sábado, janeiro 10, 2015

Sábado, 10.
Estava eu no Hotel Alixares quando recebo um sms do Robert informando-me dos atentados do Charlie Hebdo, em Paris. Precipitei para o aparelho de televisão ao fundo da sala a inteirar-me dos horrores atribuídos à Al-Qaeda, seguidos de outro ataque contra judeus perto de Vincennes. A França em pânico tenta refazer-se do choque lidando com os extremismos em desigualdade evidente. De Gaulle, no seu tempo, já tinha percebido que o poder do Estado assenta na força facilmente desmoronada por um qualquer fanático.  Os assassinos, dois irmãos nascidos em território francês, liquidaram cobardemente 12 jornalistas e foram em seguida mortos pela polícia. As ameaças de que um dia viriam a ser sacrificados eram mais que muitas. Sobretudo desde que a revista publicou os célebres cartoons de Alá e Maomé. Retenho uma frase de Stéphane Charbonnier, director da publicação: “Prefiro morrer de pé do que viver ajoelhado.” Pois eu ajoelho-me por respeito à sua coragem e em memória dos mártires que com ele partiram em nome da liberdade.

         - Passei estes dias em deambulações pela Andaluzia, sem horários, fazendo etapas longas que me levaram a Alhambra no extremo do país. Fomos, quero dizer, o Carlos Rodrigues e eu, cumprir uma promessa que havíamos feito há cinco anos quando nos afoitámos até lá e não tivemos tempo nem coragem para enfrentar filas de espera com quatro horas, sob calor tórrido para entrar no reino encantatório dos sultões. Desta vez, raros foram os dias que não tivemos de manhã o carro coberto por uma camada espessa de geada, a que se juntava o perigo dos caminhos cobertos de gelo (acabei por cair uma vez quando saía dos Palácios Nazarenos).


         - Gostava de viver mais uns anos para me aperfeiçoar como ser humano.