a Segunda Grande Guerra e lê-lo é dever de todo o cidadão consciente. Por mim já o li umas três vezes na minha velha edição da Livraria Civilização. Eis um excerto (pág. 94) para se perceber o que era o socialismo já nessa altura: “O primeiro destes grandes movimentos de massas que surgiu na Áustria foi o movimento socialista. Até essa data, o direito de voto, falsamente considerado como “universal”, era apenas concedido aos ricos (portanto os socialistas, digo eu), aos que pagavam determinada cifra de impostos. Os eleitos por essa minoria privilegiada advogados (lá está) e grandes proprietários, acreditavam sinceramente que eram no Parlamento os verdadeiros representantes do “povo” (os comas são do autor). “ O que se segue e aconselho vivamente a leitura e a oferta para o Natal, reflete muito do que nos nossos dias vemos, ouvimos e lemos, da boca desta gente quase um século depois nos governa. A obra é simplesmente fascinante. Há várias traduções no mercado. (Como verificam não digo como o amador que ganhou as eleições no PS, há várias traduções a esta parte...)    


  


quarta-feira, dezembro 20, 2023

Quarta, 20.

O legado dos socialistas comandados por António Costa:

Só na função pública, no primeiro semestre de 2023, havia 18.707 trabalhadores a recibos verdes – o valor mais alto desde 2021 quando se iniciou a publicação destas estatísticas. E lembrar-me eu do que eles, juntos com os comunistas, bramiram contra os recibos verdes!  

O número dos sem-abrigo deve ascender hoje a mais de 12 mil. Doze mil cidadãos a viver ao relento, debaixo de tendas, nas gares do metro e caminhos de ferro. Uma vergonha, um crime, de que é co-autor o amador político que os socialistas elegeram para seu chefe e antes tivera a pasta da habitação.

Sem falar do muito que eu aqui tenho trazido envolto em revolta, em descrença, em mentiras e manobras de toda a ordem. 

         - Ia-me a esquecer do saldo da COP28 que, evidentemente, não é para levar a sério e foi pastejo de centenas de cultores do clima em terras árabes que são quem mais interesse tem em abolir da face da terra os combustíveis fósseis. Quem também foi viajar e gozar do clima, foi o ainda e actual ministro do Ambiente e da Acção Climática, senhor Duarte Cordeiro. Ao cavalheiro perguntou o jornalista A.F.: Para Portugal o que muda? Resposta: “O facto de se ter conseguido uma declaração `fecha com chave de ouro a participação de Portugal na COP´, trazendo também `uma perspectiva de esperança que é muito necessária. Precisávamos deste sentimento, uma percepção global de que esta alteração de curso e esta ambição resultarão na procura destes objectivos essenciais.” Insiste o jornalista: Qual foi o nosso contributo?: “Um dos contributos importantes de Portugal, no contexto da delegação europeia, foi estabelecer pontes com outras partes com quem Portugal se dá naturalmente melhor, como o Brasil.” Perceberam alguma coisa? Eu patavina.   

         - Porque vem a calhar, aqui deixo o modo de falar de colegas deste senhor doutor que ouvi na TV esta semana: “pela aderença das pessoas... só que as pessoas queram...  Ocorre-me o português das portagens quando, referindo-se aos que nela passam com cartão, “É só para automobilistas aderentes.” 

         - Duas horas de uma dificuldade dolorosa, a luta palavra a palavra, uma depois da outra até ao final da página. 


segunda-feira, dezembro 18, 2023

Segunda, 18.

Ufa! Não volto tão depressa de carro a Lisboa. Desde o começo da covid que lá não ia montado no popó e não quero repetir a dose tão depressa. E ainda dizem que a vida está difícil, que é preciso combater o buraco de ozono e fanfarrices tais e tantas que se torna complicado acreditar em quem quer que seja. Apesar de ter escolhido o domingo para trazer a madeira do Carlos, antecipando o poderia encontrar, mesmo assim esperei um bom bocado para pagar a ponte Salazar, perdão, 25 de Abril. O pior veio depois, carregado o veículo, tendo almoçado no C. I. (outro inferno), deixado o meu artista na Gulbenkian, meti pés ao caminho. Entre a Praça de Espanha e a entrada na ponte Vasco da Gama, estive no pára arranca, cerca de uma hora! Um suplicio! Uma mezinha asquerosa do chefe do PS, eu sei lá! Justamente, há pouco, quando a Piedade chegou embrulhada numa capa de nevoeiro, estava eu a esvaziar o cofre do carro, gorro na cabeça, luvas e calças a condizer – cinco carros de mão até ao alpendre onde a empilhei a rigor. Ou me engano ou tenho lenha para mais dois anos. 

         - O que é isso ser-se velho? Quando observo os meus amigos passados dos oitenta, e vejo, por exemplo, o Carlos Soares a carregar por várias vezes o aparelho idêntico aquele que os supermercados possuem para transportarem os produtos, cheio de troncos, do fundo dos ateliers e subindo a pequena rampa íngreme até ao carro estacionado na rua, interrogo-me. Por outro lado, não tenho dúvidas que a cultura ajuda no adiantado da idade, e não é por acaso que os lares estão cheios de velhos apatetados, que decerto ainda seriam úteis se não tivessem resignado e abandonado à idade. Mesmo sabendo o que por aí vai, com os filhos a desfazerem-se deles nos lares e hospitais, julgo que a força do conhecimento ajudaria na argumentação sábia que impediria as instituições e pessoal administrativo de os olhar como coisa inútil. 

         - Nem a propósito. Ontem, quando cheguei de Lisboa, entrei pela cozinha como é meu hábito (a entrada principal foi sempre reservada à Rainha de Inglaterra quando cá vinha passar a noite) e ao atravessar para a sala de jantar, sabendo que havia um degrau que eu próprio mandei fazer para separar as divisões, tropecei e tombei. Nesse momento toca o telemóvel no meu bolso. Ainda no chão, o sangue a cair na tijoleira, atendi. Era a Gi minha sobrinha. Digo-lhe do estado em que me encontro e peço-lhe para ligar mais tarde. Fui a correr despir o anoraque e a camisa, desinfectar o lenho na cabeça, pôr um penso e uma pedra de gelo. Daí a minutos ei-la de novo. Preocupada ou dando essa impressão, quer saber pormenores. Respondo que está tudo bem, e cair é a minha profissão quase desde que nasci. E ela: “Eu se fosse ao tio, vendia a casa e vinha para a nossa beira aqui na Foz.” Cruzes! Morria no dia seguinte. 

         - E todavia. Esta manhã, já esquecido do acidente, estou a trabalhar em baixo e oiço a Piedade a chamar-me lá em cima. Pensei que tinha dado alguma queda e vou escada acima a correr. Ao chegar ao quarto, está ela com o chouriço do travesseiro nos braços espantada com o sangue. Também eu não tinha dado por isso e conto-lhe o sucedido, acrescentando que aquele mesmo degrau já em tempos me havia causado idêntico susto quando me precipitei sobre a peanha que encima o busto de um guerreiro assente em pedra mármore de um peso considerável. Nessa altura tive sorte, porque a peça em vez de me cair em cima, foi parar ao chão; desta vez bati com a cabeça na quina da base. E juntei: “Hoje vamos mudá-la da passagem para um canto da sala, não vá o diabo tecê-las.” Assim se fez. 

         - Estas minuciosas descrições, são um disfarce para evitar falar da nossa vida colectiva que eu espero não vá ser governada pela opacidade do chefe recém eleito do PS. Infelizmente, se tal acontecer, Portugal vai mergulhar no abismo e toda a choldra implementada por António Costa, vai recrudescer em revolta popular. Ele e Marcelo são cúmplices do estado a que chegámos. Oito anos perdidos, ainda por cima com maioria, os cofres cheios, dinheiro a rodos a entrar da UE, o Presidente de olhinhos ternos deleitados no menino inteligente, e vai-se a ver só nos deu barafunda, corrupção, ministros incapazes, dinheiros atirados à desgraça, o país mais pobre, trabalhadores anos a fio na rua em manifestações e greves, grávidas a usar como nunca anticonceptivos porque não há quem lhes assegure o parto assistido, as ruas transformadas em camaratas de tendas, os jovens descrentes sem terem um tecto para dormir, a vida a subir e os salários pingados, os hospitais transformados em lugares de refúgio e dormitórios dos abandonados, os reformados a pedir ajuda às instituições do passado um prato de sopa, ajuda para a renda de casa... 

         - Muito interessante o artigo de Fr. Bento Domingues no Público de ontem. Ele remata o seu escrito assim: “A Bíblia não é um manual de história, mas também não é um labirinto de enganos. Que seja a biblioteca de um povo, de muitas épocas e de diversos géneros literários, é bastante consensual entre os estudiosos. Ler a Bíblia como literatura é fundamental para não lhe pedir o que não pode dar e acolher o que ela nos oferece de maravilhoso.” É isso que eu tenho feito, na leitura e estudo dos seis volumes traduzidos por Frederico Lourenço do Antigo Testamento e do Novo, assim como aquele outro tomo, extremamente valioso que li e reli os Evangelhos Apócrifos (gregos e latinos).  

         - Está muito frio, vou acender a lareira.


domingo, dezembro 17, 2023

Domingo, 17.

O homem dito de esquerda, é o novo chefe dos socialistas. Se ele governar o país como governou a TAP, a rede ferroviária e a habitação, estamos lixados. Os trabalhadores que se preparem, porque ao ritmo que despediu centenas na companha aérea, assim fará com o resto. E quando a lei for entrave, ele modifica-a. O PCP já disse que não quer nada com ele, nada de acordos de governação, ele sabe quanto lhe custou em votos a “geringonça” e nós também. 

