sábado, agosto 26, 2023

Sábado, 26.

Outro dia li o artigo da senhorita Ana Sá Lopes sobre os amores, melhor dizendo, o amor de Winston Churchill e Clementine. Partindo do princípio que nada no ser humano é natural porque ele é diverso na sua própria natureza, se a gentil senhora me permite, eu tenho outra versão sobre o estadista que muitos louvam, sem, portanto, haver unanimidade. A história da sexualidade de Churchill remonta à lamentável condenação de Oscar Wilde. Os amores do escritor com lorde Alfred Douglas, em 1894, sendo este que procurou o autor de De Profundis, espécie de mademoiselle que transitava de cama em cama, e que o extraordinário escritor teve a fraqueza de amar até à prisão de Reading Gaol onde esteve durante dois anos, por acusação do pai do aproveitador de relacionamento não só com o filho como com outros homens. Churchill estava em posição de ajudar o encarcerado, mas recusou. Talvez quisesse com o seu acto distanciar-se da sua própria condição, à época, como se percebe, nada abonatória. Depois, já ao comando das rédeas da política, foram alguns os favoritos do lorde do Almirantado. Vou citar alguns: Marsh Brooke, um tipo mais velho que o futuro primeiro-ministro, efeminado, conhecido por inúmeras paixões com jovens escritores e actores, quando morreu Churchill escreveu na Times: “Feliz, sem medo, versátil, profundamente instruído, com simetria clássica da mente e do corpo, tudo o que se desejaria sobre os filhos mais nobres da Inglaterra para ser." Seguiu-se outro jovem de beleza angelical: Sir Archibald Sinclair que ocupou vários cargos importantes ao lado de sua excelência. Outra paixão desta vez por um escocês muito bonito: Bob Boothby que fez seu secretário. Brendan Bracken, um jovem rude e esbelto, que tinha 22 anos em 1923, e integrou um grupo de homens chegados a Churchill, todos solteiros e bons rapazes, com reputação de homossexuais ou bissexuais. E outros mais a quem o dirigente político prometia altos cargos: Alan Lennox-Boyd, Ronnie, Victor, Cazalet, Jack Macnamara (um dos seus grandes favoritos que chegou a exercer funções militares importantes  durante a Segunda Grande Guerra. Parece que o grande homem também se afeiçoou pelo sobrinho do escritor Somerset Maughan. E passo porque há literatura suficiente que atesta os seus muitos amores. Sabe-se que Winston Churchill não apreciava as mulheres, tinha com elas um difícil relacionamento e já antes de 1914 havia lutado contra as sufragistas. Aliás, é a própria articulista que cita o médico pessoal de Churchill, Lord Moran, que escrevera 60 anos mais tarde que nunca viu Churchill interessado em mulheres. O Francis que sabe muito sobre a figura, falou-me há tempos em pinturas que o estadista teria feito (julgo que em Itália) de um ou outro dos seus preferidos. Julien Green que se dava com Maughan, detestava tal personagem. 

Oscar Wilde e Alfred Douglas 

         - A Espanha e por acréscimo Portugal, dois países dependentes do futebol, paralisaram diante de um simples beijo, a tal ponto que eu que pouco ou nada sei de futebol, mas alguma coisa de beijos, embarquei na carneirada que se revoltou chocada pelo beijo inocente dado diante das câmaras de todo o mundo pelo dirigente da Real Federação Espanhola de Futebol, senhor Luis Rubiales à jogadora premiada. Do que vi, tratou-se de um beijo no calor da vitória, que nem linguado foi (para utilizar a linguagem da ralé), absolutamente inócuo, entre duas pessoas adultas que sentem satisfação pela vitória alcançada. Um punhado de moralistas, feministas e quejandos, logo se pôs em bicos de pés contra a imoralidade e machismo do acto. E o oportunista, socialista Pedro Sánhez, que decerto nunca beijou uma mulher, entrou no barco do populismo para tirar dividendos numa altura de aflições partidárias. Com ele transpôs também a imprensa escrita e televisiva, como sempre do lado da maioria, mesmo que os valores sejam a salvaguarda da verdade e dignidade nacional. O mundo está perigoso porque está ridículo.