quinta-feira, agosto 31, 2023

Quinta, 31.

Somos um país imenso, com a democracia consolidada e crentes que qualquer afronta à nossa liberdade, é prontamente defendida pelos nossos parceiros europeus. Daí que aquilo que exigimos em limpeza de corrupção à Ucrânia, esteja banida desde que entrámos para a UE e nos transformámos num país exemplar onde políticos, gestores, homens de negócios são anjos da mais pura inocência. Daí que aceitemos como normal -dada a nossa dimensão e originalidade -, uma dezena de ditos homens honestos, convencidos que Portugal precisa deles para o governar a partir de Belém. Quase todos fizeram carreira tatibitates na televisão - a tribuna mais em conta e ainda por cima paga a peso de ouro para a realização das suas ambições. A eleição para a Presidência da República ainda vem longe, mas já eles se acotovelam a ver qual ocupará a função. Todos se dizem agora apartidários, mas todos se encostaram ao partido para tomar o poder. Devemos acreditar nesta gente? Ou somos tão pequeninos, tão idiotas, ignorantes e felizes, que aceitamos qualquer pequerrucho que se alcandore ao posto (sem esquecer a sua primeira dama). Marcelo até nisto fez a diferença.  

         - Segundo a Autoridade Tributária, a dívida fiscal incobrável no ano passado, cifrou-se em 904 milhões de euros! Desde 2012 que não se via nada assim. E diz o ministro das Finanças que as contas estão certas; e afirmam os empresários que é com o PS que ganham dinheiro. 

         - Passei uma parte da manhã a rachar lenha e de tarde fiz uns quantos frascos de compota de figo e amora. Sem, contudo, descurar o romance. Terminei, enfim, a cena macabra da relação sexual entre Ana e Ajustes. Para ela preparei o leitor com cerca de dez páginas. A própria cena reescrevi-a (parece-me) quatro vezes. Que mais? Voltei à piscina depois das férias do pessoal. Não havia vivalma. Perguntei porquê: as Festas das Vindimas que começaram hoje. E que mais? O Inverno pode chegar quando quiser porque a maior parte da lenha já se encontra empilhada sob o telheiro. Aqui trabalha-se e muitas vezes sem qualquer motivação; apenas porque a vida tem que continuar e abrandar ou encostarmo-nos, é deixar que os vícios se acomodem, a morte espreite e os dias caiam, derrotados.   


terça-feira, agosto 29, 2023

Terça, 29.

Num pequeno livro de Peter Handke, A Tarde de um Escritor, lido em 2012, sublinhei: “Ao isolar-me para escrever (há quantos anos já?) assumi a minha derrota como ser social; fechei-me aos outros para toda a vida. Mesmo que até ao fim eu continue a sentar-me com as pessoas – que me cumprimentam, me abraçam, me entregam os seus segredos – nunca pertencerei a elas.” Li estas palavras há instantes, quando subi à biblioteca de cima em busca de qualquer coisa que acabei por encontrar nas estantes aqui em baixo, e ao lê-las, sentado na cadeira em frente à janela com os vidros coloridos, disse para mim mesmo que nunca poderia aceitar viver sem os outros. Sou solitário, escolhi viver longe do ruído da cidade, mas estou e estarei sempre presente quando um amigo me chamar, uma revolta acontecer, a dor e o sofrimento requeiram a minha pessoa. Escrever é um acto solitário. Mas o que habita os livros é um imenso exército de seres humanos, feito de paixões, loucuras, mágoas e alegria! É nisso que assenta qualquer obra de arte – o resto é lixo. 

         - Por citações. Estou a terminar o volume V do Antigo Testamento (os Livros Históricos) e a páginas tantas, esta afirmação da mulher de Técua ao rei David: “Pois que pela morte morremos e seremos como água entornada no chão que não será apanhada. E Deus tomará uma vida e tomará isso em linha de conta quando ele rejeitar um rejeitado.” (2 Reinados. 14-14). Palavras que em verdade não são dela, mas de Joab nas disputas pelo poder, numa altura em que o rei David agoniza e Absalão quer tomar o lugar do velho rei que reinou em Hebron sete anos e em Jerusalém trinta e três anos. 

         - Jornada morna. Apatia. Cansaço. À parte leituras várias e três carradas de lenha recolhidas para debaixo do telheiro, regas e apanha de figos, não deixei este espaço nem para ir ao portão buscar o correio. Há quatro dias que somos acossados por um vento que vai e vem de rajada levando tudo na frente, deixando o chão de terra, varrido.  

         - Mais uma vez Sua Santidade o Papa deixou Putin a sorrir de felicidade e o Kremlin fala em palavras “muito gratificantes”. A Santa Sé diz que não foi essa a sua intenção, mas o que é certo é que louvar o imperialismo russo quando ele foi  praticado por czares e imperadores violentos e déspotas, não é a melhor forma de lutar contra a invasão da Ucrânia. Dizer que não se quer estar de nenhum dos lados, é aceitar que a guerra que Putin começou contra a Ucrânia, é legitima. Ou se quiserem, que o invasor foi a Ucrânia. José Milhazes volta depressa, estás perdoado. Põe os pontos nos iis e diz a esta gente ignorante quanto a destruição e o sofrimento de um país soberano e independente é obra  do nazi Vladimir Putin. Falar de paz sem especificar que tipo de paz e que tipo de fronteiras e territórios formam a paz, é fazer o jogo da Rússia.   


segunda-feira, agosto 28, 2023

Segunda, 28.

Sim. Não devemos ceder a esta trituradora sociedade de consumo. Depois de pensar um tanto, decidi comprar a mesa que tinha visto no fantasmagórico Centro Comercial Colombo. Como a mesa pertencia a rede de lojas com presença no Alegro de Setúbal, pensei que mando-a vir para a cidade sadina, me ficaria mais em conta a deslocação. Puro engano. Vir de Lisboa ou daqui perto era igual. Com mais esta estratégia para sacar o máximo ao dito consumidor. Resumindo: 40 euros para a deslocação, na condição de a mesa ficar à porta de casa; se os empregados tivessem de a carregar para o interior, tinha outro tanto de custo; se tivessem que a montar, acrescentariam mais 40 euros, etc., etc. Disse-lhes: “Chega de exploração. Comigo esses esquemas não funcionam.” E voltei-lhes as costas. 

Devido à ventania que aqui se instalou, o guarda-sol implodiu. 


domingo, agosto 27, 2023


Domingo, 27.
Marcelo regressou de uma visita à Ucrânia. Que dizer? Pessoalmente nutro sentimentos duplos acerca da sua personalidade e actuação política. Mas sei que tenho de me render à evidência: ele é como é, na sua idade não vai mudar. Sempre o conheci assim, mesmo no tempo em que nos cruzámos nas redacções dos jornais e em acontecimentos públicos. E se me permitem um conselho: que não mude pois de vira-casacas na política já temos que baste. Quando o comparo com todos os seus antecessores, ele é o mais original, aquele que não montou no cargo, não se aproveitou dele, o mais inteligente, o que mais sabe de política, o que encarnou a função como passageira, só, diante de dez milhões de almas, e desconstruiu a figura hierárquica acima de todos e de cada um, apanágio da sinistra excelência professor-doutor-economista-presidente Cavaco Silva. É por assim dizer um cidadão comum investido pela democracia não como o primeiro ( antigamente dizia-se assim e à mulher a primeira dama, coisa ridícula das ditaduras e de certas democracias), mas um entre os demais temporariamente colocado na presidência de todos. Por isso, apreciei sobremaneira a forma como nos representou na Ucrânia, as suas palavras encorajadoras, a sua coragem habilitando-se pelos escombros da guerra, dizendo sem rodeios o que tinha a dizer, colocando-se ao lado de Zelensky e indo ao ponto de falar em ucraniano (decerto não muito compreensivo para a maioria dos presentes), mas audacioso, jovem, divertido, acolhedor. Foi afectuoso, competente, transmitiu confiança e, mesmo que por vezes pareça ter excedido as suas competências, o que ficou foi uma bela imagem de Portugal e de união com o projecto europeu onde a Ucrânia é já parte. 

