sábado, maio 04, 2024

Sábado, 4.

O PS de Vasco Gonçalves, não pára de nos advertir que “em tempos de crise, só os socialistas dão garantias de estabilidade”. Tal afirmação, incendeia-nos o coração de esperança como forma de nos tomar por parvos. Assim, esta semana, com o descaramento habitual desta gente, depois de ter sarnado Montenegro para não se coligar com o Chega, é ele que aceitou, sorridente, a muleta do Chega para aprovar a eliminação das portagens. O projecto foi aprovado depois de o PS se haver oposto quando era governo. Pelo que se vê, é melhor acreditar na honestidade de Luís Montenegro. Eticamente, os socialista são zero. 

         - No final da semana, também tivemos a revolta de políticos muitos do PS e o desgarrado Rui Rio. A maioria dos subscritores do manifesto, que acusa o MP de funcionar sem escrutínio, esteve na mira da justiça e não gostou. Não gostaram, julgam-se acima da lei e daí tudo fazerem não só para correr com a Procuradora-Geral da República, como pretendem mais autonomia para o poder político. Quando se vê como eles são tratados comparados com o cidadão comum, cheios de papel que entregam a advogados que possuem o condão de adiar julgamentos até perderem o prazo de validade, como possuem a magia de transfigurar assassínios em cordeiros divinos.  

         - Não digo com isto que a Justiça é pura com derrames salvíssimos de protecção e imparcialidade. Sei muito bem que o MP nem sempre é competente e os seus juízos esbarram nos tribunais por mal feitos, mal urdidos e muito amadorismo à mistura. Tomemos o caso da Operação Influencer. Se se vier a provar que o processo de suspeição contra António Costa foi uma cabala para correr com a maioria dirigida por ele, então é todo o sistema nacional da justiça que é posto em causa e é evidente que não podemos confiar em ninguém. Eu detestei e detesto o modo de fazer política dos socialistas, acredito que Costa não é ladrão como Sócrates, mas estou em dúvidas se ele não moveu artifícios políticos para influenciar negócios em torno do lítio e das empresas de dados erigidas no Algarve. 

         - Tentei avançar hoje um pouco mais na limpeza do mato. Amanhã vou pôr um Mapa no braço e durante 24 horas vou andar com ele. Como não deve ser aconselhável o contacto com maquinaria, comecei cedo o trabalho. Dia surpreendente de calmaria. Leitura, escrita, pequenas lides disto e daquilo. 

         - Ontem passei praticamente o dia com o João Corregedor. Combinámos encontro na Brasileira e dali como eu tinha que ir ao C.I. ver uma mesa para o terraço, ele quis acompanhar-me. Almoçámos no restaurante panorâmico. Depois ficámos um tempo em amena cavaqueira com enorme esforço da minha parte para que ele não resvalasse para a única cultura que o absorve – a política. No final ele desabafou: “Porreiro. Conversou-se bem.” Forma de falar, porque quem nunca se calou foi ele num monólogo vigiado por mim.


quarta-feira, maio 01, 2024

Quarta, 1 de Maio.

Para honrar o dia do trabalhador, fartei-me de trabalhar. Não só na escrita e leituras, assim como lá fora a roçar erva, a podar o alecrim da entrada, a continuar a aliviar o jardim dos acantos das ortigas, a cortar os rebentos selvagens das oliveiras, a fazer uma queimada que ainda gora vigio do ponto da escrita É deste modo que me sinto equilibrado. Quando uma actividade fica de fora e é apenas em casa que laboro, falta-me qualquer coisa para que o dia se cumpra em plenitude. 

A beleza dos  acantos em flor. 

         - Louvo a atitude dos jovens universitários americanos que reclamam nas ruas a condenação de Netanyahu há duas semanas seguidas. Enfrentam a violência e a prisão, mas não desistem e são já exemplo para outros movimentos similares em França, Bélgica e Alemanha. Entre nós não há nenhum sinal de idênticos protestos. Os ditos jovens, estão concentrados nas finais, masculina e feminina, dos jogos de futebol. Somos tão pobres, tão idiotas. 

         - O Reino Unido há muito que deixou de ser uma referência civilizacional. Depois da senhora Thatcher, dos hooligans é agora a vez da crueldade democrática do senhor  Rishi Sunak. Este cavalheiro, primeiro-ministro do reino, decidiu extraditar todos os imigrantes que entraram no seu país sem autorização ou trabalho. Pega neles, põe-nos num avião e deposita-os algures no Uganda como quem despeja um montão de lixo. São seres humanos, mas ele decidiu que são dejectos epidémicos. 

         - É muito difícil viver em Portugal sob todos os aspectos. Isto não é uma democracia, os deputados não são representantes do povo, vivem numa bolha completamente alheados dos portugueses, em lutas intestinas permanentes, a ver quem leva a palma sobre o inimigo que eles cândida e cinicamente chamam adversário e dizem ser “a democracia a funcionar”. Todo este ódio, as permanentes rasteiras, os casos e casinhos que brotam do chão por todo o lado, alimentam o virar de costas e o sentimento de que isto só lá vai com um dirigente forte que esteja acima de tudo e de todos como demonstrou uma recente sondagem. Vendo, bem, contudo, isto é falta de educação, civismo, cultura democrática e muita saloiice. Esta gente, lamento dizer, a quem deram um hemiciclo para exibirem tudo o que não possuem ou possuindo  em nome da ideologia se acham no direito de impor aos demais, não passa de novos-ricos inchados de riqueza e poder. Nós estamos lixados. Apostámos na ficha errada. 


terça-feira, abril 30, 2024

Terça, 30.

Desafiado pelo João para ir à Brasileira, tendo chegado um pouco antes da hora aprazada, abri o computador que nunca me larga ou eu a ele, busco o link do romance e não o encontro – tinha desaparecido do ecrã. Fiquei lívido, senti o sangue descer por mim abaixo e permaneci paralisado de horror. A coisa foi tal, que uma das funcionárias se aproximou a perguntar se estava bem. Fui mais tarde ao gabinete técnico do Corte Inglês, mas o empregado necessitava de saber o rótulo que havia dado ao link. Ora, como o título do romance tem vindo a mudar ao longo da escrita, fiquei baralhado e adiantei “Ana Boavida”. Em vão. Enervamento. Contristado de ter perdido três anos de trabalho. Contudo, o funcionário, ensinou-me como, “eventualmente”, poderia recuperar o ficheiro. Volto a casa de urgência e atiro-me à descoberta de um mundo para mim fascinante, mas inacessível. Acontece que o desespero aguça o engenho. E eis que a dada altura, Ana Boavida vem ao meu encontro de sorriso malicioso: “Aqui estou, camarada.” 

         - Domingo, entrando eu na igreja dos Navegantes, em Setúbal, encontrei o espaço quase preenchido. Dentro de minutos deveria começar a missa das nove e de celebrante nada. Eis se não quando vejo passar perto de mim vindo da rua, um homem alto, negro, magro e ligeiramente curvado decerto devido à altura, aparentando quarenta anos. Ele escapa-se pela ala direita do templo, sobe o estrado do altar e desaparece pela esquerda. Volta daí a minutos, envergando uma sobrepeliz branca, e dá início ao ofício religioso. De súbito, interrompe a oração e eclipsa-se para o sítio de onde tinha chegado – a sacristia. Os fiéis olham-se sem perceber o que se passa. Esperamos, com efeito, um bom bocado. De seguida, reaparece desta vez com a casula dourada e branca sobre a veste que tínhamos visto. O cabo-verdiano, tinha-se esquecido de se paramentar a rigor. Os furos aos cânones não se ficaram por aqui. Antes do Santos, ele faz um movimento demasiado brusco e a patena bate ruidosamente no cálice. Um pouco depois, abandona o altar com um papel quadrado na mão para pedir junto de uma assistente que lhe decifre o que lá está escrito. Dito isto, a homília foi simples e bem construída. É a primeira vez que assisto à missa celebrada por um africano – foi diferente e nenhum ponto de contacto com o rigor habitual. A sua inocência, foi ao ponto de contar que em Cabo Verde nunca tinha visto uma vinha e ele e outro padre da mesma cor tinham visitado uma vinha perto da cidade de forma a encontrarem paralelismo com a “vinha” do Senhor. 

         - Há, de facto, uma fúria de revolta na Natureza, os sinais estão por todo o lado e são cada vez mais assustadores. Desta vez coube à Tanzânia ser atingida por chuvas diluvianas que arrasaram cidades inteiras e vilas isoladas. Se já havia pobreza, esta redobrou fazendo mais pobres e infelizes os já de si tristes africanos.  

         - Um pormenor que diz tudo do estado da democracia. Enquanto nas ruas nunca se viu tanto povo unido a festejar os 50 anos da Revolução, no Parlamento assistiu-se à luta, desunião, disputa dos senhores deputados. Uma vergonha. 

         - Tenho dias que pareço viver entre os mortos que respeito e venero – feliz.


domingo, abril 28, 2024

Domingo, 26.

Sua excelência tem que ter protagonismo a qualquer hora e lugar: de manhã, à tarde, à noite, de madrugada porque não dorme e entende que há sempre alguém para o escutar. Desta vez porém, ficou isolado a falar para os povos dos séculos XV, XVI, XVII e por aí fora, que decerto também não o ouviram afogados no silêncio da morte Tanto a oposição como o Governo do seu próprio partido (será ainda membro?), não mostraram interesse em enfileirar nas suas opiniões de resgate do tempo, dos maus-tratos aos indígenas, da apropriação de valores históricos e artísticos, da presença dos portugueses em terras hoje legitimamente habitadas pelos nativos do outrora imenso império português. Só o Chega se levantou numa fúria à Trump, porque Ventura necessita daqueles actos heróicos se quiser sobreviver. Como não tem ideologia, plano, programa vai sobrevivendo apanhando no ar toda a espécie de lixo que o seu próprio vendaval provoca. Corajosa foi a demarcação de Luís Montenegro das palavras e propósitos de Marcelo. Como lúcido é todo o artigo de António Barreto no Público de ontem que aqui deixo este parágrafo. “A dor por procuração é tão inconveniente quanto (eu diria como...) o orgulho por recordação.” E este: “Quem quer julgar, hoje, os reis e os escravos de há séculos, quer hoje qualquer coisa. E não se trata apenas de bons sentimentos: quer poder, bens e poleiro.” 

         - Nós somos o que somos, isto é, pobretes mas alegretes e disso não passamos venham as revoluções que vierem. Nestes últimos dias, os telejornais abriam com cenas do pagode do Norte envolvido em contendas para eleger o presidente do Futebol Clube do Porto. Aquilo era um tempo impossível de antena, como se o país vivesse num sufoco de vida ou de morte, e todos os dramas e alegrias do mundo inteiro tivessem desaguado nas ruas lúgubres da cidade Invicta e por acréscimo em todo o Portugal. Hoje, no supermercado e no café onde entrei para tomar a bica, havia velhos a discutir a derrota do velho homem que governou a máquina de fazer dinheiro durante 40 e tal anos e diziam que estiveram até às duas da madrugada a assistir à divulgação dos resultados. Bah! Como é possível! Há nesta alienação qualquer coisa de trágico e de infantilidade, como se nós, neste canto da Europa, de mão permanente estendida à UE, estivéssemos ao abrigo das guerras, da pobreza extrema, das calamidades que espreitam nesta altura quase todo o mundo. Disso não falam os políticos medíocres, como nada disseram (ou muito pouco) nestes oito dias de paralisação das eleições do FCP, jornais e televisões. Bem-haja esta obsessão nacional. Tão oportuna para políticos espertos, que sabem como entreter o povo ficando eles com um vasto campo de manobra para os seus interesses e conluios e desbaratamento das energias nacionais. Salazar funcionou assim 48 anos. Futebol e de tempos a tempos uma esmola na forma de subsídio ou ajuda temporária como fez habilmente António Costa. Isso é suficiente para deixar o povo entretido enquanto vocês ficam entregues à venda da banha da cobra do comunismo, do socialismo, do liberalismo, fascismo e todos os ismos. O futebol é o vosso aliado. Salazar ensinou-vos tudo; vocês, ingratos, não lhe agradecem. 


quinta-feira, abril 25, 2024

Quinta, 25 de Abril.

