quinta-feira, novembro 30, 2023

Quinta, 30.

Morreu Henry Kissinger aos 100 anos. Andou activo até ao final, metido no jogo sujo da política, umas vezes exercendo a diplomacia do diálogo e da paz, outras as manobras do ódio e da guerra. Prémio Nobel da Paz pelo papel que desempenhou no Vietname, este controverso obreiro nunca deixou o palco da política que decerto o realizava e nela chafurdava como um obstinado na matéria.

         - A vida para além da morte sempre me interessou. E sempre tive curiosidade em conhecer quem espreitou esse universo que parece não ter fim; quem experienciou qualquer forma de EMI (experiência da morte iminente). O encenador Alexandre Ribeirinho quando o fui visitar ao hospital Curry Cabral, a primeira coisa que me disse foi “porque me trouxeram de volta, queria tanto ficar do outro lado”... Pedi-lhe que me contasse o que viu e ele falou-me com naturalidade de ter estado no início de um túnel, cheio de luz, onde o corpo parecia ter asas e a paz era tão gratificante e ele sentia-se tão bem... A isto chamam os ingleses Near-Death Experiences. Ora, o Figaro na outra semana, ocupa várias páginas sobre o assunto, entrevista cientistas americanos, franceses, ingleses, filósofos e sacerdotes. Cada um à sua maneira parece rematar que não morremos quando o cérebro pára, mas quando aquela actividade ligada à zona posterior do cérebro a que associamos consciência, aos sonhos, à meditação até que a recuperação da memória se esvai. Alguns testemunhos de pessoas que passaram pela experiência dum EMI, são claras a contar o que viveram em situações emocionais fortes,  perigos físicos, AVCs e assim. “J´ai traversé les barreaux de mon lit. Aussitôt une lumière blanche, une lumière-matière, m´a enveloppée: j´entrais dans une nuage. Je ne sentais aucun danger. Tout était accompli.” Outro testemunho, desta vez de um padre: “J´y vois le signe que Dieu tient davantage à nous, que nous à nous-mêmes. Dieu use de cette ultime ressource pour nous retourner vers Lui, et nous permettre d´entrer dans le coeur,  dans le noyau de l´âme.” Seja como for, os cientistas parecem convergir num ponto: esta experiência sem fronteiras, este imaginário do além, tem muito a ver com os aspectos culturais de cada um. Todavia, para mim, seja qual for o nosso tipo de vida, com ou sem amor, solitário ou comunitário, porque estamos em viagem, no momento sagrado do limiar do silêncio, no instante de partir somos confrontados com o saldo, o resumo essencial do que fomos. Porque não pode haver morte sem essa sacudidela forte que resume a vida. Como se o que deixamos para trás, nos fosse retribuído numa espécie de êxtase que reagrupa a existência arrastando-a para um destino que se consubstancia naquilo que fomos e não no que deixámos. Os cientistas tendem a associar a forma como amámos ao instante final. Talvez tenham razão se se tiver em conta o amor que Jesus Cristo introduziu no mundo e todo o Antigo Testamento nunca, mesmo uma só vez, o cita como princípio de relação com os outros. Por outras palavras, o outro enquanto fraternidade, enquanto ser total que nos irmana num só destino, numa só condição, foi o grande, o extraordinário mandamento que ficou entre nós desde há 2 mil anos. “La mort, je n´en ai plus peur, parce que je l´ai vécue”, dizia um judeu agnóstico.  

         - Aí está a provar que os portugueses não se deixam enganar e a vida só está boa para os socialistas que vivem num mundo que não se chama Portugal. Numa sondagem de ontem, 75% dos portugueses concordam com a demissão do primeiro-ministro. O homem sai de cena enlameado, humilhado, com o apoio da família e do restrito número dos seus correligionários. Só espero que o PS entre num período de nojo duradouro. 


quarta-feira, novembro 29, 2023

Quarta, 29.

Ontem ouvi José Luís Carneiro na SIC. Fraco, muito fraco. Ele ainda não percebeu que se quiser impor-se, tem que afrontar o seu adversário de partido e de reconhecer que o PS foi uma maldição que aconteceu em Portugal. De contrário, não criará alternativa nenhuma e o bafio e nojo da propaganda e corrupção, arrogância e mentiras, estagnação e negociatas que foi a marca da governação António Costa, prosseguirá. Se os portugueses não forem estúpidos, percebem que em nada adianta novas eleições, se for para voltar a apostar na mesma loucura. Eu não ouvi no mesmo canal o seu rival, porque conheço de ginjeira o género e a lábia. 

         - A realidade é, todavia, outra: a imensa corrupção por todo o lado e, sobretudo, entre os governantes socialistas. Aqui vai mais um saído quentinho ontem. João Paulo Rebelo,  ex-secretário de Estado, foi alvo de buscas no inquérito que investiga suspeitas de favorecimento em contratos de diagnósticos de covid e na atribuição de contrato de assessoria a filho do ex-dirigente do PS de Viseu. Que disse o homem ante mais um caso alarmante de ganância e comportamento indigno? Disse o que todos dizem: "Estou de consciência tranquila."

         - Ontem, no metro, um pobre homem de cor, com os seus poucos haveres às costas, praguejava: “tubiciquibi”-  e a este tubiciquibinista ninguém acudia. 

         - A prova que os homens do HAMAS não são de todo “terroristas”, está na retoma de mais uns dias para troca de reféns e no facto de estes não terem relatado nenhuma espécie de tortura. Na volta os terroristas são os israelitas pela forma como assassinaram milhares de palestinianos, crianças, velhos e inocentes. Parece que o velho Biden se está a portar à altura. Ele interiorizou que de contrário o mundo inteiro o olharia como cúmplice de um genocídio. A este propósito, poderá dizer-se que o HAMAS foi uma criação israelita. 

         - Ouvi no carro quando ia para a piscina, o final da aprovação do Orçamento de Estado para 2024. António Costa mesmo na despedida, voltou à propaganda que nunca o largou - é um caso patológico. Em frente à Assembleia, uma multidão de gente em protesto, greves por todo o lado, urgências dos hospitais a meio gás, o próprio OE aprovado apenas pelos da sua cor com abstenção de um pobre homem, isolado, chamado Rui Tavares que, por sua vez, reclamou uma tonelada de leis por ele elaboradas e aprovadas pelos deputados. E não obstante, o primeiro-ministro demissionário, apesar da maioria, limitou-se a trabalhar a sua imagem para alto cargo em Bruxelas. Quanto à lei de quatro dias por semana de trabalho que o sujeito reclama a paternidade, tenho a contrapor que em 1985 a institui eu na empresa de publicidade que dirigi. Não é boa solução e profundamente injusta. Mas um dia deste direi porquê. 

         - O que diz o meu iPhone no resumo do dia de ontem em Lisboa: 4 km. andados, 3 pisos subidos, 6.437 passos, 8 horas de sono. Nada mau coxinho, coitadinho, nada mau. Se assim continuar, temo-lo para mais vinte anos. E se ele prosseguir a exercitar-se com fortes braçadas na piscina como hoje aconteceu, ultrapassará os 200 anos, olarila! 

         - Esta manhã, em dose dupla de trabalho, terminei a revisão da primeira parte do romance. Ufa! Queria tanto voltar à criação propriamente dita, que ninguém imagina. Mesmo que isso me traga noites tresloucadas, me obrigue a tomar calmantes, me ocupe a cabeça todos os minutos do dia; prefiro à distância, ao estado de ansiedade, à ausência do rumor das personagens, àquele diálogo entre elas e o seu criador, que tanto necessito e é em mim absolutamente indispensável.  


terça-feira, novembro 28, 2023

Terça, 28.

O meu corretor e atento leitor destas inutilidades, a quem pago 100 euros por cada gralha assinalada, ontem detectou um o em vez de u numa palavra, falta que se deve ao facto e uma letra estar no tablier do computador ao lado da outra; e também ser a escrita em mim um permanente estado de exaltação e efervescência. Um lapso destes há muitos meses que não acontecia, pese embora as centenas de palavras que escrevo por dia. Assim sendo, o meu amigo Filipe não enriquece... 

         - Li a uma amiga que ontem me encontrou no café da Fnac a trabalhar no romance, a cena de cama entre Ana Boavida e Ajustes que acabara de reler e corrigir. A resposta foi esta: “Eu se encontrasse um homem desses, também fugida como fez a tua personagem.” Sem querer Ana X. assegurou-me da veracidade da cena. Não modificarei uma vírgula. 