         - Houve algum alívio no calor, mas os dias continuam difíceis para quem tanto tem para fazer lá fora. As regas prosseguiram, assim como a apanha de figos, e o começo do alinhamento da lenha para o Inverno. Felizmente ainda não é este ano que comprarei lenha, e já perdi a conta aos anos que estou a utilizar a madeira saída do abate dos cedros em torno do lado sul da quinta. Na altura custou-me a dar 700 euros ao bombeiro que realizou o trabalho; hoje, somando os anos da sua utilização e o preço que estão a pedir por uma tonelada, verifico que foi um bom negócio. 

sábado, agosto 26, 2023

Sábado, 26.

Outro dia li o artigo da senhorita Ana Sá Lopes sobre os amores, melhor dizendo, o amor de Winston Churchill e Clementine. Partindo do princípio que nada no ser humano é natural porque ele é diverso na sua própria natureza, se a gentil senhora me permite, eu tenho outra versão sobre o estadista que muitos louvam, sem, portanto, haver unanimidade. A história da sexualidade de Churchill remonta à lamentável condenação de Oscar Wilde. Os amores do escritor com lorde Alfred Douglas, em 1894, sendo este que procurou o autor de De Profundis, espécie de mademoiselle que transitava de cama em cama, e que o extraordinário escritor teve a fraqueza de amar até à prisão de Reading Gaol onde esteve durante dois anos, por acusação do pai do aproveitador de relacionamento não só com o filho como com outros homens. Churchill estava em posição de ajudar o encarcerado, mas recusou. Talvez quisesse com o seu acto distanciar-se da sua própria condição, à época, como se percebe, nada abonatória. Depois, já ao comando das rédeas da política, foram alguns os favoritos do lorde do Almirantado. Vou citar alguns: Marsh Brooke, um tipo mais velho que o futuro primeiro-ministro, efeminado, conhecido por inúmeras paixões com jovens escritores e actores, quando morreu Churchill escreveu na Times: “Feliz, sem medo, versátil, profundamente instruído, com simetria clássica da mente e do corpo, tudo o que se desejaria sobre os filhos mais nobres da Inglaterra para ser." Seguiu-se outro jovem de beleza angelical: Sir Archibald Sinclair que ocupou vários cargos importantes ao lado de sua excelência. Outra paixão desta vez por um escocês muito bonito: Bob Boothby que fez seu secretário. Brendan Bracken, um jovem rude e esbelto, que tinha 22 anos em 1923, e integrou um grupo de homens chegados a Churchill, todos solteiros e bons rapazes, com reputação de homossexuais ou bissexuais. E outros mais a quem o dirigente político prometia altos cargos: Alan Lennox-Boyd, Ronnie, Victor, Cazalet, Jack Macnamara (um dos seus grandes favoritos que chegou a exercer funções militares importantes  durante a Segunda Grande Guerra. Parece que o grande homem também se afeiçoou pelo sobrinho do escritor Somerset Maughan. E passo porque há literatura suficiente que atesta os seus muitos amores. Sabe-se que Winston Churchill não apreciava as mulheres, tinha com elas um difícil relacionamento e já antes de 1914 havia lutado contra as sufragistas. Aliás, é a própria articulista que cita o médico pessoal de Churchill, Lord Moran, que escrevera 60 anos mais tarde que nunca viu Churchill interessado em mulheres. O Francis que sabe muito sobre a figura, falou-me há tempos em pinturas que o estadista teria feito (julgo que em Itália) de um ou outro dos seus preferidos. Julien Green que se dava com Maughan, detestava tal personagem. 

Oscar Wilde e Alfred Douglas 

         - A Espanha e por acréscimo Portugal, dois países dependentes do futebol, paralisaram diante de um simples beijo, a tal ponto que eu que pouco ou nada sei de futebol, mas alguma coisa de beijos, embarquei na carneirada que se revoltou chocada pelo beijo inocente dado diante das câmaras de todo o mundo pelo dirigente da Real Federação Espanhola de Futebol, senhor Luis Rubiales à jogadora premiada. Do que vi, tratou-se de um beijo no calor da vitória, que nem linguado foi (para utilizar a linguagem da ralé), absolutamente inócuo, entre duas pessoas adultas que sentem satisfação pela vitória alcançada. Um punhado de moralistas, feministas e quejandos, logo se pôs em bicos de pés contra a imoralidade e machismo do acto. E o oportunista, socialista Pedro Sánhez, que decerto nunca beijou uma mulher, entrou no barco do populismo para tirar dividendos numa altura de aflições partidárias. Com ele transpôs também a imprensa escrita e televisiva, como sempre do lado da maioria, mesmo que os valores sejam a salvaguarda da verdade e dignidade nacional. O mundo está perigoso porque está ridículo. 


quinta-feira, agosto 24, 2023

Quinta, 24.

E vão não sei quantos porque já lhe perdi a conta. A Rússia do ditador Putin desceu ao tempo das cavernas, à pré-história humana. Desta vez despachou de uma assentada  dez adversários políticos, entre eles o seu cozinheiro de outros tempos, o líder da Wagner senhor Yevgeny Prigozhin. Foi simples. Enfiou-os num jacto privado que levantou voo na direcção de São Petersburgo e explodiu a norte da capital. Este homem teve a morte que decerto esperava ter, pois quem com ferros mata com ferros morre. O senhor que se segue é, naturalmente, o nazi dirigente  da Federação Russa. 

         - Por falar no bicho. A Índia conseguiu esta quarta-feira aquilo que a Rússia não almejou: pousar no lado escuro da Lua. Mais uma derrota para o cruel nacional-socialista e uma vitória para a democracia. 

         - Ontem passei o dia às voltas em Lisboa. Depois do café tomado no sítio do costume com os costumeiros, fui ao Colombo - verdadeiro lugar de horrores, onde saltita uma turba de gente desocupada enchendo corredores, restaurantes, praças, num dolce far niente que nos interroga. O motivo que me lá levou foi a compra de uma mesa de jardim que substitua a de madeira que está muito usada. Encontrei o que procurava, e estou a reflectir se vale a pena gastar 400 euros. Bom. 

         - Dali fui dar um salto ao lar onde se encontra a nossa amiga Teresa Magalhães. Não a reconheci: cabelo cortado, esfinge de morte pousada sobre os lençóis, um tubo de oxigénio no nariz, os eternos gritos que voltaram e confrangem quem se aproxima. Falei-lhe, apertei-lhe a mão, mas (julgo) que não me reconheceu. Ali fiquei a fazer-lhe companhia, a meditar sobre a vida e o nosso fim, a nossa finitude. Ao fim de um quarto de hora, levantei amarras – falar para um corpo sem vida, que espera o minuto derradeiro, é coragem que exige um calvário de crenças e certezas. Passar para o outro lado, num país desorganizado, onde a vida vale o que vale, isto é, coisa nenhuma, sobretudo quando exangue de tanto trabalho e preocupações. Morrer em Portugal, é morrer duas vezes – de vergonha e humilhação, de desprezo e desumanidade. 

         - Resultado de tanto calcorrear: 8728 passos; 6 lances de escadas subidos. 


terça-feira, agosto 22, 2023

Terça, 22.

