quarta-feira, agosto 31, 2022

Quarta, 31,

Faleceu Mikhail Gorbatchev aos noventa e um anos, um homem afável, um estadista credível, um visionário que soube restaurar a paz e fazer frente à demência dos velhos relhos que arruinaram o seu país e reduziram o povo à pobreza, à humilhação, à indignidade humanas. A chamada Glasnost (transparência) e a Perestroika (reconstrução) imperou e irmanou a Rússia à Europa, aos Estados Unidos e ao resto do mundo; o poderio bélico sofreu um revés, a humanidade encarou o futuro com mais esperança e paz. Gorbatchev e Alexander Soljenítsin foram os grandes homens que tiraram a Rússia da tirania comunista e a lançaram no caminho da liberdade, da democracia e dos direitos humanos. Até à chegada de Putin, um homem vulgar, sem horizontes, sem moral nem dimensão, que não sendo comunista herdou o pior que Estaline criou. Imagino o que Gorbatchev sofreu, ao ver a invasão da Ucrânia o país das suas raízes. 


terça-feira, agosto 30, 2022

Terça, 30.

Não resisto a transcrever a passagem do blogue de Rentes de Carvalho que sem tirar uma vírgula, assino por baixo.   

“Vivi alguns anos no ideal romântico de ser a universidade aquela instituição que nas ideias, nas ciências e nas técnicas, tem por finalidade e dever transmitir o conhecimento e estimular o progresso.

Se bem que três décadas de docência não tenham abalado de todo essa minha utopia do instituto universitário, e mantenha alguma esperança, verdade é que do confronto com a realidade poucas ilusões me restam.

Mais do que a subserviência de boa parte dos colegas para com tudo que fosse poder ou superior hierárquico, desiludiu-me sobretudo o inesperado, e para a minha inocência improvável, maniqueísmo dos estudantes, tão prontos a negar evidências, como em insistir serem senhores e donos de soluções para o caos do mundo, bastando dar-lhes o braço e seguir com eles o bom caminho.

São os descendentes desses maoístas e terceiro-mundistas que hoje enchem a boca com os perigos do aquecimento global, a urgência de energias limpas, os malefícios do  CO2 e umas quantas novidades mais. Não aceitam que os contradigam, demonstrando um conformismo que é a negação do espírito universitário em que se educaram, do qual não se espera  obediência, mas que seja livre no ajuizar e na investigação.

Semelhante mentalidade contribui para tornar impossível o diálogo, pois os membros dessas “elites”, quase diria seitas, tendem para a histeria política, mostrando-se mais inclinados a seguir o que é moda e os ditames do grupo a que pertencem, do que os do próprio raciocínio, ou as razões alheias, o que os predispõe para uma mentalidade de carneirada.

Possuem também um inerente anseio em se manterem do lado “bom”, de sem espírito crítico ou discussão aceitarem as “boas” instituições; de verem o aspecto  “positivo” da avalanche de refugiados; de imporem os “bons” hábitos alimentares, etc.

No que respeita a energia só conhecem uma solução aceitável, a sua, em que ela é “limpa”, embora cuidem que perto donde vivem não se instalem moinhos de vento. São infalivelmente bondosos e compreensivos para com os refugiados, correm pressurosos a salvá-los das águas do Mediterrâneo, mas não os querem no seu bairro, antes se esmeram para que os acomodem longe.

Entristece constatar que, a respeito da política, das questões sociais e das tragédias dos nossos dias, muitos dos que gozaram um ensino superior se distingam por um comportamento de rebanho. E que quando, por acaso, pensam duas vezes antes de agir, não o façam para defender uma opinião pessoal, mas para evitar que os julguem dissidentes.”

         - Marta Temido encomendou à alma ao Criador. Já não era sem tempo. Estava esgotada e com razão. Só pecou por se ter agarrado ao poder demasiado tempo e contra todas as evidências de incompatibilidades e desgaste na pasta de ministra da Saúde. O seu antecessor foi um excelente ministro e sério, e teve a dignidade de sair no momento certo. Costa aceitou todo contente o pedido de demissão. Eu, enquanto cidadão e utente do SNS, devo-lhe um muito obrigado. Venha o senhor que se segue.  

         - Eu nunca duvidei da existência de Deus e tudo quanto com Ele se relaciona me comove e me apaixona. Acabo de ler um longo artigo de várias páginas no Figaro Magazine que comprova a passagem de Jesus Cristo por esta terra e a sua Ressurreição, a partir de estudos ao Sudário de Turim. Conheço um pouco o trabalho do historiador Jean-Christian Petitfils e sei do rigor que ele põe nos ensaios e nas abordagens históricas. É dele esta passagem: “Disons-le sans ambages, le saint suaire ou linceul de Turin présente toutes les caractèristiques de l´authenticité. Le doute, aujourd´hui, n´existe plus. C´est la science que le dit, car l´histoire, malheuresement, ne permet pas de remonter de façon certaine aux origines.” O linho sepulcral tem a dimensão de 4,40 m de comprimento e 1,10 m de largura, com uma cor que varia do bege  e o sépia, com todos os signos da Paixão que cobriu Jesus Cristo na noite de 3 de Abril do ano 33, após descida da Cruz. Estes dados estão confirmados por diversos ensaios feitos com carbono 14, raios X e métodos ultra-modernos e todos confirmam que a imagem tridimensional do tecido, é na realidade de um homem que aparenta ter entre 33 a 35 anos, com o corpo cheio de sequelas de suplícios análogos aos que eram praticados na época pelos romanos e são descritos nos Evangelhos. Não ignoro por outro lado, que a Ressurreição é antes de mais uma questão de fé; mas a existência de um homem com o nome de Jesus Cristo, filho de Maria e José de Nazaré, carpinteiro, morto na Cruz às ordens de Pôncio Pilatos, no reinado do imperador Tibério, está histórica e cientificamente provada. Contudo, a exegese continua.    

O Santo Sudário de Turim.

         - Tempo ameno. Mergulhei por meia hora sem mover os berlindes que me indicam os metros nadados. Quando a Piedade, perdão, perdão, quando a minha assistente operacional chegou, já eu tinha rachado e cortado um monte de lenha, depois carregada para o telheiro e só então, diante da tábua de passar a ferro, em conversa amena com a assistente, fui bebericando uma chávena de café. Que ridícula está a nossa vida colectiva! Que pelintrice! Que falsa igualdade! Os nomes do passado desapareceram, mas a escravidão continua cá. 


segunda-feira, agosto 29, 2022

Segunda, 29.

Faço interregnos de dois três dias de leitura em Um Diário Russo. As atrocidades praticadas às ordens do algoz Putin e seus apaniguados, são de tal modo selvagens, desumanas e criminosas que preciso de pedir à vida que levo num país e num sistema democrático e em liberdade, que me reoriente os sentidos e instale o sagrado que há em toda a existência humana. Deus nos livre dos ditadores, dos déspotas, das luminárias que encerram em si toda a verdade. A Rússia dos dias de hoje, está assente no pior estalinismo que escapou a Estaline. 