         - Li no Público que a direita (sem o Chega) apareceu nas últimas sondagens em vantagem. Se estivéssemos em França ou existisse em nós a revolta que os franceses esbanjam, o PS seria reduzido ou mesmo excluído da cena política como aconteceu por lá. Com efeito, a mentira, a propaganda, a balda, o descrédito, o socialismo burguês servido com champanhe e caviar, o infinito desprezo pelos cidadãos como atesta aquela aldrabice que foi a aprovação e desaprovação do IUC (em nome da sustentabilidade do Planeta!!!) sobre os carros anteriores a 2007, daqueles que não podem andar nas limusinas do gabiru senhor Galamba e não trocam de viatura todos os anos como fazem os socialistas novos-ricos, explica majestosamente o modo de fazer política destes cavalheiros. 


segunda-feira, novembro 27, 2023

Segunda, 27.

Há outra ameaça que nos persegue, particularmente desta vez as crianças: um vírus que ataca os pulmões e causa graves problemas respiratórios. E de onde vem o bicho? Do sítio do costume – a China. 

         - O homem da esquerda do PS, na ganância de tomar o poder de qualquer maneira, até se esquece quem desgovernou o país nestes últimos oito anos. Fala como se ele não estivesse implicado nos muitos desastres que ainda hoje nos afligem e no seu modo arrogante com laivos ditatoriais, multiplica-se em promessas idílicos princípios sociais. Repete aquilo que o seu inimigo figadal, senhor Costa, sempre disse: que Passos Coelho aumentou impostos, cortou reformas e subsídios de férias e outros. Como se os impostos tivessem diminuído na governação socialista, quando sofremos e ainda hoje suportamos a monumental carga dessa praga. Com algo que ele não apregoa: Passos Coelho for forçado a pôr em prática as medidas que a troica nos impôs porque José Sócrates (recordo um socialista de gema) roubou, delapidou o erário público, ele e os seus capangas, ao ponto de não haver dinheiro para pagar reformas e vencimentos. 

         - Nem a propósito. Quando abri o computador, logo foram despejadas toneladas de miséria que encharca este carente país socialista. A pobreza aumentou ainda mais, as populações estão na rua a exigirem centros de saúde, os hospitais a meio gás, noites ao relento para centenas e centenas de pessoas sem um lar onde dormir; um escândalo de corrupção (mais um) eclodiu na nossa embaixada no Rio de Janeiro, com um esquema fraudulento de vistos a uma fabulosa rede de narcotráficos e criminosos perigosos de assaltos e roubos a residências que para aqui querem imigrar com o olho na Europa. Toda esta merdelhice aqui encontra covil, não demove os políticos de andarem por aí indiferentes ao que se passa, prometendo aquilo que sabem não poder dar, num contentamento de vida airada que só termina na conquista do poder. Depois... depois tudo recomeça como antes e o acesso ao tacho enche de orgulho e satisfação as barrigas anafadas de todos e de cada um. Portugal, é minha convicção, nunca sairá da indigência.  

         - De resto a prática socrática continua. Sempre que os socialistas se apanham no poder, é ver quem mais rouba. Dou ainda uns nomes: Joaquim Couto (não se trata do meu amigo, embora ele seja socialista também) ex-presidente da Câmara de Santo Tirso e a mulher Manuela Sousa (não me pertence, felizmente, embota tenhamos o mesmo apelido. O meu, apesar de tudo, é precedido de um de que me distingue...), e Miguel Costa Gomes ex-presidente da Câmara de Barcelos, acusado de 23 crimes. São todos socialistas, são todos corruptos, são todos enrabichados por dinheiro. O lado socialista desta gente, não coincide em nada com a vivência de suas vidas e o amor à causa pública da dignidade e igualdade dos seres humanos. 

          - Andarão já pelos 10 mil os mortos na guerra entre Israel e o HAMAS. Uma vergonha e um crime que não suportamos a Putin, mas condescendemos a Netanyahu. Além de cidades inteiras reduzidas a escombros e a sepulturas de inocentes.


domingo, novembro 26, 2023

Domingo, 26.

Sexta-feira passei o dia com o João com encontro na Brasileira, almoço  no Tascardoso, tarde de longo passeio no Príncipe Real até ao Rato, com paragem em várias lojas que  no meu tempo de residente não existiam. Entre elas uma fabulosa livraria brasileira que me encheu de prazer pela diversidade de livros e autores, como pela atmosfera que se respira no espaço vasto e alegre, longe da soturnidade das suas congéneres do Chiado. Dei a ler ao meu amigo umas quantas páginas do romance, sem que antes o advertisse que sabia não estar alinhado com o romance, mas que ainda assim gostava de o ouvir sobre a atmosfera que naquelas se respira. Corregedor lê calmamente e eu vou acompanhando as expressões do seu rosto, da cabeça que acenava que sim às linhas que lhe passavam debaixo dos olhos, aos espaços que o obrigavam a suspender-se para saborear alguma passagem. No final, surpreendido, disserta agradado com tudo o que leu, e diz que muito do que ali está vai levá-lo a meditar. Todavia, se a personalidade de Ana Boavida não lhe passou ao lado, é nas fugitivas passagens de “carácter social” como, por exemplo, quando é dito que o pai da personagem principal e dirigente de uma empresa de ferro, explora os empregados com carga demasiada de trabalho. Pergunto-lhe se tropeçou nalguma passagem, se o clima se mantém ao longo da narrativa; assegura-me que o que interpretou lhe deu vontade de conhecer todo o romance, que faz pensar e está cheio de orações belas e poéticas e se lê sem qualquer esforço. Bref

         - O segundo dia de troca de reféns entre o HAMAS e Israel, correu com problemas como eu previ. De todo o modo, o acordo estabelecido pelos negociadores do Qatar, veio provar afinal que os “terroristas” não são tão desumanos como se dizia. Bem pelo contrário. A atenção dispensada aos que deixavam os túneis, às crianças que apareceram bem tratadas, tudo foi para mim uma boa surpresa. Por outro lado, esta guerra injusta como toda a existência dos palestinos, veio alertar o mundo para a vida desgraçada e humilhante que os habitantes da Faixa de Gaza levaram durante mais de meio século. Alguns países reclamam e bem, que a Palestina seja um Estado independente, governado pelos seus dirigentes. Netanyahu indignou-se. Irá prosseguir o genocídio até à última criança nascida sob as bombas, num campo de poeira e ruínas, sangue e morte. 

         - Assim que posso, escapo-me para casa. É aqui que me encontro bem, banhado deste psiu, sem nenhum intruso que me desvie do trabalho contínuo e lento. Não sei se conseguiria suportar alguém sob este tecto. Quem quer que fosse, exigiria como é normal, atenção, ligações práticas, convívio e conversa fiada, o oposto ao que hoje reina aqui, com os longos serões à lareira e o silêncio preenchido com o crepitar da lenha e o olhar atento dos mestres que inundam o salão com o seu saber milenário. Nestes dias outonais, parece que até o Sol que entra pelas janelas baixas e se insinua por móveis e lombadas dos livros, quadros e móveis, neste conforto sem qualquer espécie de luxo, sendo apenas o silêncio que abre as manhãs e fecha as noites, me encontro comigo e descubro em mim o ser solitário que nenhuma espécie de egoísmo pode galvanizar.  


         - À parte isso, como um monge que se entrega (não digo como o outro ao “misticismo da próstata” e seus derivados), mas ao trabalho constante que o campo solicita. Ontem pus termo à língua de matéria inerte saída do esforço de antes do Verão que se estendia por vários metros. Felizmente o vento corria de feição e pude reduzir a cinzas aquilo que a beleza abandonou por excessivo. 

         - Ai, ai! Aquela do camarada da esquerda do PS, candidato a primeiro-ministro, Pedro Nuno, apregoar que o Governo socialista do qual ele fez parte com um chorrilho de asneiras e alimento da corrupção foi “uma memória boa para os portugueses”, não lembra ao tinhoso. Que lata! Este tipo é perigoso porque não tem a noção do ridículo, da leviandade, da responsabilidade que é governar um país qualquer que ele seja. Isto é um terror e eu espero e estou convencido, que ele nunca chegará a chefe do Governo.  Cruzes! Mais PS, pitié, pitié! 