Jour heureux. Devo à escrita os dias mais felizes da minha vida. Esta manhã, durante duas horas, enchi página e meia do romance. O que veio, parecia empurrado por uma espécie de magia que dava vida às palavras e apaziguava o meu cérebro. A coisa foi tal, que acabou por incendiar as horas que se seguiram, dando movimento ao que tinha encalhado na desistência do muito que tenho sempre para fazer. Glória a Deus! E a Julien Green que me ensinou a técnica da escrita romanesca que hoje aplico. Tudo o que for além das duas, duas horas e meia de trabalho e concentração, é lixo.   

         - Não foi preciso muito para derrubar a maluquice e propaganda barata do senhor Carlos Moedas. As suas contas de merceeiro saíram furadas – Lisboa não ganhou milhões com as JMJ. Pelo contrário. Gastou aquilo que tanta falta faz aos pobres, aos professores, ao SNS, às condições habitacionais, aos reformados que viveram pobres e pobres irão morrer. O saldo sabe-se agora é negativo. É este tipo de gentinha que nos governa. 

         - Marcelo marcou pontos ao vetar o programa Mais Habitação. Depois de ler as tais 95 páginas do diploma, abrindo os olhos e reafirmando “95 páginas!” como a acentuar o exagero ou a montanha pariu um rato, refutou agora a monstruosidade. Em sentido lateral, entenda-se. Fala o Presidente de “confiança perdida”, porque o Mais Habitação foi incapaz de reunir consensos entre os partidos na Assembleia, tendo sido aprovado apenas com os votos daquele que o pensou e escreveu – o PS. Segundo M.R.S. o Estado não vai conseguir construir “salvo de forma limitada, e com fundos europeus (lá estão as habituais esmolas), o Estado não vai assumir responsabilidades directas na construção de habitação”. Por outro lado, adverte o Presidente, a burocracia é enorme, à moda portuguesa, de modo a desmotivar aqueles que vivem na rua. Por isso, o seu argumento: “O apoio dado a cooperativas ou o uso de edifícios públicos ou prédios privados adquiridos ou contratados para arrendamento acessível implicam uma burocracia lenta e o recurso a entidades assoberbadas com outras tarefas, como o Banco de Fomento (falido, digo eu) ou sem meios à altura do exigido, como o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana.” Por outro lado, crê Marcelo que o arrendamento forçado é “simbólico”, porque “fica tão limitado e moroso que aparece como emblema (leia-se político) meramente simbólico, com custo político superior ao benefício social palpável”. No concernente à famosa AL, junta Marcelo Rebelo de Sousa “a igual complexidade do regime de AL, torna duvidoso que permita alcançar com rapidez os efeitos pretendidos”.  Neste campo, o Governo pretende aplicar medidas como as que obrigam os titulares dos registos AL a fazer prova da manutenção da actividade ficando sujeitos a cancelamento de registos, “caso os alojamentos sejam considerados inactivos”. Depois este pormenor: “Nestas medidas ficam isentas as unidades exploradas em habitação própria e permanente, desde que a exploração não ultrapasse 120 dias por ano.” Lei bem ao gosto socialista, que sabe não ter meios de fiscalização. Na conclusão do veto, diz o Presidente: “não se vislumbram novas medidas, de efeito imediato, de resposta ao sufoco de muitas famílias em face do peso dos aumentos nos juros e, em inúmeras situações, nas rendas.” Resposta do Governo: “A maioria vai confirmar o diploma tal como ele está.” Tudo quanto a oposição da direita à esquerda disse do documento, não conta para nada. O PS quer, pode e manda. É a democracia socialista a funcionar. Todavia, de toda a contra-argumentação partidária, a única que me merece total concordância pela verticalidade, a isenção e o parecer bem documentado é a do PCP. Lamento, mas é assim. 

         - Canícula pura. Aqui no interior (parte nova que é antiga devido aos materiais que andei a rebuscar por todo o país) estão 30º C; enquanto na parte antiga registo 39º C. 

         - Encontrei no Alegro de Setúbal, uma ilha comercial que dava a conhecer aos clientes um batido dito natural, à base de vários produtos, que depois são incorporados no leite e mais não sei o quê, e resultam numa bomba calórica de morrer e chorar por mais. Conheci o produto em Paris, no mês de Maio, e experimentei-o. Só que lá, país pobre, pela mesma bebida paguei 2 euros; enquanto aqui como somos ricos, custa 7, 60 euros. 


domingo, agosto 20, 2023

Domingo, 20.

A seguir a demoradas regas, tomado o duche, fui a Setúbal assistir à missa das nove na belíssima capela do Senhor do Bonfim. Cheguei sobre o começo, o templo já a abarrotar de fiéis. Pensei ser obra das JMJ mas, olhando em volta, vi apenas três jovens no meio do coro de velhas e velhos. As raparigas e os rapazes, devem ter preferido a praia. Deus também vai a banhos. A propósito, tenho a registar um valente chocho da rapariga que estava a meu lado, quando surgiu aquela modernice de saudações antes da Comunhão. Como não esperava tal gesto, assustei-me e recuei. Mas a beijoca ficou marcada na minha face esquerda. Acalma-te, rapaz - não foi o beijo de Judas.  

         - Estive a ler a entrevista que o nosso precioso sociólogo, Boaventura, deu ao DN a propósito daquela merdelhice de cama que as feministas tanto gostam. A dada altura, interrogado sobre o tema, ele afirma: "Sou quase a única voz em Portugal contra a guerra na Ucrânia. Fui muito contra a invasão ilegal da Ucrânia pela Rússia. Mas sei que esta guerra foi provocada pelos EUA para neutralizar a Rússia - e para tentar neutralizar a China. (...) O que tenho dito causou escândalo e havia interesse em calar-me. E de facto calaram-me." Se o conseguiram calar, foi um favor que lhe fizeram e a todos nós. Primeiro, porque ele não é o único a condenar a invasão da Ucrânia. O João Corregedor e todos os camaradas do PCP também estão do seu lado. Segundo, porque as contradições desta gente imobilizada nos Anos Sessenta são abissais e não se dão conta. Veja-se: ele foi contra a invasão da Ucrânia levada a cabo por Putin, mas atribui o crime aos Estados Unidos “para neutralizar a Rússia”. É de doidos tal visão. Ou talvez não. Porque os comunistas mantêm esta permanente barreira: ou se está a favor do regime nazi russo e contra a América ou vice-versa. É uma rega dogmática e simples para caber na cabeça dos militantes na sua maioria velhos sem cultura – o dito proletariado, hoje traduzido pelo "nosso povo”. O mais difícil de entender é como podem eles defender um ditador igual a tantos outros que estão sepultados no mofo da História, e terem combatido no seu país outro ditador que se lhe assemelha. Só posso tirar esta conclusão: há tantas ditaduras consoante as ideologias e os interesses. Que faz a liberdade e os direitos humanos no meio desta marmelada? Ora! 

         - Mas não se pense que só o senhor Boaventura Santos tem esta bizarra visão dos factos. Também o parlapatão e corrupto Sarkosy traduziu em livro as suas confrangedoras ideias sobre o caso. Ele propõe um referendo sobre os territórios ocupados, incluindo a Crimeia. Quer dizer, quando um país qualquer invade outro soberano e independente, segue-se um referendo para ver quem passa a dominar o quê. Isto porque “qualquer regresso ao que era antes é uma ilusão”, Sarkosy dixit. E saiu-se com esta boutade: “Vladimir Putim não é irracional. Que quer o ex-líder francês com este passo à frente? A estar atento. O homem devia estar na prisão, mas ao que parece anda à solta, provavelmente incumbido de fazer a divisão dos europeus. 

