domingo, março 31, 2024

Domingo de Páscoa.

Escrevamos ao sabor da escrita. Como já aqui disse, enquanto os humanos se reduzem a um algoritmo, as desgraças tomam nomes impressionantes. Desta vez, a tempestade que se acercou de nós, tomou o nome de Nelson. Este rapaz semeou em dois dias formas mais terríveis de sustos que perecem ter sido tornados: no Algarve, Montijo e no Tejo, em Lisboa. A par de chuvas torrenciais, trovoadas, inundações, derrubem de árvores de grande porte, frio, paralisação da vida. 

         - Não obstante, saí anteontem da toca para ir ao encontro do João Corregedor à Brasileira. Ali estivemos à conversa, eu interiormente de atalaia, não fosse ele disparar política com todo o tiroteio que chega da Assembleia Nacional por esta altura assanhada ou pronta a disparar às primeiras horas do novo Governo. Pelo contrário, a tarde que foi longa, decorreu simpática, íntima, abordando temas daqui e dali, numa cavaqueira de cavalheiros educados e simpáticos. A tal ponto que ele acabou por me convidar para o almoço, num restaurante ao fundo da Rua Anchieta, espécie de taberna austríaca, barulhenta, cheia de novos-ricos que atiravam para a mesa os salários elevados, julgando-se grandes senhores, elevando a voz, gritos aos filhos, expondo sem quererem a sua condição verdadeira, que a riqueza não esconde, antes amplia, mas onde comemos salsichas e batatas fritas, rematadas com um Strudel horrível que nada tinha a ver com aquele que eu comi na Áustria não tem um par de anos. Logo no começo, ele telefona à Marília desafiando-a a vir almoçar connosco, depois à filha para desafiar a mãe, e por fim ouço-o ao telefone lamentar-se pela sua ausência. A mulher, quando ele lhe diz que no regresso a casa lhe levará um Travesseiro de Sintra, deve ter dito “és um santo”, porque o escuto exclamar: “Eu um santo!” Enfim, dali entrámos na porta ao lado na Bertrand, porque eu queria dar-lhe a conhecer o último livro de Frederico Pedreira, mas ele, depois de deitar o olho ao texto da contracapa, pouso-o no escaparate torcendo o nariz. Teria razão. De facto, o texto que ele chama romance e eu tenho tendência a chamar-lhe ensaio, não é fácil sobretudo para alguém que tem o jogo endiabrado da política como escolha intelectiva. 

         - Grosso modo, gosto da equipa governamental construída por Luís Montenegro. À excepção do ministro das Infra-Estruturas por quem não tenho nenhuma confiança e simpatia, todo o resto do Executivo, se tiver arcabouço para lidar com a contra-democracia que vem da CGTP, do PCP, do Chega, do BE e do Livre, se conseguir trabalhar em vez de parlapatear como era useiro e vezeiro o camarada António Costa e seus muchachos – ele já deu provas que é capaz quando conseguiu formar o seu núcleo sem deixar escapar nenhum nome para os ditos jornalistas e comentadores -, então temos um ciclo longo de trabalho que espero seja de arrumo da casa, de proximidade aos cidadãos, aos mais pobres, e ao progresso que dá incentivo a todas estas acções. 

         - Deixei entrar o Ressuscitado e o dia encheu-se de esperança e alegria. Trabalhei sereno, assisti ontem à Via-Sacra de Roma, hoje à Missa de Páscoa do Vaticano celebrada pelo Papa Francisco muito debilitado. Um dia assim, só o de quinta-feira, 28. Houvera a Deus que eu possa terminar os meus dias na serenidade e na paz que nos anuncia que nada do que aqui vivemos foi inútil enquanto preparação para a Ressurreição. 

         - A ideia de um Deus, vem dos confins dos tempos. Muitos séculos antes da vinda de Jesus  Cristo, no Antigo Testamento como nos filósofos gregos e latinos, o prenúncio de alguém sobrenatural que nos guia e nos criou, alimentou as consciências e deu azo a muitas guerras, mortes e heresias (do grego haíresis). Atente-se neste fragmento de prosa sublime, que faz parte dos Diálogos de Marcus Cícero no livro 1 De natura Deorum (IX 21): 

“Do facto de o mundo não existir não se segue que não existissem os séculos (quando emprego aqui a palavras “séculos” não me estou a referir àqueles que são constituídos  pelo número de dias e de noites e pelo correr dos anos, porque reconheço que estes não poderiam existir sem a revolução do universo; mas houve desde o tempo infinito uma certa forma de eternidade que não é mensurável por quaisquer unidades de tempo, embora possa compreender-se pela qualidade do espaço, uma vez que não é pensável que não tenha havido alguma facção de tempo quando o tempo ainda não existia). 


quinta-feira, março 28, 2024

Quinta, 28.

Com um Fariseu e um Judas de cada lado, não sei quanto tempo durará o Governo de Luís Montenegro. Agora do que eu sei, é que aprecio a forma discreta e pouco dado à ribalta da sua maneira de ser. É séria, competente e respeitadora de quem prefere a acção ao reclame permanente pelas auto-estradas da Internet e à sarna dos jornalistas que por cobardia e falta de cultura democrática e independência, estão sempre do lado das esquerdas.  

         - A França depois de ter entrado em “economia de guerra”, anunciou há três dias o “estado de alerta”. Macron, depois de ter andado de braço dado com o assassino Putin, percebeu, enfim, quem ele é e o que pretende o ditador russo. Parece ser o único numa União Europeia de funcionários, que arrastam o rabo pelas cadeiras estofadas e cómodas das suas reformas douradas. Razão tinha Salazar quando lhe pediram para substituir as cadeiras de madeira onde os funcionários públicos se sentavam, retorquiu: “Deixem-se disso, assim não adormecem.” 

         - Tarde tranquila de trabalho. Em frente à lareira acesa, sentado no sofá do salão, momentos eternos de serenidade e paz. Apenas o vento doido cortou a quietude que aqui se instalou há muitos séculos e aqui reside para felicidade daqueles que escolheram este refúgio para viver. Como se quisesse ver o tempo correr à volta de mim, peguei em inúmeros livros para espreitar uma página neste, ler meia dúzia noutro, reflectir naquele, avançar vinte outras no “romance” de Frederico Pedreira... Depois retornou o silêncio, o vento debandou, a chuva parou, a terra ficou submersa da estrondosa chegada do meu admirável companheiro que cresceu em altura e comprimento. Silêncio pede o silêncio ao silêncio.  

         - A riqueza é o deus dos tempos modernos. Essa obsessão por ter e haver, desgraça a vida de todos os novos-ricos que obtiveram fortuna rápida – ficam  queimados e desvairados, convencidos de que se transformaram no deus todo poderoso que pode virar o mundo do avesso. Sobretudo estes jovens talentosos, que manobram as novas tecnologias como feiticeiros, e assim enriquecem de um dia para o outro, e de súbito, quando anjos e arcanjos os seguravam nos fios translúcidos da ambição e do orgulho, eis que, como água corrente, tudo o que alcançaram esvai-se com o mar imenso das suas ganâncias. É o caso de Sam Bankman-Fried, agora condenado a 25 anos de prisão, por haver cometido vários crimes – fraudes, lavagem de dinheiro, desvios de fundos - que levaram ao colapso da FTX – uma plataforma de criptomoedas.    


quarta-feira, março 27, 2024

Quarta, 27.

Enquanto António Costa, mantendo a sua formidável capacidade de propagandista, se despede lançando perfumes de realizações político-sociais, o partido que ele elegeu e cresceu desmesuradamente, paralisa o país no lugar onde era suposto renascer a democracia. Os deputados, os antigos e os recentes, foram pela noite adentro em logradas votações para eleger o Presidente da Assembleia da República. Foram três as tentativas – todas abortadas. O espectáculo segue dentro de momentos.

