sexta-feira, fevereiro 12, 2016

Sexta, 12.
O juiz Carlos Alexandre não tem tempo para dormir. São tantos e quase diários os processos- crime de políticos para analisar, que o homem foi transformado num monge cível. Passa dias e noites no mosteiro da justiça a queimar as pestanas, a desbravar a complexa teia da corrupção, cada vez mais sofisticada, depois que todo esse reino dos que trabalham a favor do povo e em prol da nação, aprendeu com José Sócrates os meandros de a culpa morrer solteira. O curioso desta classe que nos governa governando-se, é que detestam a generalização assentes na afirmação de que não são todos iguais; mas quando fulalizamos (é assim que eles dizem), aqui-d´el-rei que todos são inocentes até prova em contrário. Curioso, não é! Até à data poucos ou nenhuns políticos se conhecem do PCP, do BE e dessa corte de sonhadores à sua esquerda acusados do que quer que seja. Quem está há anos em via-sacra pelos tribunais, são tipos do CDS (alguns), do PSD (bastantes), do PS (uma multidão). O derradeiro, é Vítor Sousa, ex-vice da Câmara de Braga e braço direito de Mesquita Machado (ui!). Está indiciado (meu caro eu sei que ainda não foi acusado de nada, não se assuste, a missa ainda vai no adro) por corrupção passiva e administração danosa, na compra de 23 autocarros lá para os bracarenses. Mas não está só, outros elementos, todos do seu partido, o seguem. A procissão (estamos a falar de Braga, não é verdade) ainda não saiu da Sé. Muito povo vai descer às ruas e algum enfeitará as varandas com colchas adamascadas e não deixará de levantar os olhos ao céu em prece sentida pelo juiz que os leva a todos ao confessionário. Eu adianto-me e peço a Deus que lhe dê muita saúde e vigor para afrontar a turba-multa (o vocábulo é de Santo Agostinho) desta tropa-fandanga.


         - O telefone toca. Atendo apressado. Do outro lado, uma menina pretende fazer-me quatro perguntas da parte da EDP. Estou disponível? “Desde que sejam só quatro e rápidas.” A quarta e última anulou as precedentes e despachou o questionário num ápice. Desde que eu respondi à funcionária da eléctrica chinesa que possuía quadro bi-horário, percebi que deixei de ter interesse como cliente. A rapariga despachou-me, literalmente. À chinesa só convém clientes gastadores. A ela não lhe interessa o Planeta, o buraco de ozono e todos esses devaneios que os cientistas inventaram para desgraçar os “empreendedores”, os investidores, os accionistas e passo. Ainda adiantei que consumidores como eu deviam ser louvados e acarinhados devido não só a terem em conta as economias de luz, como quando consomem fazem-no à noite com menos carga de prejuízo para a atmosfera. Ela riu-se, disse que eu tinha razão, mas o que a mandaram fazer foi convencer-me a passar para o consumo corrente. É por esta e por muitas outras, que eu não acredito na hipocrisia das multinacionais quando falam do Planeta.