Comemoro a data da Revolução dos Cravos, com estas afirmações de Rentes de Carvalho ao Correio da manhã.

Pergunta-lhe a jornalista o que esperava da democracia, resposta: O que eu esperava era que com a democracia diminuísse, pelo menos o preciso para salvar as aparências. Mas o nível a que chegou, e o descaramento dos cavalheiros e das damas ultrapassa a obscenidade. 

Outra pergunta: como viu o escritor as últimas eleições: Com um sorriso triste, porque nada muda. Saíram aqueles, entram estes, são a endogâmica  fidalguia da corte de Lisboa. Gente exótica, a viver na ilusão antiga e ultrapassada de que muito se resolve com a esmolinha e a “Sopa dos Pobres”. Pena é que o mundo esteja a mudar, e eles pareçam não se querer dar conta.

Num estudo do NIBUD li que, para viver descansado, um holandês solteiro, sem carro e em casa alugada, necessita uma reserva de cerca 3.500 €. Metade dos holandeses - sim, metade - cidadãos de um dos países mais ricos do mundo, não possuem essa “almofada” (o escritor vive há muitas décadas na Holanda), pelo que podem ser considerados pobres. Esses e outros pobres revêem-se no PVV de Wilders (partido de extrema-direita).

Como é improvável que os “desprezíveis”, que votaram no Chega de Ventura, disponham de “almofada”, e ser previsível que um destes dias a UE vá dar um forte aperto aos cordões da bolsa, pode haver ocasião para recordar que o futuro, porque a Ele pertence, será o que Deus quiser.

         - Este foi um dia para mim que em várias ocasiões soltei forte gargalhada. Quem me presenteou esta felicidade, foi sua excelência o Presidente da República ou mais exactamente Marcelo Rebelo de Sousa. O homem é sempre imprevisível e essa imprevisibilidade, tanto pode dar para ser sublime como desastrado. Desta vez, foi supra ao afirmar que António Costa é oriental no seu modo de ser e Luís Montenegro rústico. Não sei se os visados apreciaram a adjectivação, mas nem precisavam. A viúva do BE e a dos cãezinhos, apressaram-se a dizer que os epítetos eram racistas e mais não sei o quê que as suas cabeças doentes e obcecadas decifraram.


quarta-feira, abril 24, 2024

Quarta, 24.

Aconteceu que ontem, farto de trabalhar no duro com a benesse de uma noite abençoada, para folgar costas e rins, fui sentar-me de manhã na Brasileira e abracei literalmente o romance. Ali estive isolado não obstante o imenso ruído de vozes em várias línguas, das máquinas, do entra e sai de estrangeiros, de loiça, das ventoinhas do tecto a rodar em contínuo, dos empregados a circular fardados, do martelar das pás das máquinas de café em sucessivas tiragens de bicas a 2 euros e cinquenta cada, apesar disso ocupei duas horas arrastadas na folha do computador com o saldo de uma página enchida. 

         - Já hoje, arrimei de novo, pelas oito da manhã, ao labor que nunca parece terminar. Avancei de máquina em punho pelo lado da frente da quinta, contornando canteiros de flores e árvores de fruto, roçando a espessa erva de um metro. Depois fui dar um jeito ao canteiro de acantos, desbravando os fios de silvas no emaranhado das folhas gratas aos Gregos com elas adornaram templos e academias. sem olvidar as regas que já começaram no início da semana. 

         - E como vamos de democracia à portuguesa? De mal a pior. Luís Montenegro foi encontrar não sei aonde, um tal Sebastião Bugalho, para líder do grupo às eleições parlamentares europeias. Confesso que desconhecia completamente a existência deste “jovem comentador televisivo”. Como não frequento os canais de televisão nacionais, ignorava por completo a sua existência. Documentei-me e vi que tinha chegado a Lisboa a cavalo vindo da Escola Prática de Cavalaria de Santarém. Aqui arribado, fez-se comentador (mais um) na SIC e, esperto como deve ser, escolheu a veia dura do comentário, lanhando a eito, naturalmente influenciado pela dinâmica de “a arte de bem cavalgar a toda a sela”. Experiência política, peva. Exibe apenas um sorriso mirífico, um aprumo démodé, de lábios finos a denunciar um machismo duvidoso, apurado de elegância escalabitana, parece que se move desenvolto entre a classe política covarde e insegura que o teme. Foi um tiro no pé de Montenegro. O sujeito, perspicaz, percebeu que a televisão já deu uns quantos primeiros-ministros e chefes de Estado para além de pagar bem. Vai ser o primeiro desastre do PSD. Mas o “jovem” sai de Bruxelas cheio de bugalho que é por isso que todos lutam. Um milhão e duzentos mil euros é obra! Ao que consta (pelo menos da fama não escapa), é violento e descasca nas mulheres que tem tido. 

         - Prefiro a novidade de Vasco Gonçalves, vulgo Pedro Nuno dos Santos. Embora Marta Temido não tenha também experiência internacional, é figura incontornável de entrega à causa pública, tendo posto de parte os barões anafados do PS. Não votarei num e noutro, conservando-me fiel à coerência do meu voto nas legislativas que irá para o Iniciativa Liberal (sem apreciar o rabinho liberal). Lamento, mas o PS vai ganhar as europeias. 

         - O Liceu Pedro Nunes quer pôr ordem – e muito bem, enfim – à excitação de elas e eles exporem o que Deus lhes deu próprio da nonchalance juvenil. Elas aparecem na escola de calças justas, cortadas junto aos genitais, decotes-abismos por onde o olhar matreiro se perde; eles, armados em machões, de coxas grossas, rapadas, ar dengoso à matador, de chinelo nos pés, calções de praia deixando antever o que aflora sem preconceitos, ombros largos dos alteres, ar rufia à Galamba... É quase certo que as meninas e meninos do BE irão irar-se contra a tentativa de barrar a liberdade – devem ser os únicos que cooperam em irmandade com a juventude vulgar e obscena. 

         - Antes que me esqueça deixem-me anotar. Esta moda do decote arrojado, que trouxe para a televisão e para o espaço público as palpitantes mamas femininas, tem que se lhe diga. O descaramento é tal e tanto, que outro dia a cocelebrante na missa do Cardeal Patriarca de Lisboa, na Capela do Rato, trazia um vistoso decote em bico ladeado de pequenas montanhas. Ela lia o Evangelho, nós mirávamos o que saltitava sob o vestido de cetim. No fertagus eu já perdi a conta à quantidade e variedade de mamas que estes olhos que a terra há-de comer viu ou admirou. Estou à espera que os homens reivindiquem a mesma liberdade e exibam o que a natureza lhes deu em tamanho e consistência ...   

         - Marcelo diz que cortou relações com o filho devido ao caso das gémeas. Se assim é, admiro a sua coragem em trazer para o domínio púbico uma tal decisão da reserva do privado. Marcelo Rebelo de Sousa é original em tudo. 


segunda-feira, abril 22, 2024

Segunda, 22.

A actividade partidária é tão ruidosa e tão alheia ao país, que me pergunto por quanto tempo mais teremos democracia. O Vasco Gonçalves não se cala, a viúva ocupa o espaço com a sua voz afirmativa, como se fosse dona de uma colónia de mentecaptos, o Ventura parece um menino endiabrado de coro, o do Livre um cura de província e por aí fora. O PS levou oito anos a destruir as estruturas do país, mas exige agora ao PSD que reconstitua o danificado num dia. Já ninguém leva esta gente a sério, e uma sondagem recente mostra que os portugueses preferem um líder sem ser eleito, quero dizer, um mandão, um chefe que ponha ordem na casa. Por outras palavras – um novo Salazar. 

         - Somos, com efeito, o resultado deste dia luminoso que nos incendiou. Já disse e repito: tenho adoração por este espaço, por esta casa, por estas árvores, por este silêncio e pela luz que cai do céu em condescendências mágicas. Por aqui anda e ciranda uma voz serena, murmurante, que se projecta das paredes, finta as colunas de livros, atravessa os espaços e segue-me por entre as sombras que se agigantam ao entardecer. Quando a luz desagua no fundo do horizonte, levanta-se a noite desdobrada num manto de luz visível e admirada por mim quando atrás das vidraças olho o campo submergido no mais puro e voluptuoso silêncio. Ante o mistério do qual faço parte, simplifico-me em pensamentos que lançam no futuro iminente uma torrente de interrogações. Para quê quando sei que Tu estás onde sempre estiveste – no centro da nossa união, no espírito que me imbui da Tua complacente presença, Senhor.  

         - Tudo preencheu este dia do sabor e perfumes das coisas que me inebriam: o trabalho lá fora, a leitura e a escrita cá dentro. Com um salto à piscina para meia hora de natação. Deo gratias


domingo, abril 21, 2024

Domingo, 21.

A gente basta ir ao Chiado para ter o retrato do turismo de massas. Aquela gente pra ali está espojada nas cadeiras, encostada aos varandins do metro, sentada nos degraus dos prédios, a receber o sol que desce dos espaços das igrejas e monumentos que eles não visitam nem fazem parte do seu destino. É uma praga que os activistas do Canárias se Agota considera um modelo “suicida”. Daí terem dado dez dias ao executivo regional para resolver o problema que aflige todo o arquipélago espanhol. Já avisaram, entretanto, a coligação que governa as Canárias que o tempo está a esgotar-se e depois vão fazer uma greve de fome por tempo indeterminado. As Canárias é um lugar que nunca visitei nem me interessa. Enquanto português, tenho praias magníficas, vilas e aldeias humanamente ainda preservadas, e o nosso sol é tão brilhante e intenso e para além disso é o mesmo. Daí que meter-me num espaço mal arquitectado, cheio de betão, toneladas de gente arrastando os pés, sujeito ao turismo de massas que é horrendo e analfabeto e maria vai com as outras, não me excita minimamente. Por outro lado, é por esta e muitas outras formas de estar na vida dos espanhóis, que eu os admiro e gostaria de me transferir para Espanha. Aquilo é um povo com carácter, com raça, que se impõe aos jogos do poder com galhardia. Em Portugal, nunca uma tal acção seria possível. Somos mansos até ao abandono de nós próprios.   

         - Os Estados Unidos disseram a Netanyahu que fosse moderado na resposta aos 300 e tal mísseis e drones despachados sobre Israel há duas semanas por Teerão. Por isso, anteontem chegaram ao Irão uns tristes arremessos que não causaram danos e preservaram a dignidade dos judeus ortodoxos ferida. Eu creio que cenas destas não ficam por aqui. Ambas as partes acumulam anos e anos de ódio e destilá-lo é um bem que banha qualquer dos egos.   