         - Entrada por saída no C.I. para comprar o jantar. Milhares de olheiros por todo o lado, poucos compradores. Mesmo assim, reservei-me num local pouco visitado e tendo levado o croché que, de resto, me acompanha para todo o lado, pude reler mais 10 páginas. 


sábado, novembro 25, 2023

Sábado, 26.

Venho aqui apenas para me associar àquelas e àqueles que festejam esta data como libertadora de uma certa esquerda que nos queria aprisionar e de uma outra que ambicionava pôr-nos a pata em cima. O 25 de Novembro de 1976 é o dia da liberdade e da ordem  democrática, ainda que a democracia que temos seja para mim uma enorme e profunda desilusão. 


quinta-feira, novembro 23, 2023

Quinta, 23.

Antes que me esqueça, é meu dever deixar plasmado nestas páginas, o modo de falar dos nossos dias, ensinado por políticos, deputados, jornalistas, meninas e meninos formados em diversas faculdades, vedetas de televisão e áudio-visual, comentadores que os há por atado, e mais não sei que rebanho de palradores que sempre surge do nada:

Já alguns anos a esta parte...  

Estamos em Guimarães aqui faz sol. 

Em Braga aqui vai haver chuva. 

O que é que é que está ali? 

Onde Bata a Sombra título de um dos meus diários publicados, numa próxima edição, vai 

passar para Onde é que Bate a Sombra 

Mas, sim, era isso que queria dizer... 

Qual é que é a forma de... 

Etc. Etc. Etc. O “misticismo da próstata” até é engraçado (ou falando o português moderno) até que é engraçado ao lado destas sumidades. 

         - Para o que me deu! Fui encontrar um dossier espesso numa gaveta que desconhecia ou havia esquecido completamente, perdido no fundo da memória onde o tempo se resguarda e resguardando conserva o que de todo não devíamos olvidar, pese embora a pouca importância que as coisas têm para as nossas vidas. A pasta, volumosa, continha um pedaço da minha vida de escritor (saiu assim, assim ficará), com críticas e resenhas aos meus romances, ensaio e diários. Reli uma boa parte do que os jornais disseram de cada livro e a dada altura parei, estupefacto, ante a importância que me atribuíam. Que pouco ou nada me excitou, salvo uma entrevista que dei ao O Diário, na forma do inquérito de Proust. Que arrojo da minha parte! Que orgulho na viagem solitária que havia sido a minha até então! E também apreciei, grosso modo, o sentido estético que me parece ter sido entendido por todos, ao ponto de nenhum deles dizer que o que escrevi era medíocre. Pelo contrário. Muitos realçaram o romancista sólido e apontavam o interesse do que publiquei por parte da opinião pública. O que afirmei no inquérito do O Diário, hoje é moeda corrente de editores que vendem livros como quem vende sacos de batatas. E na fúria de arranjar dinheiro, obrigam os autores e entrar com uma boa quantia para que o livro seja publicado. Eu já nessa altura (1987) me recusava a entrar nesses negócios mafiosos. Pagar para trabalhar, onde é que já se viu? Em Portugal, claro. E não falarei hoje da televisão. Que bom estar arredio de todo esse mundo, cumprindo-me em liberdade plena, sem precisão de bajular os medianos instalados por todo o lado.  

         - Curiosamente, no Governo de António Costa, o SNS caminha para o abismo. Um ministro e um adjunto estão há dois anos a tentar convencer médicos e enfermeiros, auxiliares e utentes, que o organismo é para continuar, apesar do desacordo e competência dos seus gestores governamentais. Assente nisso, nunca se abriram tantos hospitais e clínicas privados. O negócio da saúde vai de vento em polpa. E vale tudo. Um exemplo. Quando há três semanas tivemos de levar a minha assistente operacional (enfim, que chique!) ao Hospital da Luz, o médico que a atendeu devia ter ordem para chupar o máximo. De contrário, como se explica para além do tac, a bateria de exames que não ficaram prontos na hora e o neto teve de os ir buscar uns dias depois. No final, passa para cá 400 euros! Graças ao senhor Costa, é só facturar. E no embalo ganham todos. Porque muitos clínicos trabalham no privado. Morra quem tiver que morrer – o meu já cá canta. E as negociações continuam. Olé! 


quarta-feira, novembro 22, 2023

Quarta, 22.

Começo a pensar que António Costa é um caso patológico. Ouvi-lo falar do Portugal de hoje, é tão delirante que até assusta. Ou então, sua excelência, vive num mundo outro que não toca o chão desta terra infeliz onde estamos unidos na desgraça. Dito de outro modo, será que sua excelência perdeu o sentido da vivência colectiva e com a lata que não lhe falta tenta impor a sua visão de um país que não existe senão na sua imaginação insensata? 

         - Eu não me calo, embora muitas vezes desespere. Sou dos que vê os serviços públicos desde que o PS assumiu o governo, a degradarem-se a olhos vistos. Veja-se mais um caso que, de resto, se repete sazonalmente: a vida de escravos-imigrantes no Alentejo. Ainda não tem muitos meses que assistimos a condições de exploração e miséria e na altura era ministro do PS e pouco ou nada da Administração Interna, o senhor Eduardo Cabrita. Pois agora voltaram exatamente os mesmos esquemas inumanos de abuso de pessoas que vêm ajudar nas operações periódicas na mesma zona. Nem GNR, nem os autarcas, nem os serviços do Ministério da Agricultura, sabem ou vêem passar os andrajosos tarefeiros nas ruas, nos cafés e nas praças das cidades, enganados por gente desonesta que lhes promete uma coisa e dá-lhes uma côdea! Isto é o retrato do que venho apontando aos serviços públicos em geral: instalou-se o  laxismo, a ideia de que façam eles o que fizerem, ninguém lhes pode tocar: despedir, condenar, subtrair-lhes o ordenado. 

         - Se outra amostra não existisse que prove a bagunça a que chegou o governo e o país, a última vinda da Procuradora Geral da República, é sentencial. Disse a magistrada ou insinuou que não tinha confiança na Polícia Judiciária e por isso recorreu à PSP quando da colheita de dados e falcatruas da Operação Influencer. Confesso que não queria estar na sua posição com os galifões a metralhar noite e dia.   

         - O nosso honrado Rui Pinto, acaba de ser condenado com pena suspensa pelo Tribunal Judiciário de Paris. Na origem estão os famosos Football Leacks e, pelo facto de ele ter aceitado os factos de que era acusado, foi condenado a seis meses de prisão com pena suspensa, e um euro ao PSG (um clube qualquer lá do sítio). A ver vamos como procederá a nossa Justiça, célere em condenar os inocentes e em perdoar aos políticos, homens de negócios e cangalheiros. 

         - Enfim, foi acordado uma trégua para libertação de reféns e ajuda humanitária, entre o HAMAS e Israel. O Qatar e parece que os EUA, mediaram os acordos. Vão ser quatro dias intensos de paz para depois a guerra prosseguir como exigem os comandos israelitas. Ao que se sabe, são 50 israelitas nas mãos dos guerrilheiros, contra uns quantos palestinianos retidos nas cadeias, em Telavive.  Duvido desta operação, mas desejo que assim seja. E se assim for, prova que o diálogo é preferível à guerra.  

         - Logo que terminei o meu trabalho no romance, fui à piscina. A água permanecia no fuso de Verão e foi difícil entrar nela gelada. Mesmo assim percorri os 25 metros durante meia hora. Que mais? Ah, acendi pela primeira vez este Outono a lareira, que solta mais calor devido ao produto com que o técnico a atapetou. Parece madeira prensada e garante-me o artista que não arde a menos que esteja muito húmido. Seja como for, momentos mágicos que me retiveram em baixo até perto da meia-noite. 


terça-feira, novembro 21, 2023

Terça, 21.

Outro dia, na cozinha, em frente ao aparelho de televisão que ofereci à Maria e voltou após a sua morte ao meu encontro, e trabalha quando lhe apetece, ouvi um médico dizer: “Temos de acabar com o misticismo da próstata.” Estremeci. Santa ignorância de um homem ainda jovem, que os americanos se o encontrassem na rua o convidariam a entrar num filme erótico, tal o seu ar, como direi, rústico e sólido de sensualidade.  