         - Acordei cedo para ir a Lisboa buscar uma carrada de madeira para a lareira ao atelier do escultor Carlos Soares, à lapa. 

         - Neste entretanto, enquanto nós andamos entretidos a combater o frio, a grimpar ao poder, a preparar o Natal, a galvanizar-nos com o futebol, lá longe, no seu ódio e fúria e morte, Netanyahu matou três reféns israelitas por... “engano”. 


sábado, dezembro 16, 2023

Sábado, 16.

Ontem, depois de sair do médico que confirmou o meu excelente estado de saúde, nada que eu não soubesse sendo uma pessoa atenta ao seu corpo, frugal em todos os aspectos da vida e sensível à mais ínfima perturbação, fui almoçar ao 1800 como sempre simples e bom. Dali subi a Campo de Ourique para vaguear sem destino, de modo a captar o presente invadido pelos franceses, na sua maioria na forma de negócios, mas também no cruzamento de línguas e modo de vida e algum gosto. Inúmeras são as lojas com a marca França: cafés, pastelarias, queijarias, restaurantes, talhos, com particular interesse o espaço Amoreiras Plaza. Se fui em busca do presente, perdi-me no passado. O bairro vizinho do meu (Rua do Salitre, ao Rato), que eu frequentava com regularidade, a moda de irmos tomar café à Tentadora ao sábado de manhã e ao domingo, uma cerveja à noite na cervejaria ao lado, e depois até ao Jardim da Parada a quantidade de amigos que por ali viviam: António Hermano Sarava, António Carlos Carvalho, Francisco George, a Judite, alguns colegas do jornal, a Alzira e tantos outros e outras. Palmilhei o bairro mais de uma hora, observando o contraste do moderno com o antigo, felizmente este grosso modo bem conservado, e o moderno pensado para não ferir o centenário e fui dar à Rua do Sol ao Rato, que desci a pé, parando num prédio escondido para dentro, onde o João Perry viveu e onde eu ia passar uns serões agradáveis com ele e o seu companheiro, um ginasta apessoado, um pouco mais a baixo da casa onde nasceu Afonso Costa. Quando tomei o 727 para a Avenida de Roma ia nostálgico, ensimesmado. Felizmente que parei no Frutas Almeida e o empregado meu conhecido me desviou os pensamentos para as histórias do bairro, prevenindo-me que tivesse atenção aos rapazes com “propostas esquisitas”. Não percebi nada, mas fingi que sim. Ou antes de quem tenho que me precaver é dele... Ai a vida, a vida! 

         - Esta manhã estive meia hora a decapar o gelo do carro. Parecia que tinha caído neve durante a noite. Com efeito, depois de uma semana sem acender a lareira, ontem retomei esse acolhedor hábito. Duas horas de escrita pouco proveitosas. É assim a vida de quem se martiriza pela escrita. Para longe, muito longe a sensaborona e rotineira vida dos políticos manhosos. Estou-me nas tintas para quem vai ganhar a liderança do PS. A rapariga de caixa do supermercado, perguntou-me em quem devia votar, respondi vote em quem lhe trouxe felicidade e alegria de viver. Rindo-se: “ninguém”. 


quinta-feira, dezembro 14, 2023

Quinta, 14.

Sinceramente, começo a achar que Marcelo Rebelo de Sousa está choné e é urgente que um médico analise o grau de aterosclerose do Presidente. Depois de as instituições, todas misturadas, nos terem dado o espectáculo degradante do exercício da democracia destes últimos anos, junta-se agora a afirmação do inclino de Belém segundo a qual o seu favorito primeiro-ministro é António Costa. Assim, podemos dizer, que ele é co-responsável pelo estado do país e dos portugueses, e compreendemos melhor a mão que apoiou ao longo destes oito anos, o seu “aluno esperto”. Eu se fosse a Luís Montenegro expulsava-o do PSD, porque eu já não confio na aldrabice de sua excelência “ser o Presidente de todos os portugueses”. A mim dá-me a impressão que Costa tem Marcelo nas palmas das mãos. Um dia haveremos de saber mais. Que infelicidade ser português! 


quarta-feira, dezembro 13, 2023

Quarta, 13.

Comecei as quatro primeiras horas do dia e ler os 48 Ensaios de Virginia Woolf editados pela Relógio D´Água e as duas últimas no romance. Que me correu melhor que ontem, tendo avançado página e meia. Se conseguisse este ritmo diário, terminaria a obra a meio do próximo ano. Mas...

         - Hoje voltou a falar-se muito da semana de quatro dias de trabalho. Não sei se é para puxar por algo feito pelo governo PS, se para abrir caminho à modernidade que comanda a ociosidade numa altura em que o trabalho (ou a falta dele) está pelas ruas da amargura. Como disse atrás, devo ter sido o primeiro a incentivar esta organização laboral. Fi-lo em 1985 no começo do Verão e estendi-a até quase ao fim daquele ano. A experiência que tive foi desoladora. Porque uma empresa é como um puzzle que funciona agarrada ao todo. Como a Esfera Publicidade era a única que trabalhava neste contexto, depressa os seus clientes começaram a debandar porque não tinham resposta na hora aos problemas que urgia resolver. Alguns chegaram-me a dizer que eu era mais poeta que director empresarial. Daí, a pouco e pouco, foi ficando dentro da empresa um ou dois empregados para assegurar o que viesse. Todavia, as evidências estavam à vista: o método só podia operar, se todos os nossos clientes fizessem o mesmo. As regras do jogo foram alteradas apenas num dos lados e, evidentemente, a máquina começou a emperrar. 

Embora hoje com as modernas ferramentas que nem sempre agregam ideias e métodos de trabalho à distância, sou, contudo, levado a aceitar que algo mudou ou pode mudar desde que a sociedade encare o trabalho irmanado com a justiça social. O que temo, para ser franco, é que a generalização deste método, vá criar ainda mais injustiça, técnicos ricos a par de escravos sem poder nem conhecimentos no uso das novas tecnologias. Os nobres que manejam algoritmos, câmaras acopladas para reuniões à distância, e toda essa parafernália de saber que acompanha a IA, se transforme numa afronta à outra metade da população analfabeta e sujeita a treze horas de trabalho diário como foi o caso dos condutores de pesados. Sem falar na urgência de mais trabalho. O país ficou parado nestes últimos oito anos, o desemprego cresceu embora haja muita artimanha a dizer que foi erradicado do tecido social. Só com trabalho podemos sair desta condição de pedintes, a viver de esmolas enquanto país da UE e enquanto povo do Estado. Não há riqueza, não há desenvolvimento industrial e científico, mas pode haver estas fantasias de esquerda: uns a trabalhar quatro dias por semana e os demais 9, 10, 11, 12 horas/dia. Temos os governantes que temos, mas encaremos de vez a realidade: esta gente pensa nos seus interesses, são elites mafiosas que vive num casulo de cumplicidade e honrarias, corrupção e indiferença pela dignidade dos seus concidadãos. E não me alongo mais. Ainda que vislumbre ao longe uma psicose do tempo vazio a invadir as vidas tristes dependentes da indústria disto e daquilo, ansiolíticos e mezinhas que atenuem o forçado e decretado dolce far niente.


terça-feira, dezembro 12, 2023

Terça, 12.

A escrita é feita com nervos e emprego de toda a energia que o seu autor puder e quanto mais revoltada, espontânea e impulsiva for, mais verdadeira é. Estas páginas são disso prova. Se alguém me ler daqui a meio século, constatará isso mesmo. Há em todo este trabalho dúvida, incerteza, desespero, alguma raiva, mas também ternura, fragilidade, exposição por vezes descarnada, impropérios, insubmissão, independência, liberdade e revolta. Um exemplo. Quando digo que os partidos me parecem clubes de mafiosos, é porque os vejo a tratar dos seus interesses à socapa e nada da população pobre, marginalizada, sem respeito nem dignidade; milhões dos seus impostos esbanjados em projetos megalómanos, e o essencial, o primário da existência respeitável e humana, pura e simplesmente ignorada posta de lado como coisa supérflua. 

         - A guerra EUA/Israel acabará quando nada houver para destruir, quando todo o território palestino estiver reduzido a escombros. Talvez até o chefe máximo e construtor do crime da matança dos jovens israelitas liquidado, mas o ódio contra o povo de Israel perdurará no fundo da terra onde o sangue árabe foi derramado e onde vidas humanas sem vala foram abandonadas. Cito Carmo Afonso no Público do fim-de-semana: “Cada bomba que Israel lança sobre a Palestina é uma semente para a próxima guerra. Cada uma das crianças que sobreviverem está carregada de revolta e raiva. Ninguém, no seu perfeito juízo, pode acreditar que a continuação destes ataques que matam civis indiscriminadamente representa um caminho para a paz.” 

         - Manhã extremamente árdua de trabalho, cada palavra arrancada a saca rolhas e ao cabo de duas duras horas, apenas meia página os meus olhos encontraram no ecrã do computador. 

         - Quem o viu e quem o vê! Refiro-me ao senhor António Costa. Longe vão os tempos em que sua excelência atirava à multidão invejosa e ávida de poder: “Tenham paciência, ganhei a maioria, têm que me gramar.” Hoje é vê-lo carpir as mágoas, humilde, choroso, magoado, defendendo-se do mesmo modo como outros camaradas o fizeram, sabendo que o povo aprecia a lágrima fácil, o tom submisso, que normalmente dá votos e o coloca ao nível da plebe. Nisto o homem é mestre, é esperto e tem lata suficiente para a representação.


segunda-feira, dezembro 11, 2023

Segunda, 11.

