Sábado, 18.
Outro dia fui defraudado. Quando saí do Lidl um automóvel segui-me sem eu dar conta quando ia na direcção do Continente para comprar uma daquelas caixas para transportar felinos. A meio do caminho, sinto atrás de mim um carro que fazia sinais e buzinava. Pensei tratar-se de alguém aflito e parei. Logo veio para mim um rapaz bem parecido, em vestes desportivas, que me disse que eu lhe tinha partido a grelha da frente. Nem me lembrei que quem bate por trás é culpado. A cena teatral onde não faltou a invocação de Deus pelo menos umas cinquenta vezes, era digna da melhor sala espctáculos. De telefone na mão, o rapaz diz-me que o carro não era seu, fora alugado em Torres Vedras e não podia preencher as folhas de sinistro para as seguradoras como eu reclamava, mas que não me preocupasse porque ia telefonar para a Europcar. Vejo-o a gritar, a gesticular, a pedir ajuda a Deus, por fim, diz-me “tem de pagar quatrocentos euros é o que a empresa de aluguer diz custar a grelha”. Vou analisar os estragos, e verifico que ao parar para o ajudar ele, com técnica, bateu no meu para-choques e fez umas ranhuras insignificantes, suficientes para que tivesse motivo para me extorquir dinheiro. Abreviando porque a cena dura muito tempo e eu à medida que os minutos passavam sentia que estava diante de um burlão. Foi quando, após nova cena ao telemóvel, ele me diz que do outro lado aceitam substituir a grelha por outra usada. “São 200 euros, mas eu pago metade e você a outra metade e não se fala mais no assunto..” Tudo isto numa aflição, aos gritos, implorando pressa porque tem de chegar ao destino antes das cinco da tarde de contrário pagaria outro dia de alugar do carro e eram mais 50 euros. Lembro-me de chamar a polícia, mas ele contra-argumenta que são 220 euros e não seria ele a pagar porque quem chama a guarda é que paga. Estamos nisto e eu já cheio de pena dele, que implora Deus todos os segundos, digo-lhe que quero o seu contacto e o da empresa que lhe alugou a viatura. Todas estas indicações anota-as ele num papel que rasgou de um caderno onde li Conservatória do Registo Civil Seixal, pelo meio lembro-me de apontar a matrícula do veículo. Assim que se apanhou com o dinheiro, abalou sem um adeus. Evidentemente, nada daquilo que ele havia escrito no bocado de papel tinha correspondência com a realidade – eu tinha sido burlado e, pior que tudo, com consciência disso.
- O Black passou a noite na clínica que o atendeu para o tratar da mordidela no pescoço por um cão. Eu, durante toda a semana, tentei curar-lhe a enorme ferida e vendo que a coisa piorava, levei-o ao veterinário. Bravo, foi com dificuldade que o pus dentro da jaula e o transportei ao médico. Aí, quando se viu em liberdade, atirou saltos contra as paredes e tecto do consultório e foi com objeção que a médica o conseguiu devolver ao transportes. No dia seguinte, pelas cinco da tarde, fui buscá-lo, paguei 150 euros e trouxe-o para casa a antibiótico e outros medicamentos e tratamentos. Jantou bem e até hoje nunca mais apareceu. Já lá vão dois dias.
- Quarta fui a Lisboa fazer o derradeiro exame que ditará a razão da hemorragia que tive há dois meses. Pelo que ouvi da médica que o realizou, tenho pequenas pedras nos rins, “mas nada de cuidado. Tem que beber muita água”, diz-me ela. Respondo: “Isso é uma maçada porque passo a vida a caminhar para o quarto de banho.” “Pois é. Mas tem que ser.” Na próxima quarta-feira, munido da talega de exames que venho fazendo desde Fevereiro, quero saber se minha médica de família me diz da razão do acidente nocturno ocorrido ou se a montanha pariu um rato.
- Tempo tristonho. Acabei de limpar a área defronte da casa. Vou fazer scones.