         - Almocei com o Carlos Soares. De seguida, dei um salto ao seu atelier na Lapa (melhor dizendo aos seus ateliers) para escolher uma escultura que ele faz questão de me oferecer e eu não quero aceitar. Carlos está a desfazer-se de vários espaços, porque a idade lhe vai pesando e as despesas mensais também. Que mundo! É impressionante o que acumulamos ao longo de uma vida, nos afeiçoamos às coisas materiais e por elas nos entregamos a toda a sorte de vaidades, desesperos, alienações, e no seu caso, paixões. As divisões, estão cheias de imagens religiosas dos séculos XVII e XVIII, muitas restauradas por ele enquanto especialista, outras carcomidas pelo tempo, quase desfeitas, mas dignas aos olhos do Mestre que as olha com devoção e familiaridade. O Moncada, velho antiquário, deve chegar em breve para varrer com os seus olhos entendidos no negócio, quanto vale tudo aquilo que para Carlos não tem valor material e apenas ao espiritual consagrou a vida. Há esculturas em talha dourada, pedras antigas, pedaços de colunas romanas, ornatos de velhas igrejas, Cristos dilacerados, milhares de peças em ferro para trabalhar a madeira o seu ofício principal, bandolins, um contador do séc. XVII encostado a uma parede a cair, arcas, livros, peças em ferro enferrujado para os mais incríveis trabalhos, madeira, muita madeira que ele me quer oferecer para a lareira e eu fiquei de lá retornar para a trazer... No final ante muitas hesitações, depois de ver algumas das suas esculturas em madeira, acabei por aceitar (sem escolher) aquela que ele me ofereceu e vou limpá-la para a expor com orgulho numa das paredes desta casa consagrada à arte. 

         - Disse José Luís Carneiro: “Quero felicitar o ministro das Finanças, porque a notação financeira do país é muito positiva e representa um sinal de confiança dos investidores no país. Esse sinal de confiança é fundamental, quer para financiar as condições de desenvolvimento, quer para manter o estatuto de Portugal como um país que honra os seus compromissos internacionais. Isso é essencial para valorizarmos salários e rendimentos.” Começa mal o meu candidato. Este elogio em troca do apoio de Fernando Medida, cai mal porque não tem em conta que, se o país tem “contas certas”, é graças à miséria que o PS instalou como natural e à aposta que António Costa fez no seu prestigio lá fora. Nem um nem outro, trabalharam para desenvolver o país, só se ocuparam de três grandes negócios que nós vamos pagar com os nossos impostos e de língua de fora e cavando ainda mais o fosso entre ricos e pobres.   

         - E por favor, calem-se com essa merda de saber quem chamou a Belém a Procuradora Geral da República e falem apenas do que é essencial para o país: saúde, desenvolvimento, escolaridade, dignidade humana, fim da pobreza e da corrupção. Sejam adultos e sérios. Desçam dos pedestais que não vos pertencem e encarem a realidade: vivemos numa república e em democracia. Reduzam-se à vossa insignificância. Bem sei que custa perder o poder e ficar afastado do tacho, mas nem um nem outro são propriedade de alguém. 


domingo, novembro 19, 2023

Domingo, 19.

A Amnistia Internacional confirmou num relatório sobre o conflito em Gaza que “as forças do Hamas usaram áreas abandonadas do Hospital Al-Shifa na Cidade de Gaza, para deter, torturar, interrogar, e infligir maus tratos a suspeitos, enquanto outras partes do hospital continuavam a laborar como centro médico”. Esta desumanização comprova a máxima do Hamas segundo a qual a morte é mais valorizada que a vida. Mas, se eu condeno estes horrores, não sou obrigado a reconhecer virtudes e direitos selvagens a Israel quando indiscriminadamente liquida a população jovem palestiniana que nada tem a ver com o choque ideológico e é portanto inocente.  

Foto do Público.

         - Pedro Sánchez na obsessão de conservar o poder de qualquer maneira, utiliza a regra socialista de alterar os fundamentos democráticos. Antes era contra a Lei da Amnistia acordada com os catalães de Puigdemont; agora para conseguir formar governo põe-na de lado, num gesto claro contra a Constituição de 1978. Eu simpatizo com a luta dos catalães, mas não suporto os malabarismos típicos de gente desonesta. Marcelo diria que é a democracia a funcionar; eu digo que é a democracia a enfraquecer. Felizmente os espanhóis são um povo bravo e logo desceram às ruas aos milhares (fala-se em 200 mil só ontem e em Madrid). Bravo povo que mantém os políticos em sentido. Sánchez não vai ocupar a Moncloa por muitos meses com aquela manta de retalhos que o apoia. O seu rival que aqui em Portugal dizem ser de extra-direita, vencedor das últimas eleições, senhor Alberto Núñes Feijóo, disse no dia da investidura do PSOE: “O senhor Sánchez não conseguiu o apoio de ninguém. Compro-o, assinando cheques que todos iremos pagar.” 

         - António Costa foi a maior e mais profunda desilusão de que há memória. Apesar de demissionário, prossegue o seu caminho de propaganda e mentiras descaradas. Nem tempo tem para olhar a sua obra: greves de anos em todos os grandes sectores, o país parado, mais empobrecido, desigual, cheio de corrupção, um leque de ministros que nenhum ficará na história, contando a sua passagem pelo governo apenas para o curriculum pessoal de cada um, a Justiça aos trambolhões, a Administração Pública desmotivada e com isso um péssimo serviço aos cidadãos, aumentos inconsequentes de impostos, os portugueses agrilhoados e humildes com esmolas, leis que se faziam num dia e se corrigiam no seguinte, apesar do apoio do Presidente ao “aluno inteligente”, conflitos e desencontros cíclicos, impunidades e compadrios constantes, afrontas a Justiça, lutas intestinas para que esta se submete-se à política, demissões de membros do Governo sem explicações, de outros acusados de patifarias que se recusavam a deixar o poder, negociatas obscuras, prepotências várias, enfim, um monstruoso quadro que não enobrece a passagem de António Costa à frente dos destinos do país. Honrado, sério e competente, era António José Seguro que foi pontapeado pelo actual presidente do PS e primeiro-ministro. A sua enorme seriedade, não o levou como aos demais a bater à porta da SIC, TVI ou RTP a pedir que o contratassem como comentador. Ele atingiu com dignidade o posto que teve e soube deixar o poder com humildade democrática. Há poucos, muito poucos como ele. 

         - Vou dar a palavra a António Barreto que as esquerdas detestam por ser um homem livre e lúcido:

“A nossa democracia não conseguiu, nas áreas da corrupção e da Justiça, ser melhor do que a ditadura. Tem mil vantagens. É superior em muitos aspectos, na liberdade, nos direitos individuais, na igualdade das pessoas, na cultura, na educação, no trabalho e na saúde. Mas na Justiça e na educação não consegue melhor.”   

“As modalidades de pequena e média corrupção abundam e são bem conhecidas. Uso privado de carros de função, realização de obras domésticas á custa de dinheiros públicos, nomeação de filhos e afilhados, pagamento de refeições caras, luvas de grandes negócios, estágios e cursos superiores em instituições reputadas, percentagens depositadas “lá fora” e avenças estranhas, de tudo um pouco, os portugueses conhecem bem.” Pois conhecemos com os elevados impostos que pagamos. 

         - Durante anos a portada da janela ficou fechada e no parapeito pacotes de livros que me haviam sido devolvidos pelo tribunal na acção contra o meu editor. Antes do Verão, com a Piedade, desimpedi a entrada da casa, estudada ao pormenor (como de resto toda a habitação) com o arquitecto e amigo João Biancard. Aqui queria eu ser sepultado (a história está contada algures), mas agora ao admirar a sua beleza que me faz estar muitas vezes extasiado a olhar o fluo que envolve o espaço, a luz que entra pelos vidros baços, a presença majestática da escultura do Manuel Rosa onde ficariam as minhas cinzas e as dos amigos que me quisessem acompanhar, a pedra que atapeta o chão, todo o hall respira memórias, silêncios, recordações da casa de Lisboa, quando ao longo do tempo fui adquirindo as peças de arte que um dia não levarei comigo, mas são hoje os instantes que abraçam na plenitude da beleza que aqui mora e me é cara ao espírito e aos anos de convívio que embelezam a minha vida e são a aisthésis que a preenche. 



sexta-feira, novembro 17, 2023

Sexta, 17.

