sexta-feira, janeiro 30, 2015

Sexta, 30.

A Luísa surpreendeu-me esta manhã no Macdonald e de pronto: “Então quando termina esse livro? - Não tem  data. Quando as personagens estiverem fartas do seu criador.”  

quarta-feira, janeiro 28, 2015

Quarta, 28.

O maître à penser de Príncipe, Hermínio Martins, faz um posfácio interessante ao livro do meu amigo. De realçar o abismo na forma de escrever de um e outro, assim como o facto de Martins, a exemplo de muitos intelectuais, partir desvairado nos patins do seu conhecimento, deixando para trás o nobre João Príncipe que, de resto, só cita duas vezes em dez páginas. Nas suas linhas, embora poucas, percebe-se que não gosta nada de Heidegger, assim como de outros escritores ligados ao grupo Círculo de Viena que Príncipe desenvolve com desenvoltura. Eu se fosse versado em Epistemologia, veria no texto de Hermínio Martins o leit-motiv para um estudo aprofundado não só de António Sérgio como de toda a filosofia que se ocupou do ensino desde os finais do século XIX a meados do século XX. Porque as bases estão lançadas no posfácio, só precisa de “puxar” cada um dos autores citados, as correntes filosóficas traçadas, e deixar fluir os conhecimentos colhidos ao longo dos anos de estudo. Sim, é verdade que Príncipe dá-nos um António Sérgio mais profundo, menos conhecido, longe das querelas partidárias e do aproveitamento que os políticos e intelectuais, sobretudo os ligados ao Partido Socialista e aos homens da Seara Nova do tempo de Salazar e Caetano, mas lamento que tivesse posto de lado um certo misticismo que havia em Sérgio e em Pascoes e que ele cita sem citar, a galope para entrelaçar influências e delimitar barreiras ideológicas. rgio ﷽﷽﷽﷽﷽tudo aprofundado nao logia veria no texto de Hermuais, partir desvairado nos seus pontos de vista deixando para trcomo

terça-feira, janeiro 27, 2015

Terça, 27.
Acho contranaturo a coligação que Tsipras fez com Kammenos da direita grega. Bem sei que os extremos tocam-se. Também não ignoro que o partido Gregos Independentes é contra a arrogância e métodos de Bruxelas. Mas, enfim, penso que o dirigente do Syriza mostra ser um tipo pragmático e a rapidez com que formou Governo acrescenta uma dose de confiança ao seu trabalho e competência. Pelo menos, por agora, dissipou a carga imensa de ódio que encharca o coração dos gregos. Passos Coelho, indiferente à dor daqueles que foram humilhados e reduzidos a lixo, limita a atitude do povo a um simples cálculo matemático. Vai ser empolgante assistir nos próximos meses ao resultado de umas eleições que foram antes de mais um tremendo murro no coração daqueles que se julgam amovíveis.

         - Trabalho no Mac de Setúbal de olhos postos na Avenida Luísa Todi alagada de sol. Descobri que os dois rapazes que mudam em minutos de personalidade, são afinal dois alunos da escola hoteleira aqui da cidade. A farda cinzenta que vestem antes de deixar o restaurante, é aquela que a escola obriga a envergar como acontece com muitas similares inglesas. Um chic!

         - Jardim, o da Madeira, diz que não se enriquece com a política. Deixa-me rir ha-ha-ha.


         - As horas que consagro à leitura depois do almoço, sentado debaixo do telheiro adjacente ao salão, ao sol, são sagradas. São horas que me permitem levitar, atingir o zénite, perder-me por mundos habitados do sussurro incomensurável das vozes vindas do misterioso encontro entre a arte e a vida, desafiadoras da morte e da ressurreição. O silêncio é cristalino, apenas perturbado pelo ranger dos ossos dos cedros altos que circundam a quinta e do ruído do sol batendo nas árvores mudas. Uma imensa paz cai abrupta do céu. Fico suspenso a admirar este paraíso opaco, onde não bule uma folha e um terno aroma a lenha a arder na lareira incensa o ar de recordações. Embarco nelas e deixo este porto de abrigo para voar nas asas crepusculares do dia que finda...