         - Que Putin é um derrotado, é um facto visto de qualquer ângulo. Ou será que também pertence aos Estados Unidos a entrada na NATO dos Países Baixos que com a Dinamarca estão hoje na linha da frente para fornecerem aviões caças F-16 à Ucrânia antes, portanto, dos EUA? 


sábado, agosto 19, 2023

Sábado, 19.

Estive a ler o Público de hoje que consagra largas páginas ao estado do clima. Grosso modo não aprendi nada de novo, e continuo a verificar que os “especialistas” nunca atacam a origem (ou origens) do estado actual do Planeta. Macron, coitado, impôs agora uma taxa aos que viajarem sós nos seus automóveis. Taxas é o que os governantes mais gostam de aplicar, não só porque dá dinheiro como porque é fácil de implementar. Verdadeiramente, com o apoio dos lóbis da coisa, ninguém quer perder nada do que conquistou. Que eu saiba, os fogos não acontecem porque está calor, mas porque interesses de ordem vária e doentes mentais os fazem acontecer. Basta olhar para o que se passa no Canadá onde nas últimas semanas arderam 14 milhões de hectares de floresta e 20 mil pessoas foram desalojadas. Tenerife segue-lhe os passos e tantos outros países. Por cá há dois tipos de incêndios: os que nascem da incúria e analfabetismo dos agricultores que restam de uma geração impreparada e dos criminosos e tarados mentais. Uns e outros dão o mote a António Costa e aos senhores protectores do Planeta, para encher os cofres do Estado à nossa custa. Quando lhes convém e favoreça a sua imagem, como aconteceu com as Jornadas Mundiais da Juventude, o Planeta desaparece ou entra em stand-by. 

         - Se quiser dar crédito ao meu iphone, o coxinho, coitadinho, coxeia cada vez mais e melhor. A semana passada a média diária de passos foi de 2956. Sem falar no número de lances de escadas escalados. Devia haver também o registo das páginas lidas por dia. 

         - Estive à volta dos tachos várias horas. No final resultaram quatro grandes frascos de compota de figo que vos afianço estar uma delícia. Entretanto, enquanto a coisa ia cozendo, eu lia o ensaio de Edward Wilson-Lee sobre Damião de Góis e Luís de Camões. A cada duas páginas, remexia o fruto e quando cheguei à página 20, tinha o trabalho terminado. Posteriormente foi enfrascar não sem que antes tivesse escaldado todos os vidros. Muito calor esta tarde por aqui. 


sexta-feira, agosto 18, 2023

Sexta, 18.

Acordei choné muito embora tenha dormido sete horas seguidas. Às nove da manhã fui com o carro à inspecção a Azeitão. Um pouco antes, sentindo-me lento e taralhouco, parei num café a enfiei uma bica. Não funcionou. Com a máquina no sector da parafernália de objectos que controlam tudo e mais alguma coisa, o técnico diz-me que faça pisca para a direita e eu fazia para a esquerda e o contrário, travasse e eu acelerava, ligasse os máximos e teve que vir ele fazê-lo porque eu não atinava com o comando. Tanta tonteira a que se deve, quando habitualmente adoro o rompimento do meu quotidiano ritmado pela escrita, a leitura e os pequenos-grandes trabalhos na quinta? Contudo, dali fui ao técnico da roçadora a caminho de Setúbal e, de súbito, todo o meu sistema nervoso acordou e eu reconheci-o nos mínimos lampejos de cada gesto. Mistério. 

         - Mais um drama com migrantes. Desta vez com infelizes do Senegal despachados num barco para a morte. Andaram mais de um mês à deriva e a piroga veio a ser resgatada nas águas de Cabo Verde. Dos 101 migrantes, 63 morreram à fome ou desidratados. A maioria são jovens em busca de uma vida melhor. Quando nos veremos livres deste drama? Vergonha das vergonhas de uma Europa que finge desconhecê-lo e chora lágrimas de crocodilo quando é confrontada com a tragédia. 

         - Rebentou mais um escândalo. Portugal é useiro e vezeiro neste tipo de crimes. Falo da operação “Tempestade Perfeita”. Ao todo, até agora, estão acusados sete funcionários do ministério da Defesa, dos quais três altos quadros, 36 empresários e seus familiares, assim como 30 empresas. Corrupção activa e passiva, branqueamento de capitais, peculato e não sei mais o quê. O principal desta actividade criminosa, vem do tempo em que João Cravinho era ministro da Defesa. Eu gosto do homem, da sua dedicação às causas e actividades que exerce ou tem exercido, sempre com espírito de missão, humilde, discreto. Mas se tiver mão neste rol de crimes, deve ser julgado e, do meu ponto de vista, já devia ter renunciado ao cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros.

         - Vem aí mais um familiar do vírus chinês. Chamam-lhe EG.5 ou Éris. A OMS diz que não é muito contagioso, mas que pouco se sabe ainda do bicho. Seja como for, os parentes tenebrosos do SARS-COV 2, parecem ter vindo para ficar e são muito apreciadores de gente idosa. Eu que já me vou arrumando nesse grupo, não tenciono vacinar-me embora esteja sempre atento à sua evolução. 

         - Apesar de o dia ter começado titubeante, o facto é que estou agora (16 horas e dezoito minutos) em plena forma. Não se trata de atarantação, de mexida de boneco articulado, trata-se da imbuição de uma forma de paz interior que me é familiar. A tarde parece ter-se deitado sobre o meu corpo, toldando-lhe os sentidos, afastando as dúvidas e as incertezas e trazendo a cada minuto a terna presença de algo misterioso que me arrasta paralisando-me. Ficar imóvel a sentir o tempo viver para mim, colher o silêncio como ruído de algo vindo da estratosfera, medir o silvo que o acompanha, deslizar sobre as horas até ao princípio imaculado do ser...       

         - Prometem-nos para a próxima semana mais do mesmo, isto é, 40 graus Celsius. Com eles os incêndios, os avisos do ministro da Administração Interna, o garbo dos bombeiros, as aflições das populações, o abalo nas férias dos governantes, coitadinhos. 

         - Os políticos no nosso país são tão foleiros, artesanais, rústicos! Que tristeza.


quinta-feira, agosto 17, 2023

Quinta, 17.

O PSD pela voz do seu dirigente máximo e de uma forma propagandista e demagógica que só convence os tolos, vem acenar ao povo pobre e a viver em condições miseráveis, que quer reduzir o IRS em todos os escalões. O PS que gritou durante anos que o PSD foi o campeão dos impostos, logo que se instalou começou pouco a pouco a carregar na carga fiscal até se tornar no partido que mais escravizou os contribuintes com cargas insuportáveis dos mesmos. O que um e outro não explicam, é como se pode ter uma vida equilibrada e feliz, continuando o país a viver de empréstimos, de dinheiro vindo daqui e dali, sem indústria e sem capacidade de trabalho e produção de riqueza. Estes políticos demagógicos não têm visão, não são capazes de pensar Portugal num horizonte rasgado. Vivem o momento, a ganância de poder, e sabem que o povo satisfaz-se com qualquer merda de dez réis de mel coado que lhe oferecem. 

         - Aumentou para 110 o número de mortes no Havai. A ilha Maui parece ter sido a mais atingida. Mas o saldo está longe de fechar. Ali como por todo o lado, neste mundo voltado do avesso, as negligências públicas apontam para grande parte da dimensão do sinistro. As sirenes não tocaram a avisar as populações, a electricidade não foi cortada nem no inicio do fogo, nem depois. O chamado funcionalismo público, que deve estar ao serviço das populações, está para adorar e defender o seu próprio umbigo e, sobretudo, reivindicar melhores salários, regalias, horas de sono. As democracias não sabem como lidar com o mundo de hoje. Os dirigentes preocupam-se consigo próprios, com as honrarias, os altos vencimentos; os súbditos seguem-lhe os passos e cada um por seu turno marimba-se para a democracia e a defesa dos seus concidadãos.  