         - Nos EUA, a Câmara dos Representantes aprova, enfim, ajuda à Ucrânia. Zelensky tem andado nitidamente há meses a esmolar armamento, ajudas para combater o ditador que, refinando de barbaridades, aproveitou a escassez de defesa do país para tomar terreno e destruir cidades e matar civis e soldados em número elevado. A Ucrânia não pode confiar na UE. Quando muito no Reino Unido que se tem mostrado célere nas ajudas e apoio psicológico. A Europa é demasiado complicada, os senhores eurodeputados têm uma vida solta, feliz, madraça e para quê incomodarem-se com uma guerra que não lhes diz respeito e os maça na sua rotina de bem instalados.  

         - Devido ao muito trabalho aqui, não fui a Setúbal assistir à missa na minha igreja de eleição – a dos Navegantes. Daí ter feito um intervalo para a celebração através da RTP1, hoje transmitida da Capela do Rato tão minha conhecida, embora nela não abundem obras dignas de referência e todo o edifício tenha a marca do séc. XIX no pior que conheço. Quem presidiu foi sua eminência o Cardeal Patriarca de Lisboa. Excelente homília, sem texto escrito, de coração aberto e cativante de substância. Deu-me gosto ouvi-lo e logo pensei que o Papa Francisco teve inspiração ao elegê-lo para orientar a Igreja de Portugal. Todavia, na melhor toalha cai a nódoa. No final do ofício religioso, D. Rui Valério, saiu-se com esta referindo-se ao dia de hoje, “um dia impactante.” Por amor da santa, senhor bispo! A modernidade linguística dos comentadores, das meninas jornalistas e dos meninos olé olé que povoam as televisões não é para seguir.  


sábado, abril 20, 2024

Sábado, 20.

Estas linhas do artigo de João Miguel Tavares no Publico de hoje, são, simultaneamente, uma derrota do 25 de Abril que a esquerda comemora e uma vitória. Fracasso por vermos que as conquistas de Abril não são respeitadas, na só pela Justiça como pelos seus cúmplices deputados, ministros, membros dos vários governos, autarcas, juízes, administradores, magistrados, banqueiros; triunfo porque vivemos em democracia e podemos chamar os bois pelos seus nomes: “Boa parte dos grandes negócios que se fizeram na era Sócrates foram parar a tribunal; as PPP, as barragens, a Parque Escolar, a EDP, a PT, Manuel Pinho, o universo BES, uma cultura de poder e ganância que destruiu financeira e moralmente o país. Espremidos todos esses processos, temos o quê? Uma mão cheia de nada. Com altíssima probabilidade, Ricardo Salgado nunca irá passar um dia da sua vida na prisão. José Sócrates está há dez anos para saber se irá a julgamento, parte dos seus crimes irão prescrever, e mesmo que num dia futuro – hipótese louca – venha a ser preso, já terá certamente mais de 70 anos e os crimes que cometeu ocorreram duas décadas antes. Isto não é justiça.” Acrescento eu: isto – como eles costumam afirmar – é a democracia a funcionar...

          - Entretanto o Governo de Luís Montenegro vai-se descobrindo. Gosto particularmente do seu estilo de governar e de toda a equipa: serenos, sérios, falam q.b. sem propaganda, na linha do recomendável. Já reparam que o Chega ficou muito mais apagado desde que Montenegro tomou o poder? Sim. O primeiro-ministro não faz apenas política, pensa no adversário, trabalha nos dossiês em estreita combinação com os seus ministros. Tão diferente para melhor do seu antecessor! A tal ponto que, sem querer, acaba por por isolar o Vasco Gonçalves socialista na continuação da propaganda do passado.   

         - Um tal Carlos Tavares, português de ouro que dirige a Stellantis, auferiu o ano passado 36,5 milhões de euros!!! É um escândalo? É. É possível? É. A lei francesa permite? Sim, permite. Ainda que Emmanuel Macron  considere “excessivo”, “chocante”, “um salário astronómico que o gestor recebe”, o facto é que isso é legal. Nas tintas para o abismo de vida digna entre ele e os seus empregados, entre ele e a miséria global, os milhões de pobres, reduzidos a pequenos instrumentos nas suas mãos, a realidade é que se tivermos de assacar culpas a alguém, só as temos de pedir às leis que consentem um destempero salarial assim. Ocorre-me aquela exclamação do príncipe Pierre de Polignac: “L´argent me fait peur.”  

         - Vou prosseguindo no trabalho de cortar a eito as toneladas compactas de erva daninha que está por todo o lado. Isto é uma tarefa que não tem fim, pois onde há dois meses limpei, vou ter de recomeçar de novo. E pensava eu que isolado no campo, teria mais tempo para me consagrar à escrita! Estou à espera dos primeiros pingos de chuva que nos anunciam para ir fazer duas queimadas. 


quinta-feira, abril 18, 2024

Quinta, 18. 

A velhice desafia a juventude. Estive ontem no Gama Pinto em exame oftalmológico. Desta fez fui atendido pela chefe do serviço como sempre naquele hospital cordial e humanamente impecável. Disse a doutora Gabriela, depois de vários exames ao estrabismo, que este está controlado e talvez tenha vindo já da adolescência. Por isso, não necessito de intervenção cirúrgica e as consultas no seu sector ficam assim concluídas. Disse-me mais: não tenho precisão de ser operado à catarata no olho esquerdo, não só porque ela é pequena como eu vejo ainda muito bem. Mas foi mais longe, incentivando–me se assim o desejasse, a pôr os óculos de parte. Porque, segundo ela, eu vejo muito bem com uma pequena diferença na leitura do olho esquerdo. Bah! Como é possível numa hora receber tantas e tão boas notícias! E como vou eu agora poder passar sem a áurea de intelectual, poeta e anjo que as lunetas decerto me davam?!

         - O fertagus é para mim uma fonte psicológica e social de extrema importância. Falo com muita gente, oiço outra tanta, e até uma africana se apaixonou por mim indo ao ponto de me dizer ontem que há muito tempo não me via, embora observasse o meu carro no lugar dos deficientes, coitadinhos. O problema é que a mulher está fora das minhas idades e ainda por cima é feia como os trovões. Portanto, fugi, despedi-me à pressa e disse-lhe que não tinha tempo para meias-conversas.  Tudo com cinismo q.b. e educação finíssima. 

         - Outro dia, um belga que entrou no comboio conduzindo um jovem cego brasileiro a quem eu dei o meu ligar no tal sítio dos coitadinhos, disse-me que apreciou o meu gesto num português quase imperceptível. Mora numa povoação aqui perto, a mesma onde vive o Tó e o João, há oito anos. Quando virámos para a língua dele, o homem expandiu-se e entrou na apreciação dos portugueses e da política que foi assistindo levada a cabo pelos socialistas. “Um desastre - dizia - e uma desordem.” Eu respondi que aos portugueses só lhes interessa o futebol e logo ele retorquiu: “É a maneira de os controlar, acalmar e comprar.” “Porque somos muito básicos e incultos” contra-argumentei.  “Infelizmente é verdade”, concluiu ele já a deixar a locomotiva. 

         - Noutra ocasião, tenho sentada nos degraus do trem, mesmo na minha frente, uma brasileira que mete conversa comigo. Observo-lhe o que disse Lula da Silva (que um dia haveria em Portugal mais brasileiros que portugueses) ela sorri e diz-me “fugimos dele, mas viemos encontrar outro igual aqui”. Riu-me e penso que não estou só. No adiantado da conversa ela conta-me que no Brasil, quando os corruptos políticos ou das finanças  são presos (coisa rara), as espoas, ao domingo, vão às prisões fazer churrascos para eles. 

         - Independentemente de gostar ou não do Sr. Galamba, deste ou daquele membro do anterior governo, o que observo é que os socialistas que tanto apregoaram “o que é da política à política, o que é da Justiça à Justiça”, estão agora empenhados em destruir o seu slogan hipócrita, porque têm urgência em pôr em Bruxelas o seu orientador e então toca de deitar abaixo a Procuradora que eles próprios escolheram e o Ministério Público no todo. 


terça-feira, abril 16, 2024

Terça, 16.

Estás-lhes na massa do sangue. É evidente que Israel vai retaliar a humilhação que recebeu do Irão. Este também não tem dúvidas e prepara nova ofensiva contra Telavive. Para tanto, Putin já ofereceu ajuda; enquanto os países vizinhos e todo o Médio Oriente pede calma a ambas as partes. Joe Biden diz que se põe de parte, mas continua a abastecer de material bélico Netanyahu. Em breve os 1500 quilómetros que separam os dois inimigos de há centenas de anos, serão atravessados de mísseis, drones e toda a parafernália de destruição e morte. 

         - Ainda agora o Governo se formou, e já a adjunta do Ministério das Finanças, a senhorita Patrícia Dantas, acusada de fraude, comunicou à tutela “que decidiu não assumir as funções de adjunta do Ministério das Finanças, apesar de manter a presunção de inocência.”. Oh, como é tão do nosso conhecido este salmo nacional! Mudam-se os governos só a oratória é sempre a mesma. 

         - Por arrasto, o mundo, digamos, das pessoas humanas, é contagiado com as loucuras dos que o governam. Em Sydney, um rapaz entrou num centro comercial e esfaqueou seis pessoas e feriu sete. Não se tratou de um ataque terrorista, mas sim de um jovem com transtornos mentais. A isto chamam as autoridades “transtorno mental” e ao que praticou diariamente durante cinquenta anos o Estado de Israel e mais recentemente Netanyahu aos palestinos? O alegado atacante foi morto a tiro pela polícia. 

         - Leio com imensa surpresa e tristeza o montante de abusos sexuais praticados pela igreja portuguesa: 5 mil. Não imaginava tantos, nem pensava que tivessem sido tão traumatizantes, alguns verdadeiras agressões, em adolescentes imberbes. Fala-se em indemnizar as vítimas. Talvez. Mas por muito dinheiro que lhes seja dado, ele não chega para limpar a dor e, sobretudo, a mágoa de se saberem traídos por gente que se cê ser os representantes de Jesus Cristo na Terra e em quem confiaram como emissários de Deus – e não venham com aquela do “somos humanos”. Ao escolherem o sacerdócio, elegem a diferença entre os demais. 

         - Ontem perdi um tempo impossível para fazer o IRS. Fui às Finanças daqui e vi o espectáculo horrendo do actual funcionalismo público. Se quiserem a radiografia real do seu estado, deem um salto à vila de Palmela. A arrogância, a ronceirice, o marimbanço para os cidadãos que esperam, a falta de informações, o mau-humor, o frete de nos verem ali, são por de mais motivo para debandarmos. Foi o que eu fiz. Isto nasceu com a Covid e desenvolveu-se com António Costa e o seu partido que com eles conta como base de apoio e votantes. 

         - De regresso a casa, à noite, telefonou-me a Alice. Contei-lhe o que me tinha acontecido e logo ela: “O Helder, tenho a certeza, faz isso pela Internet sem dificuldade.” “Odeio números e estas coisas enervam-me”, respondo.” Não se enerve, leia tudo com atenção, esteja calmo e verá.” Daí a quinze minutos, estava-lhe a telefonar. “Alice, acabo de enviar com um só engano que corrigi os documentos.” “Está a ver! Eu sempre o achei uma pessoa inteligente e capaz.” Oh! Resta dizer que este ano consignei o meu IRS à Associação Salvador. 

         - Acaba de entrar no meu computador esta notícia enviada pelo Público que não deixa dúvidas quanto ao :estado de calamidade em que se encontra o país: 

“O Ministério Público, a Autoridade Tributária e o Instituto da Segurança Social (ISS) realizaram, nesta terça-feira, buscas na sede da Uber e em outros 64 locais por suspeitas de fraude de 35,5 milhões de euros. A “Operação Express Delivery” decorreu na zona de Lisboa, Setúbal, Coimbra, Aveiro e Braga e visa “várias empresas”intermediárias que fazem entrega de comida através da plataforma da Uber Eats.”


domingo, abril 14, 2024

Domingo, 14.