segunda-feira, janeiro 26, 2015

Segunda, 26.
Não chegou à maioria, mas quase. O Syriza de Alexis Tsipras pode vir a fazer muito pela Grécia e por outros países, embora a frente dos conservadores tudo fará para lhe travar o passo. Seja como for abre-se uma esperança para que os gongóricos que estão apegados ao poder e são sempre os mesmos por essa Europa fora, possam vacilar no momento em que virem a sua arrogância e propostas unilaterais postas em causa por um país que eles dizem periférico e que tão mal trataram nestes últimos anos. Eu sei, eu sei que o rato procura o queijo onde ele se encontra. E a sede de protagonismo nesta gente é tal que sofrem com a sombra dos dias mesmo encostados a uma reforma dourada. Ávidos de protagonismo, não hesitam em tagarelar numa qualquer estação televisiva, desde que a sua figura de figurões não saia dos palcos festivaleiros. Afinal, a experiência diz-nos, ela é sempre uma porta entreaberta para um tacho inopinado e saboroso. A ver vamos se a porta da liberdade se escancara para outros povos moribundos pela austeridade, que criou muitos mais ricos, meia dúzia dos quais detêm tanto como metade do planeta.  


         - Evidentemente, à pala da vitória da esquerda grega, perfilam-se entre nós os aproveitadores com discurso para iludir os paspalhós. António Costa que é fracamente árido, foi o primeiro a levantar a âncora do populacho. Fingindo desconhecer que o PASOK já só precisa de uma trotineta para levar a multidão de fãs (teve 4,68% de votos), adiantou-se com um discurso europeu que sempre o seu partido mais o CDS, o PSD ignoraram. Esquece o  putativo primeiro-ministro que foi a esquerda que os gregos elegeram e até a esquerda radical, fartos dos mesmos, com a mesma lengalenga, o mesmo alinhamento com os Estados Unidos, o FMI, o grande capital, a corrupção e essa instituição obscura do conluio. Falemos claro. Entre nós o único partido que devia ascender a idêntica proeza, seria, será o Partido Comunista. Pela simples e audaz razão: sempre foi coerente, não se conhece nele gatunagem, de uma forma geral gere bem as autarquias e nunca esteve de acordo com a troika.   

domingo, janeiro 25, 2015

Domingo, 25.
Encontrei-o no Corte Inglês. Na sequência de uma hora de commérages, disse-lhe: “Tu sentes-te só, mas só frequentas flausinas.” Devolveu-me um sorriso triste. 

         - Aquele que é divinizado do arcebispo Marcelo ao presidente da República que até o condecorou, é na realidade um belo exemplo para a juventude ao pontapear e soquear o adversário em campo. Espero que lhe atribuam outra condecoração, desta feita, a Ordem de Mérito.

         - Mon bonheur était réellement fait du même secret que le bonheur des songes, il était fait de la liberté de vivre en même temps tout ce qui fut jamais imaginable, de substituer en se jouant le monde interieur au monde extérieur, de déplacer le temps et l´espace comme des portes à glissière. Para os leitores, digamos, conhecedores de literatura, o texto que acabo de apresentar, parecer-lhes–á de Proust. Mas não é. É de Hermann Hesse.

         - Ontem apareceu aí de imprevisto o Príncipe. Almoçámos em Setúbal um peixe fresquíssimo e depois fomos à Figueirinha apanhar sol. Mar calmo, dia de um azul tentador, pouca gente, paz. De regresso aqui, uma hora e tal a dar-lhe a conhecer o desastre do seu livro. Não fiquei convencido que ele tivesse aceitado as minhas correcções. O meu português é demasiado "clássico" para o seu falar moderno, quero dizer, abrasileirado.  


          - As primeiras sondagens, dão perto de 40 por cento dos votos ao Syriza. Merkel deve ter  estrebuchado. Todos os confortados deputados euro-não-sei-o-quê tremido.