Quem ouvir o homem dito de esquerda do PS e candidato a primeiro-ministro (cruzes!), pensa que o sujeito enlouqueceu, pois todo o seu discurso é de quem nunca teve pastas governativas, nem o seu partido acabou de ser corrido por indecente e má figura. O camarada Luís Carneiro, dá-me ideia que me leu, pois há uns dias que mudou de ângulo e passou a atacar frontalmente o ganancioso por poder. Ele e Costa deixaram o país na completa anarquia, voltado do avesso, mais pobre, sem autoridade do Estado, as instituições desacreditadas, não sei quantos ministros e secretários de Estado corridos por corrupção e negócios aldrabados, investimentos malbaratados, paralisado, os portuenses abandonados à morte por falta de assistência médica, habitação, dignidade. A este quadro sinistro nunca visto depois do 25 de Abril, vem juntar-se a vingança sobre o Chefe de Estado, com a choldra das cunhas para as gémeas brasileiras, num cenário do mais puro salazarismo. 

         - Esta gente não é para levar a sério e deve ser corrida o mais depressa possível, tal como aconteceu em França e está a suceder um pouco por toda a Europa. Já não há pachorra para a falsa ideologia de esquerda, que leva infelizmente aos extremos de direita, e empurra os cidadãos para a miséria. Veja-se o caso do Ministro da Educação. Levou anos a dizer que o que pediam os professores (os tais 6 anos, seis meses e não sei quantos dias) seria a ruína do país; agora, encostado ao cavalheiro de esquerda do seu partido, já admite fazer aquilo que tanto sofrimento causou aos professores, alunos e famílias e prejudicou o ensino ao ponto de Portugal ter sido apontado no estudo PISA como o país que mais baixou em várias matérias. Terá alguma credibilidade um parido destes? Vale a pena fazer confiança em tipos que só vêem o poder e nenhuma importância dão às pessoas como prova mais esta: os médicos se querem auferir 3000 euros por mês, têm de cortar nos exames e medicamentos aos seus pacientes. Que merda socialista é esta, hei!  

         - Esta manhã, deu-se o caso de ter ido fazer um electrocardiograma que a minha média ordenou. A coisa faz-se em cinco minutos, mas ao fim de meia hora ainda eu esperava pela assinatura da douta médica dona da clínica. Uma hora depois, investi sobre as funcionárias alertando-as para o ridículo da situação. Elas, coitadas, nada podiam fazer porque sua excelência estava a atender duas doentes no seu gabinete. Ameacei não voltar lá mais. O curioso foi ver os outros mansos utentes satisfeitos com o meu protesto. A um perguntei: “Porque não se indignou?” Encolheu os ombros. Este quadro é típico dos portugueses, vem de 50 anos de ditadura, e serve hoje às mil maravilhas a dita democracia. 

         - O país é governado por uma clique de iluminados, comadres, filhos e afilhados, camaradas e amigos. Ontem, esperei para ouvir o que tinha a dizer aquele senhor baixote que parlamenta na SIC, sobre o caso das duas crianças brasileiras. Eu sabia que em primeiro ele iria proteger o seu amigo Marcelo Rebelo de Sousa e foi isso que aconteceu. Por muito que ele tente manobrar o assunto, para mim ficou claro que Marcelo intercedeu pelas crianças, directa ou indirectamente. Aliás está em consonância com o seu modo trolaró de dizer e fazer as coisas. Não o fez com intenção aceito, mas que o fez não tenho dúvidas. Daí que o então secretário da Saúde, que eu tanto estimava e me parecia uma das poucas pessoas sérias do Governo, dizer, como fazem os políticos acossados pela verdade, que não se lembra de nada.


domingo, dezembro 10, 2023

Domingo, 10.

Enquanto por cá aquele que não tem capacidade de diálogo e provou-o quando quis impor a construção do aeroporto em Alcochete e a Câmara da Moita recusou por a lei obrigar ao assentimento de todas as câmaras intervenientes, logo declarou: “Altera-se a lei.” É bom recordar que ele é o mesmo que se diz tolerante, dialogante e nada, absolutamente nada, radical. Morde aqui a ver se eu deixo. 

         - Na guerra EUA/Israel o número de mortos atingiu número criminoso de 18 mil. Uma vergonha que dá força ao HAMAS e aos governos extremistas que cercam a zona. 

         - A desbunda acontece ao domingo. Daí que tenha consagrado à cozinha um tempo largo. Sobretudo porque fui outro dia almoçar com a Alice na sua bela casa de Caldas da Rainha um delicioso polvo. Logo lhe pedi a receita e experimentei fazê-la com os dotes que Deus me deu que nesta maneira são poucos. Aqui vai como o confeccionei. Comecei por retirar o bicho do congelador e metê-lo ao lume a cozer com uma cebola. Quando esta ficou cozida, o octópode estava pronto e macio. De seguida, fiz um molho de azeite com alho e untei o peixe para o levar ao forno com meia dúzia de camarões dos grandes. Ao fim de trinta minutos a 180 graus, retirei-o do forno e com arroz de ervilhas sentei-me à mesa. Acompanhei o petisco com um vinho francês Château La Haute de 2012, medalha d´oiro., seguiu-se queijo (Bûche de Chèvre), laranja daqui, café com uma azevia. Voilà. Até domingo. 


sábado, dezembro 09, 2023

Sábado, 9.

A chacina de palestinianos (na sua maioria crianças e jovens) vai continuar graças à dupla EUA/Israel. Os primeiros porque sempre adoraram estar envolvidos em guerra desde que não seja dentro do seu país; os segundos porque essa sempre foi a sua vocação e a crueldade está-lhes na massa do sangue. António Guterres que eu até aqui tinha achado um homem fraco, cresceu ao acordar o mundo para os actos criminosos que estão a ocorrer na Faixa de Gaza há já dois meses. Para isso aplicou o artigo 99 da Carta das Nações Unidas logo boicotado pela América, com abstenção do Reino Unido e a votação concordante de todos os outros membros. E deste modo, siga o autêntico genocídio até à derradeira criança palestina. 

         - Parece que a corrupção tem hoje o seu dia de honra. A Polícia Judiciária informou que levantou nos últimos anos, 900 processos por corrupção só às autarquias! De resto, vistas bem as coisas, os tribunais só quase laboram com processos de políticos e gestores marotos e gananciosos. Os actos de delito comum, desapareceram. O ladrão é agora o finório que foi a correr preencher a ficha do partido, aí lutou um pouco, gabando este e aquele, a lábia fina e contornada, de forma a agradar aos que chegaram primeiro que ele. Os partidos são quase uma escola de bem rapar o tacho público. 

         - Costa e os outros que foram corridos, andam numa fona a descerrar lápides por tudo quanto é sítio. Querem deixar obra que não fizeram em oito anos de poder. Com as devidas diferenças, parecem o Almirante Américo Tomás quando fardado e acompanhado dos seus súbditos, ia realizar os mesmos gestos.  Com uma diferença, sendo velhote, não suportava mais que uma acção por dia... 

         - Ontem no metro do Marquês de Pombal, entrou um jovem de uns 18 anos, rosto bonito, cheio de acne e físico bem lançado, que se sentou na minha frente. Reparei que trazia um rosário que foi rezando até à Avenida de Roma. Aquele contraste entre as suas preces e o desassossego que ia na carruagem e estações, a que se juntava a sua aparência, onde o demónio trabalhara uma sensualidade transbordante, fazia estremecer o mais empedernido beato. 


quinta-feira, dezembro 07, 2023

Quinta, 7.

Que confiança, que certezas, que futuro terá Portugal com a degradação a que chegaram as instituições-chaves? Só faltava a Presidência, que até aqui havia sido mais ou menos fiável, ter entrado também na bagunça começada com a maioria PS. Qualquer país africano ao lado do nosso, suplanta-nos largamente em idoneidade e honestidade. Chegámos ao fim. Temi quando Marcelo, referindo-se ao filho como “o Dr. Nuno Rebelo de Sousa, meu filho”. Fui ver se homem era médico – nem por sombras. Daí que a referência ao doutor da mula russa, era mais uma saloiice que para mim o enterrou. Não tenho dúvida que o Presidente da República intercedeu para que a nacionalidade das duas crianças brasileiras passasse à frente de tantas outras; que o medicamento que nos custou 4 milhões de euros foi prontamente administrado quando outras crianças (uma nos Açores) aguardavam pelo tratamento. Sim, Marcelo, à boa maneira portuguesa, meteu a clássica cunha – um crime que não pode ficar impune. Portugal, ao contrário do que nos impingem, não mudou. São os mesmos hábitos de importância e superioridade que uns quantos exercem sobre a maioria como no tempo do fascismo - o país é deles e nós somos os seus lacaios. E fez-se uma revolução para chegarmos a esta miserável situação. Meninos, bico calado quanto ao 25 de Abril sempre. É por estas e muitíssimas outras que o Chega vai liderar o país. A culpa é apenas vossa. 

         - A propósito da moda IA. que põe os pategos babacas, estas palavras do filósofo José Gil: “Temos de admitir que as máquinas não sabem e não podem criar. Poderão reproduzir obras aparentemente originais, mas faltar-lhes-á sempre a fonte de onde nasce a singularidade. Essa fonte é a indeterminação infinita, quer dizer o caos que dá vida à obra.”

         - Já agora. Outro dia na Fnac, peguei na tradução de uma obra de Gustav Flaubert. Ao ler umas quantas páginas, cheirou-me a esturro. Não as reconheci como sendo do autor de Madame Bovary. Chamei a minha amiga que sempre me atende e dei-lhe nota da impressão que acabara de viver, resposta: “Pois. Essa colecção vamos deixar de vender. Eles utilizam um corrector do ChatGPT. 

