sábado, março 02, 2024

Sábado, 2.

Ontem almocei com o João. Eu que havia prometido a mim mesmo nunca mais o fazer, caí por simpatia e fraqueza moral. Outra violenta discussão que, creio, foi a derradeira. Ouvi-lo dizer que Putin não é ditador, que a Rússia vive num regime democrático, que o facionara nunca mandou matar ninguém, todos os 29 oligarcas faleceram por doenças ou azares, que na Rússia as eleições sempre foram livres, que Navalny morreu de morte natural, foi discurso que me desesperou e levou a subi a tensão arterial, com sinais meus conhecidos no cérebro. Não. Não quero ir desta para melhor por um por cento de comunistas, que ele nega ser, mas sim membro do MDP/CDE morto e enterrado há várias décadas. Para João há a ditadura de direita que é sinistra e a de esquerda que é santificada por ser a do proletariado. Pitié, pitié.

         - Tudo o que diga respeito à América para ele é para liquidar. Por exemplo a existência da NATO que segundo diz obrigou ao Pacto de Varsóvia. De Gaulle deixou a Organização em 1966, preferindo a soberania nacional, e foi até certo ponto seguido por François Mitterrand, e depois em 2009 o pacóvio Sarkosy, sabe-se lá com que interesses, fez reentrar a França na Organização. João nem me deu tempo para explicar que a decisão de Nicolas Sarkosy, em certa medida, teve lógica devido a política do socialista (eles jogam sempre com um pau de dois bicos), com a anuência oficial daquilo a que ele chamou o Novo Conceito Estratégico da NATO e a partir daí a entrada na guerra do Golfo e noutras acções conjuntas. Mitterrand, implicitamente, deu o aval para que a França voltasse a fazer parte da NATO. João é de tal modo extremista, doente, subvertedor das ideias dos outros, que não escuta ninguém que se apresente a dizer que os EUA tiveram uma qualquer ideia ou acção meritória. O mundo são apenas dois hemisférios: o americano e o russo. Estar a favor dos dois é impossível seja em que condição for – ou se está de um lado, ou se está do outro. A coincidência nalgum momento é de lesa majestade.   

         - Navalny o grande herói da liberdade e da democracia foi a sepultar, enfim. Contra todas as indicações do ditador fascista, e as arruaças da polícia prisões compreendidas, milhares de russos compareceram ao funeral do seu bravo compatriota, desafiando a ditadura imposta pelo homem que se promoveu a presidente (com minúscula) até ao ano de 2036, naturalmente sob protestos e fraudes, prisões e ameaças! Ouviu-se a população gritar contra a guerra na Ucrânia. 

         - Curiosa coincidência: o inglês de Costa é igual ao francês de Soares.

         - Os fantasmas surgiram nas campanhas de vários partidos. Cito o eterno António Barreto“Convém não esquecer: os partidos fracos tornam fracos os fortes líderes.”Assim, o aparecimento de Cristas a sinistra ministra com aquele ar que Deus lhe deu e eu me dispenso de qualificar, a quem se deve a lei do arrendamento que Costa não quis alterar; assim como aquele corrupto de sorriso pateta que chegou a Presidente da Comissão Europeia, e só por isso a Organização foi o que foi e terminou como terminou, não me parece tenham sido benéficos para Luís Montenegro. Como não auguro nada de enriquecedor para o senhor Vasco Gonçalves, com a chamada ao palco de António Costa. Ou talvez tudo seja óptimo num país sem nível, consciência política, ético e culturalmente reconhecido como tal. Somos orgulhosamente saloios e provincianos.