         - Falámos muito ontem depois do almoço lá fora, a tarde estendeu-se e só quando o Sol começava a descer no horizonte, eles partiram deixando este espaço mergulhado num silêncio perturbador. Vítor diz temer mais o regime chinês devido às suas técnicas de expansão. E ao lado deste aquela coisa bizarra que dá pelo nome de Kim Jong-un, líder do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte, desde 2012, como se os trabalhadores fossem ouvidos ou achados para o que quer que seja. A par disto, falou-se da juventude actual e do seu destino num mundo e em muitas democracias em vias de passarem a autocracias se não estivermos atentos. Sobre isto, quando o tema é abordado, levanto sempre esta pergunta: que se espera de uma sociedade que vive alimentada por futebol, concursos televisivos, concertos de Norte a Sul, telenovelas, a marrar nos telemóveis, a teclar banalidades que aprende diante do ecrã e julga ser a cultura e o progresso que a faz entrar no futuro protegida e reforçada contra os infortúnios da vida? Esta sociedade está preparada para se entregar sem um lamento a qualquer salvador, os condimentos fátuos onde hoje assenta o quotidiano social, são os alicerces pacientemente levantados para a emparedar. 

         - Vítor acabou de editar uma nova versão de as Cartas de Soror Mariana Alcoforado. Partimos daí para uma viagem sobre o mundo da edição, os escritores do momento, os outros que foram ou estão postos de lado, porque indisponíveis a pagar para trabalhar. Disse-lhe que devido ao aumento do papel (uma amiga que labora no sector, falou-me a semana passada em aumentos para o dobro), a publicação de livros vai apertar ainda mais. O Vítor é dos que acreditam em mim, e aconselhou-me a aceitar as condições de uma editora que me chaga amiúde com epítetos de “uma voz original”, mas com a condição de à voz juntar uma soma para a publicação. Recuso. Este meu terno amigo, desde os tempos em que começaram a sair os meus livros, os colecciona e às cartas que eu lhe escrevia para Montpellier onde leccionou. Além de que estou convencido, que devido às minhas posições políticas, não arranjarei editor – o Vítor concorda. Mas disse-lhe da imensa liberdade que tenho, sem precisão de continuar a bajular idiotas e medíocres, de prosseguir nesta linha de profunda criação artística.  


domingo, agosto 28, 2022

Domingo, 28.

Escrevo estas linhas à mesa do lounge, sob o grande guarda-sol, enquanto não chegam os Oliveira - eternos camaradas dos tempos do Centro Universitário. Sempre fomos muito dados e nunca nos perdemos de vista. Volta que não volta, reunimo-nos para um almoço de amigos. Bom. Aqui corre uma aragem benfazeja, depois de ter feito uma data de coisas que começaram pelas sete da manhã: regas, rachar lenha, tratar da piscina, fazer um prato para arquivo, quatro frascos de compota de figo. Bela ideia! Esta leva deve ser a derradeira tendo em conta que os figos estão a acabar. Para trás ficaram outros tantos, com o pormenor de ter construído um agridoce, isto é, como o fruto de si tem muito açúcar, decidi juntar raspa de um limão e o respectivo sumo. Tenho o armário chinês que é na parte de cima é biblioteca e na debaixo compoteca.

         - Eu acho que o senhor Putin aqui não se safava e nem lhe valiam as armas nucleares. Ontem, não sei o que se passou, foi um pum-pum desgraçado. As pessoas daqui possuem espingardas de caça e quando vêem movimentos desusados, atiram para o ar como aviso. Por isso digo, de que serve ao ditador as outras!  

         - Francamente, eu que apoiei a primeira fase da covid-19, congratulando-me com o trabalho da ministra e da senhora directora da DGS, acho agora que deviam ser substituídas. O SNS está um farrapo sem préstimo, os organigramas desfazem-se à nascença, os médicos greve aos fins-de-semana, por último numa altura em que ainda há uma semana foram registados 19.314 casos e 36 óbitos, a ordem é para dispensar a máscara. Não auguro nada de bom e vejo o SNS a cair aos bocados apanhados sofregamente pelos privados. 

O Público deve ter alguém muito entendido na beleza masculina porque, volta que não volta, exibe a sua sensualidade na forma como escolhe o que escapa à maioria... E mais não digo.

         - O corpo do ditador angolano, atravessou as ruas da capital para entrar no panteão que se constrói para guardar a preciosidade. As filhas e os filhos das mulheres anteriores à última também ela separada, não se apresentaram no funeral e o povo também não. O esquife por ali seguiu, levando dentro um homem que enriqueceu e fez multimilionários os filhos, deixando o povo na pobreza extrema.  


sexta-feira, agosto 26, 2022

Sexta, 26.

É urgente que anote o que se passou esta manhã no Fertagus e merece hosanas erguidas ao céu em agradecimento por não me levar a descrer totalmente da humanidade. A cena passa-se perto de mim. Dois jovens de dezoito anos (mais ou menos), entram no comboio e os únicos bancos que encontram vagos, são os que por direito e civismo pertencem a pessoas prioritárias: deficientes, grávidas e velhos. Um deles precipita-se e abanca, o outro fica a seu lado de pé. A dada altura o que está confortável, convida o companheiro para se sentar; este recusa, apontando a sinalética por cima dos lugares. O outro não liga, ambos prossegue a conversa, um amesendado o outro de pé. Finalmente, o que escolheu os bancos prioritários, levanta-se e os dois decidem procurar lugares na carruagem seguinte de modo a ficarem lado a lado sentados.  

         - Fui a Lisboa almoçar com Fr. Hélcio. De modo a não ficar com a manhã perdida para o romance, levei o tricot e sentei-me das dez ao meio-dia num café da Avenida de Roma, climatizado. Ando em estado de graça e, embora tivesse começado a fazer a revisão do que venho escrevendo, abandonei a ideia embalado por esta fase criativa. Enfim, modo de falar. Na verdade, em duas horas, enchi uma página e dúzia de linhas. Começo desesperante, as palavras esquivavam-se, a mente arrastava-se, a manhã prometia ser um desastre. Mas no final, ao reler o que saiu, sobretudo por haver nascido ali, isto é, não ter sido arquitectado antes, deixou-me muito satisfeito e o dia estava ganho.  


quinta-feira, agosto 25, 2022

Quinta, 25.

Os franceses e os portugueses que devem ter saudade de falar francês (em França decerto tagarelam na sua língua), não me largam a porta. Hoje foram-me úteis. Como a maquinaria não quer nada comigo, não ousei pôr a motosserra a funcionar. O Sérgio, munido do mais avançado que há em ferramenta, desmontou a máquina, limpou-a, fez ensaios e a sujeita voltou a sorrir. Daí que esta manhã muito cedo, me tenha atirado ao corte da lenha que andava a amontoar-se por todo o lado. Depois carreguei-a para o telheiro que já vai na segunda fila. O tempo foi gentil, não houve sol nem aqueceu como tem acontecido. 

         - A este propósito, estão a ser preparadas medidas para reduzir o consumo de energia, água, gás natural. Mais uma vez é o Zé povinho que paga. Não vi nada que obrigue os jogos de futebol a decorrerem enquanto há luz natural, como antigamente acontecia. O gás vai ficar mais caro a partir de Outubro e as famílias vão pagar em média 30 euros/mês. Quanto à energia, estive a comparar o que paguei o ano passado com o montante corrente: quatro euros em média mais. Fui educado a poupar, a gastar o indispensável, e as bazófias dos novos ricos horrorizam-me porque estão convencidos que os pobres é que devem pagar a crise – e têm razão atendendo às políticas que os beneficiam. 

         - Portugal é o país das histórias, tudo serve para que a classe política fuja por dias às investidas constantes da sociedade. Desta vez, a boutade (que não é a primeira), saiu da secretária de Estado da Protecção Civil, Patrícia Gaspar. Segundo a douta mademoiselle, Portugal, no tocante a área ardida deveria “ser 30 por cento superior”, se se cumprissem os cálculos do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. Por outras palavras, o Governo PS até não andou nada mal. Esta irresponsabilidade de alguém a quem foi confiado um cargo público, sem sensibilidade nem preparação para o exercer, devia ser despedida. As tristes afirmações, provam como os políticos andam distantes do país e dos portugueses, alcandorados em extrato esferas mirabolantes, em alucinações desvairadas, e não percebem peva da realidade nacional.   