         - Disse à Annie que conto voltar em breve a Salamanca onde estivemos juntos em Maio no regresso a Paris, e logo ela começou a chorar lamentando a minha ausência no mês de Outubro como era habitual. Pobre amiga. 


quarta-feira, dezembro 06, 2023

Quarta, 6.

Como finda a manhã de três horas de escrita? Dou hoje um exemplo. Ana Boavida acaba de chegar a casa depois de enterrar o pai, desembaraçar-se dos negócios paternos e voltar à sua vida quotidiana... Eis a página escrita de hoje.. 

         - Ana Boavida deixou-se ficar colada ao maple, o olhar vidrado que não deixava ver a vegetação que bruxuleava para lá das vidraças. Num segundo interiorizou que a sua vida tinha caído num abismo, do lugar onde outrora a juventude tinha acampado, restavam os esqueletos de um mundo perdido algures na vastidão desmesurada da memória. A casa, aquela onde tudo havia começado, era a esquife que haveria de a sepultar. E com ela os rumores, os suspiros de felicidade ecoando nas noites brancas, os raios de sol viajando pelas lombadas dos livros, descendo das telas e redesenhando as personagens que pintores de várias gerações cunharam com ousadia e génio, todo aquele interior que levou anos a expandir-se, com a ajuda sobretudo de Rodrigues Santa Clara, estava como ela condenado a desaparecer.  Talvez a luz – pensava -, o silêncio, as sombras, os segredos, tudo o que ficou por dizer planasse no universo que não se situa em parte alguma, ou estará fixado no veio adâmico dos primeiros tempos do mundo.  

         A verdade é que a vida encarrega-se de se ajustar às mudanças não só dos momentos de felicidade, como dos que surgem do nada e se tornam vá-se-lá-saber porquê alçapões de morte. 

         No caso de Ana Boavida, algumas semanas depois de ter deixado para trás o seu papel de empresária, e tendo-se ajustado ao quotidiano sombrio da sua habitação no número 13 do beco Alexandre Ribeirinho, ainda mais triste pelo facto de Kivine permanecer em Marrocos e Fabrizio se ter tornado um jovem introvertido, solitário e ríspido de relacionamento, num  serão que se preparava para passar só, abandonada aos seus autores, o portátil sacudiu-a quando tocou no tampo da secretária onde ela o havia esquecido há alguns dias por inútil. 

         Ana levantou-se enfadada do sofá da entrada, percorreu o salão em linha recta, entrou no escritório e mirou o aparelho que vibrava ligeiramente sobre a mesa. Olhou e tornou a olhar, tentando interiorizar de quem seria aquele número que não estava na sua agenda electrónica. Sentou-se na cadeira, continuando a ouvir a campainha que incansável chamava por quem hesitava em atender. Por largos momentos, ali ficou a olhar o jardim através da janela que tinha na frente, deixando-se embalar por aquele ruído que no silêncio da casa era a companhia que ela tanto necessitava. 

         Quando, de repente, o telefone deixou de chamar. Ana sentiu a dor invadir-lhe o coração, um sentimento de desespero contornava-a, paralisando-a num remorso quedo. A culpa de não haver vencido o desconhecido, cavalgava por todo o seu corpo agora alongado no sofá. Pensava que quem quer que tivesse marcado o seu número, seria bem-vindo, anjo ou diabo, porque a imensa solidão que carregava depois da morte do pai e da partida do filho, era o começo da noite escura a derramar-se sobre os dias provir. 

         Mal se tinha sentado no salão, o telefone voltou a ecoar na casa vazia. Uma vez mais vacilou em ir ver quem a chamava agora. Um impulso misterioso contudo, levou-a de retorno ao escritório onde o mesmo número piscava no mostrador. A medo tocou no botão e ouviu uma voz que não lhe era de todo desconhecida. 

         - Ana, daqui Santiago, Santiago Afonso, o dono do carro que o seu filho abalroou.   

         Ana Boavida abriu o semblante como uma papoila ao romper da manhã, respirou fundo e pela primeira vez depois de um ano, um enorme sorriso de contentamento encheu o seu rosto como o corpo todo. 


terça-feira, dezembro 05, 2023

Terça, 5.

Para se ter uma ideia do mundo actual e do perigo catastrófico que corremos, basta olhar para o comportamento dos que o governam. A moda, enterradas as ideologias, é combater as alterações climáticas, a redução dos combustíveis fósseis e assim. O summing up das múltiplas reuniões, os gastos monumentais com as mesmas em deslocações de avião, carros, barcos, hotéis, e toda a parafernália logística, em vez de melhorar o Planeta, contribui para que seja mais poluído com a quantidade de CO2 emitidos por aqueles que o dizem defender. Depois, sobram as conveniências do mundo político dos nossos dias, onde todos se combinam para a desgraça. O caso do Sultan Al Javer, presidente da COP28, é disso paradigmático. O homem é diretor executivo da petrolífera estatal da Abu Dhabi Nacional Oil Company, portanto com interesses e negócios à altura e não gosta de ser questionado por alguém dos países democráticos e responde com arrogância e poder deste modo: “Não existe nenhuma ciência nem nenhum cenário que diga que a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis (lá está) é o que vai permitir atingir 1,5 C de aumento da temperatura média global.”  Pergunta-se, como pode uma cabeça destas, estar à frente de um encontro que quer obrigar os países a tudo fazerem para proteger a Terra. Mais: o Centre for Climate Reporting, com a BBC, revelaram que o mesmo Al Javer tinha planeado uma série de encontros à margem da cimeira para negociar alguns acordos de novas explorações de gás e petróleo. Dá para confiar nesta malta? Não dá. E na volta quem se lixa são sempre os mais frágeis que precisam, por exemplo, do carrito para ir trabalhar, enquanto a grande indústria disto e daquilo, prossegue na obsessão do consumo e dos lucros daí resultantes. 

         - O ciclo de António Costa (desculpem insistir) foi um pandemónio como nunca se viu em democracia. A nulidade da excelência e seus acólitos, a arrogância, o gozo do poder com desprezo absoluto pelas pessoas, a falta de coerência nos gastos, a propaganda de feira todos os dias no ecrã de televisão; enquanto a retaguarda, o país real, estava abandonado à sua sorte, ao abandalhamento das estruturas médicas, de ensino, habitação, administração pública, transportes vivendo aos trambolhões deixados para trás. O reflexo dessa não política, está por todo o lado. Mesmo aqui proliferam de súbito casas-barracas, os pequenos terrenos onde mal cabe uma tenda, ocupados para levantar quatro paredes cobertas por um tecto manhoso, como aqueles que eu vi nos anos Setenta no bidonville de St. Denis, em Paris, quando lá fui fazer uma série de reportagens para o jornal A Capital. Tudo serve para sacar um punhado de euros e nem a Câmara escapa por em vez de travar o desastre, toma o seu tempo, deixa crescer o monstro e depois aparece para aplicar a multa e deixar prosseguir a obra. Mas há mais: aqui, alguns proprietários de vivendas com garagem, decidiram alugar o sítio do automóvel por seiscentos euros/mês e há até o caso de um sujeito que comprou um autocarro e o transformou para residência dos que não querem dormir na rua. Obrigado, António Costa. Se te resta algum gomo de socialista, pede desculpa ao país e vai à tua vida. Esfrega-te nas poltronas em Bruxelas, incha de orgulho, lava-te numa banheira cheia de notas de banco, refresca-te com champanhe francês que eu, mesmo não gostando de aguardente, vou-me emborrachar todas as noites com ela...


segunda-feira, dezembro 04, 2023

Segunda, 4.

Chamam-lhe “professor” e não sou eu que vou alterar o posto atribuído. Porque sua-excelência-professor-doutor-economista-presidente Cavaco Silva, no artigo do Público de hoje, ao atirar-se às “contas certas” do Governo socialista, fá-lo com maestria. De facto, lemos a sua prosa, ficamos a saber um pouco mais de como se deve fazer o Orçamento do Estado. Ele ataca António Costa e o seu sacristão da economia, considerando uma “armadilha” a treta das contas certas que o Governo exibe como a sua jóia da coroa. Certo o homem é viperino, ácido, vingativo mas não deixa de ter razão. As “contas certas” foram a armadilha socialista para desviar a atenção dos graves problemas do país. Sim, foram. Todavia, tudo isso já pouco interesse tem, dado que o ritmo que as coisas tomam, tudo tem importância e nada se retém do que essencial passa de Governo em Governo. Lembro-me, sobretudo no final do seu segundo mandato, quando ele apregoava que Portugal era um país sucesso, e as empresas caíam como tordos umas depois das outras. 

         - No outro lado do baile mandado, Ana Gomes, com quem noutros tempos gostei de dançar, pisa-me hoje os calos seja em que dança for. Diz a ilustre senhora que “o PS precisa de uma ruptura geracional e no modo de fazer política”, mas apoia Pedro Nuno Santos sem nunca explicar o que o distingue dos outros dois candidatos à presidência do partido. Ora, eu conheço alguns socialistas, e quanto às novas gerações pergunto à socialista Ana Gomes se me posso rir. Da boca de um ou outro, ouvi eu dizerem aos filhos que se apressassem a acabar os cursos, pois os seus camaradas bem colocados que lhes poderiam arranjar bons postos, estavam na iminência de entrar na reforma. Não entende a ex-governante, que isto está tudo minado e a prova começa logo na forma como Costa correu com José Seguro. Estamos conversados? 