A guerra no Médio Oriente é já a tragédia que incendia o mundo. A noite passada, em resposta à ofensiva de Telavive (melhor dizendo de Netanyahu) sobre o Irão há três semanas, este respondeu com uma chusma de mais de 300 drones e mísseis conta o Israel. As defensivas do país conseguiram destruir 99% do que chegou por ar sobrevoando vários países. O que se segue ninguém sabe. Tudo está dependente mais uma vez dos EUA que são quem alimenta a fúria do primeiro-ministro israelita. 

         - Neste pobre e inofensivo país reina a confusão, o ódio, a ganância que todos dão pelo nome de democracia. Depois da parlapatice da primeira decisão do governo de Luís Montenegro, surgiu agora a segunda com o engodo chamado ”choque fiscal”. Servindo-se do programa do PS, o primeiro-ministro juntou mais uns pozinhos e propagou que esta era a maior baixa no IRS. Resumindo: disse que a descida do dito cujo iria ser de 1.500 milhões quando na realidade é penas de 170 milhões. A diferença deu-nos Fernando Medina. O primeiro a topar a aldrabice, foi o tipo do rabinho liberal em quem eu votei. Os outros, toda a esquerda, com Vasco Gonçalves à cabeça, não passam de aves assanhadas sem valimento nenhum. 

         - Ontem, sob um céu claro, fui a Caldas da Rainha almoçar com a Alice. Que dia bem passado! Como é nosso hábito, encontrámo-nos no café Central para uma bica à maneira. De seguida, percorremos o mercado muito animado por ser sábado e o dia convidar. Por lá me perdi a abastecer-me disto e daquilo, sob a animação dos feirantes e o riso permanente da minha amiga. Dali fomos fazer uma parte da rua principal, engalada pobremente por andorinhas. Uma compra aqui, outra ali e upa que se faz tarde. Nos três ou quatro hectares de jardim, com a bela casa ao centro, heroicamente frágil como Alice a construiu, percorremos uma parte do parque. Fazia muito calor e depois do almoço ficámos ronceiramente à conversa no salão. Eu devo ter falado três horas seguidas, intervaladas com as gargalhadas da minha boa amiga. Ao fim da tarde, fizemos o longo percurso pelo jardim, parando para que a Alice me dissesse (na versão latina) os nomes das flores e árvores. Por ser Primavera tudo floria, as cores das rosas misturavam-se com as dos lírios, as alfazemas, os acantos, numa infinidade variada que perfumava o ar de odores silvestres. Um imenso tapete verde acompanha os nossos passos, onde recantos convidam ao repouso e à leitura atenta de um livro ou simplesmente a placidez que vasculha o cérebro e o abastece do puro oxigénio. Com um saco carregado, regressei à confusão. O Fertagus, pelas oito da noite, com poucas carruagens e uma multidão de viajantes, parou em Sete Rios. As pessoas entraram de empurrão; eu fiz três tentativas e só à terceira um casal jovem me pegou pelo braço puxando-me para dentro. Fui ali comprimido contra os vidros da porta, colado ao casal e ainda por cima o rapaz, excitado, prosseguia em actos sensuais risonhos. Havia povo colado ao tecto do comboio, nas escadas, no piso de cima e no de baixo, em verdade não havia um espaço onde os corpos comprimidos uns sobre os outros deixassem de sentir o calor de cada membro. Pensei que... cala-te não vem a propósito o que a tua cabeça doente imaginou. 


sexta-feira, abril 12, 2024

Sexta, 12.

De sua excelência o professor Marcelo, devemos esperar tudo e até o inimaginável. Uma tal personalidade inscreve-se no delírio trolaró de onde é possível o melhor como o pior. Assim, aquela de condecorar há um ano em completo segredo Spínola e Costa Gomes assim como os restantes membros do MFA, é disso exemplo. Entendeu-se às mil maravilhas com António Costa, gostaria, inclusivamente, que ele ficasse no poder, foi cúmplice do desastre nacional da governação socialista, e já se prepara para fazer a folha a Luís Montenegro. Os últimos oito anos de catástrofe e paralisia nacional, têm também a sua assinatura. 

         - A nossa queridíssima UE, ao fim de dez anos de amargura e abandono dos migrantes que aportam às suas fronteiras, e depois de mais de três anos a preparar o Pacto para as Migrações e Asilo, aprovado esta semana no hemiciclo de Bruxelas, que li por alto e me pareceu um documento susceptível de todas as interpretações e decisões, quero dizer, com cada país a fazer o que melhor lhe interesse, não me parece que tenha sido pensado para as pessoas que se acoitam entre nós. A esquerda fala muito nos imigrantes, coitadinhos, bandeira das bandeiras que agitam na inconsciência dos seus ideais, naquela que entrem os infelizes da sorte, os que fogem ao terror das guerras, os perseguidos das ditaduras, que venham morrer aqui de fome, de frio, humilhados e desamparados em sacos-cama na gare da Expo, na Praça da Figueira, no Intendente e em outras cidades e lugares sombrios de fim de vida. Uma esquerda assim, é inconsciente, amparada em ideologias idiotas, longe das realidades que a ultrapassam. O que lhes importa é o ideal político-partidário em que vivem e não a sua aplicação nos seres humanos enquanto ressurreição plena da dignidade. 

         - De Putin também podemos esperar tudo e tudo do mais criminoso, selvagem, inumano. O Parlamento Europeu é, como se sabe, um covil de corrupção. Pois agora, sabendo disso, o nazi russo pagou a alguns eurodeputados para propagandearem a sua filosofia de guerra e escravidão do povo naquele reino das nações. Não foi só um, nem dois, nem três que aceitaram o dinheiro porco do ditador. Esta gente, que só vê cifrões, não lhes interessa a honra de nos representar, mas o proveito que tiram disso. Que não é desprezível. Um eurodeputado pobretanas português, ao fim do mandato, regressa ao seu país com um milhão e duzentos mil euros! Poça, é obra! Quem me dera ser um alienado PSD, PS, Livre, Chega ou PCP, entregue à dificílima, oh! quão difícil, causa de servir a Nação e os sacrifícios que eles, coitados, carregam com tais cargos... Aquilo são almoços, viagens, hotéis, representações oficiais, idas e vindas, num desassossego que não é para qualquer um... 

         - Andei arredado da escrita para recompor a minha cabeça. Reparo que quando não escrevo passo bem, muito bem mesmo. A tensão desce para os 12, 13 – 6,7. Gostava de entender isto. Já procurei o Tó que é o único médico em quem confio, mas das duas vezes não o apanhei. Já pus o problema à médica substituta da minha boa doutora Vera Martins, mas não obtive mais que um sorriso. Eu sempre me curei com palavras, com o conhecimento dos meus males, e um médico que não dialoga comigo, por muitos medicamentos que me receite, nunca me curará. 

         - Escrevo estas linhas sem esforço de maior na Brasileira. Estou quase só, este espaço abandonado pelos turistas que normalmente o invadem. Talvez por isso, tenho o carinho dos empregados, rapazes e raparigas, que me bajulam de ternura e atenção, sorrisos e amabilidades. Lá fora está um dia lindo de morrer. Temos o Verão antecipado pespegado nas ruas, nos rostos dos transeuntes, nas fachadas dos prédios, descendo dos fios dos ramos das árvores. Há luz intensa por todo o lado; esta imiscui-se por entre os espaços e as sombras que bruxuleiam tornam os rostos humanos um écran de animação salutar. (Vou parar. Começo a sentir o delírio a tomar o meu cérebro). 


terça-feira, abril 09, 2024

Terça, 9.

Faleceu o poeta Eugénio Lisboa. Morreu onde morrem os poetas: no Hospital Curry Cabral (por oposição aos políticos que se vão nos privados). Admirei sempre este homem pela sua hombridade, a sua destreza intelectual, o seu desprezo pelas honrarias, a sua seriedade intelectual de que é prova o seu amor à obra e figura de José Régio. Senhor de grande cultura, suficientemente livre para chamar os bois pelos seus nomes, todo o seu imenso diário é disso testemunho. Nunca se furtou a lançar os escritores que lhe pareciam reais, com um timbre próprio, uma independência à prova de bala. Descansa em paz bravo Homem. 

         - Não há quem demova o primeiro-ministro israelita do poder. Nem os milhares dos seus conterrâneos que desceram às ruas em Telavive e noutras cidades, gritando pela sua demissão. Enquanto isso, centenas morreram debaixo das bombas lançadas por ele e pelo seu braço forte, o ministro da Defesa. O ódio herdou-o ele de Hitler. Não aceito a cena terrorista dos homens do HAMAS matando e violando reféns israelitas, mas também não acho que para os vingar, tenham de morrer barbaramente milhares de palestinos inocentes, velhos e crianças, e o país tenha sido completamente arrasado. Biden também é cúmplice. Sim, há um desígnio de genocídio. Não cabe na cabeça de ninguém que o grupo HAMAS tenha nascido ali e uma vez extirpados os seus membros, ele não possa já estar activo e refeito noutro lado qualquer. 

         - Não deixei este céu aberto à concupiscência da vida. Aqui estive trabalhando nas várias áreas que me apaixonam e obcecam: escrita, leituras, contemplação, abraços ternos ao silêncio que é a voz de Deus, cortei a erva em torno da piscina em dois turnos. Esta noite, dormi como um anjo ou poeta como me chamou a enfermeira romena. Talvez para me compensar do que havia dito ontem, Morfeu, deu-me uma noite serena, directa, sem comprimido. Enfim! 

         - Racine: “C´est dans sa colère que Dieu accorde la plupart des choses qu´on désire dans ce monde avec passion.” 

         - E aquela de Vasco Gonçalves chamar arrogante a Montenegro! Olha quem fala! O homem nem se enxerga. Ele que é o deus da presunção.  


segunda-feira, abril 08, 2024

Segunda, 8.

Green. Toujours lui. O escritor conta que desde os 46 anos que tomava soporíferos para dormir. Aos 83, um dia ou antes uma noite, experimentara dormir sem qualquer a droga e a conclusão: “Réussite partielle. J´ai dormi comme on dort quand on a une mauvaise nuit.” Eu estou quase como ele. Desde o susto do dia 2 de Fevereiro que não sei o que é ter uma noite santa. Toda a vida dormi sem compridos, oito horas seguidas. Agora, tendo posto de lado as benzodiazepinas que o cardiologista me receitou, durmo como o meu querido autor. Se bem me lembro, algum tempo depois, ele voltou a usar a pílula e dizia que era melhor fazê-lo que ter noites com pesadelos e poder trabalhar sem esforço (na altura ele estava a terminar Frère François).

         - Ontem e anteontem, dediquei-me a roçar erva entre o salão e a piscina. Ficou concluído esse espaço embora, depois da missa, e depois da grande conversa telefónica com o Vítor sobre editores que me deixou triste, a tensão subiu para 16. Ele dizia como Lídia Jorge, que as livrarias estão cheiras de lixo e quando queremos um livro fora da ficha dos autores que pagam para ver impressos e daqueles que não pagando escrevem merdelhices sem qualquer interesse, não encontramos. Disse-lhe: “Não aceito pagar para ser editado. Já fui contactado por vários editores, um ou outro aceitei ir ao seu encontro, li o contrato que estava escrito na ponta da lambujem, mas quando no final vi o montante que me pediam, deixei-os a falar sozinhos.” Não tenho vaidade de ser apelidado de escritor, nem incho em ver um livro meu nos escaparates de livrarias e quiosques, supermercados ou gares de comboios; a escrita em si mesma é sacrossanta suficiente para a minha submissão. E para ser mais modesto, bastam-me os leitores deste trabalho, que, sem nunca ter feito qualquer tipo de publicidade e ter rejeitado ganhar dinheiro com ele (lembro-me de até da Alemanha me ter sido proposto a troco de uma marca), estes terem vindo a aumentar atingindo já os 60 mil. Não é coisa pouca, tendo em conta os assuntos aqui versados, o meu espírito crítico, a revolta que me devora, o inconformismo... 