Levantei-me cedo e às oito da manhã estava no laboratório em Setúbal para colheita de sangue, requerida pela minha médica dita de família, cumprindo a bateria de exames anuais habituais. Dali, fui tomar o pequeno-almoço ao Alegro e fiquei com o espaço sem ninguém àquela hora, a trabalhar no croché. Era o único cliente e por quase uma hora ninguém se aproximou para desviar o meu olhar do romance. Entrei na cena de sedução de Clarence com Ana, excerto que me deu uma trabalheira a criar, porque o tive de fazer a pinças como peça delicada no contexto da acção.  

         - Uma constatação: o luxo dos pobres é tomar o pequeno-almoço no café; o dos ricos é fazê-lo em casa. 

         - Santos Silva (sempre ele) apressou-se a sacudir a pachorrenta vida do Ministério Publico pedindo-lhe que acelere antes das eleições o processo que liga António Costa à manta rota dos escândalos financeiro-económicos; mas nunca se lhe ouviu solicitar aos juízes que concluam o processo do amigo José Sócrates e o metam na cadeia.  

         - O seu patrão sempre insistiu naquela blague: “ À Justiça o que é da Justiça e à política o que é da política.” Depois, vai-se a ver, a coisa não é bem assim. Daí que ele e os seus protegidos ataquem com unhas e dentes a Operação (em inglês é mais fino) Influencer que descobriu o gigantesco bolo de irregularidades, conluios, compadrios, corrupção, desvio de leis, tráfico de influências, onde Costa está no topo como a cereja que o enfeita e dá classe. O que se passa em Sines é disso exemplar com os habitats prioritários arrasados que o mestre João Galamba impôs, naquela eu quero posso e mando, que muito prejudicou o equilíbrio na região, e deu de mão beijada aos senhores da data center a mais-valia que tanto buscavam. O Ministério Público, é verdade, nem sempre fundamenta a acusação com técnica e consistência, mas também é verdade que sempre teve nos socialistas acérrimos combatentes, ao ponto de tudo tentarem para alterar a lei que rege a magistratura e as acções do Organismo. Sem falar nas negociatas que nos vão custar os olhos da cara com o lítio, a aldrabice da “energia cem por cento renovável”, o hidrogénio, entre tantos outros negócios que começam por enriquecer os governantes (veja-se, por exemplo, a riqueza do amigalhaço de António Costa antes e depois de ter feito parte da governação hoje publicada no Público) e empobrecer a Nação que somos todos nós. Bem andei eu aqui a pregar que uma vez destapada a panela socialista (que  previa para o ano 2025) muitos Sócrates iriam sair dela. E estão - contem-nos.


quinta-feira, novembro 16, 2023

Quinta, 16.

Viver nesta democracia exige muito de todos nós. Temos de ter nervos de aço, saltar por cima de conceitos como socialismo, comunismo, social-democracia, direita e esquerda, valores humanos e ambições pessoais, governantes incapazes e mentirosos, oportunistas e gananciosos, que se misturam, engrenam, oscilam em danças leves de um lado para o outro conforme ventos de feição. Nesta democracia não há sossego, não se vive cordialmente, andamos sempre de baldão, e como somos incultos e não fomos educados a conhecer os valores democráticos e as correntes políticas que os sustêm, acreditamos que o PS é socialista, o PCP comunista e PSD social-democrata. Depois, quando por momentos reparamos que um ou outro corresponde ao que apregoa, logo nos desiludimos porque afinal ele não está ao serviço da nação e do povo, mas alcandorado nos interesse partidários que tudo subjugam da plebe aos princípios ideológicos, da economia ao quotidiano de todos e de cada um. No quadro actual não há ninguém em quem se possa confiar, como se 50 anos de democracia tivesse criado uma máfia de gente corrupta, nas tintas para o bem comum, enredada numa teia de proveitos onde só entra quem tenha o passaporte da cumplicidade que submerge esta triste aberração de governantes. 

         - Diz o Público que Escária, o amigalhaço do senhor Costa, pediu em Outubro à CGD um empréstimo igual a um terço do dinheiro apreendido no gabinete ministerial. É igualzinho ao truque utilizado por José Sócrates para comprar o andar de luxo na Braamcamp. Ele tem um excelente mestre. 

         - Angusto Santos Silva (oh, quem ele é!), Fernando Medina (outro) e Vieira da Silva vão apoiar José Luís Carneiro à liderança do PS. Eu se fosse ao ilustre futuro presidente do Partido Socialista, desconfiava. Até porque o concorrente dito de esquerda, parece que deixou cair essa bandeira e situa-se hoje ao centro (morde aqui a ver se eu deixo...).  

         - Fui fazer hoje três quatros de hora de natação, um pouco mais porque tinha a faixa toda para mim. Antes tinha estado a reler as páginas que narram o acidente de Leonardo (marido de Ana Boavida) do qual resultou a sua morte. Emocionado, como se nunca tivesse tido conhecimento do desastre, acostou-se em mim a certeza que alguém havia escrito o triste episódio – eu é que não fora. 


quarta-feira, novembro 15, 2023

Quarta, 15.

Galamba, persona non grata no país inteiro, demitiu-se enfim. Diz que o fez pela filha, a mulher, a empregada doméstica (dobra a língua desgraçado, diz-se assistente operacional), o cão, a limusina preta de novo-rico socialista. 

         - Quando entrei no Fertagus, como é normal, a carruagem inteira estava curvada à manjedoura do telemóvel. A meu lado, duas mulheres conversavam. A dada altura diz uma para a outra: “Gosto da Madalena, é uma colega impecável.” Responde-lhe a companheira: “E eu gosto da Catarina e da marida dela.”  

         - Para se ver a seriedade com que os socialistas fazem (e têm feito) as leis que nos norteiam, está o célebre imposto IUC que despejou nas ruas milhares de automóveis em protesto. O fabuloso Medina (a história desta personagem ainda está por contar)  defendeu-o com unhas e dentes, consubstanciado pela bancada socialista, e agora no intuito de ganharem as próximas eleições, combinados entre si, os deputados decidiram retirar a medida do OE para 2024! Aqui se vê a treta do Planeta, o amor que os socialistas têm à tragédia do buraco de ozono.  É a desonestos como estes que queremos entregar de novo o país? À parte isso, vamos todos e cada um, remendando os pedaços de vida que nos surripiaram, enquanto eles regozijam com “o super-hábito” que criaram, o país apodrece nas ruas, os desempregados aumentam, a falência das empresas cresce, os doentes gemem, os pobres medram, Lisboa à noite está transformada num montão de barracas a céu aberto onde se acolhem os excluídos da vida. Que tristes oito anos varreram de infelicidade as nossas vidas! Hipotecámos o futuro a um punhado de idiotas, incompetentes, arrogantes, corruptos, de baixo nível, servindo-se do socialismo como bandeira para as suas ambições desgraçadas, o seu bem-estar, o seu enriquecimento pessoal. Porra, que gentalha!  

         - Vamos dizer assim: a mais impressionante obra de arte é a vida. Por isso é que a exposição de Guilherme Parente, Depois da Tempestade, que ontem fui visitar in extremis, teve para mim a sensação de ter renascido com o autor. Guilherme atravessou um período demasiado longo no combate à doença. Felizmente, embora muito debilitado, venceu. E ei-lo de retorno à vida carregando consigo a esperança que os seus quadros fecundam. 


         - Cumpri hora e meia a limpar a entrada, a retirar o entulho que a chuva juntou ao portão, a descobrir a mandala que o saudoso senhor Pedro construiu no Inverno quando não havia trabalho no campo e eu para não o dispensar inventava cenas que o ocupassem. Ele que me repetia chegado o fim do mês: “De todos os meus patrões, o senhor é o único que me paga a horas e nunca me faltou; os outros, o Sr. engenheiro e o doutor, vejo-me grego para receber.” Pobre homem que aqui andou até depois dos noventa e o resto da história já eu aqui narrei. Do que nunca esqueço, é do seu bonito sorriso e daquele à parte quando eu me levantava mais tarde ao sábado: “O senhor hoje descuidou-se.” 


segunda-feira, novembro 13, 2023

Segunda, 13.