         - Se me permitem, aqui deixo um parecer que vale o que vale: se depender de Marcelo, o PS volta a ser Governo em breve. 

         - Há dias fui almoçar com o Carlos a um restaurante simpático, dirigido por um casal de velhotes, ali para os lados do que é hoje (ou vai ser) o edifício do Governo ex-CGD. Serviram-me salsichas frescas embrulhadas em couve lombarda, acompanhadas de arroz branco, um pitéu que eu não saboreava há mais de dez anos. Ficámos à mesa duas horas a recordar este e aquela, a falar tranquilamente da vida passada e futura, num remanso de quem não se via desde o começo do mundo.  

         - O Inverno mais rigoroso voltou. Decerto, devido à baixa temperatura, vou ter que acender a lareira. Ventos doidos passam por aqui ensandecidos de braço dado com chuva torrencial. Na Serra da Estrela neva. Não obstante, saí para me refugiar num café aqui perto e avançar no romance. É uma obsessão, confesso. Mas que fazer se é nele que encontro a motivação para continuar a viver. 


terça-feira, março 26, 2024

Terça, 26.

Ante o espectáculo vergonhoso dos ditos políticos, contraponho estas palavras de Julien Green, registadas em 1981, quando a imprensa descobriu que Reagan pintava o cabelo, coisa vulgar nos dias de hoje, abolidos os preconceitos entre os homens: 

“Les politiciens ont toujours des cheveux à teindre, toute politique semble n´être que du maquillage.” 


segunda-feira, março 25, 2024

Segunda, 25.

Não saí daqui o dia inteiro no labor que me enche as horas. Progredi no corte da erva ruim em duas sessões de manhã e de tarde, li o romance de Frederico Pedreira Sonata para Surdos, avancei de braço dado com Ana Boavida antes de jantar. Um dia pleno de fulgor não obstante a agressividade do clima caprichoso que agora nos visita inopinado: sombras de sol, vento agreste, céu pardacento a anunciar chuva mais adiante. O trabalho sempre foi para mim uma paixão. Toda a minha vida trabalhei no duro: quando estudei, quando abracei a rádio, o jornalismo, quando dirigi a agência de publicidade, quando meti ombros ao nascimento deste lugar outrora abandonado, com duas paredes de casa simples submersa no mato denso, que reergui e mais tarde alarguei ao conforto e dimensão actuais. Por isso, não entendo o que propõe o arcebispo-historiador, que dizem ser homem sábio, com quatro deputados às suas ordens, quando incentiva a semana de quatro dias de trabalho. O homem na sua obsessão pelo poder, nem parou um instante para pensar, estudar a vida dos infelizes que ficariam com tempo lesto sem saber como o consumir. Nem ele nem as criaturas da Intersindical, que se antecipam à ideia do historiador-político, fazendo greve às segundas e sextas-feiras, enquanto milhões de escravos são forçados a trabalhar por ordenados de miséria e muitos milhares vivem de subsídios, esmolas estatais, do ar contaminado que respiram, sem dignidade nem vontade de viver. Para uns derreterem o tempo montados em sólidos haveres; outros consomem a vida na busca de trabalho e da dignidade que ele acrescenta. A esta figurona elite de políticos de rifa, com vários encaixes financeiros daqui e dali, todos bem remunerados, quatro dias de labor por semana são suficientes para derreter o resto dos dias em cândidas acções de ajuda aos pobrezinhos, aos velhinhos, coitadinhos, à pregação das suas pelintras ideias sobre isto e aquilo, à assistência aos deuses esquecidos nos lugares íngremes da existência humana. Portugal peca e pecou ao longo da sua história por dar crédito a estes deuses nascidos da importância da ignorância que os alcandora a elites de uma mediocridade abissal, feita de patuá barato, para um povo simples que apenas tem uma malga de sopa, uma espreitadela pela rede ao jogo de futebol, uma ave-maria ao findar do dia, hoje um telefone portátil, uns ténis comprados aos ciganos e pouco mais... 

         - Despede-se o sinistro Governo de António Costa com o convite ao seu cúmplice de oito anos Marcelo Rebelo de Sousa. Sai um e outro ufanos com o excedente orçamental de 1,2 % do PIB, “contas certas” e tudo o mais que eu aguardo saber quando a nova equipa governamental entrar ao serviço. Têm muito pouco para apresentar enquanto socialistas, sendo certo que foi boa a redução da nossa dívida, mas o rasto de miséria, desorientação nacional, corrupção, governação fragmentada, leis mal feitas, desprezo pelas pessoas, a flama acesa em permanência da propaganda de feira, desorientação e desvalorização da dignidade de todos e de cada um, aumento criminoso de impostos, distribuição destes para amenizar a pobreza em vez da riqueza que não soube produzir, foi a marca que deixou para o novo executivo que vai levar anos a endireitar a Administração Pública e a elevar o moral da nação – eu não queria estar no seu lugar. Costa, sai pela porta estreita e baixa, humilhado e responsável pela subida e imposição do Chega e o abandono em todas as frentes do seu sectário Presidente da Assembleia Nacional, que a mim nunca me enfeitiçou, senhor Augusto Santos Silva. O senhor que arenga na SIC (naturalmente também inteligente), classifica-o de “muito  inteligente”. Contudo, Vicente Jorge Silva tinha outra imagem dele: “ministro de propaganda do socratismo, revelando uma vocação trauliteira de que eu nunca suspeitaria”. Eu sei: são todos muito inteligentes, numa jerarquia de patetas e oportunistas. 


domingo, março 24, 2024

Domingo, 24.

Anteontem, numa sala de espectáculos, em Moscovo, houve um acto terrorista na verdadeira acepção da palavra, que matou até agora 139 pessoas, feriu centenas e provocou um incêndio terrível visível no meio dos escombros do centro comercial. Um grupo de homens do Daesh reivindicou o ataque. A sala estava lotada com mais de 6000 espectadores, onde um grupo popular devia actuar minutos depois. Putin, apreçou-se a culpar a Ucrânia, um crime a somar a outro crime, pois tais actos nunca fizeram parte das investidas de guerra da Ucrânia. 

         - Fui ontem à noite ver o filme de Christopher Nolan, Oppenheimer. A fita arrasta-se por três longas e por vezes insuportáveis horas. O papel do físico da Universidade da Califórnia, foi confiado a um actor de primeira água, Cillian Murphy que, de resto, obteve o Óscar da Academia para a melhor interpretação. É a trágica história do nosso desgraçado destino, com a série de físicos e cientistas a estudar e a construir a bomba atómica. É também a narrativa das consequências políticas da sua utilização, do desafio das nações em competir para a ter, e, sobretudo, é a visão distorcida de uma curiosidade que começou em certa medida com Einstein e foi tapete de esperança para Hitler e depois para Staline e hoje para Putin e logo à nascença para os americanos que a lançaram sobre Nagasaki e Hiroxima, em 1945. Baseado no livro Prometeu Americano: o Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheiner de Kai Bird e Martin J. Sherwin, passado na Segunda Grande Guerra, em Los Alamos, quando um grupo de infatigáveis físicos ensaiaram os primeiros passos para aquela que viria a ser - quero pensar que sim, embora tenha muitas dúvidas -, o equilíbrio de forças entre americanos e russos na altura e hoje entre todas as nações que possuem a arma nuclear. O realizador, chamou-lhe “um filme sobre consequências” e eu acho que todos os candidatos a dirigir qualquer país do mundo, deviam ser obrigados antes de serem investidos na função, a ver este documento. Einstein aparece por lá, perdido, com a sua figura patusca, mas a essência da História nunca mais foi a que vigorou até à Segunda Guerra Mundial. O que nos espera e vivemos neste momento, é assustador. Um louco – e tantos têm nascido com a democracia -, pode repetir em maior escala aquilo que a infantilidade de Truman experimentou no Japão. Findo dizendo que o naipe de actores que contracenam com Cillian Murphy, são absolutamente notáveis.  

