segunda-feira, julho 31, 2017

Segunda, 31.
Modo de falar patego e ilusório na televisão pública e privada (é tudo igual): “Estamos em família.” “Agora vamos falar lá pr´a casa.” “Um prémio para jogar em família.” “Diga adeus lá pr´a casa.” “Habilite-se a este carro para passear em família.” Todo este linguajar acompanhado de um sorriso palerma, uma expressão de periferia, um modo de ser provinciano.

         - Não nos faltava já os patetas masculinos do futebol, chegaram também agora as meninas pacóvias. Estas, não tardam, a suplantar os marialvas colegas. Mas a sarna é a mesma e de igual qualidade.  

         - 50 milhões de euros foi quanto no último trimestre do ano passado as operadoras Meo e Nos roubaram aos seus clientes. É por isso que eu há anos não largo a Vodafone (desde que se chamava Telecel), é a mais séria de todas.  


         - O boneco de borracha da Coreia do Norte, diverte-se a desafiar com mísseis os Estados Unidos. Estes, anteontem, sobrevoaram o seu território mostrando-se para o que der e vier.

sábado, julho 29, 2017

sexta-feira, julho 28, 2017

Sexta, 28.
Fogos, fogos e mais fogos. Todo o drama do mundo esvai-se na tristeza dos que foram atingidos e na cantilena partidária daqueles que se aproveitam para conseguir o voto do gato morto, do cão vadio, da floresta transformada em cinzas, do logro que constrói a realidade portuguesa. Hoje, o espectáculo da morte e da desgraça, é de todos o mais atractivo e aquele que entretém uma sociedade de sádicos embrutecidos pela televisão.  

         - Outro dia estive à beira de me desfazer deste paraíso. Uns franceses amigos de amigos meus, ofereceram 700 mil euros para deixar o que me custou trinta anos a construir. Sorri, disfarcei e depois disse que há alguns anos recebi aqui um casal que me ofereceu 800 mil. Conversa mole, a tentar distrair-me da tentação e evitar que a cavaqueira ultrapassasse os limites do razoável. Tomando o Porto no terraço, dizem-me os meus amigos: “a oferta tem a ver com uns amigos nossos que compraram o mês passado um apartamento no Chiado por 700 mil euros!” Ah! A isto chama o Mágico progresso.

         - O livro de Matrick Modiano, Une jeunesse é um longo calvário de olhares sobre o manto escorregadio da cidade, Paris. Avançamos de página em página com o sentimento de que não vamos prosseguir por demasiado circular, deambulante e girando em torno das personagens que aparentemente não marcam o texto. Mas depois, há qualquer coisa na construção da narrativa, um toque de sedução, uma carícia no leitor que nos detém e nos impele a continuar. Dir-se-ia que são os lugares que a memória não ousa esquecer que dão cor e força ao romance e as personagens apenas uma forma de humanização do enredo de si absolutamente feliz e errante. Aliás à imagem do seu criador, tal como o vi num programa de Bernard Pivot. Há algo de etéreo, de sublime, de simpático até no Nobel da Literatura.


         - Tenho sempre a sensação de tempo perdido, gasto no vazio dos afazeres quotidianos – contactos, almoços, idas aqui e acolá – quando não prendo as manhãs ao romance. Necessito ab-so-lu-ta-men-te de me ausentar, desenvolver a conversa com o juiz Apostolatos e outras personagens que em torno dele desconstroem o mundo de atropelos e soberba. Essas horas irreais, longe do bulício da realidade, são sagradas e constituem os alicerces da minha existência e reforçam os valores de justiça e ética de que todos os dias me quero aproximar um pouco mais.

quinta-feira, julho 27, 2017




Quinta, 27.
Pelas quatro e trinta e cinco da noite, sou acordado de um sonho que estava a viver, com a mensagem do Filipe que me anunciava, triunfante, o nascimento de uma menina que irá fazer companhia ao filho. Sucede que o Filipe faz anos hoje e logo a bebé nasce no mesmo dia e mês do pai. Coisa surpreende e decerto positiva para ambos. Acontece que o sonho foi interrompido quando eu discutia com um editor que acabara de recusar O Rés-do-Chão de Madame Juju sob pretexto de que “o romance tem períodos muitos longos e hoje os leitores não gostam de se cansar com esse tipo de escrita”. Agora que anoto este desvario do meu suposto editor, lembro-me de Goethe que dizia ao seu impressor que expurgasse o seu trabalho, mas não suprimisse muitas vírgulas. Bom. Como acho que nada acontece por acaso e um livro é de certa forma um filho que pomos no mundo, pressinto que há em tudo isto duas auroras de vida a germinar. Sejamos construtivos.