         - Eu, francamente, não vejo grandes diferenças entre José Luís Carneiro e o outro (o terceiro morreu à nascença), à parte aquela campanha “à americana” de Carneiro, andar a arrastar a mulher (perdão a esposa) para todo o lado. A simpática senhora, coitada, não diz uma palavra, esboça de quando em vez um sorriso tímido, e não se percebe o papel que ela representa na cena teatral do seu gentil esposo. Jose Carneiro, não conseguiu ainda descolar; o outro é mais agressivo e convence os papalvos que se deixam facilmente convencer, porque em verdade tanto se lhes dá um como o outro. 

         - O corrupto primeiro-ministro de Israel que esteve hoje a contas com a justiça, ocupou o Sul de Gaza bombardeando a torto e a eito, morra quem tiver que morrer, que no fundo isto não é gente, é gado. A vice-presidente democrata dos EUA, numa alocução firme, já veio avisar Israel que Biden e os americanos não gostam do que vêem. Esperamos pelo que vem a seguir. 


domingo, dezembro 03, 2023

Dezembro, 3.

Larguei a conversa de café para chegar a casa a tempo de assistir à missa dominical. E quem me sai ao caminho? O cónego Tony dos Açores com os seus tiques e validades habituais, em tudo idênticas ao seu colega bispo de Setúbal, D. Américo Aguiar. Fugi. 

        - Nestes últimos três dias, vieram espreitar este blogue, mais de trezentas pessoas! Surpreendente! Um susto! Decerto foram atraídas por alguma nota em algum jornal e não permanecerão como leitores fiéis. Contudo, senti medo e não queria acreditar – sou por momentos vedeta dessa obscura teia do disse-que-disse chamada Internet. Burrrrrrrrr! 

         - Num país de pensionistas e funcionários públicos, quem é que realmente arrisca? – “pergunta João Miguel Tavares no Público de ontem, para concluir – Os políticos gritam tanto mais contra os radicalismos de PSD e PS quanto mais deixam de acreditar na possibilidade de alterar o estado das coisas. Num país envelhecido e dependente, a mudança mete medo. (...) Mas se os partidos tratam o país como se fosse um lar de terceira idade, então é ridículo fingir que ele é um antro de pervertidos radiais.” 

         - Soubemos agora pelo The New York Times que Israel sabia dos planos do HAMAS para atacar o país. Netanyahu ignorou-os por conveniência política e sobrevivência dos radicais nacionalistas que o apoiam. O resultado está à vista e o Governo do corrupto segue com a dizimação dos palestinos e o destino da Palestina não ficará como antes. Israel quer para si todo o território e ambiciona erradicar dali árabes e palestinos. Espero sinceramente que a Europa e os Estados Unidos se unam contra tamanha barbárie. Se os políticos oportunistas pensarem o contrário, que os povos os forcem nas ruas a olhar a inocência como direito à dignidade da vida. 

         - Justamente, há instantes, colaram-se-me os olhos lavados de lágrimas ao ecrã de televisão, ante o drama desta manhã oferecido ao mundo inteiro pelos terroristas israelitas: no bombardeamento faleceram 700 pessoas, entre elas muitas crianças. Um rapazinho de uns sete anos, chorava a morte do irmão um pouco mais novo, beijava-lhe os pés e dizia querer ser enterrado com ele. Um povo com esta dimensão de sentimentos, não merecia viver ao lado de um outro que em nome de Deus, desde o Antigo Testamento, mais não fez que semear a morte e ainda hoje com profundo desprezo pela vida humana a pratica. Dito isto, tenho a certeza que sou seguido por muitos judeus. 

         - Esta nota: “Os serviços jurídicos privados custam ao Estado 3,7 milhões por mês.” Espantam-se os analistas porque desconhecem em que país vivemos. Somos governados na sua maioria por advogados e, portanto, os ajustes directos são a norma que os socialistas (e não só) utilizam à tripa-forra. As sociedades de advogados enriquem à conta dos políticos corruptos e dos governos falsificados. Está tudo interligado. A podridão é imensa. 

         - Ontem ao serão, diante da lareira acesa, mergulhei nas páginas do poeta Abû Nuwâs. O livro foi-me oferecido pelo Francis quando nos encontrámos no mês de Maio, em Paris. Normalmente desconfio dos gostos deste meu amigo não porque ele não tenha uma sólida cultura, mas porque é quase toda encaminhada para a temática homossexual. Desta vez não variou, mas o autor árabe é um monumento ao nível do melhor que os árabes nos deram e está registado, por exemplo, no palácio de Alhambra onde me perdi até ao delírio.




sexta-feira, dezembro 01, 2023

Sexta, 1 de Dezembro.

Eis o estado das democracias. No dia em que Netanyahu vai a tribunal por corrupção, parte para Israel o secretário de Estado americano (pela terceira vez), Antony Blinken. Neste entretanto, morreram mais 14 palestinos em Rafah. Na Cisjordânia, o clima de terror cresce e os assassinatos israelitas também. Os americanos estão equivocados quanto à natureza das intenções do Estado de Israel. A democracia agoniza um pouco por todo o lado.  

         - Ouvi com atenção as respostas de Montenegro na SIC. Pareceram justas e num discurso limpo, sem grandes rojos de mentiras. O homem cresceu um pouco, mas precisamos que cresça ainda mais para adquirir credibilidade. 

         - Em duas horas escrevi sete linhas. Estive ali parado, sentado no banco da estação, à espera do comboio onde vinha Ana Boavida. Isto de manhã. De tarde, sentei-me na Fnac a ver se ela chegava; veio e levantei-me pelas quatro da tarde com página e meia da segunda parte do romance.  

         - Ontem e hoje, grandes bátegas de água, seguidas de rajadas de vento irado. Mas quem lhe fez mal? A ele que ninguém consegue agarrar! Pela Europa, os primeiros grandes nevões. 


quinta-feira, novembro 30, 2023

Quinta, 30.

Morreu Henry Kissinger aos 100 anos. Andou activo até ao final, metido no jogo sujo da política, umas vezes exercendo a diplomacia do diálogo e da paz, outras as manobras do ódio e da guerra. Prémio Nobel da Paz pelo papel que desempenhou no Vietname, este controverso obreiro nunca deixou o palco da política que decerto o realizava e nela chafurdava como um obstinado na matéria.

         - A vida para além da morte sempre me interessou. E sempre tive curiosidade em conhecer quem espreitou esse universo que parece não ter fim; quem experienciou qualquer forma de EMI (experiência da morte iminente). O encenador Alexandre Ribeirinho quando o fui visitar ao hospital Curry Cabral, a primeira coisa que me disse foi “porque me trouxeram de volta, queria tanto ficar do outro lado”... Pedi-lhe que me contasse o que viu e ele falou-me com naturalidade de ter estado no início de um túnel, cheio de luz, onde o corpo parecia ter asas e a paz era tão gratificante e ele sentia-se tão bem... A isto chamam os ingleses Near-Death Experiences. Ora, o Figaro na outra semana, ocupa várias páginas sobre o assunto, entrevista cientistas americanos, franceses, ingleses, filósofos e sacerdotes. Cada um à sua maneira parece rematar que não morremos quando o cérebro pára, mas quando aquela actividade ligada à zona posterior do cérebro a que associamos consciência, aos sonhos, à meditação até que a recuperação da memória se esvai. Alguns testemunhos de pessoas que passaram pela experiência dum EMI, são claras a contar o que viveram em situações emocionais fortes,  perigos físicos, AVCs e assim. “J´ai traversé les barreaux de mon lit. Aussitôt une lumière blanche, une lumière-matière, m´a enveloppée: j´entrais dans une nuage. Je ne sentais aucun danger. Tout était accompli.” Outro testemunho, desta vez de um padre: “J´y vois le signe que Dieu tient davantage à nous, que nous à nous-mêmes. Dieu use de cette ultime ressource pour nous retourner vers Lui, et nous permettre d´entrer dans le coeur,  dans le noyau de l´âme.” Seja como for, os cientistas parecem convergir num ponto: esta experiência sem fronteiras, este imaginário do além, tem muito a ver com os aspectos culturais de cada um. Todavia, para mim, seja qual for o nosso tipo de vida, com ou sem amor, solitário ou comunitário, porque estamos em viagem, no momento sagrado do limiar do silêncio, no instante de partir somos confrontados com o saldo, o resumo essencial do que fomos. Porque não pode haver morte sem essa sacudidela forte que resume a vida. Como se o que deixamos para trás, nos fosse retribuído numa espécie de êxtase que reagrupa a existência arrastando-a para um destino que se consubstancia naquilo que fomos e não no que deixámos. Os cientistas tendem a associar a forma como amámos ao instante final. Talvez tenham razão se se tiver em conta o amor que Jesus Cristo introduziu no mundo e todo o Antigo Testamento nunca, mesmo uma só vez, o cita como princípio de relação com os outros. Por outras palavras, o outro enquanto fraternidade, enquanto ser total que nos irmana num só destino, numa só condição, foi o grande, o extraordinário mandamento que ficou entre nós desde há 2 mil anos. “La mort, je n´en ai plus peur, parce que je l´ai vécue”, dizia um judeu agnóstico.  

         - Aí está a provar que os portugueses não se deixam enganar e a vida só está boa para os socialistas que vivem num mundo que não se chama Portugal. Numa sondagem de ontem, 75% dos portugueses concordam com a demissão do primeiro-ministro. O homem sai de cena enlameado, humilhado, com o apoio da família e do restrito número dos seus correligionários. Só espero que o PS entre num período de nojo duradouro. 


quarta-feira, novembro 29, 2023

Quarta, 29.

