terça-feira, novembro 07, 2023

Terça, 7.

Eu que não apreciava a actuação de António Guterres à frente da ONU, estou surpreendido com a coragem, determinação e lucidez que tem demonstrado no conflito israelo-palestiniano. A sua elocução de ontem catapultou decerto todos os que estão contra a desproporcionalidade bélica entre israelitas e palestinianos. Sobretudo com as mortes (fala-se em 4 mil) de crianças, mas também do povo anónimo, indiferente à disputa da histórica zona que desde cedo, logo depois de 1948, entrou em guerra contra árabes e palestinianos. Estes sempre recusaram a chegada ao seu território dos judeus, não só porque os haviam forçado ao êxodo, porque se achavam e com razão no direito a ter uma pátria e um Estado independentes. Os combates cessaram com os acordos, em 1949, mas a paz nunca aconteceu verdadeiramente. Israel fez dos palestinianos um povo de escravos que manipulava com desprezo e algum orgulho, ocupou-lhes as terras a pouco e pouco construindo prisões como os famosos colonatos, vigiando-os sob o domínio das armas. Para os árabes ele era o invasor e nunca aceitaram os acordos da criação de Israel. Aquele sempre havia sido o seu vasto território e a chegada dos judeus, seguindo a estrela de David, tal como nos conta a História Deuteronomística, era para eles uma história mal contada. Aquelas terras pertencem-lhes pelo menos desde o séc. VII até XIV, período das grandes conquistas árabes. Foi dali, após a morte do Profeta Maomé, que empreenderam as conquistas muçulmanas: Damasco em 636. Jerusalém em 638, Alexandria e Mossul em 641. A verdade é esta: a desagregação da zona adiou sine die a pretensão da Palestina a ter um Estado próprio, soberano e livre. O mundo inteiro alheou-se durante mais de meio século, fechou os olhos às atrocidades praticadas pelos israelitas e não admira agora que árabes e palestinianos se tenham cansado da humilhação, da pobreza e indignidade a que foram sujeitos durante todo o século passado. O Ocidente e os Estados Unidos, cozinharam sempre esquemas frágeis que expunham os palestinianos à sua insignificância e reforçavam o poder de Israel. O HAMAS, Hezbollah, Fatah ou Jihad Islâmica nasceram do desrespeito a que foram sujeitos todos os povos que sentem ter direito a defender o seu espaço. De resto, de resto, para quem leu com atenção o Antigo Testamento, sobretudo o grande período de Reinados, época em que a ideia de um Deus único se impôs, verificará que por ali as guerras eram terríveis e sangrentas e mais desumanas que se possa imaginar. Todo aquele vastíssimo território, nunca conheceu grandes períodos de paz. As vinganças, o derrube de “monarquias”, as guerras que dizimam aos milhares, foram o calvário da sua imensa e triste história. Que vinha do passado, da chegada do povo israelita a Canaã, acossado pela escravidão no Egipto. De seguida a dizimação por este, autêntico genocídio, praticado sobre os povos que lá viviam, em nome do seu Deus, YHWH. Apesar de tudo, hoje, somos mais humanos e civilizados. Isso graças aos gregos que nos deram de bandeja a Democracia e ao progresso da Filosofia, das Ciências Sociais, da aceitação dos Direitos Humanos. 

         - Ante isto, falar da pelintrice da política portuguesa, parece idiotice. Mas este trabalho é antes de mais o registo do tempo que me coube viver. E este de agora, como não me canso de afirmar, é sinistramente sinistro (aceitem o pleonasmo). Não há nada que seja claro e honesto na atuação do Governo. Os casos sucedem-se a um ritmo impressionante, como se o país fosse a reserva privada de uns quantos e nós seus escravos. A Iniciativa Liberal (pena o rabinho liberal) diz ter havido o pagamento indemnizatório de 400 mil euros a um gestor da Efacec. Instado, como aconteceu com a TAP, o responsável do sector, ministro da Economia garantiu nada saber. Depois é por estas e muitas outras, que eu apoio todas as reivindicações de todos os sectores profissionais e dos reformados, porque dinheiro nunca há para eles, mas não falta aos abrilhantados gestores, políticos, autarcas e por aí fora.  

         - Não vou sair, não quero fazê-lo. Irei ao fim do dia ao portão saber de correspondência e nada mais. Não chove e o Sol desce das alturas brando e luminoso, irmanando-se com o silêncio seu companheiro desde o princípio dos séculos. Estou de relações cortadas com o Black que não cessa de subir a banca da cozinha em busca de tudo o que encontra que satisfaça o seu apetite devorador. De manhã à noite não pára de miar, exibe uma pança igual à dos políticos anafados que nos governam, e ainda assim tudo o que lhe dou é pouco. Já lhe expliquei as diferenças entre ele e as galdérias que ele chama para aqui, tristes e escanifradas. Não entende, não nos entendemos. Todavia, hoje, terceiro dia do nosso desentendimento, vejo-o a rondar-me, miando docemente, abandonado e triste. Aperta-se-me o coração, mas tenho de ser firme não lhe faltando, claro, com a ração duas vezes ao dia. 

         - Depois de ter escrito o que aqui se expõe, pelas 13 horas, rebenta a bomba: António Costa, primeiro-ministro, pede a demissão por ser cúmplice em negociatas que envolvem, entre outros, o seu protegido, aquela silhueta cheia de tiques com nome João Galamba. Assim se percebe a razão pela qual não o demitiu. Todavia, o senhor António Costa, tem um processo à parte. Entretanto, foram realizadas buscas em São Bento (pela primeira vez, nunca tinha sido) na Assembleia, casas dos corruptos e foram detidos  por estarem ligados ao negócio do lítio e do hidrogénio verde, Vítor Escária  gestor das pastas e Costa e Lacerda Machado o melhor amigo do Costa. Um ou outro leitor pergunta-me se estou satisfeito depois de oito anos a pregar no deserto, respondo: infelizmente estou.