quarta-feira, agosto 09, 2023

Quarta, 9.

Os fogos aí estão. Com as temperaturas a rondar os quarenta graus, e muitos loucos a semear a desgraça, ei-los a destruir milhares de hectares em Odemira, Cinfães, Mangualde, Proença-a-Nova, Castelo Branco e passo. É o calvário habitual todos os anos, pese embora a esperança que este ano fosse melhor, devido ao excelente trabalho do ministro da Administração Interna. Não obstante, os guardas-florestais marcaram greve nacional para 14 deste mês. Espanto? Eu, não. De todo o modo, a questão dos fogos prende-se com aquela afirmação do presidente da AGIF, Tiago Oliveira, segundo o qual os bombeiros recebem percentagem por cada área ardida. Não sei se é verdade nem quero imaginar que seja. Agora eu escuto por todo o lado tal acusação há anos. 

         - Ficou-me na memória dos sentidos, duas imagens da presença de Francisco entre nós: uma de Fátima; outra do altar do Parque das Nações. A primeira, daquela rapariga italiana deficiente, que rezou com a multidão uma estação do Rosário, numa dicção quase incompreensível, e me comoveu até às lágrimas; a segunda, do jovem de 24 anos, recém formado, que remata a sua alocução dirigida ao Papa antes da missa de Envio, dizendo que quer ser um santo. Duas situações-limite que tocam na volta dos extremos. 

         - Apesar da vida agitada desta semana - ontem consulta no Gama Pinto, hoje almoço aqui com a Alzira -, nem por isso a escrita foi negligenciada. Tenho avançado. Contudo, o que me saiu sem esforço ontem, foi hoje destruído quase completamente. Pensando bem, quando me ergui da cadeira no lugar secreto do Corte Inglês, onde não vejo vivalma e me posso concentrar no conforto do ar condicionado, tive a sensação da insatisfação que traz a facilidade. Andei a pensar no trecho e esta manhã removi-o com prazer. 

         - O almoço que preparei para a amiga de muitos anos, foi em agradecimento por me haver convidado há duas semanas antes de partir para o Algarve. O encontrou foi no último andar, no restaurante panorâmico do C.I.. Gosto de cultivar as relações, adoro estar à mesa em amena cavaqueira ainda que não seja um bom garfo e coma fora como o faço cá em casa. Mas sou sobretudo reconhecido aos gestos que os amigos têm para comigo. Coisa fora de moda, pois são algumas e alguns os que eu convido para a minha mesa e nunca retribuem, como se tivesse sido obrigação da minha parte. A vida hoje não é reciproca, é antes um constante aproveitamento do outro. Daí que o isolamento seja perigoso e cresça por todo o lado, sobretudo nos mais velhos. É frequente reparar que os idosos tem tendência a achar que todos lhe devem e ninguém lhes paga. Nunca (ou quase) telefonam, porque entendem que são os outros que estão obrigados a fazê-lo. Este é o principal sinal de vetustez.