         - A propósito de Goethe, vem Novalis. Estou completamente rendido ao mundo e à  imaginação do grande poeta do século XVIII, contemporâneo de o autor de Os Sentimentos do Jovem Werther, ambos comungantes do Romantismo. Talvez o segundo com mais substância no tocante à Natureza e na concepção do homem enquanto sujeito e objecto. Em Henri d´Ofterdingen, Novalis parece impregnado da presença divina e arrasta-nos para um universo irreal com aquela delicadeza que, tocando o real, se deixa levar na exaltação que consubstancia o pensamento numa realidade que só pode existir enquanto capacidade de se esgueirar para o mundo de sonho onde o sonho é realidade. É, aliás, ele que nos adverte: “Le monde doit être tel que je le veux. Le monde a une capacité originel de se conformer à ma volonté.” Novalis, dizia Frèdéric Schlegel numa carta que lhe dirigiu em 2 de Dezembro de 1798, quando andava determinado em fundar uma religião nova: “O meu papel será o do apóstolo Paulo, o seu será o de Cristo.” E de facto, Novalis como Espinosa, têm a Natureza como princípio da identidade de Jesus Cristo e através dela pode o homem irmanar-se no sentido da transparência e dos sentimentos puros. Cito uma vez mais o poeta: “Le monde supérieur est plus proche de nous que nous ne le pensons ordinairement. Ici-bas déjà nous vivons en lui et nous l´apercevons, étroitement mêlé à la trame de la nature terrestre.” Com Novalis entramos num cosmo de beleza, de misticismo e poesia. A criança nunca deixou o autor de Hynnes e é com ela que ele nos dá o braço e nos leva por horizontes lavados de inocência e voluptuosidade. É tudo tão extraordinário, tão fora do real, que nada escapa à nossa sensibilidade e tudo nos foge para abismos de eternidades que não ousamos tocar. Novalis morreu cedo, ao contrário de Goethe. Um com 52 anos, outro com 83. Ambos marcaram um século, cada um à sua maneira. Fizeram uma revolução sem armas, mas armados dos sentimentos e da descoberta do homem enquanto sonho e realidade.


     

quarta-feira, julho 26, 2017

Quarta, 26.
Ontem, badalando-me pela Baixa, entrei na igreja de S. Nicolau que fica junto ao elevador de Santa Justa. O Senhor estava exposto no altar e no templo umas cinco pessoas em recolhimento. Lá fora a canícula insuportável que nos fatigava e desalentava. Ali, no completo silêncio da oração, momentos de paz, longe do bulício da cidade atravancada de turistas. O silêncio é o único toque no manto divino de Jesus Cristo.


         - Almocei no Sinal Verde, à Calçada do Combro. À mesa Virgílio, Alexandre, Álvaro e o um colega, mais tarde chegou o Irmão. Nada a registar, a não ser o facto que me começam a cansar estes almoços longos, regados abundantemente e durante os quais não se pode ter uma conversa decente devido ao álcool e ao ruído em volta. Melhor está-se na Brasileira onde as conversas sobem de nível e o tom é mais íntimo. Logo depois, entrei na Caixa para acordar com a minha gestora de conta, uma rapariga luminosa, com um sorriso secreto que lhe enche o rosto jovem e bonito, as novas condições da estratégia Paulo Macedo. Se ele sabe fazer contas a seu favor, eu sei ajustar-me de modo a pagar o mínimo possível. Assim, despachei o seguro de saúde que não me servia para nada e em muitos anos nunca o utilizei, e quando o fiz para tratar dos dentes disseram-me que não tinha direito a nada. Deste modo, entre o que o gestor pago a peso de ouro pretende obrigar-me a pagar e a renúncia ao cartão de saúde, ficámos quites, ela por ela. Resta-me aguardar pelo próximo ano quando acaba uma aplicação e no seguinte quando finda uma outra, para me evadir de uma prisão sinistra que alberga dentro dos seus muros os conluios fedorentos e criminosos que a arruinaram. Pena que Jerónimo de Sousa não tenha tido ainda uma palavra sobre o assunto.