quinta-feira, novembro 30, 2023

Quinta, 30.

Morreu Henry Kissinger aos 100 anos. Andou activo até ao final, metido no jogo sujo da política, umas vezes exercendo a diplomacia do diálogo e da paz, outras as manobras do ódio e da guerra. Prémio Nobel da Paz pelo papel que desempenhou no Vietname, este controverso obreiro nunca deixou o palco da política que decerto o realizava e nela chafurdava como um obstinado na matéria.

         - A vida para além da morte sempre me interessou. E sempre tive curiosidade em conhecer quem espreitou esse universo que parece não ter fim; quem experienciou qualquer forma de EMI (experiência da morte iminente). O encenador Alexandre Ribeirinho quando o fui visitar ao hospital Curry Cabral, a primeira coisa que me disse foi “porque me trouxeram de volta, queria tanto ficar do outro lado”... Pedi-lhe que me contasse o que viu e ele falou-me com naturalidade de ter estado no início de um túnel, cheio de luz, onde o corpo parecia ter asas e a paz era tão gratificante e ele sentia-se tão bem... A isto chamam os ingleses Near-Death Experiences. Ora, o Figaro na outra semana, ocupa várias páginas sobre o assunto, entrevista cientistas americanos, franceses, ingleses, filósofos e sacerdotes. Cada um à sua maneira parece rematar que não morremos quando o cérebro pára, mas quando aquela actividade ligada à zona posterior do cérebro a que associamos consciência, aos sonhos, à meditação até que a recuperação da memória se esvai. Alguns testemunhos de pessoas que passaram pela experiência dum EMI, são claras a contar o que viveram em situações emocionais fortes,  perigos físicos, AVCs e assim. “J´ai traversé les barreaux de mon lit. Aussitôt une lumière blanche, une lumière-matière, m´a enveloppée: j´entrais dans une nuage. Je ne sentais aucun danger. Tout était accompli.” Outro testemunho, desta vez de um padre: “J´y vois le signe que Dieu tient davantage à nous, que nous à nous-mêmes. Dieu use de cette ultime ressource pour nous retourner vers Lui, et nous permettre d´entrer dans le coeur,  dans le noyau de l´âme.” Seja como for, os cientistas parecem convergir num ponto: esta experiência sem fronteiras, este imaginário do além, tem muito a ver com os aspectos culturais de cada um. Todavia, para mim, seja qual for o nosso tipo de vida, com ou sem amor, solitário ou comunitário, porque estamos em viagem, no momento sagrado do limiar do silêncio, no instante de partir somos confrontados com o saldo, o resumo essencial do que fomos. Porque não pode haver morte sem essa sacudidela forte que resume a vida. Como se o que deixamos para trás, nos fosse retribuído numa espécie de êxtase que reagrupa a existência arrastando-a para um destino que se consubstancia naquilo que fomos e não no que deixámos. Os cientistas tendem a associar a forma como amámos ao instante final. Talvez tenham razão se se tiver em conta o amor que Jesus Cristo introduziu no mundo e todo o Antigo Testamento nunca, mesmo uma só vez, o cita como princípio de relação com os outros. Por outras palavras, o outro enquanto fraternidade, enquanto ser total que nos irmana num só destino, numa só condição, foi o grande, o extraordinário mandamento que ficou entre nós desde há 2 mil anos. “La mort, je n´en ai plus peur, parce que je l´ai vécue”, dizia um judeu agnóstico.  

         - Aí está a provar que os portugueses não se deixam enganar e a vida só está boa para os socialistas que vivem num mundo que não se chama Portugal. Numa sondagem de ontem, 75% dos portugueses concordam com a demissão do primeiro-ministro. O homem sai de cena enlameado, humilhado, com o apoio da família e do restrito número dos seus correligionários. Só espero que o PS entre num período de nojo duradouro.