         - Que outras parecenças me arranjarão! Outro dia, no consultório do cardiologista, no fim do dia, eu e uma senhora de bom porte. É ela que começa a conversar não estando mais ninguém. Diz-me que vive em Setúbal num condomínio de estrangeiros sendo ela e o marido os únicos nacionais. Eu falo, argumento, porque ela me interrogou se era casado e eu respondi que não e nem tenciono sê-lo. Ela diz-me que faço muito bem, porque pelo seu lado esta farta de aturar o marido, um rico proprietário de um stand de automóveis de topo e oficina dos mesmos. Quer saber se vivo na cidade sadina, retruco que escolhi viver no campo completamente só. “Bem me parecia que é escritor, tem ar disso.” “Como assim?” “O seu ar um pouco ausente e a forma de falar.”

         - Fui a Lisboa. Que diz o espião que me segue? Que calcorreei 3,7 km, pédibus cum jambes 5623, subi 3 pisos e dormi 7,45m. 


sábado, abril 06, 2024

Sábado, 6.

Por muito que Marcelo queira escapar ao favorecimento obtido pelo “Dr. Nuno Rebelo de Sousa, meu filho” (que ridículo! Esta gente nem se apercebe de quanta saloiice e provincianismo carrega e ainda por cima o homem nem médico é) o facto é que o relatório da Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) agora divulgado, conclui que as gémeas brasileiras passaram à frente de outros doentes e foram tratadas em Portugal através de cunha do Presidente da República.  O tratamento custou-nos quatro milhões de euros, mas isso pouca importância tem – o que importa é que ajudámos os pais amigalhaços e restituímos às duas crianças uma vida mais duradoura. Pois é. E os muitos pobres que o país tem completamente abandonados à sua sorte e os octogenários que têm a infelicidade de atingir essa idade e necessitam de operação mais complicada e onerosa e vêem recusada a verba pela Segurança Social só porque estão velhos? Eu conheço um caso. 

         - O heróico Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, resiste à litania de Netanyahu que devia ser julgado por crimes contra a humanidade, não se cala e quer esclarecimentos à morte dos sete voluntários da ONU pelas forças armadas de Israel. O ditador num regime que de democrático tem muito pouco, arrasou por completo um país inteiro, mata à fome e sob as armas o povo palestiniano, sem, contudo, obter aquilo que é a razão de tanta barbaridade: os reféns na posse do HAMAS. 

         - Em Taiwan conserta-se como se pode aquilo que o sismo não conseguiu reduzir a cinzas. Pela TV chegam-nos imagens catastróficas e aquele povo, talvez habituado aos tremores de terra, prossegue o seu dia-a-dia com serenidade q.b. 

         - Por cá segue a actividade política que, como se sabe, é a luta constante de galos pelo mesmo poleiro. Bem sei que começar a governar pondo de lado o logótipo de Eduardo Aires e as razões (frágeis) da sua construção, é muito pouco dignificante como primeira medida governamental. Por isso, já voltaram à rua professores e médicos, capitaneados pelo PCP e a viúva do BE, provando a sua pouca independência face às razões que lhes assistem. No fundo, para estes partidos, embora com outras designações, o que importa é manter vivo o célebre grito de Flora Tristan: “Proletários de todo mundo, uni-vos.”  A inglesa estava longe de supor em 1843, quanto o seu grito se estenderia por séculos. 


quinta-feira, abril 04, 2024

Quinta, 4.

Começa-se a conhecer a herança de António Costa. Esta: todos nós (ou quase) vamos pagar 12 milhões aos municípios pelas linhas eléctricas estratégias. Chamou ele a isto “custo de interesse económico geral”. Como não podemos viver às escuras, toca de carregar no consumidor de electricidade. Os lucros são para as companhias eléctricas a SU chinesa, por exemplo. 

         - Israel matou vários voluntários da ONU em Gaza. O mundo indignado pede justificações a Netanyahu para um tal atentado que o ministro da Defesa diz ter sido por engano. Os americanos também se juntaram ao coro, mas continuam a enviar armamento para os invasores da Palestina. O país está totalmente destruído, mais de 32 mil pessoas inocentes foram mortas, mas ninguém consegue parar uma guerra injusta, desumana que mata os que não mataram ninguém. 

         - Vivemos uma época sinistra. Parece que Deus nos abandonou e, no entanto, só nele podemos encontrar a paz, a confiança e o refúgio. 

         - Vou extrair do livro de Alexander Kluge Crónica dos Sentimentos, esta passagem que assenta que nem uma luva no tempo presente.

Há legiões de mortos a caminho, que ainda respiram à maneira de épocas remotas, entre eles os INSACIÁVEIS dos tempos modernos, que esgotam toda a água dos mares e estão já a apropriar-se da Terra. Engasgam-se e morrem sufocados. Este infeliz estado de coisas acontece actualmente apenas em fracções de segundo, enquanto o velho mundo continuar aí com a sua preguiça. 

         - Fui fazer natação. É a segunda vez que vou à piscina esta semana. Gostava de manter este ritmo para, junto com os ditos suplementos alimentares, poder escapar às drogas químicas. Que tive o máximo horror ontem em casa da tia Júlia, Ela tinha uma caixa cheia de remédios e estava completamente baralhada nas doses, horários e função dos mesmos. Apeteceu-me dizer: “Ponha essa porcaria toda de parte e faça uma vida e alimentação mais sãs. A Piedade que esteve aí hoje, quando lhe perguntei como se sentia, disse-me “muito bem”, acrescentando: “Só tomo os remédios naturais que me receitou.” Et voilà 85 ans


quarta-feira, abril 03, 2024

Quarta, 3.

Fui almoçar a casa da tia Júlia. Antes, passando na Moita, pus a emoldurar um trabalho do Luís da Safira que tinha caído da parede onde um fio o sustinha. Como sabia o dia perdido para o romance, ocorreu-me pôr-me a caminho com tempo suficiente de modo a parar num café para duas horas de trabalho. Assim aconteceu. Não sei se com solidez suficiente para ficar o que saiu, mas agradado por poder cumprir o meu dever diário. Encontrei a tia muito diminuída, baralhada de cabeça, e quis saber o que tinha acontecido. Resumindo: uma queda a caminho da missa de domingo, socorrida por duas mulheres que iam a passar e levaram-na até à igreja onde ela teve um comportamento parecido com alguém bêbado. Pior: ela não se lembrava de nada, da queda como da missa, embora tivesse várias escoriações no braço e nariz e em casa durante o almoço esquecia-se de tudo. Achei que devia ir ao hospital e telefonei para a Saúde 24 24 e logo os técnicos concordaram comigo. Fui levá-la ao hospital depois de me certificar que tudo estava nos conformes. Logo telefonarei a saber como está. E lembrar-me eu que ela tem um filho casado, dois netos e o Nuno no Porto. É isto hoje a vida, esta desumanização, este desvinco familiar, os amigos mais importantes que a família. 

         - O mau tempo assola a Europa. Nós, hoje, tivemos um dia sofrível, bonito, mas Itália e França foram devastadas por chuvas torrenciais que causaram cheias e cidades e vilas isoladas. Os prejuízos são imensos. 

         - Na cândida Finlândia, um miúdo de doze anos, matou a tiro uns quantos colegas de escola e feriu outros mais. A arma parece que foi roubada ao pai. Dois quilómetros depois da fuga, entregou-se à policia sem obstáculos. Assim vai o mundo. 

         - Por cá o Governo de Luís Montenegro foi empossado. Logo a oposição começou a correr com ele. O Vasco Gonçalves, o historiador do Livre, a viúva do BE faltaram à cerimónia sem justificação. Por outro lado, António Costa é só charme atirado às postas sobre Montenegro. Que poderá o primeiro-ministro conceder ao seu antecessor? O nome para um cargo em Bruxelas, um título qualquer, uma benesse? 


segunda-feira, abril 01, 2024

Segunda, 1 de Abril.

Tenho que reconhecer que a figura desta nova Assembleia Nacional que me surpreendeu, foi Pedro Nuno Santos. É graças a ele que o Parlamento vai poder funcionar, o Governo trabalhar e a democracia continuar. Não estava à espera de um impulso tão importante para que os órgãos de soberania trabalhassem. O homem têm-se vindo a modificar tanto, desde esses tempos em que dizia que a dívida portuguesa não era para ser paga aos alemães e por isso o PCP abria um sorriso de orelha a orelha dizendo “este é cá dos nossos”. Com o seu gesto, anulou o Chega que quase não se ouve. E também entupiu a viúva do BE e o importante historiador da nossa praça do Livre. Mantenho o meu voto de confiança em Luís Montenegro. Ambos calaram o canário de Belém. Dito isto, sei que estes dois partidos dizem praticamente a mesma coisa, operam da mesma maneira, estão na origem da maior corrupção, estiveram à vez no poder e, nestas condições, o país ficará na mesma. Não é nenhum deles que fará saltar Portugal para o progresso, continuamos com o eterno atraso de vida, a saloiice, a pequenez, o bafio ideológico, a comadrice e a pobreza franciscana. Estamos condenados a este destino que 50 anos de democracia não varreram. Somos culturalmente básicos.  

         - Eu não tenho por hábito ficar a ver televisão aos serões. Normalmente vejo o noticiário da SIC e passo para os canais estrangeiros que sempre acrescentam qualquer coisa à minha pouca cultura. Há, todavia, um programa que sempre que posso vejo: Got Talent. Ali revejo o Portugal que eu estimo e admiro. Os concorrentes, ultrapassam em muito a equipa do júri e em larga medida a maioria dos “artistas” que por aí andam a fazer toda a sorte de malabarismos para gente palerma. O talento, a virtuosidade, a segurança das raparigas e rapazes que se apresentam são, à nascença, de uma qualidade impressionante. Mas como o mercado está invadido de figuras e figurões que utilizam o jargão pornográfico para embebedar os espectadores, aqueles que são reais artistas, não conseguem impor-se varrendo da cena nacional a mediocridade abissal que por ai campeia. A responsabilidade disso é das televisões, que alimentam um clima de festa é festa, onde não cabe a arte na sua expressão mais sagrada, porque eles querem manter aquilo a que chamam o gosto do povo. 


domingo, março 31, 2024

Domingo de Páscoa.

Escrevamos ao sabor da escrita. Como já aqui disse, enquanto os humanos se reduzem a um algoritmo, as desgraças tomam nomes impressionantes. Desta vez, a tempestade que se acercou de nós, tomou o nome de Nelson. Este rapaz semeou em dois dias formas mais terríveis de sustos que perecem ter sido tornados: no Algarve, Montijo e no Tejo, em Lisboa. A par de chuvas torrenciais, trovoadas, inundações, derrubem de árvores de grande porte, frio, paralisação da vida. 