         - O comboio que me trouxe de regresso a casa, vinha à cunha de gente da mais variada condição e estatuto: noctívagos, bêbados, homos, africanos desvairados, negras de rosto cansado com crianças ao colo, uns tipos que tocavam viola, outros meditativos a observar as povoações salpicadas de pequenas luzes. A dada altura ouve-se uma voz feminina: “Devido a condicionantes da infra-estrutura, somos forçados a abrandar a marcha, pedimos desculpa pelos incómodos causados.” Nem parece que estamos em Portugal esta atenção aos passageiros! E tudo, porque os barões das Infra-Estruturas que deviam zelar pela CP onde corre o Fertagus, não o fazem. Felizmente que temos aqui uma empresa privada que nunca faz greves, cumpre horários, cuja limpeza e asseio no interior é impecável, e deve ser por isso que os outros a querem nacionalizar. Cruzes! 

         - A Piedade, quinta-feira, quando limpava a mesa de apoio no salão: “Todos os dias há novos livros. São novos amigos que entram” – respondi.     


sexta-feira, março 22, 2024

Sexta, 22.

Ontem ouvi atentamente o que tinha para nos dizer André Ventura entrevistado pela locutora da SIC, perdão, jornalista Clara de Sousa. Não lhe conhecia aquele discurso na ponta da língua, ainda por cima equilibrado, com os pontos nos ii, sem exageros linguísticos, armado em estadista. Creio que o homem progrediu, ou o seu score de votos, fez crescer nele a responsabilidade da imensa multidão que nele confia. Grosso modo, estive de acordo com tudo o que disse e na forma como quer modificar o modus vivendi político até aqui alimentado pelo PS e PSD. Estou farto, estamos todos fartos.  

         - Dito isto, não votei no Chega, foi no Iniciativa Liberal embora não goste do rabinho liberal. Contudo, a minha promessa era correr com o PS e também não queria dar a maioria ao AD, depois porque eles foram os únicos que diziam onde iam buscar o dinheiro para os aumentos e reposições disto e daquilo, quero dizer eles preocupam-se em criar riqueza para a distribuir e não repartir impostos que radicam no trabalho de todos. 

         - Luís Montenegro foi indigitado pelo Chefe de Estado primeiro-ministro. Vou dar-lhe o benefício da dívida. Já há suficientes elementos da marginalidade do PS: perdeu a presidência do Parlamento, ficou em segundo, o Chega pode chegar-lhe como tem feito, forte e feio. Até em ano de aniversário dos 50 anos do 25 de Abril, ele impôs-se na Assembleia com o número significativo de 50 deputados. Muito agradecido, senhor Costa. 


quarta-feira, março 20, 2024

Quarta, 20.

A lengalenga desta malta burguesa das ditas esquerdas, sempre se fez de propaganda barata. A queque que a viúva propôs ao Parlamento Europeu, diz que a esquerda tem de renovar acções para manter e desenvolver a democracia, acrescentando: “e banir a extrema-direita”. Em democracia haja alguém que recorde à afortunada senhora (se o seu minúsculo partido a conseguir eleger), cabem todas as tendências sociais e políticas e aquilo a que ela chama de extrema-direita depende muito do ponto de vista em que nos situamos. Exemplos são aos milhares. Portanto, o mais correcto seria combater dentro dos parlamentos a extrema-direita e também a extrema-esquerda que nunca é nomeada. As esquerdas têm feito um trabalho tão notável, que por todo o lado o povo reaccionário as suprime sucessivamente de eleição em eleição. Está tudo farto destes feirantes - bem entendido o povo reacionário e de extrema-direita que está em maioria por essa Europa fora. Da proximidade duma guerra, submersos no ódio entre esquerda e direita, ninguém alertou o povo português para o desastre colectivo que será a entrada do exército russo nas fronteiras da Europa e consequente empobrecimento e morte que todas as guerras deixam assinalado com sangue e sofrimento a existência humana. Não há grandeza, visão ampla, sentido de Estado nesta geração de pessoas pequeninas, com ambições pessoais, grandezas fátuas, francamente medíocres, cheias da vaidade de mulher a dias à antiga portuguesa.   

Mas o próprio Parlamento Europeu é um desastre, os povos que o formam estão desligados dele, os eurodeputados são príncipes bem pagos para fazer o jogo das ideologias que cada um interpreta à sua maneira, e até quando a guerra está à sua porta, aquela multidão de “representantes do povo”, vive como se a desgraça só dissesse respeito ao egoísmo de cada país ali representado. 

         - Ultimamente, mercê do alerta de Emmanuel Macron, Bruxelas surpreendeu-se: “Como assim uma guerra!” Vai daí nasceu uma proposta que “pretende ultrapassar os constrangimentos dos tratados e a relutância dos Estados-membros em ceder a Bruxelas a iniciativa em matérias militares”. Como se percebe a dita união é sólida. Thierry Breton e Josep Borrrell acalmaram as hostes, afirmando que o plano por eles enunciado, não é para a Comissão adquirir armamento, até porque – pelo menos até aqui – essa matéria pertence a cada país e os negócios são importantes não tenhamos dúvida nesse sector. Tiveram os dois senhores de os serenar reafirmando que cada país continua a deter decisões exclusivas em matéria de defesa. Como se a hipótese de uma guerra na Europa fosse remota ou uma invenção dos americanos que sempre adoram fazer guerras, os trauliteiros eurodeputados quiseram assegurar-se e os dois dirigentes explicaram: “Não muda nada. O comprador continua a ser o utilizador, ou seja, no caso da indústria de defesa, os governos e os Estados.” Houve um arroto monumental no hemiciclo, a satisfação nos rostos anafados era mais que muita. Putin podes prosseguir que daqui ninguém te faz frente. Zelensky, digo-te eu, não confies nesta gente. Estão demasiado gordos, instalados, resignados à felicidade de ganharem um milhão ao fim dos 5 anos afundados nos sofás, em Bruxelas. E, francamente, cinco anos passam a correr. Depois vem a reforma dourada, gargalhando do povo que enganaram e mais uns milhares do contributo da corrupção para a sua alegre velhice. Os filhinhos queridos adotam o seu exemplo. Portugal será sempre um paraíso para este género de políticos. 

         - Aqui vai mais um exemplo do que acabo de afirmar. O país conheceu mais um cambalacho montado por um homem sorridente, grande de corpo, amável, cobrindo o mundo político e dos negócios, a quem tratava por camaradas e amigos, sedutor como a moda que todos os anos se renova em cor, trejeitos, fascínio e esbanjamento, passou pela televisão, foi até vice-presidente duma associação de jovens empresário, maltratava as pessoas para ganhar originalidade: Manuel Serrão. Ele e mais um dito jornalista da TVi Júlio Magalhães, são suspeitos de terem avançado com candidaturas a fundos da UE, despesas fictícias e inflacionadas, num monumental esquema que lhes terá rendido uns 50 milhões de euros. A dimensão da corrupção é tal, que se estende por todo o país e 300 inspectores da Judiciária estão recrutados para apurar os factos. Isto não é um país, é um covil de ladroagem. Roubam os governantes, os empresários, os deputados, os partidos (à excepção do PCP), os gestores, os sindicatos, os autarcas, os padres e passo que a lista vai longa.  


domingo, março 17, 2024

Domingo, 17.