Uma cidade inteira calcinada. 

         - Enquanto a Piedade se ocupava da casa, eu andava lá fora a regar, a apanhar figos, uvas, a lavar o carro. Esta quinta este ano parece um celeiro. Nunca tive tantos figos e brevemente vou recolher maçãs de várias qualidades, a seguir dióspiros, por fim romãs e marmelos. Antes de empreender alguma viagem, quero recolher a lenha para debaixo do telheiro, depois de cortada e rachada. Que venha o Inverno, o doce e terno Inverno que me fará mergulhar a fundo no romance e recuperar as horas de sono que o Verão me surripia todos os anos. 

         - O livro de Henry de Montherlant, Un Voyageur solitaire est un diable, ainda não subiu à biblioteca de cima. Está profusamente anotado e sublinhado, e transcrevo para aqui estas frases que dizem bem da sua personalidade e nos servem a nós de epígrafe mais do que nunca da realidade: “L´intelligence isole. L´indépendance isole. La franchise isole. Le corage isole.” Eu acrescentaria: a honestidade isola. 


quarta-feira, agosto 16, 2023

Quarta, 16.

Depois do almoço no Adega da Mó com o João Reino, instalei-me no café da Fnac para mergulhar no romance. Trabalho lento, mas consistente. Esta semana ainda não passou um dia sem trabalhar, entre o romance e este diário, pelo menos quatro horas. Ninguém imagina o bem que este ritmo me faz. Sem a escrita não posso viver ou viverei carregando um manto pesado de tristeza. Preciso tanto daquelas horas, a sós com as minhas personagens, a escutar-lhes os sentimentos, a demorar-me no seu convívio pelas lentas e frescas manhãs deste Verão tórrido. É tudo tão imprevisto e muita da acção, surge na volta de uma frase, no lampejo de uma ideia, no fundo de um pensamento vindo à tona pela força da indispensabilidade da quietude e solidão que acompanha a criação. A minha família é esta que eu crio e recrio em cada hora do dia. Doutra não necessito, porque esta abastece de fundamental a minha existência. 


segunda-feira, agosto 14, 2023

Segunda, 14.

Fazem-se agora as contas da JMJ. Gastou-se à tripa-forra com autorização especial do Governo que é o dono disto tudo. Apesar de ter havido quatro anos para se preparar o acontecimento, uma grande percentagem dos contratos foram por ajuste directo e só 7,5% por concurso. Imagina-se as borlas e negociatas que andaram por aí a correr e que agora o presidente da Câmara de Lisboa e o primeiro-ministro, dizem ter sido um negócio barato a vinda do agente turístico ao nosso país, Sr. Jorge Bergoglio. Eu calculo que ao todo a coisa deve ter andado muito perto 120 milhões. 

         - No rescaldo da festa, quem perdeu e de que maneira, foi o Planeta. As toneladas de alimentos estrados, as montanhas de lixo pela cidade, os CO2 enviados para a atmosfera devido à deslocação dos peregrinos – aviões, automóveis, autocarros, barcos. comboios – numa loucura que estou convencido pouco ou nenhum contributo trouxe à fé e, sobretudo, aos que tanto precisavam do dinheiro para não morrerem à fome, terem uma vida digna,  saúde e velhice respeitáveis. Eu não estou contra a vinda do Papa. A verdade é que passámos uma semana no céu, afastados da banha da cobra da política. 

         - A propósito, já agora, as Jornadas da Juventude, também deram azo a muitos delírios político-partidários. Como o caso daquele artigo do Público, assinado por Fernando Rosas, tendencioso até dizer chega. Diz o insigne professor referindo-se ao assunto: “a mais grave violação do princípio constitucional da separação do Estado e das Igrejas desde que foi institucionalizada a democracia”. E mais adiante: “... investir somas do erário público deste montante (ele fala em 80 milhões) como privilégio cerimonial de uma crença religiosa é social e politicamente imoral. Poupem-nos às justificações deliquescentes dos idílicos jardins floridos”, acrescenta. Até estou em parte de acordo. A pergunta que me ponho, é a de saber que diferença há em receber o soberano representante do Estado do Vaticano e Putin ou Xi Jinping. Dir-me-ão o Estado português é laico. Tudo bem e depois? Se o ditador da Rússia ou da China viessem a Portugal o nosso país não é (por enquanto) uma ditadura. Portanto, empregando o mesmo raciocínio, devíamos tratar qualquer dos dois dirigentes com distanciamento pois Portugal é democrático.  Ou, no extremo, nem os receber. Podemos pôr o assunto doutro modo: Francisco veio em nome da fé; os outros em nome dos negócios e das ideologias.  Se o Papa foi acolhido como “vendedor” da fé; os outros vendem negócios e filosofias concomitantes. A questão de base é esta: se Fernando Rosas se limitasse a discutir as verbas colossais empregadas, tinha o meu apoio. O problema é que no artigo subjaz a sua posição ideológica – e por isso nos separamos. Já agora mais esta. Quando a rainha de Inglaterra, Isabel II, veio a Portugal, despendeu-se fortunas. Alguém se indignou? Mais: se o Estado é laico, e o Estado são os seus habitantes, isto é, oitenta por cento de portugueses católicos! Esta simbiose dá que pensar no que se chama vulgarmente “a política”.  Ou não dá? 

         - Há dias que nos chegam imagens impressionantes do Havai. Um ou vários incêndios arrasaram duas ilhas do arquipélago por completo. Lugar outrora de felicidade para os nativos e turistas. Pelo menos cem pessoas morreram calcinadas e o saldo de tanta desgraça e destruição ainda não foi feito.   


sábado, agosto 12, 2023

Sábado, 12.

Afinal o Papa Francisco trocou as voltas aos fiáveis jornalistas, que davam por certa a nomeação a cardeal de Lisboa do sacerdote-político, que se distribuía em viagens e intervenções nas televisões não digo aéreo, mas beato. O pretendido foi o bispo Rui Valério com obra realizada e personalidade fascinante de eclesiástico. Excelente escolha. 

         - Ainda podemos ter alguma esperança na Justiça. O Tribunal Constitucional, reforçou a sentença contra os energúmenos que mataram o imigrante Ihor Homenyuk no aeroporto, inspectores do SEF Luís Silva, Duarte Laja e Bruno Sousa, em Setembro de 2021, em nove anos de prisão pelo crime de ofensas corporais agravadas que resultou na morte do infeliz.    

         - A corrupção é a maior praga dos regimes democráticos, porque quanto aos outros é livremente aceite como sustentação dos que detêm o poder. Ora a Ucrânia tendo sido governada por agentes de Putin, não fugia à regra – a corrupção está instalada mesmo em tempo de guerra. Vai daí, Zelensky, perante a podridão dos chefes regionais de recrutamento militar que utilizavam esquemas de corrupção na admissão ou exclusão dos mancebos, decretou que só os que estiveram em combate são “pessoas a quem se pode confiar o sistema de recrutamento”. Por isso, para o lugar dos corruptos vão os deficientes e os que perderam a saúde em combate. Medida curiosa e humana e socialmente interessante.  

         - A Federação Russa de Putin dá que pensar. Enquanto a Europa e os Estados Unidos tudo dizem ter feito para pôr de rastos a sua economia, eis que os russos acabam de pôr em órbita o módulo Luna-25 que alunará daqui a duas semanas. Desde 1976 que ensaios desta envergadura não aconteciam.  