Com tudo o que se abateu sobre o país desde que António Costa tomou as rédeas do poder e mais o que veio de José Sócrates e o “pântano” de Guterres, a verdade é que os socialistas tudo fizeram para dar cabo da democracia. No caso de Marcelo também em grande medida ajudou à festa, protegendo o seu “pupilo inteligente” e amparando-lhe durante anos toda a arrogância, governação baldas, paralisia do país, propaganda desalmada, concluiu entre amigalhaços, vaidades, opções sociais e projectos económicos sem sentido, contra os portugueses e a favor dos negócios que infernizam a vida a todos e alargam o lençol de pobreza e miséria social e económica. Este é o retrato da passagem de Costa à frente dos destinos de Portugal que o Presidente engrandeceu, e se ridicularizou ao fazê-lo. Resta o mistério que liga Galamba a Costa. 

         - Israel avança com o seu acto criminoso contra os hospitais que estão a abarrotar de palestinianos a fugir do bombardeamento. Os Estados Unidos que sempre adoraram fazer a guerra, estão nas costas de Netanyahu a incentivá-lo a matar indiscriminadamente milhares de crianças, jovens e velhos. O comando manda que o exército extermine da face da terra todo e qualquer árabe e palestiniano. O ódio imenso que os judeus retêm dentro de si depois do Holocausto, está na Faixa de Gaza a ser descarregado sobre um povo inocente. 

         - Fui fazer meia hora de natação. Antes corrigi 10 páginas do romance. Forma de falar dado que das 50 já passadas a pente fino, pouco havia a corrigir o que me deixa desconfiado e triste. Dia brilhante de sol depois de semanas embrulhadas de cinza. 


domingo, novembro 12, 2023

Domingo, 12. 

Acerco-me de Vicente Jorge Silva quando da queda de José Sócrates, em artigo de 6 de Maio de 2018 no Público: “Como foi possível que pessoas como António Costa – que eu considerava o quadro do PS mais bem preparado para suceder a Ferro Rodrigues mas me afiançara, em tom aparentemente definitivo, que nunca seria secretário-geral do PS e primeiro-ministro –, Augusto Santos Silva ou Vieira da Silva tivessem posto uma venda nos olhos e seguido cegamente José Sócrates? Mas foi o que simplesmente se veria a verificar-se, atingindo mesmo requintes chocantes, como sucedeu a Santos Silva, pois “ministro de propaganda do socratismo, revelando uma vocação trauliteira de que eu nunca suspeitaria; achava-o até um dos deputados mais bem preparados e brilhantes do PS”. Este bocado de prosa elucida bem e melhor que todas as palavras e laudatórios discursos que estes três comparsas exibem sob a capa onde tentam esconder-se. 

         - Teresa de Sousa enche a sua página dominical no Público, com um artigo elogioso ao trabalho na UE de António Costa. Como os meus leitores decerto se lembrarão, eu já aqui louvei a preparação de Costa em dois vectores: interno e externo. Neste último com assento tónico na perspicácia económica (que não foi só dele, mas também e sobretudo da equipa técnica de Mário Centeno) junto dos nossos parceiros em Bruxelas. Graças ao bom desempenho de Portugal, a maior parte dos países que têm assento na UE, passou a tratar-nos com mais deferência. Todavia, não vou ao ponto de esquecer estes derradeiros oito anos internos como fez a articulista, como se António Costa tivesse sido ministro da Economia ou  Estrangeiros, sem responsabilidade na equipa governamental e nos programas sectoriais. Diz o visado e repete a jornalista que Portugal não precisava  de passar pelo momento que atravessa. De acordo. Pergunto é se poderíamos continuar a sustentar um Governo de aproveitadores, arrogantes e corruptos; equipas medíocres, trafulhices em todos os ministérios, com ênfase para os da Saúde, das Infra-Estruturas, da Habitação, da Agricultura. Este bando de governantes, penso que só foi possível porque os convidados que Costa abordava se recusavam a fazer parte de um Governo condenado há muito. O país viveu todos estes anos numa fervilhação insuportável, liderado por gente arrogante, vaidosa, oportunista, que assaltou nitidamente o poder e fez do país a sua montaria real. Não havia nenhum sector que não fizesse greve, não saísse à rua, e com os seus actos prejudicasse milhões de portugueses; tudo isto com a maior indiferença do primeiro-ministro que não teve vergonha em ter tantos serviços em guerra diária. Costa vivia num reino que não era deste mundo, onde pastoreiam dez milhões de portugueses pobres, com o desenvolvimento parado, a inflação a subir, os ordenados a diminuir para que as “contas certas” fossem elogiadas em Bruxelas. Era a única obsessão dos socialistas e a forma de dizer à UE e às oposições que afinal eles são capazes de governar o país, pondo assim de parte a ideia da sua incapacidade que assinalou as suas anteriores passagens pelos governos de Portugal até a banca rota de José Sócrates. António Costa convenceu-se que era o deus, o dono disto tudo, porque tinha conseguido a maioria e com ela subordinava tudo e todos. Como se constata agora, nem o seu próprio Governo conseguiu controlar. Não foram só os 75.800 euros escondidos no gabinete ao lado do seu, são as almoçaradas de 1.300 euros oferecidas aquela figura de bairro periférico lavado de presunção, que andou ao murro com um subordinado no seu ministério, de brinco na orelha, a snifar Haxixe ao entardecer, em cambalhotas financeiras-económicas com os homens das energias, do lítio e do hidrogénio. Como se sabe não há almoços grátis e muito menos quando eles atingem aqueles valores. Os administradores da Start Campus queriam uma lei própria, Galamba  trata disso (Sócrates fez o mesmo com a lei que permitiu o regresso ao país de milhões sabe-se lá ganhos como, assim também antes com o menino Pedroso). Ora, para mim, é impossível que por trás destes conluios, não haja jogos de interesses que somas astronómicas não paguem. Toda (ou quase) esta gente, esteve do lado de José Sócrates como nota Vicente Jorge Silva no início desta minha longa reflexão. O antigo dirigente socialista, ainda não foi julgado volvidos seis anos; a ver vamos se com o afastamento dos socialista do poder isso acontecerá enfim – se os prazos não forem entretanto ultrapassados, bem entendido... Por muitíssimo menos, os franceses reduziram o seu Partido Socialista a uns escassos três por cento. E aqui? 


quinta-feira, novembro 09, 2023

Quinta, 9.

A esquerda anda assustada com o terramoto que lhe caiu em cima. Os poucos honestos que o PS tem nas suas filas, escondem a cara de vergonha por o Palácio de São Bento ter sido objecto de buscas pelo MP pela primeira vez no Portugal democrático e no outro. Tentam agora lançar suspeitas sobre a argumentação jurídica que levou à descoberta do polvo que amarra uma série de responsáveis políticos e empresariais em esquemas de corrupção e influências partidárias em negócios ilícitos que prejudicaram os portugueses. Mas o facto é que elementos da PSP e o juiz de instrução e procurador Rosário Teixeira, encontraram no gabinete de Vítor Escária, na residência oficial do primeiro-ministro, 75.800 euros em dinheiro escondidos dentro de livros. Pensava, provavelmente, que a casa do governante primeiro, estaria bloqueada às buscas do Ministério Público – enganou-se. Bem avisava o presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), Henrique Araújo. O advogado de defesa do sujeito, diz que é normal ter consigo ou espalhados por vários envelopes dentro de livros e até com embalagens de vinho um tal montante. Costa correu com ele. 

         - Respondam-me se puderem: alguma vez um corrupto apanhado nas malhas da Justiça confirmou por vontade própria que havia prevaricado? Por isso, mesmo que o senhor Costa tenha confessado a sua inocência “olhos nos olhos” aos portugueses não ponho as mãos no lume por ele. Primeiro, porque é socialista e a história já nos deu pelo menos dois outros episódios semelhantes; segundo, porque não conheço ninguém que tanto ame a riqueza como estes infelizes camaradas. 

         - Outra coisa. António Costa que não há muito, orgulhoso da maioria alcançada, apregoava: “têm que me gramar até ao fim”, vê-se agora humilhado e como o camarada e amigo Sócrates forçado a demitir-se, e com ele o seu Governo de ladrões, mafiosos, rufias, etc. Mais: eu não conheço, mesmo no tempo do fascismo, um Governo tão arrogante como este de má memória que nos calhou na rifa da democracia. 

         - E anda a senhora Ursula von der Leyen a atezanar Zelensky com o derrube dos corruptos no seu país se quer entrar na UE, quando os que lá estão, a começar por Bruxelas, são um bando de gente putrefacta. 