         - A minha admiração não pára de crescer e só lamento que um político como Boris Johnson esteja de partida. O homem é impecável e mesmo na véspera de deixar o cargo de primeiro-ministro, deslocou-se a Kiev para estar nos festejos do dia da independência da Ucrânia ocorrido há 31 anos. Glória à Ucrânia, glória a Boris Johnson! 

         - No Qatar os trabalhadores imigrantes de vários sectores, protestaram em frente a empresa que os contratou e não lhes paga há sete meses. As manifestações são proibidas no país de ditadores e presunçosos líderes políticos; por isso as autoridades os recambiaram para os países de origem, abotoando-se com o rendimento do seu trabalho. Que mundo selvagem onde o dinheiro comanda a moral, a política e o direito. 


quarta-feira, agosto 24, 2022

Quarta, 24.

Ao livro de Valter Hugo Mãe, O Apocalipse dos Trabalhadores, julgo que lhe falta qualquer coisa para que o todo se encontre em unidade e consistência. As personagens são excessivas, transbordam das suas naturezas especificas e não convencem por isso. Por exemplo, Maria da Graça, mulher de limpeza em casa de um velho com recursos financeiros, tem por vezes rasgos metafísicos que não são característicos de pessoas da sua condição; assim como a sua amiga Quitéria, sensual a seu modo, amante de rapazes e apaixonada por um ucraniano, sendo mais convincente, não deixa, contudo, de se ultrapassar em linguagem e modo de ser, recentrando em si elementos dispersos de uma personalidade atávica que balança entre o respeito e o dar-se ao respeito. O livro é a história banal destas duas personagens, mas é, quer-me parecer, sobretudo a história do seu criador. Valter Hugo Mãe descobriu-se se calhar sem querer... Há demasiados episódios que nos levam a ele, embora eu não ignore que os romancistas servem-se da ficção para se estenderem ao comprido através daquelas e daqueles que retratam. Pelo autor vim a saber um pouco mais sobre ucranianos e russos que entram na história. Estes seres alvos, espadaúdos que vieram para Portugal trabalhar nas obras e por isso desenvolveram físicos aliciantes que as portuguesas gordas e baixas apreciam, não fora um pequeno-grande se não: aqueles corpos, e um sexo tão minúsculo... Sem falar na grafia, continuação da de Saramago, onde ao longo das 230 páginas, Deus e os nomes das terras, personagens, lugares e coisas, aparecem ao mesmo nível, isto é, sem direito à diferença que por natureza caracteriza todo o ser humano, os sítios, os deuses, etc. A própria respiração da escrita, é ao leitor que é confiada. É ele que põe os parágrafos, a entonação, os silêncios. A escrita limita-se a correr ao longo das linhas, o leitor vai atrás. Outra característica da moderna literatura portuguesa, talvez porque ajude a vender, é a utilização da linguagem sexual ordinária, pura e dura, que tenho dificuldade em aceitar; não por ser puritano, mas por achar que a arte é suficientemente abastecida de rigor, ofício e criatividade e no seguimento talento que tudo diz através dos sentimentos dispersos, da poesia ou do lirismo. O leitor compreende sem que seja agredido pela linguagem  vulgar. Não quero dizer com isto que se trata de um mau livro. Valter Hugo Mãe é dos melhores da sua geração. Contudo, quem como eu o descobre através do Homens Imprudentemente Poéticos, onde tudo é contido, exposto, vivido na densidade dos corações, em cujo fervor entrou o encantamento da poesia e o desenho lúcido das personagens, não deixa de sentir um certo desencanto. Aliás, na introdução, um sujeito que não conheço, quase me obrigou a pôr o romance de lado. O charabia literato é tal, que fiz marcha atrás. Felizmente venci as apreensões e avancei para fazer o meu próprio juízo. Ele aqui fica.  

         - Enfim, consegui esta tarde arranjar tempo para 250 metros de natação. Assim que o senhor Vítor saiu e o Sérgio e a Maria do Céu, fechei o portão, despi-me e mergulhei com redobrado prazer. Ontem, aqui, foi insuportável pôr o nariz fora de casa. Um calor abafado, terrível, seco. Três carros de lenha ficaram guardados debaixo do telheiro.


terça-feira, agosto 23, 2022

Terça, 23.

Madame Céleste Chateaubriand que devia ter uma paciência à prova de bala para aturar o chato do marido, reflectindo sobre os pobres numa reunião de damas aristocratas: “J´entends toujours parler de l´insolence du peuple, mais je ne suis frappée que de sa patience.” Esta frase veio-me à ideia ao ouvir o povo por essas aldeias largadas aos incêndios, insurgir-se contra o abandono e o desalento dos políticos que todos os anos por esta altura soltam o rosário de promessas nunca cumpridas. Chega aqui menina Greta Thunberg, repete: “blá blá blá”. Obrigado. 

         - A generosidade do Sr. Vítor não tem limites. Ontem veio aí regular a pressão do balão que leva a água ao andar de cima de modo a que não tenha de desperdiçar litros quando quero tomar um duche quente; hoje voltou porque detectei que o alpendre anexo ao salão, está em vias de derruir devido à trave de madeira ter aberto um lenho num dos lados de apoio. Efeito do clima, das altas temperaturas que os materiais como as pessoas não suportam. Ficou escudado a meio por um barrote, depois de ter sido levantado e levado ao lugar, com o elevador do carro - engenharia inteligente do meu anjo da guarda.   

         - Ontem almocei com os portugueses que falam francês. Fi-lo por deferência, por estima aos pais com quem privei e me ajudaram quando aqui cheguei. Quanto ao mais arrastei-me sem interesse de maior, à parte a observação colectiva que não perdeu aquele jeito espontâneo de falar (os palavrões saíam na língua materna), de funcionar em grupo, perdão, em família, onde as mulheres comandam a casa, os maridos, os filhos e são as únicas que emitem opinião sobre tudo e nada. Eles fazem figura de corpo presente. Julgam-se machões, mas são passivos. Ao inverso, do que eu observo nos casais gays, o activo domina o passivo na cama e na vida tout court

         - A canícula não nos larga. Não tenho podido nadar devido às variantes de vida que me bateram à porta. Por outro lado, felizmente, a escrita tem sido quotidiana e duas, três horas são a ela consagradas. Hoje a página 94. 


domingo, agosto 21, 2022

Domingo, 21.

Viver como se a morte não existisse. Dar tempo ao tempo, esbanjá-lo como se as coisas miúdas da existência fossem os alicerces da sua expansão, escutar o silêncio que chega de sítio nenhum, recentrar a vida que cresce da essência secreta de onde cada um de nós é originário, entrar no lampejo único que nos vem de um mundo perdido no espaço sideral, cheio das vozes que rumorejam na abstracção do ensejo, campo de sofrimento aberto à claridade que sega e paira algures num lugar sem tempo, onde dardeja na sombra a luz divina. Fazer de cada minuto uma longa e fascinante dádiva imerecida.  

         - “The most beautiful bays in the word” – diz o cartaz afixado no Fertagus referindo-se à baía de Setúbal. Somos os maiores em tudo, e ainda mais no ridículo. 