         - Não obstante, saí anteontem da toca para ir ao encontro do João Corregedor à Brasileira. Ali estivemos à conversa, eu interiormente de atalaia, não fosse ele disparar política com todo o tiroteio que chega da Assembleia Nacional por esta altura assanhada ou pronta a disparar às primeiras horas do novo Governo. Pelo contrário, a tarde que foi longa, decorreu simpática, íntima, abordando temas daqui e dali, numa cavaqueira de cavalheiros educados e simpáticos. A tal ponto que ele acabou por me convidar para o almoço, num restaurante ao fundo da Rua Anchieta, espécie de taberna austríaca, barulhenta, cheia de novos-ricos que atiravam para a mesa os salários elevados, julgando-se grandes senhores, elevando a voz, gritos aos filhos, expondo sem quererem a sua condição verdadeira, que a riqueza não esconde, antes amplia, mas onde comemos salsichas e batatas fritas, rematadas com um Strudel horrível que nada tinha a ver com aquele que eu comi na Áustria não tem um par de anos. Logo no começo, ele telefona à Marília desafiando-a a vir almoçar connosco, depois à filha para desafiar a mãe, e por fim ouço-o ao telefone lamentar-se pela sua ausência. A mulher, quando ele lhe diz que no regresso a casa lhe levará um Travesseiro de Sintra, deve ter dito “és um santo”, porque o escuto exclamar: “Eu um santo!” Enfim, dali entrámos na porta ao lado na Bertrand, porque eu queria dar-lhe a conhecer o último livro de Frederico Pedreira, mas ele, depois de deitar o olho ao texto da contracapa, pouso-o no escaparate torcendo o nariz. Teria razão. De facto, o texto que ele chama romance e eu tenho tendência a chamar-lhe ensaio, não é fácil sobretudo para alguém que tem o jogo endiabrado da política como escolha intelectiva. 

         - Grosso modo, gosto da equipa governamental construída por Luís Montenegro. À excepção do ministro das Infra-Estruturas por quem não tenho nenhuma confiança e simpatia, todo o resto do Executivo, se tiver arcabouço para lidar com a contra-democracia que vem da CGTP, do PCP, do Chega, do BE e do Livre, se conseguir trabalhar em vez de parlapatear como era useiro e vezeiro o camarada António Costa e seus muchachos – ele já deu provas que é capaz quando conseguiu formar o seu núcleo sem deixar escapar nenhum nome para os ditos jornalistas e comentadores -, então temos um ciclo longo de trabalho que espero seja de arrumo da casa, de proximidade aos cidadãos, aos mais pobres, e ao progresso que dá incentivo a todas estas acções. 

         - Deixei entrar o Ressuscitado e o dia encheu-se de esperança e alegria. Trabalhei sereno, assisti ontem à Via-Sacra de Roma, hoje à Missa de Páscoa do Vaticano celebrada pelo Papa Francisco muito debilitado. Um dia assim, só o de quinta-feira, 28. Houvera a Deus que eu possa terminar os meus dias na serenidade e na paz que nos anuncia que nada do que aqui vivemos foi inútil enquanto preparação para a Ressurreição. 

         - A ideia de um Deus, vem dos confins dos tempos. Muitos séculos antes da vinda de Jesus  Cristo, no Antigo Testamento como nos filósofos gregos e latinos, o prenúncio de alguém sobrenatural que nos guia e nos criou, alimentou as consciências e deu azo a muitas guerras, mortes e heresias (do grego haíresis). Atente-se neste fragmento de prosa sublime, que faz parte dos Diálogos de Marcus Cícero no livro 1 De natura Deorum (IX 21): 

“Do facto de o mundo não existir não se segue que não existissem os séculos (quando emprego aqui a palavras “séculos” não me estou a referir àqueles que são constituídos  pelo número de dias e de noites e pelo correr dos anos, porque reconheço que estes não poderiam existir sem a revolução do universo; mas houve desde o tempo infinito uma certa forma de eternidade que não é mensurável por quaisquer unidades de tempo, embora possa compreender-se pela qualidade do espaço, uma vez que não é pensável que não tenha havido alguma facção de tempo quando o tempo ainda não existia). 


quinta-feira, março 28, 2024

Quinta, 28.

Com um Fariseu e um Judas de cada lado, não sei quanto tempo durará o Governo de Luís Montenegro. Agora do que eu sei, é que aprecio a forma discreta e pouco dado à ribalta da sua maneira de ser. É séria, competente e respeitadora de quem prefere a acção ao reclame permanente pelas auto-estradas da Internet e à sarna dos jornalistas que por cobardia e falta de cultura democrática e independência, estão sempre do lado das esquerdas.  

         - A França depois de ter entrado em “economia de guerra”, anunciou há três dias o “estado de alerta”. Macron, depois de ter andado de braço dado com o assassino Putin, percebeu, enfim, quem ele é e o que pretende o ditador russo. Parece ser o único numa União Europeia de funcionários, que arrastam o rabo pelas cadeiras estofadas e cómodas das suas reformas douradas. Razão tinha Salazar quando lhe pediram para substituir as cadeiras de madeira onde os funcionários públicos se sentavam, retorquiu: “Deixem-se disso, assim não adormecem.” 

         - Tarde tranquila de trabalho. Em frente à lareira acesa, sentado no sofá do salão, momentos eternos de serenidade e paz. Apenas o vento doido cortou a quietude que aqui se instalou há muitos séculos e aqui reside para felicidade daqueles que escolheram este refúgio para viver. Como se quisesse ver o tempo correr à volta de mim, peguei em inúmeros livros para espreitar uma página neste, ler meia dúzia noutro, reflectir naquele, avançar vinte outras no “romance” de Frederico Pedreira... Depois retornou o silêncio, o vento debandou, a chuva parou, a terra ficou submersa da estrondosa chegada do meu admirável companheiro que cresceu em altura e comprimento. Silêncio pede o silêncio ao silêncio.  

         - A riqueza é o deus dos tempos modernos. Essa obsessão por ter e haver, desgraça a vida de todos os novos-ricos que obtiveram fortuna rápida – ficam  queimados e desvairados, convencidos de que se transformaram no deus todo poderoso que pode virar o mundo do avesso. Sobretudo estes jovens talentosos, que manobram as novas tecnologias como feiticeiros, e assim enriquecem de um dia para o outro, e de súbito, quando anjos e arcanjos os seguravam nos fios translúcidos da ambição e do orgulho, eis que, como água corrente, tudo o que alcançaram esvai-se com o mar imenso das suas ganâncias. É o caso de Sam Bankman-Fried, agora condenado a 25 anos de prisão, por haver cometido vários crimes – fraudes, lavagem de dinheiro, desvios de fundos - que levaram ao colapso da FTX – uma plataforma de criptomoedas.    


quarta-feira, março 27, 2024

Quarta, 27.

Enquanto António Costa, mantendo a sua formidável capacidade de propagandista, se despede lançando perfumes de realizações político-sociais, o partido que ele elegeu e cresceu desmesuradamente, paralisa o país no lugar onde era suposto renascer a democracia. Os deputados, os antigos e os recentes, foram pela noite adentro em logradas votações para eleger o Presidente da Assembleia da República. Foram três as tentativas – todas abortadas. O espectáculo segue dentro de momentos.

         - Se me permitem, aqui deixo um parecer que vale o que vale: se depender de Marcelo, o PS volta a ser Governo em breve. 

         - Há dias fui almoçar com o Carlos a um restaurante simpático, dirigido por um casal de velhotes, ali para os lados do que é hoje (ou vai ser) o edifício do Governo ex-CGD. Serviram-me salsichas frescas embrulhadas em couve lombarda, acompanhadas de arroz branco, um pitéu que eu não saboreava há mais de dez anos. Ficámos à mesa duas horas a recordar este e aquela, a falar tranquilamente da vida passada e futura, num remanso de quem não se via desde o começo do mundo.  

         - O Inverno mais rigoroso voltou. Decerto, devido à baixa temperatura, vou ter que acender a lareira. Ventos doidos passam por aqui ensandecidos de braço dado com chuva torrencial. Na Serra da Estrela neva. Não obstante, saí para me refugiar num café aqui perto e avançar no romance. É uma obsessão, confesso. Mas que fazer se é nele que encontro a motivação para continuar a viver. 


terça-feira, março 26, 2024

Terça, 26.

Ante o espectáculo vergonhoso dos ditos políticos, contraponho estas palavras de Julien Green, registadas em 1981, quando a imprensa descobriu que Reagan pintava o cabelo, coisa vulgar nos dias de hoje, abolidos os preconceitos entre os homens: 

“Les politiciens ont toujours des cheveux à teindre, toute politique semble n´être que du maquillage.” 


segunda-feira, março 25, 2024

Segunda, 25.

Não saí daqui o dia inteiro no labor que me enche as horas. Progredi no corte da erva ruim em duas sessões de manhã e de tarde, li o romance de Frederico Pedreira Sonata para Surdos, avancei de braço dado com Ana Boavida antes de jantar. Um dia pleno de fulgor não obstante a agressividade do clima caprichoso que agora nos visita inopinado: sombras de sol, vento agreste, céu pardacento a anunciar chuva mais adiante. O trabalho sempre foi para mim uma paixão. Toda a minha vida trabalhei no duro: quando estudei, quando abracei a rádio, o jornalismo, quando dirigi a agência de publicidade, quando meti ombros ao nascimento deste lugar outrora abandonado, com duas paredes de casa simples submersa no mato denso, que reergui e mais tarde alarguei ao conforto e dimensão actuais. Por isso, não entendo o que propõe o arcebispo-historiador, que dizem ser homem sábio, com quatro deputados às suas ordens, quando incentiva a semana de quatro dias de trabalho. O homem na sua obsessão pelo poder, nem parou um instante para pensar, estudar a vida dos infelizes que ficariam com tempo lesto sem saber como o consumir. Nem ele nem as criaturas da Intersindical, que se antecipam à ideia do historiador-político, fazendo greve às segundas e sextas-feiras, enquanto milhões de escravos são forçados a trabalhar por ordenados de miséria e muitos milhares vivem de subsídios, esmolas estatais, do ar contaminado que respiram, sem dignidade nem vontade de viver. Para uns derreterem o tempo montados em sólidos haveres; outros consomem a vida na busca de trabalho e da dignidade que ele acrescenta. A esta figurona elite de políticos de rifa, com vários encaixes financeiros daqui e dali, todos bem remunerados, quatro dias de labor por semana são suficientes para derreter o resto dos dias em cândidas acções de ajuda aos pobrezinhos, aos velhinhos, coitadinhos, à pregação das suas pelintras ideias sobre isto e aquilo, à assistência aos deuses esquecidos nos lugares íngremes da existência humana. Portugal peca e pecou ao longo da sua história por dar crédito a estes deuses nascidos da importância da ignorância que os alcandora a elites de uma mediocridade abissal, feita de patuá barato, para um povo simples que apenas tem uma malga de sopa, uma espreitadela pela rede ao jogo de futebol, uma ave-maria ao findar do dia, hoje um telefone portátil, uns ténis comprados aos ciganos e pouco mais... 