Aquilo a que o Estado Novo chamava eleições é rigorosamente o mesmo que Putin reivindica hoje para si. Ele não é um ditador, embora se tenha proposto ficar no poder até 2036, tenha assassinado os que lhe faziam frente, tenha controlo absoluto sobre as mesas de voto e votantes, vigie cada cruzinha no falso boletim de voto onde só ele existe e mais dois ou três hilotas a dar cobertura à reeleição do fascista. O Bartoon de Luís Afonso no Público é uma graça de inteligência e sátira: os dois cromos discutem a eleição de Putin e o remate é este: “Nestas eleições é que as empresas de sondagens deviam ter apostado, para mostrar como acertam nos resultados.” 

         - E no entanto, para os nossos nostálgicos comunistas e associados, Putin é um democrata de primeira água. Ele e os outros capangas da China e Coreia do Norte que procedem de igual modo, são democratas ou social-democratas ou capitalistas-democratas não sei bem. O que sei é que são irmãos, quero dizer, almas-gêmeas que defendem até à última gota de champanhe e ao derradeiro bocado de caviar, aquele que tem sabido levantar o nome de Marx e Lenine através dos tempos capitalistas capitaneados pelos EUA. 

         - Estamos na semana quaresmal. Pelo facto, troquei a missa habitual pelo trabalho aqui que foi muito e variado. Todavia, não posso deixar de anotar o magnífico texto de frei Bento Domingues: 

“Não é o que faz sofrer que nos salva. O elogio do sofrimento não é necessariamente cristão. Supor que Deus gosta do sofrimento, é um insulto ao Deus da vida. O cristianismo neste mundo – ao contrário das aparências -, é para descrucificar as pessoas, não para as torturar.” 

“Não é para morrer nem para sofrer que viemos ao mundo. O sentido do cristianismo não é a cruz, mas a Ressurreição, a plenitude da vida.” 

É bom saber que o que nos salva e o que nos perde: gastar a vida de forma que dê mais vida ou gastar a vida para dar cabo da vida dos outros.” 

Esta visão do nosso destino terrestre, é absolutamente surpreendente e vai contra a doutrina que a Igreja durante séculos nos incutiu e eu nunca compreendi e no meu íntimo não aceitei porque sempre me recusei ver Deus como o castigador, o vingativo. 


sábado, março 16, 2024

Sábado, 16.

Eis o resumo da classe política que os portugueses têm a infelicidade de ter e é das mais baixas, abstrusas e arrogantes de toda a Europa. Ante o cenário actual, António Barreto diz o que eu venho dizendo aqui há uma data de anos e completa a análise de momento deste modo: “O PCP vota contra. Ponto. O Bloco vota contra. Ponto. O PS faz oposição e vota contra. Ponto. O PSD diz que “não é não” e já anunciou há muito que não fala com o Chega, nem quer bloco central. O Chega diz que, se não for previamente consultado, vota contra.” Enfim, andamos a brincar à democracia. Que merdelhice caramba! Estes parasitas, estão-se literalmente nas tintas para o país e para os seus habitantes. Só lhes interessa o poder com toda a carga de interesses, manobras, corrupção, ganhos e cagança. 

         - Deixei as drogas, mantenho apenas o Kainever porque gosto do nome (tem qualquer coisa de mágico não fora as benzodiazepinas que as quero ver longe de mim) e é só por mais uma semana (desmame incluído). O comprimido “para a toda a vida”, já o substitui por um complemento alimentar natural e aparentemente com bons resultados. A tensão mantêm-se entre 13,5–7 e 12,2–6,8. Aliás ao cardiologista que me receitou a droga para dormir, disse logo que só tomava metade para que ele se defendesse do bicho que tinha na frente. Ontem em Lisboa, todos os amigos com quem me encontrei, disseram que estava com bom aspecto. Respondi à Vergílio Ferreira: “Eu não me queixo do aspecto.” Durante praticamente toda a minha santa vida, dormi de um jacto oito/nove horas e apenas precisava de cinco minutos para adormecer. Há coisa de três anos comecei a alternar períodos de sono duradouro com intermitentes. De manhã, naquela hora sinistra de antes de acordar, todos os fantasmas apresentam-se, um a um, como se eu lhes devesse fortunas e as cinco da madrugada fosse a porta que arrombam para me forçarem a pagar-lhes. Quando da hemorragia há três semanas, lembro-me de ter estado um longo espaço de tempo a esgrimir com eles. Também há outro facto que nunca nenhum médico me conseguiu esclarecer: o impacto que tem a chegada da Primavera em todo o meu ser. Sempre tive toda a sorte de problemas nesta altura: falta de motivação, desinteresse por tudo, cansaço por vezes extremo, apatia, desapego por mim... 

         - Assim que cheguei de tomar a bica com amigos num café aqui perto, meti mãos ao trabalho. Primeiro, uma hora de leitura, de seguida hora e meia a roçar erva. Todo o espaço diante da casa está um primor e toma extensão mais vasta quando admirado com o amor que pomos nas coisas de que gostamos.   

         - A viúva do BE não perde tempo e mesmo antes dos resultados das legislativas, concedeu a reforma milionária à queque Catarina Martins sua antecessora: designou-a cabeça de lista do partido ultra-pequeno na corrida às eleições europeias de... junho! Quanto é que a menina vai auferir? Ora, uma gorjeta de insignificante e, para não dizerem que eu invento, aqui vai o que diz o Observador: “O salário base mensal dos eurodeputados é de 6.824,85 euros, mas chegam a receber 250 mil euros por ano, o que corresponde a um total de 1,2 milhões de euros durante os cinco anos de mandato.” Aqui têm porque é importante a desvairo pelo poder. 


quarta-feira, março 13, 2024

Quarta, 13.

Esta esquerda que somada não têm mais de 11% (como sabem eu considero o PS um partido social-democrata), e, todavia, o ruído é tanto que me surpreende os defensores do clima não os afrontarem como poluidores do Planeta. A ela juntam-se os senhores jornalistas que adoram quem mais barulho faz e como não são independentes, escrevem o que lhes vem à cabeça vazia. Um exemplo dos últimos dias. Espera-se pelos votos da emigração, mas ela diz que quem os aguarda é o PS como se tivesse a certeza que eles vão inteirinhos para o desastre António Costa-Vasco Gonçalves. Os que infelizmente nos deixaram, fizeram-no também por não encontrarem ordem e trabalho nos derradeiros oito anos. Que o digam enfermeiros e médicos, por exemplo. Mas para este estouvado e inculto jornalismo, só o PS tem direito a acumular mais uns pozinhos ao requentado repasto do governo Costa. A maior incógnita democrática actual, imputa-se directamente ao ex-primeiro-ministro: foi incompetente, laxista, falou demais e trabalhou de menos, criou governos sem consistência, fez leis que dois dias depois eram alteradas, prometeu e falhou, distribuiu esmolas com nomes nobres para atrair os velhos, coitados, no limite da miséria, impôs aos pobres obrigações que a direita não seria capaz de impor (exemplo o imposto automóvel), desorganizou o país permitindo que sindicatos proliferassem e as pessoas fossem abandonadas à sua sorte (exemplo: transportes públicos, médicos e enfermeiros, polícias e militares), foi arrogante, mentiroso, propagandista, fez da maioria que os portugueses ingénuos lhe ofereceram um meio de se coroar rei e senhor disto tudo. E não esqueço o conluio de Marcelo com o seu protegido “inteligente”. Vou convidar uma vez mais António Barreto a entrar: “Governo e PS perderam oportunidades. Perderam apoios. Perderam maioria que não corria riscos. Perderam cumplicidade com o Presidente e outras instituições. Desperdiçaram tempos e dinheiro, fundos europeus e reputação... Até paz social desperdiçaram. O Governo e o PS mostraram incompetência, desleixo, medo, presunção e arrogância... (Atenção as reticências não são minhas!)