         - A semana passada fui a Azeitão levar o carro à inspecção. Que desolação ver a paisagem da encosta do castelo, vale dos Barris e Serra da Arrábida mais à frente! Por vezes o fogo cruzou a estrada alcatroada e comeu campos de vinha. No antigo espaço do Fortuna, as chamas passaram na parte de trás do casario e foram por ali avante: Quinta do Anjo, Cabanas, por vezes serpenteando entre casas isoladas, campos de cultivo. Está tudo perdido, chamuscado, negro.  

         - Chegaram os franceses e os portugueses que entre si falam a língua de Molière, o mesmo é dizer multiplicam-se convites para almoços e jantares. O problema é que eu do que gosto é do convívio e quase nada do que como. 


sábado, agosto 20, 2022

Sábado, 20. 

António Guterres esteve em Lviv na companhia de Recep Tayyip Erdogan e ambos encontraram-se com Velodymyr Zelensky. Os três fizeram o balanço do desbloqueio que permitiu levar cereais pelo Mar Negro a diferentes pontos do mundo onde a fome ameaça milhões de pessoas. Terão igualmente abordado o estado da guerra que começou a 24 de Fevereiro e parece não ter fim. Pelo contrário, a situação da central nuclear de Zaporija traz o mundo em suspenso. De seguida, o secretário-geral da ONU deslocou-se a Odessa (sul) de onde partem os navios carregados do precioso produto. O seu esforço que tem sido notável de sensibilidade e bom-senso, parece não cair grato no coração de Putin que não mostra interesse em abrandar o conflito. Este, nos últimos dias, aumentou de violência e as mortes e destruição sucedem.se.   

As imagens tenebrosas como esta repetem-se todos os dias. 

         - Ontem encontrei-me com o Carlos Soares para um parecer sobre o que dizem Clarence e Ana a propósito da arte românica e dos conventos e igrejas do século XVI num dos quais vive aquela. Felizmente tudo lhe pareceu estar em concordância, feita a leitura dos diálogos travados entre elas. Depois, perante a surpresa do que ouviu, Carlos quis saber como se chega aqui sendo a sua arte muito diferente da da escrita. Segue-se um longo monólogo da minha parte, emotivo, porque lhe desvendei um pouco o acto criativo sobre o qual não gosto de falar. Digo-lhe, por exemplo, que a cena que lhe tinha lido do envolvimento sensual inesperado entre a artista e a professora catedrática, levei pelo menos um mês a pensá-lo e antes de ele se realizar umas cinco páginas prepararam o futuro leitor para a cena. Bom. O curioso disto tudo, veio quando deixei o meu amigo no café da Fnac e saí para a rua. Nesse momento, veio ao meu encontro uma senhora de veneráveis cabelos brancos e disse-me: “Continue, porque o que ouvi ler ao seu amigo é muito bem escrito.” Fiquei estático, sem saber o que dizer. Venho a saber mais tarde, que ela esteve abancada nas minhas costas e havia escutado toda a conversa e a leitura das páginas. As que contam a noite no convento de século XVI, tinham sido escritas de manhã num Starbucks, pelas nove e trinta, rodeado de génios fabricando programas diante de Mackintoshs, no edifício do Corte Inglês. (Acerca disso, o jovem sentado à minha esquerda metia medo, não parava de tossir, assoar-se e tinha má cara. Espero não ter inoculado nenhum daqueles vírus. Só não mudei de lugar por educação e não o querer ostracizar.) 

         - Temperaturas voltaram a estar próximas dos 40 graus. Os fogos postos prosseguem agora em Ourém. Há dois meses, de Norte a Sul, que não ouve um único dia sem a tragédia dos incêndios. Alguém vai ter que explicar tudo isto. Apesar da brasa, comecei a preparar o Inverno, transportando dois a três carros de lenha para debaixo do telheiro. 


quinta-feira, agosto 18, 2022

Quinta, 18.

No livro de Jean d´Ormesson esta passagem, p. 342, Ed. Robert Laffont : “La science est là. Dieu est ailleurs. Hors de ce monde. Hors du temps. À l´écart de nos lois que déchiffre la science. La science parle. Dieu se tait. La science est présente sur tous nos fronts. Dieu est absence.” Não, caro Ormesson: Deus vê-nos, nós não o vemos a Ele.  Deus é por isso ausência-presença. 

         - O livro de Anna Politkovskaya não foi por acaso que me veio parar às mãos - nada acontece por acaso. Através dele cimento muito do que havia pressentido e compreendido sobre Putin e o imenso país que é a Rússia. E compreendo mais profundamente a desilusão de José Milhazes e de outros que embarcaram no romantismo comunista. Gide foi um dos primeiros e também o principal a afirmar que o comunismo é igual ao fascismo. E não me venham com aquela do leninismo, por favor. 


quarta-feira, agosto 17, 2022

Quarta, 17.

O incêndio na Serra da Estrela que lavrou mais de oito dias seguidos e ficou extinto domingo, voltou a reacender em pelo menos três pontos. Por lá andam centenas de bombeiros há três dias e não prevêem quando o dominarão. É visível que todas estas ocorrências têm mãos criminosas, seja de pirómanos ou de interesses corporativos, mas isso nunca se saberá – as máfias que pululam por todo o lado não deixarão. E nem o ministro competente do sector, será capaz de redigir um relatório livre – o Governo impede-o. Entretanto, parece que o fumo do incêndio do parque natural da Serra da Estrela chegou a Madrid, viajando 400 quilómetros à boleia dos ventos fortes. 

         - A diferença que faz vivermos em democracia! O ex-jornalista e ex-não-sei-que-mais, defende-se pateticamente de um esquema claro de interesses para toda a gente menos para ele, o bebé Nestlé e alguns (poucos) mais. Num longo artigo publicado no Jornal de Negócios (pois onde haveria de ser!), defende-se o grande economista e visionário, senhor Sérgio Figueiredo, dizendo, grosso modo, que quem perde não é ele, mas o país. O patrão que o contratou sem concurso publico e nítida falta de respeito pela competência dos homens e mulheres que trabalham no seu ministério, diz que compreende muito bem as razões da renúncia ao cargo por ele proposto a ganhar mais que o salário dos ministros. Mas a isto contrapõe o iluminado ex-não-sei-o-quê: os ministros em Portugal ganham mal. Ele, (não sei se socialista), não disse: Em Portugal quem ganha mal é a turbamulta de empregados escravos do sector privado, que não faz greves; os reformados que não têm vida digna; os agricultores que trabalham sem sindicato e de sol a sol; e até os cientistas que nos preparam o futuro sem pensarem demasiado nos cifrões; para não falar nos dois milhões de pobres que não pertencem a ninguém nem merecem um pensamento do insubstituível técnico que Medina queria obsequiar. Com esses nenhum dos socialistas que nos governam, nem os outros políticos que se esguelham para alcançar o poder, se preocupam. Em meio século de democracia, estamos praticamente como antes nos encontrávamos: miseráveis, tristes, lúdicos, ignorantes, subservientes, a assobiar para o lado como se a vida fosse um projecto colectivo vivido no equilíbrio. A arrogância e a prepotência da maioria oferecida pelo povo aos socialistas, traz cada vez mais a tona o carácter que nos querem esconder. 

         - No Brasil começou a campanha para a presidência. Vão a jogo o idiota Bolsonaro e o corrupto Lula. Este fala, se ganhar, em instaurar o comunismo – coisa que nunca Álvaro Cunhal ou Jerónimo de Sousa ousaram apregoar embora o desejassem. Entre um e outro, o diabo que escolha. 


segunda-feira, agosto 15, 2022

Segunda, 15.

