domingo, novembro 26, 2023

Domingo, 26.

Sexta-feira passei o dia com o João com encontro na Brasileira, almoço  no Tascardoso, tarde de longo passeio no Príncipe Real até ao Rato, com paragem em várias lojas que  no meu tempo de residente não existiam. Entre elas uma fabulosa livraria brasileira que me encheu de prazer pela diversidade de livros e autores, como pela atmosfera que se respira no espaço vasto e alegre, longe da soturnidade das suas congéneres do Chiado. Dei a ler ao meu amigo umas quantas páginas do romance, sem que antes o advertisse que sabia não estar alinhado com o romance, mas que ainda assim gostava de o ouvir sobre a atmosfera que naquelas se respira. Corregedor lê calmamente e eu vou acompanhando as expressões do seu rosto, da cabeça que acenava que sim às linhas que lhe passavam debaixo dos olhos, aos espaços que o obrigavam a suspender-se para saborear alguma passagem. No final, surpreendido, disserta agradado com tudo o que leu, e diz que muito do que ali está vai levá-lo a meditar. Todavia, se a personalidade de Ana Boavida não lhe passou ao lado, é nas fugitivas passagens de “carácter social” como, por exemplo, quando é dito que o pai da personagem principal e dirigente de uma empresa de ferro, explora os empregados com carga demasiada de trabalho. Pergunto-lhe se tropeçou nalguma passagem, se o clima se mantém ao longo da narrativa; assegura-me que o que interpretou lhe deu vontade de conhecer todo o romance, que faz pensar e está cheio de orações belas e poéticas e se lê sem qualquer esforço. Bref

         - O segundo dia de troca de reféns entre o HAMAS e Israel, correu com problemas como eu previ. De todo o modo, o acordo estabelecido pelos negociadores do Qatar, veio provar afinal que os “terroristas” não são tão desumanos como se dizia. Bem pelo contrário. A atenção dispensada aos que deixavam os túneis, às crianças que apareceram bem tratadas, tudo foi para mim uma boa surpresa. Por outro lado, esta guerra injusta como toda a existência dos palestinos, veio alertar o mundo para a vida desgraçada e humilhante que os habitantes da Faixa de Gaza levaram durante mais de meio século. Alguns países reclamam e bem, que a Palestina seja um Estado independente, governado pelos seus dirigentes. Netanyahu indignou-se. Irá prosseguir o genocídio até à última criança nascida sob as bombas, num campo de poeira e ruínas, sangue e morte. 

         - Assim que posso, escapo-me para casa. É aqui que me encontro bem, banhado deste psiu, sem nenhum intruso que me desvie do trabalho contínuo e lento. Não sei se conseguiria suportar alguém sob este tecto. Quem quer que fosse, exigiria como é normal, atenção, ligações práticas, convívio e conversa fiada, o oposto ao que hoje reina aqui, com os longos serões à lareira e o silêncio preenchido com o crepitar da lenha e o olhar atento dos mestres que inundam o salão com o seu saber milenário. Nestes dias outonais, parece que até o Sol que entra pelas janelas baixas e se insinua por móveis e lombadas dos livros, quadros e móveis, neste conforto sem qualquer espécie de luxo, sendo apenas o silêncio que abre as manhãs e fecha as noites, me encontro comigo e descubro em mim o ser solitário que nenhuma espécie de egoísmo pode galvanizar.  


         - À parte isso, como um monge que se entrega (não digo como o outro ao “misticismo da próstata” e seus derivados), mas ao trabalho constante que o campo solicita. Ontem pus termo à língua de matéria inerte saída do esforço de antes do Verão que se estendia por vários metros. Felizmente o vento corria de feição e pude reduzir a cinzas aquilo que a beleza abandonou por excessivo. 

         - Ai, ai! Aquela do camarada da esquerda do PS, candidato a primeiro-ministro, Pedro Nuno, apregoar que o Governo socialista do qual ele fez parte com um chorrilho de asneiras e alimento da corrupção foi “uma memória boa para os portugueses”, não lembra ao tinhoso. Que lata! Este tipo é perigoso porque não tem a noção do ridículo, da leviandade, da responsabilidade que é governar um país qualquer que ele seja. Isto é um terror e eu espero e estou convencido, que ele nunca chegará a chefe do Governo.  Cruzes! Mais PS, pitié, pitié! 

         - Entrada por saída no C.I. para comprar o jantar. Milhares de olheiros por todo o lado, poucos compradores. Mesmo assim, reservei-me num local pouco visitado e tendo levado o croché que, de resto, me acompanha para todo o lado, pude reler mais 10 páginas.