Ontem ouvi José Luís Carneiro na SIC. Fraco, muito fraco. Ele ainda não percebeu que se quiser impor-se, tem que afrontar o seu adversário de partido e de reconhecer que o PS foi uma maldição que aconteceu em Portugal. De contrário, não criará alternativa nenhuma e o bafio e nojo da propaganda e corrupção, arrogância e mentiras, estagnação e negociatas que foi a marca da governação António Costa, prosseguirá. Se os portugueses não forem estúpidos, percebem que em nada adianta novas eleições, se for para voltar a apostar na mesma loucura. Eu não ouvi no mesmo canal o seu rival, porque conheço de ginjeira o género e a lábia. 

         - A realidade é, todavia, outra: a imensa corrupção por todo o lado e, sobretudo, entre os governantes socialistas. Aqui vai mais um saído quentinho ontem. João Paulo Rebelo,  ex-secretário de Estado, foi alvo de buscas no inquérito que investiga suspeitas de favorecimento em contratos de diagnósticos de covid e na atribuição de contrato de assessoria a filho do ex-dirigente do PS de Viseu. Que disse o homem ante mais um caso alarmante de ganância e comportamento indigno? Disse o que todos dizem: "Estou de consciência tranquila."

         - Ontem, no metro, um pobre homem de cor, com os seus poucos haveres às costas, praguejava: “tubiciquibi”-  e a este tubiciquibinista ninguém acudia. 

         - A prova que os homens do HAMAS não são de todo “terroristas”, está na retoma de mais uns dias para troca de reféns e no facto de estes não terem relatado nenhuma espécie de tortura. Na volta os terroristas são os israelitas pela forma como assassinaram milhares de palestinianos, crianças, velhos e inocentes. Parece que o velho Biden se está a portar à altura. Ele interiorizou que de contrário o mundo inteiro o olharia como cúmplice de um genocídio. A este propósito, poderá dizer-se que o HAMAS foi uma criação israelita. 

         - Ouvi no carro quando ia para a piscina, o final da aprovação do Orçamento de Estado para 2024. António Costa mesmo na despedida, voltou à propaganda que nunca o largou - é um caso patológico. Em frente à Assembleia, uma multidão de gente em protesto, greves por todo o lado, urgências dos hospitais a meio gás, o próprio OE aprovado apenas pelos da sua cor com abstenção de um pobre homem, isolado, chamado Rui Tavares que, por sua vez, reclamou uma tonelada de leis por ele elaboradas e aprovadas pelos deputados. E não obstante, o primeiro-ministro demissionário, apesar da maioria, limitou-se a trabalhar a sua imagem para alto cargo em Bruxelas. Quanto à lei de quatro dias por semana de trabalho que o sujeito reclama a paternidade, tenho a contrapor que em 1985 a institui eu na empresa de publicidade que dirigi. Não é boa solução e profundamente injusta. Mas um dia deste direi porquê. 

         - O que diz o meu iPhone no resumo do dia de ontem em Lisboa: 4 km. andados, 3 pisos subidos, 6.437 passos, 8 horas de sono. Nada mau coxinho, coitadinho, nada mau. Se assim continuar, temo-lo para mais vinte anos. E se ele prosseguir a exercitar-se com fortes braçadas na piscina como hoje aconteceu, ultrapassará os 200 anos, olarila! 

         - Esta manhã, em dose dupla de trabalho, terminei a revisão da primeira parte do romance. Ufa! Queria tanto voltar à criação propriamente dita, que ninguém imagina. Mesmo que isso me traga noites tresloucadas, me obrigue a tomar calmantes, me ocupe a cabeça todos os minutos do dia; prefiro à distância, ao estado de ansiedade, à ausência do rumor das personagens, àquele diálogo entre elas e o seu criador, que tanto necessito e é em mim absolutamente indispensável.  


terça-feira, novembro 28, 2023

Terça, 28.

O meu corretor e atento leitor destas inutilidades, a quem pago 100 euros por cada gralha assinalada, ontem detectou um o em vez de u numa palavra, falta que se deve ao facto e uma letra estar no tablier do computador ao lado da outra; e também ser a escrita em mim um permanente estado de exaltação e efervescência. Um lapso destes há muitos meses que não acontecia, pese embora as centenas de palavras que escrevo por dia. Assim sendo, o meu amigo Filipe não enriquece... 

         - Li a uma amiga que ontem me encontrou no café da Fnac a trabalhar no romance, a cena de cama entre Ana Boavida e Ajustes que acabara de reler e corrigir. A resposta foi esta: “Eu se encontrasse um homem desses, também fugida como fez a tua personagem.” Sem querer Ana X. assegurou-me da veracidade da cena. Não modificarei uma vírgula. 

         - Li no Público que a direita (sem o Chega) apareceu nas últimas sondagens em vantagem. Se estivéssemos em França ou existisse em nós a revolta que os franceses esbanjam, o PS seria reduzido ou mesmo excluído da cena política como aconteceu por lá. Com efeito, a mentira, a propaganda, a balda, o descrédito, o socialismo burguês servido com champanhe e caviar, o infinito desprezo pelos cidadãos como atesta aquela aldrabice que foi a aprovação e desaprovação do IUC (em nome da sustentabilidade do Planeta!!!) sobre os carros anteriores a 2007, daqueles que não podem andar nas limusinas do gabiru senhor Galamba e não trocam de viatura todos os anos como fazem os socialistas novos-ricos, explica majestosamente o modo de fazer política destes cavalheiros. 


segunda-feira, novembro 27, 2023

Segunda, 27.

Há outra ameaça que nos persegue, particularmente desta vez as crianças: um vírus que ataca os pulmões e causa graves problemas respiratórios. E de onde vem o bicho? Do sítio do costume – a China. 

         - O homem da esquerda do PS, na ganância de tomar o poder de qualquer maneira, até se esquece quem desgovernou o país nestes últimos oito anos. Fala como se ele não estivesse implicado nos muitos desastres que ainda hoje nos afligem e no seu modo arrogante com laivos ditatoriais, multiplica-se em promessas idílicos princípios sociais. Repete aquilo que o seu inimigo figadal, senhor Costa, sempre disse: que Passos Coelho aumentou impostos, cortou reformas e subsídios de férias e outros. Como se os impostos tivessem diminuído na governação socialista, quando sofremos e ainda hoje suportamos a monumental carga dessa praga. Com algo que ele não apregoa: Passos Coelho for forçado a pôr em prática as medidas que a troica nos impôs porque José Sócrates (recordo um socialista de gema) roubou, delapidou o erário público, ele e os seus capangas, ao ponto de não haver dinheiro para pagar reformas e vencimentos. 

         - Nem a propósito. Quando abri o computador, logo foram despejadas toneladas de miséria que encharca este carente país socialista. A pobreza aumentou ainda mais, as populações estão na rua a exigirem centros de saúde, os hospitais a meio gás, noites ao relento para centenas e centenas de pessoas sem um lar onde dormir; um escândalo de corrupção (mais um) eclodiu na nossa embaixada no Rio de Janeiro, com um esquema fraudulento de vistos a uma fabulosa rede de narcotráficos e criminosos perigosos de assaltos e roubos a residências que para aqui querem imigrar com o olho na Europa. Toda esta merdelhice aqui encontra covil, não demove os políticos de andarem por aí indiferentes ao que se passa, prometendo aquilo que sabem não poder dar, num contentamento de vida airada que só termina na conquista do poder. Depois... depois tudo recomeça como antes e o acesso ao tacho enche de orgulho e satisfação as barrigas anafadas de todos e de cada um. Portugal, é minha convicção, nunca sairá da indigência.  

         - De resto a prática socrática continua. Sempre que os socialistas se apanham no poder, é ver quem mais rouba. Dou ainda uns nomes: Joaquim Couto (não se trata do meu amigo, embora ele seja socialista também) ex-presidente da Câmara de Santo Tirso e a mulher Manuela Sousa (não me pertence, felizmente, embota tenhamos o mesmo apelido. O meu, apesar de tudo, é precedido de um de que me distingue...), e Miguel Costa Gomes ex-presidente da Câmara de Barcelos, acusado de 23 crimes. São todos socialistas, são todos corruptos, são todos enrabichados por dinheiro. O lado socialista desta gente, não coincide em nada com a vivência de suas vidas e o amor à causa pública da dignidade e igualdade dos seres humanos. 

          - Andarão já pelos 10 mil os mortos na guerra entre Israel e o HAMAS. Uma vergonha e um crime que não suportamos a Putin, mas condescendemos a Netanyahu. Além de cidades inteiras reduzidas a escombros e a sepulturas de inocentes.


domingo, novembro 26, 2023

Domingo, 26.

Sexta-feira passei o dia com o João com encontro na Brasileira, almoço  no Tascardoso, tarde de longo passeio no Príncipe Real até ao Rato, com paragem em várias lojas que  no meu tempo de residente não existiam. Entre elas uma fabulosa livraria brasileira que me encheu de prazer pela diversidade de livros e autores, como pela atmosfera que se respira no espaço vasto e alegre, longe da soturnidade das suas congéneres do Chiado. Dei a ler ao meu amigo umas quantas páginas do romance, sem que antes o advertisse que sabia não estar alinhado com o romance, mas que ainda assim gostava de o ouvir sobre a atmosfera que naquelas se respira. Corregedor lê calmamente e eu vou acompanhando as expressões do seu rosto, da cabeça que acenava que sim às linhas que lhe passavam debaixo dos olhos, aos espaços que o obrigavam a suspender-se para saborear alguma passagem. No final, surpreendido, disserta agradado com tudo o que leu, e diz que muito do que ali está vai levá-lo a meditar. Todavia, se a personalidade de Ana Boavida não lhe passou ao lado, é nas fugitivas passagens de “carácter social” como, por exemplo, quando é dito que o pai da personagem principal e dirigente de uma empresa de ferro, explora os empregados com carga demasiada de trabalho. Pergunto-lhe se tropeçou nalguma passagem, se o clima se mantém ao longo da narrativa; assegura-me que o que interpretou lhe deu vontade de conhecer todo o romance, que faz pensar e está cheio de orações belas e poéticas e se lê sem qualquer esforço. Bref

         - O segundo dia de troca de reféns entre o HAMAS e Israel, correu com problemas como eu previ. De todo o modo, o acordo estabelecido pelos negociadores do Qatar, veio provar afinal que os “terroristas” não são tão desumanos como se dizia. Bem pelo contrário. A atenção dispensada aos que deixavam os túneis, às crianças que apareceram bem tratadas, tudo foi para mim uma boa surpresa. Por outro lado, esta guerra injusta como toda a existência dos palestinos, veio alertar o mundo para a vida desgraçada e humilhante que os habitantes da Faixa de Gaza levaram durante mais de meio século. Alguns países reclamam e bem, que a Palestina seja um Estado independente, governado pelos seus dirigentes. Netanyahu indignou-se. Irá prosseguir o genocídio até à última criança nascida sob as bombas, num campo de poeira e ruínas, sangue e morte. 