Devido à trapalhada no metro, comecei a manhã num café da Avenida de Roma onde me sentei para duas horas de trabalho. Sendo feriado (Assunção de Nossa Senhora) as ruas estavam vazias, cafés e restaurantes cheios. Pouco avancei (talvez meia página). O que me levou a Lisboa, foi o agendamento com o técnico informático do Corte Inglês de acertos neste blogue. Acabei por almoçar no restaurante no toutiço da loja onde tenho o hábito de amesendar. Almoço simples e pró caro. Nada de carrossel na cabeça, pelo contrário uma certa pacificação, com ligeiro rumor de bem-estar disseminado de alto a baixo deste corpo que atrai as atenções das sabichonas e sabichões. Pudesse eu cair na tentação do casamento e seria o homem mais feliz do universo! 

         - Assim que abri o computador, entrou pela janela direita do ecrã esta notícia vinda da necrotério do Público:  “Os pais no Afeganistão enfrentam escolhas impossíveis, como tirar as filhas ou filhos da escola para poder alimentá-los ou pior – vender um filho ou casar uma filha de 12 anos para impedir os irmãos de morrerem de fome.” Esta é a obra corajosa de Joe Biden. Se não se pode contar com Putin, Xi ou o monstro da Coreia do Norte, também não podemos confiar em políticas que põem os interesses económicos acima da moral e da ética, num desprezo total pelos seres humanos. 

         - Pela boca morre não só a peçonha como os ditadores. Rebusco de Um Diário Russo de Anna Politkovskaya. Em 2003, Putin, entra numa espécie de campanha para a presidência e a televisão abriu-se, naturalmente, por concordância do déspota, aos tele-espectadores, num programa em que dos seus lares os russos o interpelavam. Um militar da base russa de Kant (no Quirguistão) fala da queda de Saddam Hussein no Iraque, e inquire Putin sobre a hipótese de ali surgir outro Vietname, resposta: “Em todas as eras, porém, os grandes impérios têm ilusões em relação à sua vulnerabilidade, acreditam na sua grandeza e infabilidade. Isto tem lhes causado invariavelmente muitos problemas. Espero que isto não aconteça aos nossos parceiros americanos (p. 44, Ed. Temas e Debates, Circulo Leitores). Pois a expansão americana é diferente da russa de Putin. Como se chama à invasão da Ucrânia? 


domingo, agosto 14, 2022

Domingo, 14.

O desespero leva a Ucrânia e a Rússia a brincar com o fogo. Os confrontos que ambos fazem junto à central nuclear de Zaporija, não vai acabar bem. Quando menos se espera, vai tudo pelos ares e nenhum fica para reclamar vitória.  

         - Os incêndios não nos largam. Todos com mão criminosa, como no caso do da Serra da Estrela, que começou às três da madrugada do dia 6 e só ontem ficou dominado. Entretanto, arderam 14.156 hectares. Manuel Franco da associação ambientalista Guardiões da Serra da Estrela, diz que 95% destes são dentro do Parque Natural. O espantoso, é que os responsáveis repetem aquilo que disseram e prometeram fazer o ano passado, há 3 anos, há 5 anos, há 10 anos. Como se chama a isto, menina Greta Thunberg: “blá blá blá”. É isso.  

         - É tão triste o povo que Marcelo diz ser o melhor do mundo. Do que ele gosta é de porrada, ordem, farda e assim. De contrário, não dava 30% de intenções de voto ao almirante das vacinas. Este perfila-se a medo, apalpando terreno. Todavia, vai dizendo as razões de uma tal preferência idiota, estas: “Eu sou alto, visto uniforme, tenho voz de comando e sou assertivo. Só estas quarto coisas (coisas ?) ajudam logo o processo. Faço o que tiver que fazer e sou impiedoso com os malandros.” É este o quadro que o “bom povo” engrandece para o cargo de Presidente da República - curiosamente o oposto de Marcelo Rebelo de Sousa. Um povo tatibitates; e uma classe política incompetente em toda a linha ao ponto de um oficial de marinha vir fazer o trabalho que ela não foi capaz de levar a cabo.  

         - O director do Público, no número de ontem, ante a possibilidade de a democracia poder sobreviver, diz: “Instilar na sociedade a ideia de que o Governo mente por natureza, que o jornalismo é uma fábrica de fake news, que os políticos roubam e os juízes são corrompidos, como Trump sempre fez, leva aonde a América está hoje. A um vazio de referências onde os ditadores, os mentirosos e a corrupção prosperam.” Há aqui um contrassenso. Justamente a América está como está porque houve um presidente que fez tudo aquilo que Manuel Carvalho pretende esconder para, como diz, salvar a democracia. O povo não introduz coisa nenhuma, não inventa nada, sofre e cala-se, tudo está no mundo político oportunista dos que nos governam. Por favor, não nos calemos. Somos nós com espírito crítico, vigilância atenta, denuncia permanente os salvadores da democracia. O articulista, com rasurados destes, faz o jogo dos ditadores, oligarcas e arrogantes. A própria vida brota da revolta e do inconformismo. 

         - Há três dias que comi o primeiro figo de mel. De então para cá, todos os dias , corro as figueiras em demanda dos que amadurecem, numa disputa com a passarada que me leva vantagem. Como já tenho tanta quantidade, vou ter que me meter ao fogão a transformá-la em compota. Mas como e quando se há tanta coisa a fazer por aqui?! 

         - Ontem acabei por entrar piano, pianíssimo no aquário: a água bulia mas da agitação que o miúdo provocava doido de felicidade. Foram de uma assentada, 200 metros. Depois, deitado na chaise long, o sol quente sem queimar, fiquei hora e meia submerso no silêncio do manto de um azul intenso e eterno, terra e céu em harmonia.

         - Apesar da doideira da cabeça, o facto é que tanto ontem como hoje foram dois dias supremos no romance. Avancei quatro páginas e vou ter de interromper porque chegado a um quarto do livro, tenho que rever o que ficou para trás, de modo a não perder o fio à meada. Não o faço com vontade, porque tenho sempre a sensação que os dias em estado de graça são tão escassos, que não posso desaproveitá-los. Pelo contrário, devo empenhar-me em galopar, mesmo correndo o risco de o fio condutor me levar ao desnorte. 


sábado, agosto 13, 2022

Sábado, 13.

O escritor Salman Rushdie, autor de Os Versículos Satânicos, desde há trinta e três anos sob a fatwa, decretada por Khomeini, líder espiritual que viveu anos a fio em França e quando do derrube do Xá assumiu a liderança (e a vingança) do Irão, acaba de ser atacado por um fanático de 24 anos, no estado de Nova Iorque, onde se encontrava para palestrar sobre o acolhimento que os Estados Unidos dão aos escritores aí exilados. O infeliz está em estado reservado e a sua vida corre perigo. Foi ferido no pescoço e abdómen, entre outras partes do corpo. Esta é também outra forma da globalização bárbara, que deixa à mercê dos interesses religiosos e financeiros, a liberdade e o humano convívio entre civilizações.  

         - Eu não tenho dúvidas que Trump tentou um golpe de Estado. Ele deu-se a si próprio  o domínio exclusivo do grande país que é a América, juntando-se a alguma canalha sórdida do grande capital e aos ambiciosos do seu partido, que cobriram todas as ilegalidades que foi cometendo ao longo do seu mandato. Esta personagem horripilante, com qualquer coisa de libidinoso, depois de ter ajudado à invasão do Capitólio onde morreram várias pessoas, no momento da saída, lutou contra a evidência: a perda de mandato nas urnas. Pior ainda: levou para a sua mansão na Flórida dossiers secretos, entre eles, os relacionados com armamento nuclear, destruiu muitos outros documentos, fez uso de papéis top secret da Defesa e registos oficiais. O FBI é de opinião que ele violou (eles dizem pode ter violado) a lei de espionagem. Quem não teve dúvida no mandado de busca, foi o secretário de Justiça e procurador-geral dos EUA, Merrick Garland. 