         - Fiz quatro frascos de compota de amora. E chega. Estou picado nos pés e pernas, mãos e braços. Basta!


sexta-feira, agosto 11, 2023

Sexta, 11.

Depois do exame oftalmológico, fiquei um bom pedaço de tempo a falar com o clínico. Falei-lhe do suplemento, à base de luteína, recentemente posto no mercado por cientistas gregos, que me tem feito muito bem. Ele foi à Internet pesquisar e não tendo encontrado eu disse-lhe que lhe enviaria foto. Mas acrescentei que não é bom procurar curas na Internet porque esta só nos traz tragédias. Perguntei-lhe se tinha detectado qualquer aspeto de glaucoma no olho esquerdo como suspeitava a médica que me observou há três meses e eu sabia nada ter. Disse que não. Tanto uma como outra vista estão perfeitas e sem problemas. Adiantei que só me queixo de ter de fechar o olho direito quando há muita luz e quando trabalho no computador. Deu-me várias explicações para o fenómeno, mas remeteu-me para a consulta marcada para o próximo mês. À saída atirou: “Você tem aspecto de quem tem cuidado com o que come e com a vida que leva.” “Como é que adivinhou?” Riu-se. Então eu respondi: “Sabe eu pratico a disciplina dos sábios: dormir o máximo, trabalhar muito, comer pouco, e evitar os médicos.” Forte gargalhada de quem não teria quarenta anos. 

         - Por vezes, sou convidado a escrever um texto para catálogo ou contracapa de livro. Foi o caso de segunda-feira de X. que não estava à espera o fizesse. Não me descompus e disse-lhe que precisava de ver o que necessitava do meu escrito e só depois diria se estou capacitado para o fazer. E porquê.  

         - Agradável dia o de ontem, não obstante o intenso calor. Estando em Caldas da Rainha, tinha forçosamente de abrir a primeira hora no seu encantador mercado na praça principal. A Alice e a mim, por convite dela, juntou-se a minha antiga camarada do Diário de Lisboa, a terrível Lurdes Féria. Muito fanada, com problemas de locomoção, mas de espírito vivo disposto a perseguir esta e aquele como o fez no jornal Independente. Pena que tivesse estacionado a vida nos Anos Sessenta. Dali fomos almoçar a casa da minha amiga, com vista para quatro hectares do célebre jardim que eu acho superior ao da Gulbenkian. Já lá vamos. Por agora estamos sentados no salão diante de um polvo salteado de grandes camarões, acompanhado de migas alentejanas e arroz de tomate, e vinho a condizer. Para a mesa, são despejadas apreciações políticas deste e daquele (a minha camarada diz que já deixou o PCP onde militou anos a fio), com particular ênfase em José Sócrates que é amigo dela e por isso perdoado de todos os roubos e fortuna conseguida sabe-se lá como. A dada altura deixei de rebater os seus entusiasmos partidários, embora a acompanhasse nos elogios a José António Seguro e ao seu ódio de estimação a António Costa que ela diz ser “o maior aldrabão”. Quanto ao actual ministro da Cultura, é mais condescendente porque o conhece pessoalmente, lá está, apesar de me dar razão que não é a pessoa indicada para o cargo e foi lá posto por abençoar e persignar-se diante do seu patrão.  A refeição terminou com um bolo feito com a folha da Ora-Pro-Nóbis – uma pequena árvore (Pereskia aculeata) que tomou este nome e ao que parece é bastante rara. 

Como raro é o jardim que percorremos a seguir ao lauto almoço. Todo construído pela Alice, só, trabalhando de sol a sol, com tenacidade e entusiasmo Uma parte sofre agora de seca e a minha amiga sofre com ele. Disse-lhe que abrisse um furo hertziano como eu aqui fiz logo que terminou a construção da casa. Ela diz-me que não tem dinheiro e, embora eu me propusesse emprestar-lhe o necessário, recusou por não querer endividar-se. Seja como for, o facto é que o labor praticamente de uma vida, pode ser devastado  e isso faz pena. É uma dor para ela e para as árvores, flores, arbustos, pontos de ligação florestal, recantos belíssimos onde apetece morrer naquela impressionante paisagem luxuriante em contemplação e paz.


quarta-feira, agosto 09, 2023

Quarta, 9.

Os fogos aí estão. Com as temperaturas a rondar os quarenta graus, e muitos loucos a semear a desgraça, ei-los a destruir milhares de hectares em Odemira, Cinfães, Mangualde, Proença-a-Nova, Castelo Branco e passo. É o calvário habitual todos os anos, pese embora a esperança que este ano fosse melhor, devido ao excelente trabalho do ministro da Administração Interna. Não obstante, os guardas-florestais marcaram greve nacional para 14 deste mês. Espanto? Eu, não. De todo o modo, a questão dos fogos prende-se com aquela afirmação do presidente da AGIF, Tiago Oliveira, segundo o qual os bombeiros recebem percentagem por cada área ardida. Não sei se é verdade nem quero imaginar que seja. Agora eu escuto por todo o lado tal acusação há anos. 

         - Ficou-me na memória dos sentidos, duas imagens da presença de Francisco entre nós: uma de Fátima; outra do altar do Parque das Nações. A primeira, daquela rapariga italiana deficiente, que rezou com a multidão uma estação do Rosário, numa dicção quase incompreensível, e me comoveu até às lágrimas; a segunda, do jovem de 24 anos, recém formado, que remata a sua alocução dirigida ao Papa antes da missa de Envio, dizendo que quer ser um santo. Duas situações-limite que tocam na volta dos extremos. 

         - Apesar da vida agitada desta semana - ontem consulta no Gama Pinto, hoje almoço aqui com a Alzira -, nem por isso a escrita foi negligenciada. Tenho avançado. Contudo, o que me saiu sem esforço ontem, foi hoje destruído quase completamente. Pensando bem, quando me ergui da cadeira no lugar secreto do Corte Inglês, onde não vejo vivalma e me posso concentrar no conforto do ar condicionado, tive a sensação da insatisfação que traz a facilidade. Andei a pensar no trecho e esta manhã removi-o com prazer. 

         - O almoço que preparei para a amiga de muitos anos, foi em agradecimento por me haver convidado há duas semanas antes de partir para o Algarve. O encontrou foi no último andar, no restaurante panorâmico do C.I.. Gosto de cultivar as relações, adoro estar à mesa em amena cavaqueira ainda que não seja um bom garfo e coma fora como o faço cá em casa. Mas sou sobretudo reconhecido aos gestos que os amigos têm para comigo. Coisa fora de moda, pois são algumas e alguns os que eu convido para a minha mesa e nunca retribuem, como se tivesse sido obrigação da minha parte. A vida hoje não é reciproca, é antes um constante aproveitamento do outro. Daí que o isolamento seja perigoso e cresça por todo o lado, sobretudo nos mais velhos. É frequente reparar que os idosos tem tendência a achar que todos lhe devem e ninguém lhes paga. Nunca (ou quase) telefonam, porque entendem que são os outros que estão obrigados a fazê-lo. Este é o principal sinal de vetustez.  


terça-feira, agosto 08, 2023

Terça, 8. 