         - Despede-se o sinistro Governo de António Costa com o convite ao seu cúmplice de oito anos Marcelo Rebelo de Sousa. Sai um e outro ufanos com o excedente orçamental de 1,2 % do PIB, “contas certas” e tudo o mais que eu aguardo saber quando a nova equipa governamental entrar ao serviço. Têm muito pouco para apresentar enquanto socialistas, sendo certo que foi boa a redução da nossa dívida, mas o rasto de miséria, desorientação nacional, corrupção, governação fragmentada, leis mal feitas, desprezo pelas pessoas, a flama acesa em permanência da propaganda de feira, desorientação e desvalorização da dignidade de todos e de cada um, aumento criminoso de impostos, distribuição destes para amenizar a pobreza em vez da riqueza que não soube produzir, foi a marca que deixou para o novo executivo que vai levar anos a endireitar a Administração Pública e a elevar o moral da nação – eu não queria estar no seu lugar. Costa, sai pela porta estreita e baixa, humilhado e responsável pela subida e imposição do Chega e o abandono em todas as frentes do seu sectário Presidente da Assembleia Nacional, que a mim nunca me enfeitiçou, senhor Augusto Santos Silva. O senhor que arenga na SIC (naturalmente também inteligente), classifica-o de “muito  inteligente”. Contudo, Vicente Jorge Silva tinha outra imagem dele: “ministro de propaganda do socratismo, revelando uma vocação trauliteira de que eu nunca suspeitaria”. Eu sei: são todos muito inteligentes, numa jerarquia de patetas e oportunistas. 


domingo, março 24, 2024

Domingo, 24.

Anteontem, numa sala de espectáculos, em Moscovo, houve um acto terrorista na verdadeira acepção da palavra, que matou até agora 139 pessoas, feriu centenas e provocou um incêndio terrível visível no meio dos escombros do centro comercial. Um grupo de homens do Daesh reivindicou o ataque. A sala estava lotada com mais de 6000 espectadores, onde um grupo popular devia actuar minutos depois. Putin, apreçou-se a culpar a Ucrânia, um crime a somar a outro crime, pois tais actos nunca fizeram parte das investidas de guerra da Ucrânia. 

         - Fui ontem à noite ver o filme de Christopher Nolan, Oppenheimer. A fita arrasta-se por três longas e por vezes insuportáveis horas. O papel do físico da Universidade da Califórnia, foi confiado a um actor de primeira água, Cillian Murphy que, de resto, obteve o Óscar da Academia para a melhor interpretação. É a trágica história do nosso desgraçado destino, com a série de físicos e cientistas a estudar e a construir a bomba atómica. É também a narrativa das consequências políticas da sua utilização, do desafio das nações em competir para a ter, e, sobretudo, é a visão distorcida de uma curiosidade que começou em certa medida com Einstein e foi tapete de esperança para Hitler e depois para Staline e hoje para Putin e logo à nascença para os americanos que a lançaram sobre Nagasaki e Hiroxima, em 1945. Baseado no livro Prometeu Americano: o Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheiner de Kai Bird e Martin J. Sherwin, passado na Segunda Grande Guerra, em Los Alamos, quando um grupo de infatigáveis físicos ensaiaram os primeiros passos para aquela que viria a ser - quero pensar que sim, embora tenha muitas dúvidas -, o equilíbrio de forças entre americanos e russos na altura e hoje entre todas as nações que possuem a arma nuclear. O realizador, chamou-lhe “um filme sobre consequências” e eu acho que todos os candidatos a dirigir qualquer país do mundo, deviam ser obrigados antes de serem investidos na função, a ver este documento. Einstein aparece por lá, perdido, com a sua figura patusca, mas a essência da História nunca mais foi a que vigorou até à Segunda Guerra Mundial. O que nos espera e vivemos neste momento, é assustador. Um louco – e tantos têm nascido com a democracia -, pode repetir em maior escala aquilo que a infantilidade de Truman experimentou no Japão. Findo dizendo que o naipe de actores que contracenam com Cillian Murphy, são absolutamente notáveis.  

         - O comboio que me trouxe de regresso a casa, vinha à cunha de gente da mais variada condição e estatuto: noctívagos, bêbados, homos, africanos desvairados, negras de rosto cansado com crianças ao colo, uns tipos que tocavam viola, outros meditativos a observar as povoações salpicadas de pequenas luzes. A dada altura ouve-se uma voz feminina: “Devido a condicionantes da infra-estrutura, somos forçados a abrandar a marcha, pedimos desculpa pelos incómodos causados.” Nem parece que estamos em Portugal esta atenção aos passageiros! E tudo, porque os barões das Infra-Estruturas que deviam zelar pela CP onde corre o Fertagus, não o fazem. Felizmente que temos aqui uma empresa privada que nunca faz greves, cumpre horários, cuja limpeza e asseio no interior é impecável, e deve ser por isso que os outros a querem nacionalizar. Cruzes! 

         - A Piedade, quinta-feira, quando limpava a mesa de apoio no salão: “Todos os dias há novos livros. São novos amigos que entram” – respondi.     


sexta-feira, março 22, 2024

Sexta, 22.

Ontem ouvi atentamente o que tinha para nos dizer André Ventura entrevistado pela locutora da SIC, perdão, jornalista Clara de Sousa. Não lhe conhecia aquele discurso na ponta da língua, ainda por cima equilibrado, com os pontos nos ii, sem exageros linguísticos, armado em estadista. Creio que o homem progrediu, ou o seu score de votos, fez crescer nele a responsabilidade da imensa multidão que nele confia. Grosso modo, estive de acordo com tudo o que disse e na forma como quer modificar o modus vivendi político até aqui alimentado pelo PS e PSD. Estou farto, estamos todos fartos.  

         - Dito isto, não votei no Chega, foi no Iniciativa Liberal embora não goste do rabinho liberal. Contudo, a minha promessa era correr com o PS e também não queria dar a maioria ao AD, depois porque eles foram os únicos que diziam onde iam buscar o dinheiro para os aumentos e reposições disto e daquilo, quero dizer eles preocupam-se em criar riqueza para a distribuir e não repartir impostos que radicam no trabalho de todos. 

         - Luís Montenegro foi indigitado pelo Chefe de Estado primeiro-ministro. Vou dar-lhe o benefício da dívida. Já há suficientes elementos da marginalidade do PS: perdeu a presidência do Parlamento, ficou em segundo, o Chega pode chegar-lhe como tem feito, forte e feio. Até em ano de aniversário dos 50 anos do 25 de Abril, ele impôs-se na Assembleia com o número significativo de 50 deputados. Muito agradecido, senhor Costa. 


quarta-feira, março 20, 2024

Quarta, 20.

A lengalenga desta malta burguesa das ditas esquerdas, sempre se fez de propaganda barata. A queque que a viúva propôs ao Parlamento Europeu, diz que a esquerda tem de renovar acções para manter e desenvolver a democracia, acrescentando: “e banir a extrema-direita”. Em democracia haja alguém que recorde à afortunada senhora (se o seu minúsculo partido a conseguir eleger), cabem todas as tendências sociais e políticas e aquilo a que ela chama de extrema-direita depende muito do ponto de vista em que nos situamos. Exemplos são aos milhares. Portanto, o mais correcto seria combater dentro dos parlamentos a extrema-direita e também a extrema-esquerda que nunca é nomeada. As esquerdas têm feito um trabalho tão notável, que por todo o lado o povo reaccionário as suprime sucessivamente de eleição em eleição. Está tudo farto destes feirantes - bem entendido o povo reacionário e de extrema-direita que está em maioria por essa Europa fora. Da proximidade duma guerra, submersos no ódio entre esquerda e direita, ninguém alertou o povo português para o desastre colectivo que será a entrada do exército russo nas fronteiras da Europa e consequente empobrecimento e morte que todas as guerras deixam assinalado com sangue e sofrimento a existência humana. Não há grandeza, visão ampla, sentido de Estado nesta geração de pessoas pequeninas, com ambições pessoais, grandezas fátuas, francamente medíocres, cheias da vaidade de mulher a dias à antiga portuguesa.   

Mas o próprio Parlamento Europeu é um desastre, os povos que o formam estão desligados dele, os eurodeputados são príncipes bem pagos para fazer o jogo das ideologias que cada um interpreta à sua maneira, e até quando a guerra está à sua porta, aquela multidão de “representantes do povo”, vive como se a desgraça só dissesse respeito ao egoísmo de cada país ali representado. 

         - Ultimamente, mercê do alerta de Emmanuel Macron, Bruxelas surpreendeu-se: “Como assim uma guerra!” Vai daí nasceu uma proposta que “pretende ultrapassar os constrangimentos dos tratados e a relutância dos Estados-membros em ceder a Bruxelas a iniciativa em matérias militares”. Como se percebe a dita união é sólida. Thierry Breton e Josep Borrrell acalmaram as hostes, afirmando que o plano por eles enunciado, não é para a Comissão adquirir armamento, até porque – pelo menos até aqui – essa matéria pertence a cada país e os negócios são importantes não tenhamos dúvida nesse sector. Tiveram os dois senhores de os serenar reafirmando que cada país continua a deter decisões exclusivas em matéria de defesa. Como se a hipótese de uma guerra na Europa fosse remota ou uma invenção dos americanos que sempre adoram fazer guerras, os trauliteiros eurodeputados quiseram assegurar-se e os dois dirigentes explicaram: “Não muda nada. O comprador continua a ser o utilizador, ou seja, no caso da indústria de defesa, os governos e os Estados.” Houve um arroto monumental no hemiciclo, a satisfação nos rostos anafados era mais que muita. Putin podes prosseguir que daqui ninguém te faz frente. Zelensky, digo-te eu, não confies nesta gente. Estão demasiado gordos, instalados, resignados à felicidade de ganharem um milhão ao fim dos 5 anos afundados nos sofás, em Bruxelas. E, francamente, cinco anos passam a correr. Depois vem a reforma dourada, gargalhando do povo que enganaram e mais uns milhares do contributo da corrupção para a sua alegre velhice. Os filhinhos queridos adotam o seu exemplo. Portugal será sempre um paraíso para este género de políticos. 

         - Aqui vai mais um exemplo do que acabo de afirmar. O país conheceu mais um cambalacho montado por um homem sorridente, grande de corpo, amável, cobrindo o mundo político e dos negócios, a quem tratava por camaradas e amigos, sedutor como a moda que todos os anos se renova em cor, trejeitos, fascínio e esbanjamento, passou pela televisão, foi até vice-presidente duma associação de jovens empresário, maltratava as pessoas para ganhar originalidade: Manuel Serrão. Ele e mais um dito jornalista da TVi Júlio Magalhães, são suspeitos de terem avançado com candidaturas a fundos da UE, despesas fictícias e inflacionadas, num monumental esquema que lhes terá rendido uns 50 milhões de euros. A dimensão da corrupção é tal, que se estende por todo o país e 300 inspectores da Judiciária estão recrutados para apurar os factos. Isto não é um país, é um covil de ladroagem. Roubam os governantes, os empresários, os deputados, os partidos (à excepção do PCP), os gestores, os sindicatos, os autarcas, os padres e passo que a lista vai longa.  


domingo, março 17, 2024

Domingo, 17.

Aquilo a que o Estado Novo chamava eleições é rigorosamente o mesmo que Putin reivindica hoje para si. Ele não é um ditador, embora se tenha proposto ficar no poder até 2036, tenha assassinado os que lhe faziam frente, tenha controlo absoluto sobre as mesas de voto e votantes, vigie cada cruzinha no falso boletim de voto onde só ele existe e mais dois ou três hilotas a dar cobertura à reeleição do fascista. O Bartoon de Luís Afonso no Público é uma graça de inteligência e sátira: os dois cromos discutem a eleição de Putin e o remate é este: “Nestas eleições é que as empresas de sondagens deviam ter apostado, para mostrar como acertam nos resultados.” 