         - Todos os meses recebemos doentes do privado por ter acabado o plafond, diz o médico Bruno Maia. Mas não explica porquê. Eu digo: porque esticam ao máximo tratamentos, mezinhas, medicamentos e diagnósticos muitos inúteis, de forma a sugar o seguro de saúde dos azarentos que, julgando-se ricos, acabam enxotados para os hospitais públicos. Há muito que as coisas se passam deste modo. Eu só uso o privado quando o público não me acode – e mesmo assim com muitíssima moderação. Não quero ser joguete nas mãos da medicina arrogante e gananciosa. 

         - Estou que não sei. Adoro fazer os meus diários 250 metros de natação, mas tenho medo da tonteira que parece ter diminuído, mas não apreciar os abusos de entusiasmo do desportista. 


sexta-feira, agosto 12, 2022

Sexta, 12.

Ontem, quando subi para me deitar, comecei com tonturas e tive de me agarrar à cama para não cair. Assustei-me sem saber o que fazer. Aquilo parecia que tinha montado a um carrossel. Já sobre o travesseiro, voltando-me ora para um lado ora para o outro, o quarto não parava de me arrastar naquele movimento que me parecia cómico e aterrador. Antes tinha medido a tensão: 12 – 6,2. Boa, portanto. Decido adormecer e quando acordei a meio da noite (desde há uns tempos coisa rara), vou às apalpadelas ao quarto de banho. De regresso à cama, estendo-me com cuidado e pouco depois estou no planeta dos deuses. Acordei pelas sete horas. Analiso-me, apalpo-me, olho a pintura do Carlos, os desenhos do Ferreira, os livros nas mesas, a janela ao fundo e, aparentemente, tudo voltou à normalidade – ninguém dança a valsa e muito menos o corridinho. Tenho a cabeça vácua, cansada, e digo para mim: “Helder, guarda os pensamentos, os delírios, a criação de personagens, as ideias trágicas, o concerto das dezenas de livros que nunca comporás e vive hoje o dia sem escrever uma só palavra - mesmo neste diário.”   


quinta-feira, agosto 11, 2022

Quinta, 11.

Até parece que o Ministério das Finanças tem au seu serviço pessoas incompetentes, técnicos de terceira categoria, funcionários que vivem nas avenidas novas, em apartamentos comprados por truta e meia em troca de favores camarários, gente em que o actual ministro não confia minimamente. Não é tanto assim. O que se passa, ao modo socialista de governar, é que o dito Fernando Medina, mais conhecido por bebé Nestlé, quis pagar o favor que Sérgio Figueiredo, ex-jornalista, ex-director de informação da TVI, lhe fez ao convidá-lo para comentador político residente no aberrante canal. A escolha do amigalhaço e reconhecimento do gesto recente, foi feita sem concurso público, garantindo ao iluminado economista, uns 5.832 € mensais, ó larilas!  Como é que estes jogos se chamam? Deixa cá ver ó revoltado, corrupção? União de interesses? Paga de favores? Que cargo vai exercer o sabichão no Ministério das Finanças: “Consultor estratégico para avaliação e monotorização do impacto das políticas públicas.” Porra! Desculpem! Afinal com esta sabedoria o que o país vai ganhar e os pobres vão deixar de viver na miséria,  a saúde vai beneficiar, o ensino idem, a ciência, a pesquiza, a filosofia, as empresas, eu, se fosse ao bebé Nestlé, não era tão forreta  - pagava-lhe de mão beijada 10 mil euros/mês! O homem é competentíssimo, refiro-me ao ministro. Estando em férias com uma dúzia de livros que disse ia ler, ainda encontrou no seu cérebro o espaço para contratações desta transparência! Por quem sois, ó maior génio de todos os tempos! Toma lá 4 milhões. 

         - As bestas que rondam o futebol crescem em vandalismo. Não me consigno conformar com a importância e poder absolutos que o futebol tem entre nós, ao ponto de arrastar por vezes as consciências mais íntegras. Os crimes a ele associados não têm fim e, volta que não volta, somos confrontados com autênticos animais selvagens, que ferem os adeptos da equipa contrária, arrasam cidades, destroem unidades comerciais, lançam a desordem e de seguida partem, satisfeitos e felizes, deixando para trás o caos. Foi o que se passou ontem em Guimarães. A policia local não pôde ou não soube suster grupos de criminosos que vieram da Croácia e de outros países europeus, em vários autocarros do aeroporto à cidade dita o berço de Portugal. 


terça-feira, agosto 09, 2022

Terça, 9.

Fui a Lisboa encontrar-me com o Vergílio e a Luísa. Depois chegou a Teresa (o António faltou porque também a ele chegou a covid) e ficámos à conversa até perto do meio-dia. Como diria o João, esteve-se bem, rolando temas uns a seguir a outros, numa concordância enternecedora, enquanto à nossa volta os queridos turistas faziam a algazarra que dá milhões ao país. Dali fui almoçar ao Corte Inglês. Quando cheguei e mesmo mais tarde pouca gente. Comi muito bem e por um preço correcto. Antes de deixar a loja, desci à livraria para trazer o último livro de Anna Politkovskaya, jornalista mandada assassinar por Putin, em 2006. Trata-se de um diário político que começou com a invasão da Chechénia, em 1999, levada a cabo pelo actual ditador e estende-se até um pouco antes da sua morte.  

         - O Fertagus compensa-me não só com a viagem, mas acima de tudo com o que ouço dentro dele. No regresso duas mulheres falavam para a carruagem quase cheia dos seus problemas familiares, faziam-no com tal vivacidade, que um homem que seguia perto se levantou e veio sentar-se ao meu lado, barafustando: “Porra, que temos nós a ver com a vida desta gente!” Do que me chegava, eu dizia para mim: “Helder, olha do que tu escapaste! A tão apregoada vida familiar, está ali desenhada sem rodeios nem fantasias, descarnada e violenta.” 

         - No dia em que devia estar mais activo – sábado - entrei numa onda de taralhoquice. Quando ia a pôr no forno previamente aquecido a tarte que passara um certo tempo a preparar, dei-me conta que não tinha forrado o prato com a massa própria. Toca de retirar o preparado, cobrir o fundo do prato com a pasta, verter o conteúdo para dentro e levá-la de novo ao forno. No final, como não lavei o prato, a tarte ficou agarrada ao fundo e foi à espátula aguçada que retirei o recheio de legumes – desfeito em mil pedaços. 

Da massa sobrou uns pedaços. Lembrei-me de fazer uns crepes doces no forno. Untei as formas com manteiga, cobri-as de massa, e o meu desejo era encher o fundo com amoras silvestres que aqui brotam por todo o lado e mais um pouco de geleia de marmelo que a Zitó fez há uns anos e eu gasto com (muita) parcimónia. A geleia ok, mas em vez de pôr o fruto bravio, enganando-me, enchi com paté de azeitona. Depois, despachado, disse: “Talvez seja bom e eu faça história com a união de elementos tão díspares.” Sentei-me pomposamente à mesa para provar a invento – que porcaria, não é coisa que se aconselhe a ninguém. Contudo, para não deitar ao lixo, fechei os olhos e com o café fui despachando o desastre. 


segunda-feira, agosto 08, 2022

Segunda, 8.

