domingo, novembro 19, 2023

Domingo, 19.

A Amnistia Internacional confirmou num relatório sobre o conflito em Gaza que “as forças do Hamas usaram áreas abandonadas do Hospital Al-Shifa na Cidade de Gaza, para deter, torturar, interrogar, e infligir maus tratos a suspeitos, enquanto outras partes do hospital continuavam a laborar como centro médico”. Esta desumanização comprova a máxima do Hamas segundo a qual a morte é mais valorizada que a vida. Mas, se eu condeno estes horrores, não sou obrigado a reconhecer virtudes e direitos selvagens a Israel quando indiscriminadamente liquida a população jovem palestiniana que nada tem a ver com o choque ideológico e é portanto inocente.  

Foto do Público.

         - Pedro Sánchez na obsessão de conservar o poder de qualquer maneira, utiliza a regra socialista de alterar os fundamentos democráticos. Antes era contra a Lei da Amnistia acordada com os catalães de Puigdemont; agora para conseguir formar governo põe-na de lado, num gesto claro contra a Constituição de 1978. Eu simpatizo com a luta dos catalães, mas não suporto os malabarismos típicos de gente desonesta. Marcelo diria que é a democracia a funcionar; eu digo que é a democracia a enfraquecer. Felizmente os espanhóis são um povo bravo e logo desceram às ruas aos milhares (fala-se em 200 mil só ontem e em Madrid). Bravo povo que mantém os políticos em sentido. Sánchez não vai ocupar a Moncloa por muitos meses com aquela manta de retalhos que o apoia. O seu rival que aqui em Portugal dizem ser de extra-direita, vencedor das últimas eleições, senhor Alberto Núñes Feijóo, disse no dia da investidura do PSOE: “O senhor Sánchez não conseguiu o apoio de ninguém. Compro-o, assinando cheques que todos iremos pagar.” 

         - António Costa foi a maior e mais profunda desilusão de que há memória. Apesar de demissionário, prossegue o seu caminho de propaganda e mentiras descaradas. Nem tempo tem para olhar a sua obra: greves de anos em todos os grandes sectores, o país parado, mais empobrecido, desigual, cheio de corrupção, um leque de ministros que nenhum ficará na história, contando a sua passagem pelo governo apenas para o curriculum pessoal de cada um, a Justiça aos trambolhões, a Administração Pública desmotivada e com isso um péssimo serviço aos cidadãos, aumentos inconsequentes de impostos, os portugueses agrilhoados e humildes com esmolas, leis que se faziam num dia e se corrigiam no seguinte, apesar do apoio do Presidente ao “aluno inteligente”, conflitos e desencontros cíclicos, impunidades e compadrios constantes, afrontas a Justiça, lutas intestinas para que esta se submete-se à política, demissões de membros do Governo sem explicações, de outros acusados de patifarias que se recusavam a deixar o poder, negociatas obscuras, prepotências várias, enfim, um monstruoso quadro que não enobrece a passagem de António Costa à frente dos destinos do país. Honrado, sério e competente, era António José Seguro que foi pontapeado pelo actual presidente do PS e primeiro-ministro. A sua enorme seriedade, não o levou como aos demais a bater à porta da SIC, TVI ou RTP a pedir que o contratassem como comentador. Ele atingiu com dignidade o posto que teve e soube deixar o poder com humildade democrática. Há poucos, muito poucos como ele. 

         - Vou dar a palavra a António Barreto que as esquerdas detestam por ser um homem livre e lúcido:

“A nossa democracia não conseguiu, nas áreas da corrupção e da Justiça, ser melhor do que a ditadura. Tem mil vantagens. É superior em muitos aspectos, na liberdade, nos direitos individuais, na igualdade das pessoas, na cultura, na educação, no trabalho e na saúde. Mas na Justiça e na educação não consegue melhor.”   

“As modalidades de pequena e média corrupção abundam e são bem conhecidas. Uso privado de carros de função, realização de obras domésticas á custa de dinheiros públicos, nomeação de filhos e afilhados, pagamento de refeições caras, luvas de grandes negócios, estágios e cursos superiores em instituições reputadas, percentagens depositadas “lá fora” e avenças estranhas, de tudo um pouco, os portugueses conhecem bem.” Pois conhecemos com os elevados impostos que pagamos. 

         - Durante anos a portada da janela ficou fechada e no parapeito pacotes de livros que me haviam sido devolvidos pelo tribunal na acção contra o meu editor. Antes do Verão, com a Piedade, desimpedi a entrada da casa, estudada ao pormenor (como de resto toda a habitação) com o arquitecto e amigo João Biancard. Aqui queria eu ser sepultado (a história está contada algures), mas agora ao admirar a sua beleza que me faz estar muitas vezes extasiado a olhar o fluo que envolve o espaço, a luz que entra pelos vidros baços, a presença majestática da escultura do Manuel Rosa onde ficariam as minhas cinzas e as dos amigos que me quisessem acompanhar, a pedra que atapeta o chão, todo o hall respira memórias, silêncios, recordações da casa de Lisboa, quando ao longo do tempo fui adquirindo as peças de arte que um dia não levarei comigo, mas são hoje os instantes que abraçam na plenitude da beleza que aqui mora e me é cara ao espírito e aos anos de convívio que embelezam a minha vida e são a aisthésis que a preenche.