Dão-se alvíssaras à organização das Jornadas Mundiais da Juventude e a justo título. De facto, a Igreja, as edilidades de Lisboa e Loures e outras, as polícias, os 30 mil jovens voluntários, enfim, todo o mundo trabalhou com brio e dedicação para um acontecimento de grande importância para a Igreja e Portugal, não pelas razões (sempre as mesmas, não há pachorra) da classe política, mas na esperança que algo mude na Igreja Católica Portuguesa e também nas consciências da malta jovem. Gostei particularmente da Via-Sacra transmitida do altar do Parque Eduardo VII, com a encenação entre cada estação e a mensagem forte de Francisco “todos”, “todos”, “todos”, referindo-se à Igreja enquanto mãe que acolhe cada um e todos sem excepção. A este propósito, não quero deixar de dizer que considero o trabalho artístico deste altar, superior ao da Expo que julgo ter custado o dobro. 

Justamente, neste local, afluíram 1 milhão e quinhentos mil peregrinos, um record nunca visto, sob temperatura acima dos quarenta graus. Lá tiveram lugar a Vigília e a derradeira missa dita de Envio, concelebrada por 30 cardeais, 700 bispos e 10 mil sacerdotes. Gostei muito da missa cantada, julgo que expressamente composta por Manuel Fernandes Gonçalves e dirigida pela maestrina Joana Carneiro. Já o que disse Sua Santidade e que tanto impressionou os presentes, não foi nada de original. Aquela “não tenham medo”, já tinha sido anunciada por João Paulo II, julgo que em França, “non avere paura” e a outra de olhar de cima para baixo quem necessita de ajuda, se não estou enganado, pertence a George Orwell. Dito isto, não quero desmerecer o Papa Francisco, embora o veja como alguém que domina a imagem e é politicamente interessado na... política. Não aprecio (já aqui disse e reforço) a sua posição face à guerra na Ucrânia. O PCP apreciou a sua presença e inocência no nosso país, talvez porque tenha encontrado muitos pontos de convergência. 

         - Contudo, devo confessar as minhas dúvidas sobre tudo quanto perpassou pelas Jornadas Mundiais da Juventude. Ainda o Papa se encontrava entre nós, já os homossexuais eram escorraçados de todo o lado. Não só do parque Eduardo VII, mas de uma missa celebrada pelo nosso querido Bento Domingues. À missa estariam uns quantos católicos homossexuais (como me recordo do sofrimento de Julian Green por se sentir fora da Igreja e do bom apoio do padre Couturier que nunca o abandonou), quando uns sacripantas entraram na igreja para os enxotar. A polícia foi chamada a intervir. 

         - Eu acompanhei os registos televisivos pela SIC. Não suporto aquela personagem, dita escritor e o melhor depois de Aquilino Ribeiro segundo João Soares, naquele tom e sobredosagem visual, que diz ter aprendido na BBC de Londres, até a piscadela de olho ridícula no final do telejornal, tudo bem assimilado. Prefiro mil vezes a sobriedade, competência, elegância de Bento Rodrigues. Para mim é neste momento o melhor jornalista de todas as cadeias televisivas. Pena que as ditas jornalistas coadjuvantes, sejam tão medíocres, e interroguem as pessoas quando no seu recolhimento espiritual, “Então, está a gostar?”, “De onde vem?”, “Quantos vieram consigo?”, banalidades destas. 

         - Apesar do calor ou talvez por isso, o meu vizinho não pára de sulfatar a vinha com todos os químicos que inventa ou lhe permite a lei. Anda aí um homem há dias (domingo incluído) sob altas temperaturas, a regar de compostos químicos este oceano de vegetação. Tenho pena dos que apreciam aquilo a que “chamam um bom vinho”, que mais não é que uma injecção de produtos químicos prejudiciais à saúde. As abelhas quase desapareceram e as poucas que vejo, trato-as como divindades.   


domingo, agosto 06, 2023

Domingo, 6.

Pronto. Voltámos ao inferno com o mafarrico do António Costa a fazer o resumo de uma semana santa: acontecimentos como este das Jornadas da Juventude, são muito úteis para a economia e o turismo, sentencia sua excelência. Todos sabemos que a base do socialismo à portuguesa é a riqueza. Daí a dolorosa adaptação a um mundo político onde as pessoas não contam, Deus está ausente, e só a propaganda barata merece realce. Costa, o primeiro-ministro, não compreendeu absolutamente nada do que aconteceu em Portugal com a estada de Sua Santidade o Papa Francisco entre nós. Pobre homem, sem horizontes para o futuro, preso a cadeado ao presente e ao passado. E já agora aos tostões que na carteira dele são milhares. Tontaria de vida. Vulgaridade de um tempo. 

         - Esta manhã, não tendo nada para comer, quando me organizava para ir às compras, o carro não pega. Chamei o meu anjo da guarda inglês e eis que John chega preparado com o necessário para acudir ao seu solitário amigo. É com ele que conto quando me vejo em apuros. Se falo deste episódio, é para dar a conhecer a personalidade do meu vizinho. John diz-me que comprou uma camioneta e mostra-me as fotografias no telemóvel. Artista como é, está a transformá-la numa autocaravana, o rés-do-chão está pronto com tudo o que há de essencial – sofás, mesas, banca de cozinha, frigorífico, etc. – e está já a montar os quartos no piso de cima. Diz-me que espera o acompanhe numa viaja até Inglaterra.     

         - Depois de ter assistido à missa celebrada pelo Papa, fui para a cozinha fazer compota de figo que tinha colhido de manhã cedo. Ontem e hoje, como é habitual ao fim-de-semana, muito trabalho: regas, apanha de amoras, confecção de um prato para arquivo. Entre o ecrã de televisão, fechado em casa onde se está ao fresco, o nariz de fora onde estiveram 40 graus para chamar o Black, assim decorreram os dias. Tenho esta semana muito agitada e não sei se irei a Guimarães confortar o Guilherme que acabou de sair do hospital onde esteve um mês inteiro. Amanhã tenho um compromisso de almoço em Lisboa, terça uma ida ao oftalmologista, quarta recebo aqui, quinta vou a Caldas da Rainha estar com a Alice, sexta (talvez) ao Norte. 


sexta-feira, agosto 04, 2023

Sexta, 4.

Outro dia faleceu o Duarte Teives. O Teives, santo Deus! Convivemos na juventude e já nessa altura, lembro-me, estava sempre em desacordo com ele. Era de esquerda, uma esquerda libertária, mas quem não era no confronto com o regime opressivo que governou o país durante meio século! Todavia, se bem me lembro, o que eu detestava nele era um certo ar anarquista burguês, vindo salvo erro da Madeira ou dos Açores, que impunha as suas ideias revanchistas como então se dizia. Descansa em paz e contigo os momentos que nos uniram e tantas vezes nos dividiram.

         - O país virou beato. Políticos (o pio dos pios é Marcelo), padres, jornalistas (estes apesar de falarem mal o português pró caraças), polícias, comentadores, analistas (esta classe quase se benze antes e depois da oração que todos conhecemos de ginjeira), enfim, um país transformado num santuário de beataria profissional que francamente não aprecio. O Papa Francisco é o culpado deste despautério religioso. Todavia, a prova que os seus ensinamentos são para esquecer, está na ostracização ainda em pleno convívio, de um corajoso rapaz que apareceu no primeiro dia do encontro com os jovens, empunhando a bandeira da LGBT. Iam-no comendo vivo. Previno: A verdade é muitas vezes o ouvido da mentira. 

         - Falando de jornalistas. Que classe! Que horror de gente mal formada, sem senso nem oportunidade, sem sensibilidade para a profissão que exercem, sem opinião pesquisada e digerida! Se eu, nos primeiros passos no jornalismo, tivesse feito aquilo que vejo fazer hoje aos meninos e meninas, era posto imediatamente fora do jornal pelo chefe de redação. Não porque eu tivesse assimilado logo no início a bagagem profissional, mas porque eu não estava capaz culturalmente de vir a ser um bom repórter. Quero com isto dizer que ao jornalista compete ter um enorme número de valores – ética, conhecimento mínimo da língua, oportunidade, humildade, empatia, alguma dose de psicologia, olhar abrangente sobre a realidade, respeito por quem interroga, etc. – de modo a ser credível e alguém em quem se possa confiar o segredo de uma notícia, a busca da mesma, a certeza da honestidade e independência daquele que nos informa e dá a conhecer ao mundo a notícia do dia, a “caixa” como se diz no meio.  