Não sei se concordo com o filósofo André Barata. Não conheço nenhum dos seus livros, mas a entrevista que saiu ontem no Público abriu-me uma janela de romantismo que facilmente é aproveitado pelo sistema capitalista e neoliberal que ele combate. Muito antes de pôr em prática as suas ideias, a peleja deve fazer-se ao nível da evolução da sociedade através do conhecimento e da cultura. De contrário, como em certa medida já hoje se verifica, a difusão de condições materiais sem esforço, arrasta multidões para o dolce far niente com todas as implicações que isso acarreta. Estou de acordo quando diz que “o neoliberalismo em que vivemos é a coisa mais totalitária que alguma vez vimos”, mas fazer depender a vida de cada um da sobrevivência do Estado, é reduzi-la a uma enorme massa de dependentes e, portanto, à subserviência e à manipulação. Mas concordo inteiramente quando contraria o que eu sempre combati, a saber, “o pensar inclusivo, que funciona por alargamento de um circulo de inclusão”. Espero que os senhores jornalistas de hoje, tenham lido e meditado sobre o assunto. 

         - O mundo não precisava de mais um conflito nestes últimos dias coberto de mortes e feridos: a eterna insurreição entre israelitas e palestinianos, mais exactamente o grupo Jihad Islâmica. Ao todo morreram pelo menos catorze pessoas e os rockets não param de um lado e outro.  Eu tendo a colocar-me do lado dos mais fracos, embora toda a Faixa de Gaza seja um permanente campo de batalha que a comunidade internacional não conseguiu até hoje pacificar. Devíamos parar e ir às origens da implantação dos povos na zona e tentar a partir daí a solução. Todos têm direito à sua pátria, livre e independente. 

         - Praticamente estou instalado na prática diária de natação com referências adquiridas: 250 metros feitos em vinte minutos. Nada mau.  

         - Não tarda comerei os primeiros figos de mel. Todavia, aqui e acolá, vou trincando uma maçã. As árvores, como é de hábito nesta época, estão a abarrotar de frutos. Os dióspiros, sendo menos que no ano passado, têm ramos derreados de peso. E que dizer do marmeleiro! Interrompo. De contrário, estou como Orwell a dar o rol diário de ovos das suas galinhas. 


domingo, agosto 07, 2022

Domingo, 7.

Parece que fui tomado da obsessão de Jean d´Ormesson. Depois de ter lido o romance de Valter Hugo Mãe, O Apocalipse dos Trabalhadores (mais tarde falarei dele), tendo dado uma olhada à biblioteca de cima, deparo-me com um volume da Robert Laffont, Qu´ai-je donc fait, que não havia lido. Que felicidade! Que momentos inolvidáveis antevejo! Todavia, antes destas obras, lembro-me de ter lido um outro título, com relativamente poucas páginas (cento e qualquer coisa) que não encontro em nenhuma biblioteca. Bom. Este súbito interesse pela obra do escritor francês, veio-me do livro lido em Maio, Je dirai malgré tout que cette vie fut belle, mais amplo não só na temática como na espessura (490 páginas). Este trabalho que eu julgava ser ligeiro como o escritor em vida tinha fama de ser, veio a revelar-se-me de uma consistência metafísica e vivência absolutamente apaixonantes. Suponho que a obra toda de Ormesson foi construída a partir da viagem que ele empreendeu quando por aqui passou e é isso, essa descoberta do eu enquanto personagem à descoberta de si, do mundo e dos outros que alicerça e dá força e continuidade a largas dezenas de títulos centrados no autor. De resto, penso, só a obra que parte do mais íntimo do seu obreiro, onde ele está inteiro através das suas personagens, tem futuro e leitores.  Tudo o resto, é fantasia. 

         - Há três semanas que os meios de comunicação ditos sociais não se calam, têm até um certo gozo, um prazer redobrado, feito de hipocrisia e cinismo, em gastar papel e imagem a revelar a vidinha privada de certos párocos com efebos. Como se esses pecadilhos só agora bradam aos céus! Os seminários sempre foram antros de promiscuidade, de prazeres e descobertas carnais, de segredos e alcovas secretas, onde os rapazes descobriam o corpo olhando o que viam e admiravam à sua volta. Do lado dos sacerdotes, num mundo apodrecido de sexo, que Freud arremessou e desapareceu, inseridos nele, com a panóplia de sensações, gostos, olfatos, diversidade de prazeres, onde a par do dinheiro só ele empanturra, o amor ao largo tomando o lugar dos ais plangentes, murmúrios fingidos, corpos frígidos, a envolverem-se num vazio e numa solidão inefável, que termina num orgasmo seco, chato, podre, sobre a sotaina escura que denuncia o santo quanto mais o pecador. O sacerdócio, é bom que se saiba, há muito que virou uma profissão como qualquer outra. O padre não abdica da boa vida, do salário de professor ou outro, quer ser igual a qualquer cidadão, na obscuridade como na manada, não se identifica quando o vemos na rua, exibe a mesma pança com o cinto descido abaixo do umbigo, desce a rua em completa identificação com o ser comum porque, diz, só assim o pode compreender, ajudar, irmanar. Os mistérios que jurou cumprir, respeitar e seguir são princípios do passado; ele sente-se no direito de acompanhar os movimentos sociais e muitos são marxistas e outros social-democratas, outrora foram quase todos apoiantes do Estado Novo; não estão dispostos a abdicar de nada que a vida e as modernas tecnologias oferecem, são modernos, inovam a Igreja, correm atrás da juventude não com a virtude, a singularidade, votos de castidade, fervor religioso, entrega ao Senhor, mas com o sentimento pagão que a vida é para ser levada na enxurrada de todos os delírios, fantasias, orgias sexuais. Com o poder que a Igreja lhes confere, abusam, tiranizam, escravizam adolescentes pobres que se acolhem e aprendem e tiram o curso que os pais não lhes pode dar nos seminários e conventos. Bendito seja o Papa Francisco que destemidamente encarou um problema há muito disseminado na Igreja católica. Quando estive em Roma, tive conhecimento do que se passava na cidade, muitos padres e religiosos tinham sida e só quando morriam ou chegavam tarde ao hospital por temor, é que se sabia o que o Vaticano escondia. 


sexta-feira, agosto 05, 2022

Sexta, 5.

Joe Biden quis ficar na história de braço dado com Barack Obama. O primeiro liquidou Osama bin Laden, o segundo Ayman al-Zawahiri seu sucessor. Dizem os entendidos que o drone que o matou, telecomandado desde os EUA, levava o último grito em precisão bélica e, por isso, apanhou o líder da Al-Qaeda na varanda da sua confortável casa de onde já não saía devido a complicações de saúde. Foi como se Biden tivesse atirado sobre uma estátua. A organização que ele chefiava, nasceu da invasão do Iraque pelo alcoólico Bush Júnior. Não tarda outro ocupará o seu lugar, os crimes prosseguirão, a morte não sepulta o rastilho de ódio, pelo contrário este cresce a partir da sua memória. 

         - Ainda a história da covid. Eu acho que, tarde ou cedo, todos vamos acabar por ser atingidos pela peçonha. As vacinas, cada vez as ponho mais em causa, a avaliar pela defesa que os laboratórios diziam causar. Desde o início da peste, a linguagem foi variando, e a sensação que tenho é que imperou a vontade dos laboratórios que com isso enriqueceram. Que este vírus não é normal, desde a primeira hora que o afirmo. Resta-me esperar que ele venha ao meu encontro, sendo certo que continuarei a fazer-lhe frente. 