         - E no entanto, para os nossos nostálgicos comunistas e associados, Putin é um democrata de primeira água. Ele e os outros capangas da China e Coreia do Norte que procedem de igual modo, são democratas ou social-democratas ou capitalistas-democratas não sei bem. O que sei é que são irmãos, quero dizer, almas-gêmeas que defendem até à última gota de champanhe e ao derradeiro bocado de caviar, aquele que tem sabido levantar o nome de Marx e Lenine através dos tempos capitalistas capitaneados pelos EUA. 

         - Estamos na semana quaresmal. Pelo facto, troquei a missa habitual pelo trabalho aqui que foi muito e variado. Todavia, não posso deixar de anotar o magnífico texto de frei Bento Domingues: 

“Não é o que faz sofrer que nos salva. O elogio do sofrimento não é necessariamente cristão. Supor que Deus gosta do sofrimento, é um insulto ao Deus da vida. O cristianismo neste mundo – ao contrário das aparências -, é para descrucificar as pessoas, não para as torturar.” 

“Não é para morrer nem para sofrer que viemos ao mundo. O sentido do cristianismo não é a cruz, mas a Ressurreição, a plenitude da vida.” 

É bom saber que o que nos salva e o que nos perde: gastar a vida de forma que dê mais vida ou gastar a vida para dar cabo da vida dos outros.” 

Esta visão do nosso destino terrestre, é absolutamente surpreendente e vai contra a doutrina que a Igreja durante séculos nos incutiu e eu nunca compreendi e no meu íntimo não aceitei porque sempre me recusei ver Deus como o castigador, o vingativo. 


sábado, março 16, 2024

Sábado, 16.

Eis o resumo da classe política que os portugueses têm a infelicidade de ter e é das mais baixas, abstrusas e arrogantes de toda a Europa. Ante o cenário actual, António Barreto diz o que eu venho dizendo aqui há uma data de anos e completa a análise de momento deste modo: “O PCP vota contra. Ponto. O Bloco vota contra. Ponto. O PS faz oposição e vota contra. Ponto. O PSD diz que “não é não” e já anunciou há muito que não fala com o Chega, nem quer bloco central. O Chega diz que, se não for previamente consultado, vota contra.” Enfim, andamos a brincar à democracia. Que merdelhice caramba! Estes parasitas, estão-se literalmente nas tintas para o país e para os seus habitantes. Só lhes interessa o poder com toda a carga de interesses, manobras, corrupção, ganhos e cagança. 

         - Deixei as drogas, mantenho apenas o Kainever porque gosto do nome (tem qualquer coisa de mágico não fora as benzodiazepinas que as quero ver longe de mim) e é só por mais uma semana (desmame incluído). O comprimido “para a toda a vida”, já o substitui por um complemento alimentar natural e aparentemente com bons resultados. A tensão mantêm-se entre 13,5–7 e 12,2–6,8. Aliás ao cardiologista que me receitou a droga para dormir, disse logo que só tomava metade para que ele se defendesse do bicho que tinha na frente. Ontem em Lisboa, todos os amigos com quem me encontrei, disseram que estava com bom aspecto. Respondi à Vergílio Ferreira: “Eu não me queixo do aspecto.” Durante praticamente toda a minha santa vida, dormi de um jacto oito/nove horas e apenas precisava de cinco minutos para adormecer. Há coisa de três anos comecei a alternar períodos de sono duradouro com intermitentes. De manhã, naquela hora sinistra de antes de acordar, todos os fantasmas apresentam-se, um a um, como se eu lhes devesse fortunas e as cinco da madrugada fosse a porta que arrombam para me forçarem a pagar-lhes. Quando da hemorragia há três semanas, lembro-me de ter estado um longo espaço de tempo a esgrimir com eles. Também há outro facto que nunca nenhum médico me conseguiu esclarecer: o impacto que tem a chegada da Primavera em todo o meu ser. Sempre tive toda a sorte de problemas nesta altura: falta de motivação, desinteresse por tudo, cansaço por vezes extremo, apatia, desapego por mim... 

         - Assim que cheguei de tomar a bica com amigos num café aqui perto, meti mãos ao trabalho. Primeiro, uma hora de leitura, de seguida hora e meia a roçar erva. Todo o espaço diante da casa está um primor e toma extensão mais vasta quando admirado com o amor que pomos nas coisas de que gostamos.   

         - A viúva do BE não perde tempo e mesmo antes dos resultados das legislativas, concedeu a reforma milionária à queque Catarina Martins sua antecessora: designou-a cabeça de lista do partido ultra-pequeno na corrida às eleições europeias de... junho! Quanto é que a menina vai auferir? Ora, uma gorjeta de insignificante e, para não dizerem que eu invento, aqui vai o que diz o Observador: “O salário base mensal dos eurodeputados é de 6.824,85 euros, mas chegam a receber 250 mil euros por ano, o que corresponde a um total de 1,2 milhões de euros durante os cinco anos de mandato.” Aqui têm porque é importante a desvairo pelo poder. 


quarta-feira, março 13, 2024

Quarta, 13.

Esta esquerda que somada não têm mais de 11% (como sabem eu considero o PS um partido social-democrata), e, todavia, o ruído é tanto que me surpreende os defensores do clima não os afrontarem como poluidores do Planeta. A ela juntam-se os senhores jornalistas que adoram quem mais barulho faz e como não são independentes, escrevem o que lhes vem à cabeça vazia. Um exemplo dos últimos dias. Espera-se pelos votos da emigração, mas ela diz que quem os aguarda é o PS como se tivesse a certeza que eles vão inteirinhos para o desastre António Costa-Vasco Gonçalves. Os que infelizmente nos deixaram, fizeram-no também por não encontrarem ordem e trabalho nos derradeiros oito anos. Que o digam enfermeiros e médicos, por exemplo. Mas para este estouvado e inculto jornalismo, só o PS tem direito a acumular mais uns pozinhos ao requentado repasto do governo Costa. A maior incógnita democrática actual, imputa-se directamente ao ex-primeiro-ministro: foi incompetente, laxista, falou demais e trabalhou de menos, criou governos sem consistência, fez leis que dois dias depois eram alteradas, prometeu e falhou, distribuiu esmolas com nomes nobres para atrair os velhos, coitados, no limite da miséria, impôs aos pobres obrigações que a direita não seria capaz de impor (exemplo o imposto automóvel), desorganizou o país permitindo que sindicatos proliferassem e as pessoas fossem abandonadas à sua sorte (exemplo: transportes públicos, médicos e enfermeiros, polícias e militares), foi arrogante, mentiroso, propagandista, fez da maioria que os portugueses ingénuos lhe ofereceram um meio de se coroar rei e senhor disto tudo. E não esqueço o conluio de Marcelo com o seu protegido “inteligente”. Vou convidar uma vez mais António Barreto a entrar: “Governo e PS perderam oportunidades. Perderam apoios. Perderam maioria que não corria riscos. Perderam cumplicidade com o Presidente e outras instituições. Desperdiçaram tempos e dinheiro, fundos europeus e reputação... Até paz social desperdiçaram. O Governo e o PS mostraram incompetência, desleixo, medo, presunção e arrogância... (Atenção as reticências não são minhas!)

         - Da chamada esquerda, eu não sei o que é nem quem é. Conheço o PCP e vejo que um dia deste desaparece do mapa; os outros são grupos de sabichões do marxismo-leninismo, aprendido à pressa, declamado entre amigos. A viúva do BE, apesar da derrota, já está de bandeira erguida contra a direita e a tentar obrigar o povo português a segui-la e aos outros grupelhos, impondo a disponibilidade de novas eleições que nos custam milhões. Esta gente vive obcecada pelo poder, pela grandeza, pela ideia de serem os guardiães da democracia, mas não a respeitam naquilo que ela tem de mais importante e sagrado – a escolha dos governantes. Vou citar um homem que admiro, Francisco Mendes da Silva: (...) bem ou mal, a divisão rígida entre esquerda e direita, é um anacronismo no qual encaixa cada vez menos o sentimento popular”. Todos vêem esta evidência, só esta malta extremista, de talas nos olhos, obscurantista e retrógrada, é que não vê um palmo à frente do nariz. O PCP, cujo actual secretário-geral aprecio e estimo (prefiro-o mil vezes ao sapateiro), no seu alinhamento ridículo e faccioso com Putin, está “orgulhosamente só” como dizia aquele que eles combateram e nós agradecemos. A República no tempo dos romanos, tinha duas classes superiores: a dos senadores e a dos cavaleiros, era exigida concórdia e sobretudo consensos omnium bonoru - é o que recomendo nesta fase da nossa vida colectiva. 

         - “Caso Boaventura. Hierarquia do CES “propiciou” assédio e abuso de poder, conclui comissão independente. Uma “hierarquia piramidal” e uma cultura de informalidade propiciaram “situações de conflito de interesses, de assédio e de abuso de poder”, concluiu a comissão independente nomeada pelo Centro de Estudos Sociais (CES) para averiguar as denúncias de assédio sexual e moral na instituição que, durante anos, foi dirigida pelo sociólogo Boaventura de Sousa Santos, contra quem foram dirigidas as principais denúncias." Esta notícia é do Público de hoje e vem provar que os camaradas são tão  moralmente activos como a direita de qualquer André Ventura. 

         - Dia majestoso distribuído deste modo: De manhã fiz um prato sólido para arquivo, passei para o meu caderno uma meia-dúzia de receitas; depois do almoço mergulhei em Marco Cícero e de seguida fui acabar de roçar a erva em frente à casa. Claro está que não pus o nariz fora do portão. 


segunda-feira, março 11, 2024

Segunda, 11.

Acabou-se a gritaria? Será? Bom por agora apenas baixou de tom. O Chega foi o grande ganhador, tendo mais do que duplicado os deputados com os seus 18,1%, tudo graças a António Costa e à estratégia que traçou para o eliminar, e ainda à desordem, arrogância e incompetência que imperou no seu reinado. Não consigo perceber por muito que pense, como é possível que os seus partidários e os que votaram no seu sucessor, não vejam o que se passou no país em oito anos e sobretudo nos dois últimos com maioria. Na minha pequena cabeça não encaixa uma tal monstruosidade. Dito isto, a vitória da AD não foi brilhante com apenas dois deputados a mais do que o PS, traduzidos em 29,5% contra 28,7% dos socialistas. Estão iguais, mas como os primeiros têm mais deputados, são os que irão governar se a Marcelo não lhe der o amoque. Dos pequenotes em enfiada, só o Livre subiu não se percebe porquê. Melhor fora que ele, o BE, e toda a dita esquerda desaparecessem ou se juntassem ao PCP que é o único que se percebe ao que vem e fá-lo com seriedade e competência. Nunca entendi o que os separa, nem porque os chamam (ou se invocam eles) de esquerda, como não dou por válida a ideia que o PS é de esquerda e viu-se nas políticas de direita que aplicou, que não passa de partido social-democrata. 

Toda a gente pergunta, dado o peso de Ventura e o facto de Luís Montenegro não se querer juntar a ele, o que vai acontecer? Eu penso que não se pode pôr o Chega de lado, embora pense também que se já estivéssemos mais avançados na prática democrática, fosse a AD junta ou combinada com o PS, que devia governar. Mas, não podendo dispensar (e não seria justo se o fizessem) o Chega, eu avento uma hipótese: que Marcelo peça ao seu partido que nomeie outro primeiro-ministro embora mantendo Montenegro na chefia do PSD. Desse modo, o líder do PSD mantém a palavra dada de não querer coligar-se com o Chega e o novo primeiro-ministro do partido poderá ligar-se ou acertar medidas de governação com a dita extrema-direita. Como não ouvi ninguém falar desta ideia, aqui a deixo para os entendidos e comentadores políticos que são mais do que as mães e pensam todos pela mesma cabeça.