         - Da chamada esquerda, eu não sei o que é nem quem é. Conheço o PCP e vejo que um dia deste desaparece do mapa; os outros são grupos de sabichões do marxismo-leninismo, aprendido à pressa, declamado entre amigos. A viúva do BE, apesar da derrota, já está de bandeira erguida contra a direita e a tentar obrigar o povo português a segui-la e aos outros grupelhos, impondo a disponibilidade de novas eleições que nos custam milhões. Esta gente vive obcecada pelo poder, pela grandeza, pela ideia de serem os guardiães da democracia, mas não a respeitam naquilo que ela tem de mais importante e sagrado – a escolha dos governantes. Vou citar um homem que admiro, Francisco Mendes da Silva: (...) bem ou mal, a divisão rígida entre esquerda e direita, é um anacronismo no qual encaixa cada vez menos o sentimento popular”. Todos vêem esta evidência, só esta malta extremista, de talas nos olhos, obscurantista e retrógrada, é que não vê um palmo à frente do nariz. O PCP, cujo actual secretário-geral aprecio e estimo (prefiro-o mil vezes ao sapateiro), no seu alinhamento ridículo e faccioso com Putin, está “orgulhosamente só” como dizia aquele que eles combateram e nós agradecemos. A República no tempo dos romanos, tinha duas classes superiores: a dos senadores e a dos cavaleiros, era exigida concórdia e sobretudo consensos omnium bonoru - é o que recomendo nesta fase da nossa vida colectiva. 

         - “Caso Boaventura. Hierarquia do CES “propiciou” assédio e abuso de poder, conclui comissão independente. Uma “hierarquia piramidal” e uma cultura de informalidade propiciaram “situações de conflito de interesses, de assédio e de abuso de poder”, concluiu a comissão independente nomeada pelo Centro de Estudos Sociais (CES) para averiguar as denúncias de assédio sexual e moral na instituição que, durante anos, foi dirigida pelo sociólogo Boaventura de Sousa Santos, contra quem foram dirigidas as principais denúncias." Esta notícia é do Público de hoje e vem provar que os camaradas são tão  moralmente activos como a direita de qualquer André Ventura. 

         - Dia majestoso distribuído deste modo: De manhã fiz um prato sólido para arquivo, passei para o meu caderno uma meia-dúzia de receitas; depois do almoço mergulhei em Marco Cícero e de seguida fui acabar de roçar a erva em frente à casa. Claro está que não pus o nariz fora do portão. 


segunda-feira, março 11, 2024

Segunda, 11.

Acabou-se a gritaria? Será? Bom por agora apenas baixou de tom. O Chega foi o grande ganhador, tendo mais do que duplicado os deputados com os seus 18,1%, tudo graças a António Costa e à estratégia que traçou para o eliminar, e ainda à desordem, arrogância e incompetência que imperou no seu reinado. Não consigo perceber por muito que pense, como é possível que os seus partidários e os que votaram no seu sucessor, não vejam o que se passou no país em oito anos e sobretudo nos dois últimos com maioria. Na minha pequena cabeça não encaixa uma tal monstruosidade. Dito isto, a vitória da AD não foi brilhante com apenas dois deputados a mais do que o PS, traduzidos em 29,5% contra 28,7% dos socialistas. Estão iguais, mas como os primeiros têm mais deputados, são os que irão governar se a Marcelo não lhe der o amoque. Dos pequenotes em enfiada, só o Livre subiu não se percebe porquê. Melhor fora que ele, o BE, e toda a dita esquerda desaparecessem ou se juntassem ao PCP que é o único que se percebe ao que vem e fá-lo com seriedade e competência. Nunca entendi o que os separa, nem porque os chamam (ou se invocam eles) de esquerda, como não dou por válida a ideia que o PS é de esquerda e viu-se nas políticas de direita que aplicou, que não passa de partido social-democrata. 

Toda a gente pergunta, dado o peso de Ventura e o facto de Luís Montenegro não se querer juntar a ele, o que vai acontecer? Eu penso que não se pode pôr o Chega de lado, embora pense também que se já estivéssemos mais avançados na prática democrática, fosse a AD junta ou combinada com o PS, que devia governar. Mas, não podendo dispensar (e não seria justo se o fizessem) o Chega, eu avento uma hipótese: que Marcelo peça ao seu partido que nomeie outro primeiro-ministro embora mantendo Montenegro na chefia do PSD. Desse modo, o líder do PSD mantém a palavra dada de não querer coligar-se com o Chega e o novo primeiro-ministro do partido poderá ligar-se ou acertar medidas de governação com a dita extrema-direita. Como não ouvi ninguém falar desta ideia, aqui a deixo para os entendidos e comentadores políticos que são mais do que as mães e pensam todos pela mesma cabeça. 


domingo, março 10, 2024

Domingo, 10.

O bocejo de um domingo na capital. Levantei-me pelas seis da manhã para ir a Lisboa com um dia movimentado. Que começou com a missa das nove na igreja do Loreto, ao Chiado. Fez dois anos que a Maria Luísa nos deixou e a celebração foi por sua intenção. Na nave central éramos doze fiéis, a maioria tão velha como o celebrante, digno, lento de gestos, alto, aprumado na sua casula rosa, muito bonita, que eu tive dificuldade em ouvir, porque a voz saía-lhe arrastada e cavernosa. Depois entrei ao lado na Brasileira para um café e, como tinha levado o computador, aproveitei para avançar no romance. Nada de significativo porque me enervei possuir aquele privilégio de ter sempre à disposição uma mesa quando os turistas em fila esperavam por ela. Saí. 

Fui plantar-me na paragem do eléctrico para subir ao Príncipe Real minha antiga residência e onde permaneço com direito de votar no Liceu Passos Manuel. Estou na paragem quando vejo surgir do fundo do Chiado um tipo vaporoso, com uma grande capa de abas largas, botas até meio da perna, espécie de rainha acabada de deixar os aposentos reais. Aproxima-se e senta-se no rebordo do prédio decerto porque a autarquia tem dinheiro a mais e anda a desmontar todos os abrigos dos transportes públicos. Quando o veículo se aproxima, ele vem para o meu lado e entra comigo. Acomoda-se no banco em frente, todo ele aéreo, quase espuma, falando alto, diz-me: “Fui votar no Pedro. - Pois eu vou votar agora contra o Pedro – digo-lhe. – Cada uma vota em quem lhe parecer. Aquela que tiver mais votos é a que ganha”, disse abrindo a capa e expondo a braguilha, talvez por descuido, aberta sem que algo se visse e vaporosa pôs-se a olhar a cidade no limite do horizonte. “Elas andam todas muito ressabiadas”, murmurava como se falasse consigo, o olhar estendido sobre o casario. Olho-o agora com atenção. Tem um rosto alongado, cabelo cortado à escovinha, como aqueles jovens oficiais nazis, que faziam a vidinha amancebados com os do topo, tudo em segredo porque às claras combatiam com a morte aquilo que gozavam no segredo dos quartéis. Diz-me adeus quando me preparo para descer no jardim.  

 Abro os olhos e vejo-me com vinte anos quando aluguei uma casa pombalina com bancos de pedra nas janelas de guilhotina. O jardim do Príncipe Real, é uma sombra do passado. Atravesso-o em diagonal para entrar na rua que vai descendo até à Academia das Ciências. Paro em frente ao prédio onde iria viver não fora dar-se o caso do Alexandre Patrício Gouveia ter mudado de ideias. O João Biancard até havia feito o projecto que uniria os dois andares nas traseiras por uma enorme parede de vidro. Fecho as recordações e vou em frente. Mas por onde passo, abrem-se persianas e portas, os prédios antigamente vetustos, exibem hoje caras pintadas a gosto e tradição e o silêncio que ali reina - pelo menos àquela hora -, é sagrado como sagradas são certas lojas e cafés que sobrevivem à fúria do lucro que é o senhor que varreu das nossas vidas o Dia do Senhor, para acomodar o dia do fric, do dinheiro, do money, do cansaço dos empregados, do esgotamento dos imigrantes, do furto do silêncio, da paz e do sossego. 