         - Curioso Sua Santidade que evidentemente não me lê, tenha dito ipsis verbis  o que eu aqui anotei, quinta-feira 3, acerca de estarmos juntos e à mercê de Deus. Eu escrevi de manhã, ele homiliou ao fim do dia. Seja como for, agrada-me comungar com o chefe da Igreja dos mesmos sentimentos.  

          - Depois de duas horas que deram para encher uma página do romance, fui nadar. Estranhei não ver ninguém na recepção e acabei, só, num lago de água habitualmente com umas quantas almas de um lado e do outro um arraial de senhoras com cestos de frutos à cabeça e aos pulos. Daí que, tendo a piscina só para mim, em vez da tradicional meia hora, estendi até quase à uma hora de intenso exercício. Nos balneários encontrei o nadador-salvador, que me informou ser este o último dia de trabalho ficando a piscina fechada para férias a partir de manhã. A conversa decorreu com o homem todo nu na minha frente, corpo musculoso (naturalmente), absolutamente depilado (não havia um pelinho em lado nenhum). Eu estive para lhe dizer que me poupasse àquele espectáculo, tão diferente dos habitués frequentadores peludos, musculados, membrudos, barrigudos, enfim, tipos que não se vergam a esposazinha e gostam de manter tudo o que compete ao homem viril português...    


quinta-feira, agosto 03, 2023

Quinta, 3.

O discurso de recepção do Sumo Pontífice, pareceu-me um sorriso aberto a toda a gente. Francisco distribuiu glórias aos portugueses e a Portugal, como se folheasse um livro de acção de graças. A seu lado, o impagável Marcelo, rejubilava. Contudo, na rápida passagem da nossa história, foram citados escritores: Luís Vaz de Camões, Sophia,  Pessoa e até Saramago! Conhece por ventura o Papa a sua obra e a sua personalidade, não me parece. Porque se soubesse quem foi o autor de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, saberia que ele militaria a favor do diálogo em vez da guerra sim, mas com a condição que Putin fique com os territórios surripiados à Ucrânia. Em verdade, ao pensar assim, Bergoglio faz o jogo dos comunistas que se dizem a favor da paz. Qualquer ser minimamente humano, abomina a guerra. Mas quando se está perante um Hitler, um Mussolini, um Putin, um Kim Jong-un, um Xi Jinping que são surdos e vesgos, odeiam o diálogo e só se satisfazem com armas, temos de tomar o lado dos mais fracos e daqueles que foram agredidos por esta plêiade de ditadores. 

         - Já a homilia lida na Oração de Vésperas foi uma grande chamada de atenção ao coro de funcionários eclesiásticos que tinha na frente e aos seus extravagantes delitos com menores. De fora ficou a banalidade politicamente correcta da recepção, e imperou a reflexão dura e crua da realidade. Foi uma bela mensagem que não deixou de lado o estado da Igreja e a sua relação com os fiéis. Utilizando a parábola do Evangelho (Lucas 5: 1-11), o Papa Francisco reinventa o dinamismo indispensável à fé e constrói novos fundamentos da realidade alicerçados no mundo de hoje, onde o Amor joga o papel essencial e revolucionário deixado por Cristo na terra.  Somos um todo e é juntos que nos podemos salvar. A parlapatice dos novos padres que julgam que os jovens aderem à Igreja com linguagem e acções próprias da sua idade, o cabeção posto de lado, um entre os demais, é um eufemismo  que não colhe. Francisco foi claro: a “desilusão e aversão que alguns nutrem face à Igreja, devido às vezes ao nosso mau testemunho e aos escândalos que desfiguraram o seu rosto e que nos chamam a uma humilde e constante purificação, partindo do grito de sofrimento das vítimas que sempre se devem acolher e escutar”. Eu recordo que a Igreja com as suas normas e circunstâncias, não foi criada por Jesus Cristo. Podemos amar a Deus sem o suporte espiritual da Igreja. Por outras palavras: Deus é-me indispensável, mas a Igreja...  

         - Eu até posso suportar embora com grande esforço, o espectáculo dos políticos aproveitadores, à cabeça dos quais o senhor Carlos Moedas; mas detesto os eclesiásticos políticos. A Igreja, desde os tempos do Estado Novo, serviu os interesses de quem estava no poder, confundido o religioso com o temporal em proveito próprio. Quando observo o delírio de Moedas desembolsando trocos para sua promoção, ou o pregador da SIC manipulando informação para agrupar individualidades indispensáveis à sua ambição, apetece-me gritar e despachar a pontapés os vendilhões de um templo onde a humildade de Jesus Cristo foi enxovalhada. Porque os pobres imigrantes que Moedas levou da Almirante Reis, escondendo-os por aqui e por ali, são os mesmos que Jesus Cristo protegeu e sobre os quais o Papa Francisco acode sem esmorecer.   

         -  Hoje, aproveitando a presença da Piedade em limpezas nos quartos, decidi deitar uma olhada ao meu velho smoking que não uso há uma eternidade: nem uma traça nele entrou, todo ele está como se tivesse saído da loja. Vai ficar a arejar todo o dia porque (talvez) voltarei a usá-lo quando for a Estocolmo receber o próximo Nobel de Literatura...  


terça-feira, agosto 01, 2023

Terça, 1 de Agosto.

Comecei o dia (hora e meia) em pequenos afazeres lá fora. Depois fui apanhar uma dúzia de figos, são os primeiros numa batalha contra os pássaros que antes de mim os provaram. Ensaiei pôr a roçadora a trabalhar, em vão. Sua excelência habituada à ronceirice do Inverno, recusou. Tentarei amanhã. 

         - No fundo, a grande protecção a Francisco, não é por causa do que pode surgir, mas de alerta ao que antecipa a Bíblia, nomeadamente, São João. Tal como o mundo está, muita gente que lê as Escrituras, interroga-se se o fim não estará próximo. Foi de tudo isto que eu estive uma hora ao telefone com Francis. Ele ocupou altos cargos políticos, conhece muita gente, e está bem colocado para sofrer de tanta dúvida e interrogação, face ao que se passa no mundo, cuja trajectória se vai desenhando com precisão. A Rússia, Irão, China, Coreia do Norte, muitos países africanos do um lado; do outro a Europa, Estados Unidos, os países da OTAN, América Latina, com o mar Negro de permeio. Francis que está ligado aos Jogos Olímpicos de Paris, disse-me que estes são uma incógnita, visto que se os atletas russos forem impedidos de participar, os africanos e outros, em protesto, desistem.  

         - Ontem tendo ido a Lisboa almoçar com o João Reino, na vinda camuflei os ouvidos com pedaços de papel para não suportar o vagão cheio de peregrinos. Entraram de rompante em Roma-Areeiro, tomaram por completo o Fertagus e, sendo de origem espanhola, não conversavam, berravam. Pior: desceram comigo em Pinhal Novo. Não havia nenhum jovem, todos andariam pelos quarenta anos. O guia, português, para se defender, não se misturou preferindo viajar de pé na plataforma da entrada. Só espero que estas jornadas não sejam motivo para os jovens (e mais velhos) perderem Deus de vista, antes pelo contrário nelas encontrem um minuto de silêncio para estar com Ele.