Sábado, 10.
Estava
eu no Hotel Alixares quando recebo um sms do Robert informando-me dos atentados
do Charlie Hebdo, em Paris.
Precipitei para o aparelho de televisão ao fundo da sala a inteirar-me dos
horrores atribuídos à Al-Qaeda, seguidos de outro ataque contra judeus perto de
Vincennes. A França em pânico tenta refazer-se do choque lidando com os
extremismos em desigualdade evidente. De Gaulle, no seu tempo, já tinha
percebido que o poder do Estado assenta na força facilmente desmoronada por um
qualquer fanático. Os assassinos, dois
irmãos nascidos em território francês, liquidaram cobardemente 12 jornalistas e
foram em seguida mortos pela polícia. As ameaças de que um dia viriam a ser
sacrificados eram mais que muitas. Sobretudo desde que a revista publicou os
célebres cartoons de Alá e Maomé. Retenho uma frase de Stéphane Charbonnier,
director da publicação: “Prefiro morrer de pé do que viver ajoelhado.” Pois eu
ajoelho-me por respeito à sua coragem e em memória dos mártires que com ele
partiram em nome da liberdade.
- Passei estes dias em deambulações
pela Andaluzia, sem horários, fazendo etapas longas que me levaram a Alhambra no
extremo do país. Fomos, quero dizer, o Carlos Rodrigues e eu, cumprir uma
promessa que havíamos feito há cinco anos quando nos afoitámos até lá e não
tivemos tempo nem coragem para enfrentar filas de espera com quatro horas, sob
calor tórrido para entrar no reino encantatório dos sultões. Desta vez, raros
foram os dias que não tivemos de manhã o carro coberto por uma camada espessa
de geada, a que se juntava o perigo dos caminhos cobertos de gelo (acabei por
cair uma vez quando saía dos Palácios Nazarenos).
- Gostava de
viver mais uns anos para me aperfeiçoar como ser humano.