Segunda, 29.
Eu como os meus leitores sabem sou um
acérrimo lutador contra a União Europeia. Com o tempo fui-me tornando um
revoltado, um intratável defensor da saída de Portugal do euro, um aliado dos
países que são capacho para a meia dúzia dos prepotentes que fazem dos mais
pequenos, pobres e periféricos o que querem. Para não falar da eterna questão
entre Norte e Sul que dentro da União é
tratada com sobranceria, achando os países ricos e portanto do Norte que só
eles são trabalhadores e os outros esbanjadores e ronceiros os do Sul. Nas
sucessivas crises que a UE tem atravessado, talvez a actual seja a mais
perigosa. No centro está a migração e no olho da tempestade a Grécia. Como o
problema foi mal atacado desde o início, a Europa inteira fechou-se nos seus
tacanhos medos, alheou-se dos tratados, reinventou políticas e aproveitou o
momento para cada membro refazer a sua própria história e voltar às regras
antigas onde a autoridade territorial suplanta a que Bruxelas impõe. Sempre
tive a sensação que cada país o que quis foi organizar-se em torno da política
económica indo tudo o resto de arrastão. Por isso, nunca a União conseguiu
agregar interesses em torno das grandes questões e a fragilidade das conexões
em vez de unirem acabaram por dividir. Aqui chegados, passando por cima de
tantas normas já deslaçadas, chegou-se ao ponto de cada um fazer os acordos que
muito bem entende à revelia das directrizes de Bruxelas. Assim, o chamado grupo
de Visegrado – Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia – e o grupo dos
países balcânicos reunido e torno da Áustria – Albânia, Macedónia, Montenegro,
Bósnia-Herzegovina, Bulgária, Sérvia, Croácia – criaram uma muralha interior no
seio da UE, deixando de fora a Grécia. Com este inacreditável plano a que os
grandes e poderosos países da UE nada fizeram para obstar, a Grécia ficou só,
abandonada à sua tragédia que é o drama de milhões de seres humanos largados à
sua sorte. Tsipras tão odiado quando lhes fez frente, bate o pé e diz não querer
ser o “armazém de almas”, mesmo que lhe dêem dinheiro a rodos. Abandonaram-no,
não cumpriram o que com ele combinaram, depois de toda a humilhação que causaram
a ele e ao povo grego. Alexis Tsipras faz o que pode, mas pode cada vez menos.
Ameaçou que não “aprovará nenhum acordo no Concelho Europeu se o fardo da crise
migratória não for repartido”. Justamente aquilo que nenhum outro membro do
clube quer ouvir falar. Os milhões de seres humanos (dizem que a tragédia é já
superior à da Segunda Guerra Mundial) que chegam às fronteiras ou aportam às
praias gregas, só tem comovido os povos europeus e são eles que tudo têm feito para
dissuadir os desumanos animais políticos que os governam dos seus egoísmos.