         - Ontem fui almoçar com o Paulo Santos, Corregedor, Carlos e Alexandre a um restaurante na Estrela que não conhecia e onde se come cozinha portuguesa. Repasto regado de política, todos contra o João que o seu extremismo nunca o deixa ver o evidente. Pelo que observei, o PS não quer eleições antecipadas e sonha com o seu próximo muchacho Pedro Nuno Santos para a chefia do governo. O problema é que, entretanto, na fúria dos postos que dão dinheiro e honraria, se apressam a sair da sombra outros candidatos. De todos, o actual ministro José Luís Carneiro é o mais competente e sério de toda a equipa governamental. Eu voto nele porque me parece uma pessoa idónea, discreta, e pode ser no novo Governo o Passos Coelho que falta ao PS. Segue-se um longo período de prosperidade  para os advogados dos “inocentes”. 


terça-feira, novembro 07, 2023

Terça, 7.

Eu que não apreciava a actuação de António Guterres à frente da ONU, estou surpreendido com a coragem, determinação e lucidez que tem demonstrado no conflito israelo-palestiniano. A sua elocução de ontem catapultou decerto todos os que estão contra a desproporcionalidade bélica entre israelitas e palestinianos. Sobretudo com as mortes (fala-se em 4 mil) de crianças, mas também do povo anónimo, indiferente à disputa da histórica zona que desde cedo, logo depois de 1948, entrou em guerra contra árabes e palestinianos. Estes sempre recusaram a chegada ao seu território dos judeus, não só porque os haviam forçado ao êxodo, porque se achavam e com razão no direito a ter uma pátria e um Estado independentes. Os combates cessaram com os acordos, em 1949, mas a paz nunca aconteceu verdadeiramente. Israel fez dos palestinianos um povo de escravos que manipulava com desprezo e algum orgulho, ocupou-lhes as terras a pouco e pouco construindo prisões como os famosos colonatos, vigiando-os sob o domínio das armas. Para os árabes ele era o invasor e nunca aceitaram os acordos da criação de Israel. Aquele sempre havia sido o seu vasto território e a chegada dos judeus, seguindo a estrela de David, tal como nos conta a História Deuteronomística, era para eles uma história mal contada. Aquelas terras pertencem-lhes pelo menos desde o séc. VII até XIV, período das grandes conquistas árabes. Foi dali, após a morte do Profeta Maomé, que empreenderam as conquistas muçulmanas: Damasco em 636. Jerusalém em 638, Alexandria e Mossul em 641. A verdade é esta: a desagregação da zona adiou sine die a pretensão da Palestina a ter um Estado próprio, soberano e livre. O mundo inteiro alheou-se durante mais de meio século, fechou os olhos às atrocidades praticadas pelos israelitas e não admira agora que árabes e palestinianos se tenham cansado da humilhação, da pobreza e indignidade a que foram sujeitos durante todo o século passado. O Ocidente e os Estados Unidos, cozinharam sempre esquemas frágeis que expunham os palestinianos à sua insignificância e reforçavam o poder de Israel. O HAMAS, Hezbollah, Fatah ou Jihad Islâmica nasceram do desrespeito a que foram sujeitos todos os povos que sentem ter direito a defender o seu espaço. De resto, de resto, para quem leu com atenção o Antigo Testamento, sobretudo o grande período de Reinados, época em que a ideia de um Deus único se impôs, verificará que por ali as guerras eram terríveis e sangrentas e mais desumanas que se possa imaginar. Todo aquele vastíssimo território, nunca conheceu grandes períodos de paz. As vinganças, o derrube de “monarquias”, as guerras que dizimam aos milhares, foram o calvário da sua imensa e triste história. Que vinha do passado, da chegada do povo israelita a Canaã, acossado pela escravidão no Egipto. De seguida a dizimação por este, autêntico genocídio, praticado sobre os povos que lá viviam, em nome do seu Deus, YHWH. Apesar de tudo, hoje, somos mais humanos e civilizados. Isso graças aos gregos que nos deram de bandeja a Democracia e ao progresso da Filosofia, das Ciências Sociais, da aceitação dos Direitos Humanos. 

         - Ante isto, falar da pelintrice da política portuguesa, parece idiotice. Mas este trabalho é antes de mais o registo do tempo que me coube viver. E este de agora, como não me canso de afirmar, é sinistramente sinistro (aceitem o pleonasmo). Não há nada que seja claro e honesto na atuação do Governo. Os casos sucedem-se a um ritmo impressionante, como se o país fosse a reserva privada de uns quantos e nós seus escravos. A Iniciativa Liberal (pena o rabinho liberal) diz ter havido o pagamento indemnizatório de 400 mil euros a um gestor da Efacec. Instado, como aconteceu com a TAP, o responsável do sector, ministro da Economia garantiu nada saber. Depois é por estas e muitas outras, que eu apoio todas as reivindicações de todos os sectores profissionais e dos reformados, porque dinheiro nunca há para eles, mas não falta aos abrilhantados gestores, políticos, autarcas e por aí fora.  

         - Não vou sair, não quero fazê-lo. Irei ao fim do dia ao portão saber de correspondência e nada mais. Não chove e o Sol desce das alturas brando e luminoso, irmanando-se com o silêncio seu companheiro desde o princípio dos séculos. Estou de relações cortadas com o Black que não cessa de subir a banca da cozinha em busca de tudo o que encontra que satisfaça o seu apetite devorador. De manhã à noite não pára de miar, exibe uma pança igual à dos políticos anafados que nos governam, e ainda assim tudo o que lhe dou é pouco. Já lhe expliquei as diferenças entre ele e as galdérias que ele chama para aqui, tristes e escanifradas. Não entende, não nos entendemos. Todavia, hoje, terceiro dia do nosso desentendimento, vejo-o a rondar-me, miando docemente, abandonado e triste. Aperta-se-me o coração, mas tenho de ser firme não lhe faltando, claro, com a ração duas vezes ao dia. 

         - Depois de ter escrito o que aqui se expõe, pelas 13 horas, rebenta a bomba: António Costa, primeiro-ministro, pede a demissão por ser cúmplice em negociatas que envolvem, entre outros, o seu protegido, aquela silhueta cheia de tiques com nome João Galamba. Assim se percebe a razão pela qual não o demitiu. Todavia, o senhor António Costa, tem um processo à parte. Entretanto, foram realizadas buscas em São Bento (pela primeira vez, nunca tinha sido) na Assembleia, casas dos corruptos e foram detidos  por estarem ligados ao negócio do lítio e do hidrogénio verde, Vítor Escária  gestor das pastas e Costa e Lacerda Machado o melhor amigo do Costa. Um ou outro leitor pergunta-me se estou satisfeito depois de oito anos a pregar no deserto, respondo: infelizmente estou. 


segunda-feira, novembro 06, 2023

 


Segunda, 6.

O Governo do senhor Costa soma e segue casos e casinhos. Talvez não viesse mal ao mundo e até animaria a malta, não se desse o caso de estar em jogo mais uns  milhões dos nossos impostos e vidas para sempre miseráveis. Desta vez foi o negócio embrulhado de mistério na venda da Efacec aos alemães. Desde que a nacionalizou em 2020, o Estado meteu lá 360 milhões de euros. Vende-a agora a um fundo de investimentos com perda, numa acção para se ver livre de uma empresa que seria útil à Nação se fosse gerida por gente competente fora dos partidos. É por estas e muitas outras que continuamos pobretas e alegretas. E socialistas, bem entendido. 

         - Duas surpresas imprevistas: a visita de von der Leyen a Kiev e de Boris Johnson a Telavive. Que andarão estas cabeças a cozinhar. 

         - A mim quer-me parecer que muitas das desgraças do momento actual, nasceram no pós-guerra: o Tratado de Brest-Litovsk, em 1918; o Tratado de Bucareste, em 7 de Maio de 1919; o Tratado de Saint-Germain-en-Laye, em 10 de Setembro de 1919 e o Tratado de Trianon, em 4 de Junho 1920. As fronteiras da Europa e do Médio Oriente, foram então reescritas com tudo o que isso implica para o futuro.  No caso do sionismo, a possibilidade de alcançarem a Palestina e aí formar um Estado judaico, era a forma de reunir num local mítico, os desventurados da Diáspora. O mito da promessa bíblica ao povo eleito, persistiu através dos séculos como algo nunca realizado por Deus a Israel. O seu alyah (palavra hebraica que designa o regresso dos judeus a Israel), foi finalmente realizado em 1948 com a criação do Estado hebraico. A Europa pediu perdão aos martirizados judeus e realizou, enfim, o seu sonho materializado no Antigo Testamento que os rege: uma pátria e um local legendário – a Palestina. Todavia, a ideia de raça e concomitante relação com a religião, é tema que faz pensar. Talvez um dia o farei à minha maneira, neste murmúrio incessante em que está transformado este diário. 