Entro no enorme portão do antigo liceu. Alguns eleitores, meninas à entrada a oferecer flores a troco de uns euros. Vou em frente certificar-me se ainda sou dali, daquele bairro onde morei uns quarenta anos, ou mais porque desde sempre vivi perto na Rua do Salitre. Toda aquela artéria até ao Chiado viu-me passar vezes sem conta, eu admirei os varandins das casas antigas, entrei nas igrejas, nos pátios, nas esconsas  casas de corte e costura, nos bares gays que proliferavam por todo o bairro e eram a atracção do turista da época conduzido até ali pelos guias de turismo, nas mercearias onde me cruzava com a Simone de Oliveira e ela me atirava: “Quando me vir a comprar nestas lojas é porque o dinheiro é pouco.” Sacudo as recordações antes de entrar no velho edifício de uma dignidade majestosa, com aquela escadaria que se abre em dois lances até ao primeiro andar do velho Convento de São João de Nepomuceno. No pátio entro na fila da secção 4 e vou esperar uns vinte minutos para “exercer o direito de voto”. Ouço nomear o meu nome, e digo para os meus botões: “Estás a ver ainda te reconhecem como vivendo na Rua de S. Marçal” e encho os pulmões de satisfação. Dei o meu voto ao (espera é secreto) e saí atravessando o claustro em diagonal. 

Chovia. Não tinha guarda-chuva, mas blusão impermeável com capuz. Entrei por cima, saio por baixo em direcção à calçada do Combro. Daquele lado, grandes transformações, muito comércio de comes e bebes, portas-meias com uma funerária um bar dito gold pressed juces, os turistas são tantos que eclipsaram os nativos. Não vejo à direita nem à esquerda nenhuma tabuleta em português e aquilo parece um sítio remoto de uma qualquer vila do Reino Unido ou do States. Nas esplanadas, sob toldos, escarranchados de perna aberta, estão raparigas e rapazes, casais com filhos de carrinho, o olhar vítreo perdido no enxame de abelhas da sua raça. O eléctrico 28 passa cheio uma vez e outra. Farto, tomo um táxi. Desculpo-me ao motorista pela curta distância até ao Chiado, falo do transporte que vem já cheio de turistas. “Isso é uma praga”, diz-me ele. “Não vão para os hotéis, alojam-se nos B & B, nos hostals, nos alojamentos locais. Não têm cheta, comem uma refeição mal amanhada, bebem da água das casas de banho, gastam o mínimo porque não têm dinheiro.”  Contraponho que a construção de hotéis é mais que muita. Ele não se demove e atira: “Tudo isso vai à falência não tarda.” Será que o homem sozinho vê melhor que a equipa governamental inteira de António Costa e do presidente da Câmara de Lisboa? Abri ainda mais a mente, mas não era domingo, era segunda-feira: as lojas a funcionar, a actividade comercial pomposamente a cavalgar sobre o Sétimo Dia em que Deus descansou como narra o Dia da Criação. 

         - Já gora, embora o texto vá longo, ainda me atrevo a reflectir convosco. Deu-se o caso, ontem à noite, ter sido tomado pela sorna. Quando o tédio nos assola, temos o hábito (mau) de ligar a TV. A BBC falava do que falam os outros, os canais italianos idem, TV5 Monde uma parlapatice. Então espreitei os nacionais camuflados no passado que a tia Dália adorava e eu via a seu lado: o Festival da Canção. É suposto aquela coisa representar Portugal na Eurovisão. Contudo, não dispensando o nosso tradicional provincianismo, o que observei foi portugueses a cantar em inglês. Bah! Então é um festival português ou inglês! Alguém imagina um inglês a escrever uma canção e a cantá-la em português? Somos mesmo pategos e atrasados mentais! Ou então o mundo está invertido e a patetice está em todo o lado, a identidade a escapar-se para igualar na diversidade imbecil e hipócrita. Aqui como no futebol onde equipas nacionais disputam outras de outros países, mas, vai-se a ver, são poucos os portugueses e a equipa “nacional” é composta de estrangeiros. Que ridículo o mundo dito moderno! Agora o que eu vi porque ela quis que todos víssemos, foi as maminhas laricas da apresentadora. Vale tudo naquele mundo idiota e mesmo aquelas que são já sacos de café, abrem discretamente um vale que vai por ali abaixo e nós mergulhamos com um sorriso de surpresa sem rede. Por favor não divulguem isto, de forma a não serem acusados de assédio sexual... Não deve tardar muito, vermos os rapazes machões a exibirem galhardamente o que têm entre as pernas... Os famosos direitos de igualdade assim ditam.

         - Hoje fartei-me de andar como anota o meu iphone: 5,5 km andados, 4 lances subidos, 7362 passos, 7,55 horas de sono. 








sábado, março 09, 2024

Sábado, 9.

Avoluma-se a minha convicção de que este ano a Europa e o mundo envolver-se-ão numa guerra. São tantos os sinais que até me arrepio. Macron já anunciou descida nas reformas e desistiu de indexar o aumento dos salários à inflação., porque a França está a ver tudo negro e o investimento em armamento é primordial. A versão portuguesa é como sempre trolaró. O que interessa a esta gente irresponsável são promessas, camuflar as situações, prometer o que não têm, tudo em favor de uns quantos para quem a tonada do poder é essencial às suas vidas. Biden vai fazer uma grande plataforma flutuante em Gaza para fazer chegar alimentos aos palestinianos esfomeados e a morrer abandonados à sua sorte. É meritório. Melhor seria deixar de vender armas a Israel e não estar conluiado com Netanyahu. Cheira a cinismo quando o que está verdadeiramente em jogo é a sua recandidatura. Que espero a ganhe, porque o adversário de tão idiota e mentecapto, que devia era estar atrás das grades há muito tempo. 

         -  Antes que me esqueça, esta feliz coincidência a propósito do romance de Lídia Jorge. Eu disse aqui que quando o acabei de ler, emocionado, beijei o livro. Dias antes ou depois, a autora deu uma longa entrevista ao Expresso, jornal que não compro vai para dez anos.  Soube não sei como desse diálogo e como sei que o João Corregedor o compra, pedi-lhe me fizesse fotocópias do que disse a autora de Misericórdia. Acontece que o romance arrebatou vários prémios, entre eles, o Médicis Étranger. Vou citar a escritora: (...) “o Le Monde escolheu 17 livros, e houve uma escritora francesa que, ao acabar de ler o livro, o tinha beijado e abraçado”. Evidentemente, eu desconhecia este facto e quando o li nas fotocópias do meu amigo, sorri de satisfação. Como se costuma dizer les beaux esprits se rencontrent.

         . Ontem, tendo passado perto do Corte Inglês e para satisfazer a amabilidade de uma funcionária (brasileira), entrei para ver a mesa de jardim que ela me propunha. Acabei por ir à livraria (no mesmo andar). Comprar um livro e lê-lo, é acrescentar um ano mais de vida, no caso Sonata para Surdos de Frederico Pedreiro – um dos poucos escritores portugueses que me cativa.  

         - Depois, como deambulo sempre com o tricot, fui tomar café e sentei-me durante hora e meia a trabalhar no rés-do-chão. Não sei se o que escrevi me agradou, desconfio que não. Todavia, mesmo que venha a destruir a página, ninguém me tira aqueles instantes mágicos de efervescência serena.  


quinta-feira, março 07, 2024

Quinta, 7.

