Terça, 16.
Um amigo dos tempos desassossegados dos
meus vinte anos, que passou uma parte da vida pelo mundo fora em missões
diplomatas, surgiu do entulho cibernauta. Eu explico-me. Há dias, abrindo a
minha caixa de e-mail, tive a grata surpresa do seu encontro com uma fotografia
do nosso tempo de juventude para que eu o reconhecesse. Outros e-mails
sucederam-se. Num deles perguntei-lhe como me tinha encontrado. Ele respondeu
que tinha aberto o Google, digitalizado o meu nome e eis que quem sou nessa
caverna de Ali Babá, o meu blogue e outras informações surgiram levantando-me
do fundo de remotas épocas quando os dias eram um diamante luzindo ao sol acariciador
e as noites alvéolos de palavras sussurradas... Outra foto descobre o homem
cinquentão, anafado, de cabelos brancos, e no fundo da imagem, o rapaz elegante
e bonito que vem à tona no sorriso que não mudou. Ao vê-lo tal qual é hoje,
senti que também eu envelheci, embora espere que nele como em mim o coração
conserve a mesma inocência que nos arrastou por uma juventude alegre e
despreocupada.
Ontem decidi também entrar no Google e perguntar-lhe quem sou. Grosso
modo, pas mal. Todavia, descobri algo que me desgostou profundamente. Um amigo de juventude, que frequentava a
minha casa de S. Marçal, homem com uma vida original que fui acompanhando
porque ele me pediu ajuda financeira e psicológica algumas vezes, inteligente,
com dois cursos superiores, casado e interessante sob todos os pontos de vista,
tem à venda umas quantas primeiras edições de vários livros meus. Como se
calcula, não ponho em dúvida que, dada a nossa proximidade, lhe tivesse
oferecido um exemplar dedicado de cada um deles, mas não mais do que isso.
- Um dia, para os povos subordinados ao euro e à tirania de Bruxelas,
não haverá outra alternativa que a guerra civil para se libertarem dos
opressores.