No altar sagrado da escrita à hora em que o sol do Outono sobre ele se espreguiça.

         - Fui fazer meia hora de natação. Ou é dos meus olhos e cabeça perturbada, ou o homenzinho que antes das férias me ofereceu o olhar à nudez do seu corpo careca, parece lançar-me agora um convite à dança. Saberei eu dançar? Ou descida a cortina do plateau a excitação perde toda a graça, inanimada nas tábuas da exaustão?


domingo, novembro 05, 2023

Domingo, 5.

Não sai dos noticiários porque se radicou nas consciências. Falo da guerra israelo-palestiniana. Os israelitas começam a desabrochar para a culpabilidade de tudo o que aconteceu e não perdoam ao seu primeiro-ministro Benjamim Netanyahu, dito Bibi. Ouvem-se protestos em Jerusalém com estes slogans: “O meu nome é Bibi, o assassino”,  “Prisão, agora”, “Demissão, agora”,  “Responsáveis e culpados”.

         - Dá que pensar, é assustadora e interroga-nos sobre a vida a proposição dos líderes do HAMAS: “Nós somos mais fortes porque glorificamos a morte, enquanto vocês glorificam a vida.” Para mim, tanto a vida como a morte, são sagradas e como tal, sobrevivendo uma sem a outra ou sendo uma dependente da outra, ambas contam para o que de eterno se concilia nas duas.  

         - Porque os furacões agora têm nomes, dobremos a língua e chamemos-lhes pela linhagem para o caso Ciarán. Pois este sujeito andou por toda a Europa a fazer estragos de monta, lançando o pavor por vários países incluindo Portugal, França, Itália, Espanha, Alemanha. Morreram pessoas em todos os territórios por onde passou e em Paris, a grande árvore que eu sempre conheci no vasto jardim da casa da Annie, foi derrubada destelhando o telhado da casa.  

         - Não suporto génios. Prefiro dar-me com pessoas normais, que são geniais levando a vida difícil que hoje as submerge, educadas e simples. Por isso, levantei amarras depois de uma curta discussão, que traduziu o desprezo que sempre nutri e nunca escondi pelos seus bonitos desenhos, as suas opiniões incultas e o seu saber vomitado, recolhido no Facbook a sua bíblia diária. “Tu não és nada”, atirou ele. Nesse dia, lembro-me, ia ao encontro da Alzira com quem almocei no restaurante do C.I. bem e a preço convenable. Pensava como pôde sair de uma cabeça formatada tal verdade que se aplica a nós todos menos a ele. E logo me ocorreu o poema de Álvaro Campos A Tabacaria que fui a balbuciar rua abaixo e tive de o decorar para a gravação do recital na Valentim de Carvalho, com a orientação do meu colega do jornal e amigo António Carlos Carvalho. Não resisto a transcrever alguns excertos do poema e peço desculpa se algum verso sai tresmalhado, trinta anos depois do trabalho realizado para o Estúdio 444, hoje transformado numa garagem de automóveis.  


Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


Janelas do meu quarto,

Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é

(E se soubessem quem é, o que saberiam?),

Dais para o mistério de uma rua atravessada constantemente por gente,

Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,

Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,

Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,

Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,

Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada do nada.


Mais adiante:


(Come chocolates, pequena suja;

Come chocolates!

Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.

Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.

Come, pequena suja, come!

Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!

Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,

Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)


sábado, novembro 04, 2023

Sábado, 4.

Há muito que os médicos passaram a funcionários públicos, com direito a fins-de-semana, sem se importarem com as pessoas que têm o azar de adoecer a partir de sexta-feira. Eu dando-lhes razão em muitas das suas reivindicações, começo a achar que estão a ir longe demais. Se todo o país e todas as profissões fizessem greve e exigissem 30 por cento de aumento, Portugal passava a ser o país mais desigual e o mais pobre da Europa. 

         - Há um beduíno que diz ao Público estas palavras esclarecedoras que provam que Marcelo não tem razão quando afirma que a culpa da guerra se deve aos palestinianos: “Daqui a um ano, dois anos, três anos, todas as pessoas aqui vão apoiar o Hamas” O homem vive entrincheirado na Cisjordânia. 

          - O presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), Henrique Araújo, denunciou a “corrupção instalada” em Portugal e criticou o poder político pela falta de vontade em fazer do sector judicial uma prioridade. Eis algumas das suas corajosas e iluminadas afirmações: 

“A justiça não é uma prioridade para o poder político. (…) Não vejo que haja por parte dos responsáveis políticos a vontade de alterar alguma coisa”; 

“Seria um bom instrumento para combater o fenómeno da corrupção que está instalada em Portugal e que tem uma expressão muito forte na administração pública. Isto não é uma simples percepção, é uma certeza”; 

“Sabemos que os casos de corrupção têm aumentado e, apesar de a investigação a este tipo de criminalidade ter aumentado, os resultados ficam muito aquém daquilo que se sabe que existe”;

“Quem fornece os meios aos tribunais é o Ministério da Justiça e isto está errado. Tudo deveria estar concentrado no CSM. O Orçamento do Estado deveria atribuir ao CSM uma verba, que este deveria poder supervisionar. Só assim é que se pode falar em completa separação de poderes”; 

À cerca da vinda do Papa a Portugal e da lei que permitiu a amnistia, deixou reparos ao que aconteceu entre os juízes com o CSM a arquivar nove casos de infracções graves e até muito graves: “Esta lei, ao amnistiá-los, apagando essas infracções, está a dar um péssimo sinal à sociedade”. 

         - Fui de manhã ao mercado dos agricultores e voltei para casa a correr. Aqui fiquei entretido com o muito que tenho sempre para fazer. Estou a reler a tradução de Frederico Lourenço dos Evangelhos Apócrifos. Quando o li pela primeira vez, fiquei rendido ao texto que é sublime. Daí ter voltado a ele, assim como a Morand que pertenceu ao Governo Vichy. A propósito esta saída do escritor francês: “Les Juifs ne sont pas une maladie; ils sont des mouches qui viennent se poser là où il y a de la fermentation.” Reli e corrigi 10 páginas do romance que me deixaram seguro do que escrevi. 


quinta-feira, novembro 02, 2023

Quinta, 2 de Novembro.

Fortes tempestades um pouco por todo o lado incluindo Portugal. Em França foi uma catástrofe com a Bretanha que eu tão bem conheço voltada do avesso. Todavia, os cientistas recusam atribuir estes fenómenos naturais à fúria do capital que não se contentará enquanto não espatifar isto tudo. E mesmo assim... As guerras encarregar-se-ão de destruir o resto. 

         - Assim a fúria dos israelitas com o ataque ao campo de refugiados de Jabalia, bombardeado três vezes e onde ficaram palestinianos, judeus e homens do HAMAS. Penso cada vez mais que o que move Telavive é a exterminação total dos pobres palestinianos. Neste entretanto, o Egipto abriu a fronteira, em Rafah (obra de Joe Biden), para deixar passar quem tivesse passaporte estrangeiro e aos feridos de Gaza. Guterres não se cala e faz bem; diz-se chocado com mais este assassinato em massa. 

         - Por aqui, de súbito, disenteria de construção. Pequenos terrenos são murados para dentro deles crescer uma vivenda. Diz-me a minha técnica operacional (dobra a língua), que é obra de um rapaz que em dois anos fez fortuna em França. Felizmente que ainda ficam longe do meu portão e, mesmo que viessem para mais perto, tenho área suficiente para não os ter em cima de mim. Veremos como a paisagem vai ficar. Ao velhote que mora em frente do que antes era um pinhal quando o confronto: “Ainda bem. É melhor ter gente que árvores onde à noite vinha todo o putedo.” 

         - Em carta datada de Fevereiro de 1880 Gustav Flaubert diz a Guy de Maupassant a quem tratava por mon cheri: La terre a des limites, mais la bêtise humaine est infinie. Ajusta-se ao que se passa em Israel e na Ucrânia.