         - A fase em que se encontra o mundo é desde a II Grande Guerra a pior. Andamos todos desorientados, descrentes, submissos. As grandes potências bélicas ensaiam, olham-se, provocam-se. A resposta é já pronta, destemida, avassaladora. Como o caso da China com a série de mísseis em torno de Taiwan em resposta a viagem da presidente da Câmara do Congresso norte-americano, à ilha. Biden é fracote, a senhora com os seus 82 anos, parece mais corajosa. Seja como for, sabemos em que campo está toda esta gente. É mais fácil governar em ditadura porque os cidadãos não contam para nada, que em democracia onde a desordem e a corrupção não faz bons e honestos líderes. 

         - “É surpreendente a aparente vantagem de Gouveia de Melo, de quem pouco se conhece do pensamento e visão sobre as grandes questões nacionais. É relevante como tanta gente está disposta a depositar a sua confiança num quase-estranho.” Diz Carlos J. F. Sampaio de Esposende, na coluna “Cartas ao Director", do Público. Se me permite, caro senhor, dou-lhe eu a resposta: ignorância, idiotice, orfandade.    


quinta-feira, agosto 04, 2022

Quinta, 4.

Fui a Lisboa para me encontrar com o Vergílio Domingues. Como a Piedade chegou cedo e queria mudar os lençóis da cama, ajudei-a nesta operação e despachei-me para a estação de forma a apanhar o comboio das 9 e doze minutos. Pelas dez estava a fazer tempo no pequeno bistro do primeiro andar do Corte Inglês. Como ando em fase produtiva, levei o computador e iniciei o meu trabalho. Esqueci-me completamente do que me havia levado a Lisboa e só perto do meio dia dou conta que não tinha ido à Brasileira. Vou, contudo. Ali chegado não vejo vivalma, à parte turistas sobre turistas. Desço ao Rossio, entro no Celeiro e almoço. Mas Clarence e Ana não me saem do pensamento. De regresso à Av. de Roma para embarcar, opto por abancar num dos muitos cafés daquela artéria e pego de novo no romance.  De um jacto encho uma página - estou pronto para o retorno a casa aligeirado da melancolia que se tinha alojado em mim desde que acordei. 

         - No Celeiro esbarrei com um doutor nutricionista. Estou em conversa com o chefe de loja, mais exactamente em desacordo com os produtos que ele me aconselha, todos da marca americana Solgar (acho que é este o nome), quando o médico se intromete dando-me razão. Depois fala do SARS-Cov-2 afirmando que foi um vírus construído por laboratórios americanos, holandeses, ingleses, alemães que, a dada altura (é longa a narrativa) decidem envolver a China. Esta vai modificar a besta criada pelo grupo de criminosos e experimentá-la – assim ficou o mundo inteiro de cócoras diante dos laboratórios que, digo eu, utilizando o Relatório Oxfan, ganham por segundo 1000 dólares. Perguntei-lhe se se tinha vacinado, respondeu-me que não. O chefe da loja, barafustava: "O senhor acabe com essa conversa porque me espanta a clientela."

         - E contudo. No C.I. encontrei um conhecido meu, livreiro, não terá quarenta anos, e foi contagiado há um mês com covid e só há 15 dias voltou à vida normal. Disse-me que foi muito difícil, passou pelo menos quinze dias aflito e como vive só houve que acudir a alimentação e o mais. Elogios rasgados à linha Saúde 24 24 que aqui deixo, eu que descreio de quase tudo. 


quarta-feira, agosto 03, 2022

Quarta,3. 

A senhora Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes do Congresso norte-americano, num périplo pelo continente asiático, aterrou em Taiwan. O objectivo da visita ficou claro nas suas palavras: “A solidariedade americana com os 23 milhões de pessoas de Taiwan é hoje mais importante do que nunca, num momento em que o mundo enfrenta uma escolha entre autocracia e democracia.” Logo Xi Jinping ping ping advertiu Biden que não vai ficar “sentado de braços cruzados” a assistir ao espectáculo americano. As coisas complicam-se. Um e outro treinam objectivos mais vastos e miram-se a medir forças. Até quando? Coreia do Norte, Rússia, Cuba, Venezuela e, claro, o nosso precioso PCP puseram-se do lado do ditador. 

         - Tudo leva a crer que a moda da gentinha pateta que invadiu as televisões aparecer sem cuecas, veio para ficar. Falam-me num actor de telenovela que tem dado que falar e decerto abundância de ganhos concomitantes. Porque estes gananciosos, num mundo mediano, onde o efémero ganha ares de eternidade, ao invés de estudarem, aperfeiçoarem, construírem dentro de si as personagens que encarnam, exibem os físicos de periferia convencidos que isso lhes dá aquilo que lhes falta – talento. 

         - Ontem, estando no Rato à espera do 727, deparo com esta inscrição no rebordo do passeio. Os erros ortográficos são muitos, mas a ideia está lá.   

         - Ontem não entrei no romance, mas foi como se nunca de lá tivesse saído: rabisquei uma folha de notas e uma página nas “notas” no i-Phone. 

         - Um gestor que chegou ao mercado após 25 de Abril e percebeu que os desejos e cobiças dos capitalistas se exercem e concluem com a democracia mais facilmente do que com a ditadura, quis mostrar-se alguém e despejou um saco de aflições que pobres e médias e pequenas empresas, iam tendo um colapso e partir desta para melhor. A leviandade do cavalheiro (ou o conhecimento, a ver vamos) foi tal que, sem papas na língua, advertiu que a conta de electricidade, já no final deste mês, ia ter um aumento de 40 por cento quando, António Costa, não se tem cansado de afirmar que até pode diminuir. Como a política é um jogo de interesses, o PSD actual diz que o Estado não deve entremeter-se nos assuntos das empresas e o PCP, fiel aos seus princípios, insurgiu-se contra -  eu estou do seu lado.     


segunda-feira, agosto 01, 2022

Segunda, 1 de Agosto.

Com os dias abrasadores que estão de retorno, o país volta à cena dos incêndios a maioria com mão criminosa. Calcula-se que já arderam este ano 59.852 hectares de floresta e ainda o Verão vai a meio. Os sistemas de vigilância, oferecem esta imagem impressionante e nela se vê como o clima mudou e como o mundo sofre com essa mudança: o défice de chuva, de humidade no solo, de recuperação da humidade e da vegetação vai levar décadas. Não só em Portugal, como por toda a Europa para não falar dos terríveis incêndios nos Estados Unidos. 



         - O Papa Francisco muito debilitado, deixou o Canadá onde passou seis dias. Foi em missão penitencial pedir perdão aos povos autóctones que foram vítimas durante mais de 100 anos dos abusos cometidos nas escolas dirigidas por padres e freiras aos seus filhos, arrancados às famílias indígenas e submetidos a violência, maus tratos, abusos sexuais, corte cultural e formas de pensar e viver, e enterrados clandestinamente numa espécie de genocídio, mais um entre muitos outros que a humanidade conheceu e neste caso só foi possível com regimes autoritários e de conivência com a Igreja. 

         - Para fugir à canícula e prosseguir o meu plano de trabalho em redor da casa, comecei o dia às 6 horas e trinta minutos. Desde logo com regas, seguindo-se o corte dos grandes braços do medronheiro que cobriam já uma boa parte do telhado da casa térrea. Depois, serrotei-os aproveitando os troncos para a lareira. Pela quinta, à espera do Inverno para serem queimados, estão já três grandes montes de vegetação. Às dez estava sentado no meu púlpito e foram duas horas de escrita no romance. Felizmente sem muito esforço e o saldo de página e meia. Com o declinar do calor, vou fazer 200 metros de natação.