Os dias, melhor dizendo., as horas mais felizes para mim são as que consagro à escrita. Estar ali diante da página em branco, o cérebro mergulhado na expectativa da palavra que se soma à anterior, e depois a seguinte, uma a uma varrendo a linha de um lado ao outro, sem tempo, ou antes suspenso do tempo da escrita povoado de vozes e presenças e hesitações e congeminações, na espera que a personagem me solicite o encadeamento da cena, do diálogo, do confronto, tudo no profundo respeito pela intimidade de cada uma, honrando cadências, revelações, o zuir do coração... 

         - Não sei como vou terminar os meus dias. O que vejo e ouço, coloca-me numa situação de conforto, pois aqueles amigos que me confidenciam que na senectus não contam com os filhos, como a Glória outro dia, referindo o projecto dela e Raul, de vender a grande casa com piscina e vasto jardim, para adquirirem um pequeno apartamento em Setúbal, onde possam terminar a vida sem muitos incómodos nem esperança de os dois filhos lhes acudirem. Pelo menos esta que julgo ser a tremenda desilusão no final da vida, não a terei eu.  

         - Outro dia, tendo jantado na Expo em casa de amigos, tomei o metro na gare do Oriente. Está ali, no fundo da terra, a imagem do Portugal democrático tal como não no-lo mostram os políticos sem honra nem vergonha que nos governam. De ambos os lados, encostados às paredes, nos bancos de cimento que correm os muros de um lado e outro, no chão e sobre bancos corridos, uma imensa camarata onde repousa talvez meia centena de pessoas, depois de um dia decerto arrasante de trabalho. São os enganados do país simpático, que recebe bem toda a gente, que os de esquerda acolhem por convicções ideológicas idiotas e depois os abandonam à sua sorte. Senti vergonha, asco, pelo meu país e misericórdia por aquela multidão de infelizes cobertos com mantas, cobrindo a cabeça, de todas as cores e etnias, sob o olhar da esquadra de polícia que ali se encontra.   

         - Quarta-feira da semana passada, tive um serão magnífico. A antena 2 francesa, apresentou um programa, conduzido pelo excelente apresentador Laurent Delahousse, Un jour, un destin, dedicado ao homem que acabou com a pena de morte em França, o judeu Robert Badinter. Que vida! Que vida iluminada, cheia e plena de sabedoria! Intelectual, professor, advogado e por fim ministro da Justiça, Presidente do Conselho Institucional no tempo de François Mitterrand de quem era íntimo amigo. Depois de ter defendido vários indivíduos acusados de terem matado outros seres humanos, requerendo o Habeas Corpus ao Presidente antes do socialista para um; outro foi mesmo decapitado (era esta a técnica empregada), foi crescendo nele a ideia da inutilidade de roubar a vida a quem cometeu crimes sentenciados com a pena capital – a prova é que os crimes não deixaram de acontecer. O povo francês estava unanimemente contra a abolição da pena de morte, mas com a cumplicidade de Mitterrand já Presidente, ele vai defender a sua lei no Senado. Fá-lo com tal vigor, com violência até, que a lei que ele próprio redigira acabou por passar e a França, em 1981, um século depois de nós, extingue uma crueldade que ninguém tem direito de praticar. Klaus Barbie é apanhado e condenado em França pelas suas atrocidades cometidas em Lyon, em 1983. Um dos homens que se pensa que ele torturou até à morte, foi o pai e Robert Badinter. O jurista e escritor ante o julgamento do “carniceiro de Lyon” não lamentou a sua luta. Como escritor, publicou várias obras ligadas à Justiça e um pequeno livro, verdadeira joia, onde conta a história da sua família e a chegada dos pais e avó à França no princípio do século XX vindos da então URSS.   

         - Fui à natação. Acreditem – depois de ter saído um rapaz em aulas com a professora, fiquei completamente só num vasto tanque de 25 metros. Só quando pelas 13 horas deixei o pequeno oceano, começaram a entrar alguns desportistas. Percebe-se, em tempo de chuvas torrenciais e ventos fortes, os atletas de etiqueta não arriscam sair.  

         - Partiu António-Pedro Vasconcelos. Conheci-o quando ele para ganhar a vida entrou na publicidade. Não éramos íntimos, mas sempre que nos encontrávamos dedicávamos uns momentos a falar da Nouvelle Vague: Truffaut, Rohmer, Godard, etc. Tinha simpatia por ele, era um homem simples, com quem era agradável conversar. Descasa em paz porque a vida não te foi leve. 


quarta-feira, março 06, 2024

Quarta, 6.

Eu não conheço as vidinhas desta gente que de repente aparece a gerir o país, sentada nos bancos da Assembleia Nacional, à frente de empresas estatais e assim. Decerto impulsionados por mães e tias, que antecipam neles as grandes figuras do século XX e XXI, saídos de meios humildes e equilibrados, sem rasgos interiores, mas suficientemente espertos para entenderem o estado das coisas e as formas de alcançar os objetivos que o meio familiar não lhes pôde facultar. É o caso do homem do Chega. João Miguel Tavares que sempre se documenta muito bem, brindou-nos com este naco de prosa de um sabor incomparável: “As dores de crescimento de André Ventura (...) Ele tentou dar nas vistas a comentar casos de Justiça; tentou dar nas vistas como escritor de romances-choque – o primeiro, de 2008, intitulava-se Montenegro (e qualquer coisa) e o seu protagonista era um ciclista com sida chamado Luís Montenegro (não estou a gozar); tentou (e conseguiu) dar nas vistas como comentador de futebol; escreveu inclusivamente outro livro com a taróloga Maya, intitulado 50 Razões para Mudar para o Sport Lisboa e Benfica; tentou também dar nas vistas como candidato à Câmara de Loures pelo PSD”. Fico-me eu por aqui sem fôlego, porque os rasgos circunflexos de águia no homem são absolutamente surpreendentes e próprios de um país de terceiro mundo. 

         - Tenhamos paciência: só faltam dois dias para que Portugal entre no silêncio próprio de um país civilizado. Nem tudo foi, com efeito, mau. Não tivemos o tagarela do Presidente da República em permanência, ouviram-se muitas verdades surpreendentes, a feira da ladra conheceu aqui e ali alguns momentos hilariantes, a propaganda socialista com a chamada de António Costa à liça para se vangloriar da redução da dívida nacional e do desemprego controlado: um devido ao aniquilamento do país; o outro à miséria dos ordenados, ao aumento da pobreza, à desordem nacional. Curiosamente, o único que toda a gente aplaude embora não tivesse sido ideia apenas sua, refiro-me ao passe Navegante, nunca é citado. Pois é por esse simples cartão que tanta ajuda deu ao povo português que ele será recordado. Pregue o Vasco Gonçalves socialista o que quiser, nada foi verdadeiro na passagem pelo poder com maioria socialista, que esse papel que tanto facilitou a vida de toda a gente, que não possui para se deslocar os carrões do Estado pagos com os nossos impostos, muitíssimos mais excessivos com Costa que no tempo da troika com o competente Passos Coelho. Todavia, agora que Bruxelas vai entrar em economia de guerra, ali como aqui os socialistas que governaram apenas para o prestígio dos seus camaradas da UE, ambos considerando as pessoas como uma abstracção, vamos ver quem estará à altura do desafio que aí vem.  

         - Ontem, não tendo saído deste presbitério, cumpri o dia como manda a ordem cisteriana ou franciscana: trabalho e oração. Assim, em duas sessões, uma de manhã outra à tarde, rocei erva em frente da casa, li duas horas, e não abri o computador. Ufa! 


segunda-feira, março 04, 2024

Segunda, 4.

