Sábado, 13.
Ontem passei o dia inteiro em Lisboa. A
primeira parte na Brasileira onde fui-me encontrar com os meus amigos e
declinar estar presente no almoço de aniversário da neta de José Saramago, num
restaurante upa, upa. A segunda parte do dia, na clínica Malo onde percebi em
minutos porque é que na Grã-Bretanha todo o mundo detesta os dentistas. Segundo
o escritor Rentes de Carvalho que leu nos jornais holandeses, 20 por cento dos
ingleses não trata dos dentes e quando os têm podres, são eles próprios que os
arrancam. Os que ficam a precisar de reparação, eles compram por 6 euros um kit
da firma DentTek, e fazem o que têm a fazer. A empresa, só no ano passado,
vendeu para cima de 250 mil unidades. Voltando à Malo, a sensação que tive é
que fui transformado numa slot machine
daquelas que os casinos possuem. Depois, dou-me conta que os estomatologistas
são como os políticos. Quando há trinta anos o Dr. Eurico Freitas começou a
tratar da minha boca, era um dos melhores que existia e tinha consultório na
Lapa. Foi José Saramago que era seu paciente, quem mo aconselhou. Descobri
então, que todo o mundo jornalístico e artístico era seu cliente. Na sala de
espera esbarrei com gente distinta, como o Zeca Afonso que eu conhecia da sua
casa em Setúbal onde estive com a Cetinha convidado pela Zélia sua mulher.
Depois, uns anos passados, a Zitó sugeriu-me o Dr. Gambeta. Lá, voltei a ver
gente de vários quadrantes políticos e artísticos. Na primeira consulta, o
médico torceu o nariz aos processos de trabalho do seu colega. Ontem, o clínico
que me recebeu, não foi tão longe “porque a minha posição deontológica não permite”.
Resumindo: eu que havia entrado para extrair um dente do sizo, saí de lá com um
orçamento de... 20 mil euros!! Vou ter que me despachar, porque para a semana
tenho um encontro com o socialista François Hollande e não quero que ele mande
dizer pelos lacaios que não recebe pobres desdentados. Bom. Chove.