         - Assim que posso, escapo-me para casa. É aqui que me encontro bem, banhado deste psiu, sem nenhum intruso que me desvie do trabalho contínuo e lento. Não sei se conseguiria suportar alguém sob este tecto. Quem quer que fosse, exigiria como é normal, atenção, ligações práticas, convívio e conversa fiada, o oposto ao que hoje reina aqui, com os longos serões à lareira e o silêncio preenchido com o crepitar da lenha e o olhar atento dos mestres que inundam o salão com o seu saber milenário. Nestes dias outonais, parece que até o Sol que entra pelas janelas baixas e se insinua por móveis e lombadas dos livros, quadros e móveis, neste conforto sem qualquer espécie de luxo, sendo apenas o silêncio que abre as manhãs e fecha as noites, me encontro comigo e descubro em mim o ser solitário que nenhuma espécie de egoísmo pode galvanizar.  


         - À parte isso, como um monge que se entrega (não digo como o outro ao “misticismo da próstata” e seus derivados), mas ao trabalho constante que o campo solicita. Ontem pus termo à língua de matéria inerte saída do esforço de antes do Verão que se estendia por vários metros. Felizmente o vento corria de feição e pude reduzir a cinzas aquilo que a beleza abandonou por excessivo. 

         - Ai, ai! Aquela do camarada da esquerda do PS, candidato a primeiro-ministro, Pedro Nuno, apregoar que o Governo socialista do qual ele fez parte com um chorrilho de asneiras e alimento da corrupção foi “uma memória boa para os portugueses”, não lembra ao tinhoso. Que lata! Este tipo é perigoso porque não tem a noção do ridículo, da leviandade, da responsabilidade que é governar um país qualquer que ele seja. Isto é um terror e eu espero e estou convencido, que ele nunca chegará a chefe do Governo.  Cruzes! Mais PS, pitié, pitié! 

         - Entrada por saída no C.I. para comprar o jantar. Milhares de olheiros por todo o lado, poucos compradores. Mesmo assim, reservei-me num local pouco visitado e tendo levado o croché que, de resto, me acompanha para todo o lado, pude reler mais 10 páginas. 


sábado, novembro 25, 2023

Sábado, 26.

Venho aqui apenas para me associar àquelas e àqueles que festejam esta data como libertadora de uma certa esquerda que nos queria aprisionar e de uma outra que ambicionava pôr-nos a pata em cima. O 25 de Novembro de 1976 é o dia da liberdade e da ordem  democrática, ainda que a democracia que temos seja para mim uma enorme e profunda desilusão. 


quinta-feira, novembro 23, 2023

Quinta, 23.

Antes que me esqueça, é meu dever deixar plasmado nestas páginas, o modo de falar dos nossos dias, ensinado por políticos, deputados, jornalistas, meninas e meninos formados em diversas faculdades, vedetas de televisão e áudio-visual, comentadores que os há por atado, e mais não sei que rebanho de palradores que sempre surge do nada:

Já alguns anos a esta parte...  

Estamos em Guimarães aqui faz sol. 

Em Braga aqui vai haver chuva. 

O que é que é que está ali? 

Onde Bata a Sombra título de um dos meus diários publicados, numa próxima edição, vai 

passar para Onde é que Bate a Sombra 

Mas, sim, era isso que queria dizer... 

Qual é que é a forma de... 

Etc. Etc. Etc. O “misticismo da próstata” até é engraçado (ou falando o português moderno) até que é engraçado ao lado destas sumidades. 

         - Para o que me deu! Fui encontrar um dossier espesso numa gaveta que desconhecia ou havia esquecido completamente, perdido no fundo da memória onde o tempo se resguarda e resguardando conserva o que de todo não devíamos olvidar, pese embora a pouca importância que as coisas têm para as nossas vidas. A pasta, volumosa, continha um pedaço da minha vida de escritor (saiu assim, assim ficará), com críticas e resenhas aos meus romances, ensaio e diários. Reli uma boa parte do que os jornais disseram de cada livro e a dada altura parei, estupefacto, ante a importância que me atribuíam. Que pouco ou nada me excitou, salvo uma entrevista que dei ao O Diário, na forma do inquérito de Proust. Que arrojo da minha parte! Que orgulho na viagem solitária que havia sido a minha até então! E também apreciei, grosso modo, o sentido estético que me parece ter sido entendido por todos, ao ponto de nenhum deles dizer que o que escrevi era medíocre. Pelo contrário. Muitos realçaram o romancista sólido e apontavam o interesse do que publiquei por parte da opinião pública. O que afirmei no inquérito do O Diário, hoje é moeda corrente de editores que vendem livros como quem vende sacos de batatas. E na fúria de arranjar dinheiro, obrigam os autores e entrar com uma boa quantia para que o livro seja publicado. Eu já nessa altura (1987) me recusava a entrar nesses negócios mafiosos. Pagar para trabalhar, onde é que já se viu? Em Portugal, claro. E não falarei hoje da televisão. Que bom estar arredio de todo esse mundo, cumprindo-me em liberdade plena, sem precisão de bajular os medianos instalados por todo o lado.  

         - Curiosamente, no Governo de António Costa, o SNS caminha para o abismo. Um ministro e um adjunto estão há dois anos a tentar convencer médicos e enfermeiros, auxiliares e utentes, que o organismo é para continuar, apesar do desacordo e competência dos seus gestores governamentais. Assente nisso, nunca se abriram tantos hospitais e clínicas privados. O negócio da saúde vai de vento em polpa. E vale tudo. Um exemplo. Quando há três semanas tivemos de levar a minha assistente operacional (enfim, que chique!) ao Hospital da Luz, o médico que a atendeu devia ter ordem para chupar o máximo. De contrário, como se explica para além do tac, a bateria de exames que não ficaram prontos na hora e o neto teve de os ir buscar uns dias depois. No final, passa para cá 400 euros! Graças ao senhor Costa, é só facturar. E no embalo ganham todos. Porque muitos clínicos trabalham no privado. Morra quem tiver que morrer – o meu já cá canta. E as negociações continuam. Olé! 


quarta-feira, novembro 22, 2023

Quarta, 22.

Começo a pensar que António Costa é um caso patológico. Ouvi-lo falar do Portugal de hoje, é tão delirante que até assusta. Ou então, sua excelência, vive num mundo outro que não toca o chão desta terra infeliz onde estamos unidos na desgraça. Dito de outro modo, será que sua excelência perdeu o sentido da vivência colectiva e com a lata que não lhe falta tenta impor a sua visão de um país que não existe senão na sua imaginação insensata? 

         - Eu não me calo, embora muitas vezes desespere. Sou dos que vê os serviços públicos desde que o PS assumiu o governo, a degradarem-se a olhos vistos. Veja-se mais um caso que, de resto, se repete sazonalmente: a vida de escravos-imigrantes no Alentejo. Ainda não tem muitos meses que assistimos a condições de exploração e miséria e na altura era ministro do PS e pouco ou nada da Administração Interna, o senhor Eduardo Cabrita. Pois agora voltaram exatamente os mesmos esquemas inumanos de abuso de pessoas que vêm ajudar nas operações periódicas na mesma zona. Nem GNR, nem os autarcas, nem os serviços do Ministério da Agricultura, sabem ou vêem passar os andrajosos tarefeiros nas ruas, nos cafés e nas praças das cidades, enganados por gente desonesta que lhes promete uma coisa e dá-lhes uma côdea! Isto é o retrato do que venho apontando aos serviços públicos em geral: instalou-se o  laxismo, a ideia de que façam eles o que fizerem, ninguém lhes pode tocar: despedir, condenar, subtrair-lhes o ordenado. 

         - Se outra amostra não existisse que prove a bagunça a que chegou o governo e o país, a última vinda da Procuradora Geral da República, é sentencial. Disse a magistrada ou insinuou que não tinha confiança na Polícia Judiciária e por isso recorreu à PSP quando da colheita de dados e falcatruas da Operação Influencer. Confesso que não queria estar na sua posição com os galifões a metralhar noite e dia.   

         - O nosso honrado Rui Pinto, acaba de ser condenado com pena suspensa pelo Tribunal Judiciário de Paris. Na origem estão os famosos Football Leacks e, pelo facto de ele ter aceitado os factos de que era acusado, foi condenado a seis meses de prisão com pena suspensa, e um euro ao PSG (um clube qualquer lá do sítio). A ver vamos como procederá a nossa Justiça, célere em condenar os inocentes e em perdoar aos políticos, homens de negócios e cangalheiros. 

