sábado, outubro 31, 2020

Sábado, 31.

Ontem estive na Brasileira e depois de tratar de vários assuntos, encontrei-me num restaurante da Av. de Roma com o João Corregedor que ali mora. Almoço bem condimentado de política que durou para cima de duas horas. João quando está a sós comigo, transforma-se: aceita as minhas ideias, toma tempo para as analisar, contrapõe, acrescenta pareceres, sempre cordial, travado de crítica, sereno e atento. Claro está que não estive de acordo com muitas das suas análises e quando lhe perguntei o que marcava o consulado de António Costa, respondeu os aumentos salariais. Esta parece ser a flecha para elevar aos céus da esquerda um homem que possui a arte de governar deixando tudo na mesma. Sendo esperto na manobra política que é hoje a arte de quem governa muito apreciada pelos seus confrades, estes nem se dão conta que os socialistas apenas se limitaram a repor aquilo que a troica obrigou a tirar-nos; e se algum aumento houve, também por outro lado os impostos cresceram assustadoramente, alguns dos quais ainda hoje fazem mossa, como, por exemplo, os aplicados aos combustíveis que, relembro, nos foi dito serem por um período curto e acabaram por ficar. João fala, multiplica, encadeia temas, perdendo-se no emaranhado de leis, vozes, citações e para travar tudo aquilo tenho de me impor, de contrário a conversa é interminável ou antes, só ele fala e o outro limita-se a ouvi-lo ou adormece para descansar e tomar fôlego, como se tudo aquilo fosse sedimentação de um pensamento igual, padronizado, the same ou verdades contraintuitivas. A miúde, lá vinha “tu que és inteligente e culto” por que raio não pensas como eu! Depois, inopinadamente: “quero saber o que pensas disto. Ando a reflectir muito sobre o que se passa no mundo, na democracia e assim.” Digo-lhe penso o pior, mas, como estamos sempre em desacordo, não vale a pena continuar. “Não digas isso. Eu quando chegar a casa vou anotar muito do que expuseste.” Sei quais são os seus pontos fracos e porque me desagradam e todavia não despego da simpatia que nutro por ele. No final, disse-lhe: “Acho que o PC é indispensável à democracia, mas se ele um dia chegar ao poder expatrio-me, porque não tenho ilusões quanto aos seus métodos.” “Não digas isso!” murmurou num tom delicado.  

         - No metro senta-se no banco da frente um rapaz de uma beleza esplendorosa, alvo, limpo, meditativo. De pronto, saca da Bíblia e pôs-se a ler como se fosse um seminarista que não dispensa em dia de folga o breviário que o conduzirá ao paraíso e o desviará das tentações únicas para a Igreja – pensamentos, palavras e actos sexuais.  

         - A propósito, muita desta filosofia que nos condena a não aceitar o corpo com todos os seus apelos, vem de S. Paulo. Nomeadamente da Carta aos Romanos (1-26) e Coríntios (6-9). Estive a fazer aquilo a que se chama literatura comparada, e verifiquei que as notas de Frederico Lourenço não diferem do entendido mundial em estudos bíblicos, Nicholas Wright. Eu ainda não percebi se as notas de rodapé na tradução portuguesa são da autoria do nosso helenista conimbricense se, pelo contrário, elas estão adstritas à versão grega.   

         - Marcelo diz que pensa falar brevemente ao país. Como assim? Então não é isso que ele faz minuto a minuto, noite e dia numa orgia de palavras que não cabem no rosário dos nossos infelizes dias?! 

         - Parece que vêm aí mais confinamentos. Dizem eles que para termos folga para o Natal. O mundo está num fosso de contradições, onde impera apenas o consumo e a arte do faz-de-conta. O Natal é uma quadra religiosa, que anuncia o nascimento de Jesus Cristo. Todavia, anda meio mundo às avessas com Deus e a sua Igreja, aproveitando a estação para festas consumistas, amizades velhacas, famílias hipócritas, numa roda-viva daqui para acolá, mostrando o lado faminto de ter e haver, sob a falsa ideia do amor “em família”.  


quinta-feira, outubro 29, 2020

Quinta, 29. 

Podemos não morrer de Sars-Cov-2, mas morremos uns de medo, outros de tédio, muitos de depressão, quase todos de apatia, sem liberdade, infectados de incredulidade ante um inimigo sem rosto, mas que todos sabem soletrar o seu nome. Este fez uma guerra moderna: sem tiros, sem armamento, prisões, campos de extermínio, barata, fulminante, perfeita. Além de que isto é apenas um ensaio para algo mais assustador.  