Breves. Os barões das Infra-Estruturas recuaram e deixaram cair a greve que tinham programado para começar amanhã. Fizeram bem. De contrário, ao invés de um por cento, desapareceriam do mapa partidário. O“nosso povo”agradece. 

No Fertagus, do que se falava assim como nos cafés e nas ruas, não era da ida às urnas domingo, mas da estrondosa derrota do Benfica por 5-0 no jogo com o Futebol Clube do Porto. 

         - Num estudo agora publicado pela Fordata revela que 62 por cento dos portugueses não confia no trabalho da Assembleia Nacional. Uma vergonha que toda a tinta que lhes possam atirar à cara não cobre. Segundo o mesmo estudo (naturalmente encomendado e fabricado pelos americanos), 8 em cada 10 portugueses não confia nos políticos. Marco Túlio Cícero que viveu sob a ditadura de César, dizia“todo o poder corrompe, mas o poder absoluto corrompe absolutamente”. Aqui fica o aviso aos meus leitores. Pelo menos a eles. 

         - A guerra prossegue na Faixa de Gaza com o aumento de crimes e a revolta dos inocentes. As crianças morrem agora à fome e no último ataque (qual deles?) Israel matou mais de cem palestinianos que assaltaram os camiões carregados de alimentos. Há objectivamente um desejo de dizimar o povo nobre que sempre esteve debaixo das botas cardadas dos israelitas. Netanyahu e Putin devem ser julgados por criminosos. 

         - Dia pleno, diversificado. Logo de manhã, apareceu o casal francês para um café no Retiro Azul (já vão dizendo umas palavras em português). De regresso a casa, veio a Piedade pôr ordem na cozinha e preparar com arte milenar o grande frasco das minhas azeitonas - uma mistura de ervas e sal. Comi qualquer coisa e larguei para Lisboa. No meu refúgio no Corte Inglês, tricotei página e meia (p. 165) que me saiu muito bem. 


sábado, março 02, 2024

Sábado, 2.

Ontem almocei com o João. Eu que havia prometido a mim mesmo nunca mais o fazer, caí por simpatia e fraqueza moral. Outra violenta discussão que, creio, foi a derradeira. Ouvi-lo dizer que Putin não é ditador, que a Rússia vive num regime democrático, que o facionara nunca mandou matar ninguém, todos os 29 oligarcas faleceram por doenças ou azares, que na Rússia as eleições sempre foram livres, que Navalny morreu de morte natural, foi discurso que me desesperou e levou a subi a tensão arterial, com sinais meus conhecidos no cérebro. Não. Não quero ir desta para melhor por um por cento de comunistas, que ele nega ser, mas sim membro do MDP/CDE morto e enterrado há várias décadas. Para João há a ditadura de direita que é sinistra e a de esquerda que é santificada por ser a do proletariado. Pitié, pitié.

         - Tudo o que diga respeito à América para ele é para liquidar. Por exemplo a existência da NATO que segundo diz obrigou ao Pacto de Varsóvia. De Gaulle deixou a Organização em 1966, preferindo a soberania nacional, e foi até certo ponto seguido por François Mitterrand, e depois em 2009 o pacóvio Sarkosy, sabe-se lá com que interesses, fez reentrar a França na Organização. João nem me deu tempo para explicar que a decisão de Nicolas Sarkosy, em certa medida, teve lógica devido a política do socialista (eles jogam sempre com um pau de dois bicos), com a anuência oficial daquilo a que ele chamou o Novo Conceito Estratégico da NATO e a partir daí a entrada na guerra do Golfo e noutras acções conjuntas. Mitterrand, implicitamente, deu o aval para que a França voltasse a fazer parte da NATO. João é de tal modo extremista, doente, subvertedor das ideias dos outros, que não escuta ninguém que se apresente a dizer que os EUA tiveram uma qualquer ideia ou acção meritória. O mundo são apenas dois hemisférios: o americano e o russo. Estar a favor dos dois é impossível seja em que condição for – ou se está de um lado, ou se está do outro. A coincidência nalgum momento é de lesa majestade.   

         - Navalny o grande herói da liberdade e da democracia foi a sepultar, enfim. Contra todas as indicações do ditador fascista, e as arruaças da polícia prisões compreendidas, milhares de russos compareceram ao funeral do seu bravo compatriota, desafiando a ditadura imposta pelo homem que se promoveu a presidente (com minúscula) até ao ano de 2036, naturalmente sob protestos e fraudes, prisões e ameaças! Ouviu-se a população gritar contra a guerra na Ucrânia. 

         - Curiosa coincidência: o inglês de Costa é igual ao francês de Soares.

         - Os fantasmas surgiram nas campanhas de vários partidos. Cito o eterno António Barreto“Convém não esquecer: os partidos fracos tornam fracos os fortes líderes.”Assim, o aparecimento de Cristas a sinistra ministra com aquele ar que Deus lhe deu e eu me dispenso de qualificar, a quem se deve a lei do arrendamento que Costa não quis alterar; assim como aquele corrupto de sorriso pateta que chegou a Presidente da Comissão Europeia, e só por isso a Organização foi o que foi e terminou como terminou, não me parece tenham sido benéficos para Luís Montenegro. Como não auguro nada de enriquecedor para o senhor Vasco Gonçalves, com a chamada ao palco de António Costa. Ou talvez tudo seja óptimo num país sem nível, consciência política, ético e culturalmente reconhecido como tal. Somos orgulhosamente saloios e provincianos. 


sexta-feira, março 01, 2024

Sexta, 1 de Março.

É não só um regalo ouvir pessoas como o general Arnaut Moreira e o professor António José Telo em Janela Global, como um incentivo ao nosso conhecimento e inteligência. Eles falam sobre política internacional, expõem os seus pontos de vista com carácter e respeito um pelo outro - raridades no país choldra em que nos tornámos. A eles não lhes interessa as cores das cuecas da senhora deputada (horror, horror), nem o cheiro a sovaco do senhor ministro (de fugir, de fugir), nem as suas vidinhas malbaratas numa inutilidade de vida, nem o Ronaldo (que vazio), nem os amores daquela saloia da Malveira (espertalhona e vulgar). O espírito crítico dos dois comentadores está acima, muito acima, da mediocridade nacional.  

         - A Mortágua, numa altura em que todos os partidos são capazes de vender a mãe e o cão por um voto, saiu-se com esta: “O meu pai fez política na clandestinidade e foi condenado a prisão perpétua pela PIDE.” Acontece que esta mentira foi desmentida por vários jornais, de entre eles o Público, que me mandou este veredicto: “Não é verdade que o pai de Mariana Mortágua tenha sido “condenado a prisão perpétua pela PIDE”. Não só não existia prisão perpétua em Portugal, como não cabia à PIDE a responsabilidade de “condenar”. Camilo Mortágua foi condenado a 20 anos de prisão à revelia pelo assalto ao Banco de Portugal, na Figueira da Foz, em 1967, quando estava em Paris. No entanto, foi amnistiado depois do 25 de Abril de 1974.”

         - A ameaça está consumada: a CGTP coito dos barões da ferroviária, nas vésperas das eleições, dias 5, 6 e 7 da próxima semana, decidiu prejudicar milhões de utentes, com greves do pessoal das infra-estruturas. O que estes senhores dependentes do PCP querem dizer é simples: se vocês votarem na AD, Chega, IL, Pan nós cá estaremos para vos fazer a folha. Espero que o próximo Governo tenha a coragem de alterar a lei da greve, tal como está é um crime para o cidadão comum que paga passes, impostos, deixa de receber os dias em falta e é humilhado por uma data de alienados e aproveitadores.