         - Enfim, foi acordado uma trégua para libertação de reféns e ajuda humanitária, entre o HAMAS e Israel. O Qatar e parece que os EUA, mediaram os acordos. Vão ser quatro dias intensos de paz para depois a guerra prosseguir como exigem os comandos israelitas. Ao que se sabe, são 50 israelitas nas mãos dos guerrilheiros, contra uns quantos palestinianos retidos nas cadeias, em Telavive.  Duvido desta operação, mas desejo que assim seja. E se assim for, prova que o diálogo é preferível à guerra.  

         - Logo que terminei o meu trabalho no romance, fui à piscina. A água permanecia no fuso de Verão e foi difícil entrar nela gelada. Mesmo assim percorri os 25 metros durante meia hora. Que mais? Ah, acendi pela primeira vez este Outono a lareira, que solta mais calor devido ao produto com que o técnico a atapetou. Parece madeira prensada e garante-me o artista que não arde a menos que esteja muito húmido. Seja como for, momentos mágicos que me retiveram em baixo até perto da meia-noite. 


terça-feira, novembro 21, 2023

Terça, 21.

Outro dia, na cozinha, em frente ao aparelho de televisão que ofereci à Maria e voltou após a sua morte ao meu encontro, e trabalha quando lhe apetece, ouvi um médico dizer: “Temos de acabar com o misticismo da próstata.” Estremeci. Santa ignorância de um homem ainda jovem, que os americanos se o encontrassem na rua o convidariam a entrar num filme erótico, tal o seu ar, como direi, rústico e sólido de sensualidade.  

         - Almocei com o Carlos Soares. De seguida, dei um salto ao seu atelier na Lapa (melhor dizendo aos seus ateliers) para escolher uma escultura que ele faz questão de me oferecer e eu não quero aceitar. Carlos está a desfazer-se de vários espaços, porque a idade lhe vai pesando e as despesas mensais também. Que mundo! É impressionante o que acumulamos ao longo de uma vida, nos afeiçoamos às coisas materiais e por elas nos entregamos a toda a sorte de vaidades, desesperos, alienações, e no seu caso, paixões. As divisões, estão cheias de imagens religiosas dos séculos XVII e XVIII, muitas restauradas por ele enquanto especialista, outras carcomidas pelo tempo, quase desfeitas, mas dignas aos olhos do Mestre que as olha com devoção e familiaridade. O Moncada, velho antiquário, deve chegar em breve para varrer com os seus olhos entendidos no negócio, quanto vale tudo aquilo que para Carlos não tem valor material e apenas ao espiritual consagrou a vida. Há esculturas em talha dourada, pedras antigas, pedaços de colunas romanas, ornatos de velhas igrejas, Cristos dilacerados, milhares de peças em ferro para trabalhar a madeira o seu ofício principal, bandolins, um contador do séc. XVII encostado a uma parede a cair, arcas, livros, peças em ferro enferrujado para os mais incríveis trabalhos, madeira, muita madeira que ele me quer oferecer para a lareira e eu fiquei de lá retornar para a trazer... No final ante muitas hesitações, depois de ver algumas das suas esculturas em madeira, acabei por aceitar (sem escolher) aquela que ele me ofereceu e vou limpá-la para a expor com orgulho numa das paredes desta casa consagrada à arte. 

         - Disse José Luís Carneiro: “Quero felicitar o ministro das Finanças, porque a notação financeira do país é muito positiva e representa um sinal de confiança dos investidores no país. Esse sinal de confiança é fundamental, quer para financiar as condições de desenvolvimento, quer para manter o estatuto de Portugal como um país que honra os seus compromissos internacionais. Isso é essencial para valorizarmos salários e rendimentos.” Começa mal o meu candidato. Este elogio em troca do apoio de Fernando Medida, cai mal porque não tem em conta que, se o país tem “contas certas”, é graças à miséria que o PS instalou como natural e à aposta que António Costa fez no seu prestigio lá fora. Nem um nem outro, trabalharam para desenvolver o país, só se ocuparam de três grandes negócios que nós vamos pagar com os nossos impostos e de língua de fora e cavando ainda mais o fosso entre ricos e pobres.   

         - E por favor, calem-se com essa merda de saber quem chamou a Belém a Procuradora Geral da República e falem apenas do que é essencial para o país: saúde, desenvolvimento, escolaridade, dignidade humana, fim da pobreza e da corrupção. Sejam adultos e sérios. Desçam dos pedestais que não vos pertencem e encarem a realidade: vivemos numa república e em democracia. Reduzam-se à vossa insignificância. Bem sei que custa perder o poder e ficar afastado do tacho, mas nem um nem outro são propriedade de alguém. 


domingo, novembro 19, 2023

Domingo, 19.

A Amnistia Internacional confirmou num relatório sobre o conflito em Gaza que “as forças do Hamas usaram áreas abandonadas do Hospital Al-Shifa na Cidade de Gaza, para deter, torturar, interrogar, e infligir maus tratos a suspeitos, enquanto outras partes do hospital continuavam a laborar como centro médico”. Esta desumanização comprova a máxima do Hamas segundo a qual a morte é mais valorizada que a vida. Mas, se eu condeno estes horrores, não sou obrigado a reconhecer virtudes e direitos selvagens a Israel quando indiscriminadamente liquida a população jovem palestiniana que nada tem a ver com o choque ideológico e é portanto inocente.  

Foto do Público.

         - Pedro Sánchez na obsessão de conservar o poder de qualquer maneira, utiliza a regra socialista de alterar os fundamentos democráticos. Antes era contra a Lei da Amnistia acordada com os catalães de Puigdemont; agora para conseguir formar governo põe-na de lado, num gesto claro contra a Constituição de 1978. Eu simpatizo com a luta dos catalães, mas não suporto os malabarismos típicos de gente desonesta. Marcelo diria que é a democracia a funcionar; eu digo que é a democracia a enfraquecer. Felizmente os espanhóis são um povo bravo e logo desceram às ruas aos milhares (fala-se em 200 mil só ontem e em Madrid). Bravo povo que mantém os políticos em sentido. Sánchez não vai ocupar a Moncloa por muitos meses com aquela manta de retalhos que o apoia. O seu rival que aqui em Portugal dizem ser de extra-direita, vencedor das últimas eleições, senhor Alberto Núñes Feijóo, disse no dia da investidura do PSOE: “O senhor Sánchez não conseguiu o apoio de ninguém. Compro-o, assinando cheques que todos iremos pagar.” 

         - António Costa foi a maior e mais profunda desilusão de que há memória. Apesar de demissionário, prossegue o seu caminho de propaganda e mentiras descaradas. Nem tempo tem para olhar a sua obra: greves de anos em todos os grandes sectores, o país parado, mais empobrecido, desigual, cheio de corrupção, um leque de ministros que nenhum ficará na história, contando a sua passagem pelo governo apenas para o curriculum pessoal de cada um, a Justiça aos trambolhões, a Administração Pública desmotivada e com isso um péssimo serviço aos cidadãos, aumentos inconsequentes de impostos, os portugueses agrilhoados e humildes com esmolas, leis que se faziam num dia e se corrigiam no seguinte, apesar do apoio do Presidente ao “aluno inteligente”, conflitos e desencontros cíclicos, impunidades e compadrios constantes, afrontas a Justiça, lutas intestinas para que esta se submete-se à política, demissões de membros do Governo sem explicações, de outros acusados de patifarias que se recusavam a deixar o poder, negociatas obscuras, prepotências várias, enfim, um monstruoso quadro que não enobrece a passagem de António Costa à frente dos destinos do país. Honrado, sério e competente, era António José Seguro que foi pontapeado pelo actual presidente do PS e primeiro-ministro. A sua enorme seriedade, não o levou como aos demais a bater à porta da SIC, TVI ou RTP a pedir que o contratassem como comentador. Ele atingiu com dignidade o posto que teve e soube deixar o poder com humildade democrática. Há poucos, muito poucos como ele. 

         - Vou dar a palavra a António Barreto que as esquerdas detestam por ser um homem livre e lúcido:

“A nossa democracia não conseguiu, nas áreas da corrupção e da Justiça, ser melhor do que a ditadura. Tem mil vantagens. É superior em muitos aspectos, na liberdade, nos direitos individuais, na igualdade das pessoas, na cultura, na educação, no trabalho e na saúde. Mas na Justiça e na educação não consegue melhor.”   

“As modalidades de pequena e média corrupção abundam e são bem conhecidas. Uso privado de carros de função, realização de obras domésticas á custa de dinheiros públicos, nomeação de filhos e afilhados, pagamento de refeições caras, luvas de grandes negócios, estágios e cursos superiores em instituições reputadas, percentagens depositadas “lá fora” e avenças estranhas, de tudo um pouco, os portugueses conhecem bem.” Pois conhecemos com os elevados impostos que pagamos. 

         - Durante anos a portada da janela ficou fechada e no parapeito pacotes de livros que me haviam sido devolvidos pelo tribunal na acção contra o meu editor. Antes do Verão, com a Piedade, desimpedi a entrada da casa, estudada ao pormenor (como de resto toda a habitação) com o arquitecto e amigo João Biancard. Aqui queria eu ser sepultado (a história está contada algures), mas agora ao admirar a sua beleza que me faz estar muitas vezes extasiado a olhar o fluo que envolve o espaço, a luz que entra pelos vidros baços, a presença majestática da escultura do Manuel Rosa onde ficariam as minhas cinzas e as dos amigos que me quisessem acompanhar, a pedra que atapeta o chão, todo o hall respira memórias, silêncios, recordações da casa de Lisboa, quando ao longo do tempo fui adquirindo as peças de arte que um dia não levarei comigo, mas são hoje os instantes que abraçam na plenitude da beleza que aqui mora e me é cara ao espírito e aos anos de convívio que embelezam a minha vida e são a aisthésis que a preenche.