         - Provavelmente, sob os auspícios daquele que pretende ser o porta-bandeira do islamismo, Erdogan, três franceses foram mortos dentro da igreja Notre-Dame, em Nice. Vários outros ficaram feridos. Depois do que disse o dirigente turco, sempre a propósito das caricaturas do Charlie Hebdo, ou recentemente do seu próprio cartoon, publicado esta semana no mesmo jornal, tudo é de esperar do ditador. A França está a ferro e fogo e desejo que as democracias ocidentais se unam para defender a liberdade dos muitos ditadores que ainda controlam milhões de milhões de seres humanos em pleno século XXI. O ataque está provado foi obra de islamitas. Depois da decapitação do professor de história de um liceu nos arredores de Paris e de outra peripécia acontecida também hoje com um homem de revolver em punho e prontamente abatido pela polícia, não há duvida que a França está sob uma espécie de Sharia. 

         - Acabo de chegar de uma promenade pelo centro de Setúbal. O objectivo foi ir conhecer a estátua de D. Manuel Martins primeiro bispo da cidade, executada pela minha amiga Maria José, erguida em frente à Sé Catedral. Não gostei. Não apreciei o sítio, encostada à escadaria da igreja quando, do meu ponto de vista, deveria ter ficado no centro da praça e sem pedestal; depois não me parece uma peça das melhores que a artista criou, perde porque é demasiado estática, sem expressão, sem arte e sem o impacto que o bispo criou junto dos seus paroquianos. É uma massa uniforme, sólida, pesadona, num verdete feio, onde só o rosto deveria cativar e nem isso a artista me parece ter conseguido. Talvez ali haja mão na forma de directivas do patriarcado, quase sempre de gosto duvidoso. 




quarta-feira, outubro 28, 2020

Quarta, 28.

523 mil novos casos de coronavírus ontem em França. Como dizia um médico no canal 2 francês, é melhor confinar todo o país e não ter em conta a economia, porque esta recupera e os mortos não. 

         - Quem ouvisse o primeiro-ministro e não soubesse da derrota, acharia que o seu partido tinha alcançado mais uma sólida maioria nos Açores. O Chega foi o grande ganhador. Recém formado, aparece como terceira força. Todos o atacam, em vez de olharem para si perguntando-se porque razão o Chega tem as preferências dos portugueses. Costa agoniza aos poucos. A propaganda, por muito bem alicerçada na fantasia, já não colhe. O prestidigitador foi desmascarado. 

         - Quem também dá uma ajudinha, são as meninas e os meninos do BE. Nunca compreendi a razão de tanta importância a um partido que não digo caiba num táxi, talvez num autocarro que os deixe à porta do mercado do peixe na Azambuja. O facto é que os socialistas estremeceram com o veto pré-anunciado ao OE, que o Governo se esforça por encontrar quem nele alinhe. Apareceu o PC com mais um sapo engolido, sem que consiga disfarçar ou encobrir as suas (muitas) contradições. 

          - Outro que ajuda discretamente ao crepúsculo do Mágico, é Marcelo. Anda numa roda-viva de contactos em Belém, tentando montar o puzzle da pandemia e assim enfrentar os meses trágicos que se avizinham. Tarefa que devia pertencer ao primeiro-ministro. Este, ultimamente, todas as ordens que emite, são incompreensíveis e na tentativa de agradar a todos os sectores, acaba por baralhar toda a gente. Entretanto, o corona vai devastando velhos e novos, a economia e a saúde mental de todos e cada um. 

         - Vieram em seu auxílio 43 médicos em carta aberta à ministra da Saúda. Diziam não estarem de acordo com a carta dos cinco bastonários da Ordem dos Médicos que levantaram preocupações e alarmes inusitados acerca da catástrofe em que se encontra o SNS. Aqueles dizem que estes pendem para interesses da medicina privada; mas a mim pareceu-me um texto oco, espécie de papel selado com assinatura das cúpulas do Partido Socialista. Uns e outros, enfrentam-se no interior dos seus interesses, o país real nada tem a ver com isto. 

         - Porque esta gente vive numa redoma dourada. Exemplo disso, foi o primeiro debate do Orçamento ontem na Assembleia. Que tristeza de deputados! Longe vai o brilho dos primeiros Parlamentos com uma plêiade notável de oradores e cientes cidadãos! Estamos cercados pela doença e a morte, mas os nossos representantes discutem minudências, questiúnculas de lana-caprina, fervores partidários e coisas pessoais de galos e galinhas assanhadas. É um susto! É de fugir! 

         - Uma chuva dita “molha tolos” ficou pela manhã. Mesmo assim, desci ao portão e estive a descobrir a mandala que o senhor Pedro construiu sob as minhas indicações e a terra com o tempo encobriu. Quero voltar a tê-la a abrilhantar a entrada da quinta. Noite mal dormida, trop de pensamentos aziagos. Incerteza. A vida a derrapar, a esperança em Deus a ampliar. 


terça-feira, outubro 27, 2020

Terça, 27.

No comboio que me trouxe de regresso a casa, sentou-se uma freira africana. Antes porém, retirou da mala de mão um frasco e desatou a pulverizar o banco, o vidro da janela, a grelha do ar, depois a viseira e por fim o smartphone e os fones. Refastelou-se a seguir no assento, colocou a viseira sobre a máscara, pôs os auriculares e voou até às alturas celestiais. Mas quando lá chegou o Senhor (isto imagino eu), vendo aquela irmã moderna, ordenou-lhe que se aligeirasse daquela parafernália consumista e a atirasse para a terra onde algum furibundo da sociedade de consumo a aproveitasse. Só então, alijada dos bens inúteis, foi ela autorizada a entrar. 

         - Há novas normas governamentais para o próximo fim-de-semana dia dos mortos. O Governo, prevendo que sob a protecção dos falecidos o pessoal quisesse meter mini-férias, instituiu confinamentos concelhios. Mas a trapalhada, o teor das interdições é tal, que, como hábito, a norma com tantos buracos, dá para todas as interpretações e... facilidades. Definitivamente, Costa não acerta uma. Não aprendeu nada com a primeira vaga e com a segunda, e quando vier a terceira e a quarta, já milhares e milhares de portugueses estarão mortos. 

         - Esta manhã, na tertúlia da Brasileira, levantou-se o tema das reformas vs até quando. Eu já aqui reflecti sobre o assunto e continuo a pensar que deve haver uma grande alteração na atribuição das mesmas. Aquela de o cônjuge falecido dever ficar com uma parte da aposentação do outro, parece-me um insulto àqueles que têm reformas de 200 e 300 euros mensais. Devia-se acabar com essa benesse de quando as mulheres eram criadas exclusivas dos maridos, sem direito a trabalhar fora de casa e a ganhar a vida com as suas próprias mãos e inteligência. Hoje tanto ela como ele, auferem ordenados que sustentam a dignidade de qualquer um individualmente. Num país com dois milhões e meio de pobres, a par de aposentações milionárias, é um escândalo que só subsiste porque os políticos se estão nas tintas para a equidade e estão na política para defender os seus interesses. Lembro-me daquele boçal chamado Sarkosy, duas semanas depois de se instalar no Eliseu, aumentou o seu vencimento de Presidente da República para o dobro. Ou aquela figura tenebrosa que ocupou a presidência antes do actual, afirmar que 10 mil euros mensais de aposentação não chegavam para viver com decência. 

         - Ontem, a seguir ao almoço com os amigos franceses, regressando a casa, encontrei a Glória que de pronto me convidou a ir ver a irmã que havia chegado de Paris. “Venha que eu vou fazer crepes.” Acontece que eu adoro cremes e não resisti à tentação. Fui, portanto. A mesa estava montada no jardim debaixo do alpendre e à roda dela éramos seis convivas. Antes vim cá a casa colher um saco de tangeras que levei, sabendo de antemão que de lá não vinha sem qualquer coisa como é frequente - e assim aconteceu. Trouxe meia dúzia de ovos, metade do bolo de iogurte e uma tigela de marmelada. Esta troca de amabilidades, pertence à sociedade de antigamente, quando as pessoas eram civilizadas e o agradecimento se fazia pelo lado do afecto. Hoje, neste mundo de egoístas, toda a gente quer receber e em troca nem um obrigado dão.  

         - Dia feliz composto pelo equilíbrio que concede ao cérebro o epílogo com a fantasia.  




segunda-feira, outubro 26, 2020

Segunda, 26.

A linguagem dos dirigentes farfalhudos que aprenderam com Trump e este com Sarkosy, não pára de nos surpreender. O modo como eles hoje se tratam, está ao nível da sargeta que lavra por todo o lado. É mais ou menos assim.      

         Sua excelência o Sr. Recep Tayyip Erdogan, do alto do seu púlpito muçulmano dourado, diz a sua excelência o ex-banqueiro Macron:         

         - O senhor precisa de fazer exames à sua sanidade mental, de contrário tem à perna a pena de morte por atentado aos valores do Profeta Maomé. 

         O dirigente do Sporting, referindo-se ao seu congénere do Porto:          

         - Um bandido será sempre um bandido. 

         E deste modo, aprendemos nós as melhores regras de convivência e educação. Obrigado, caros professores. 

         - Dia arrebatador de luz. Só agora me dou conta do que perdi - para cima de pelo menos trinta anos – quando abalava nesta altura para os frios sombrios de Paris. Tendo nascido em Lisboa, passado uns anos em Coimbra, férias na Foz do Douro, a capital de outros tempos piorou sobremaneira nos últimos vinte. Sempre me sentira atraído pelo apelo do campo que agora me restitui em bênçãos, paz e serenidade. Terminei de carregar a terra e a entrada ficou bestial, digna de um palácio do séc. XIX. Regressar em força ao romance, seria como dizem os saloios, a cereja em cima do bolo do imbecil. Silêncio.


domingo, outubro 25, 2020

Domingo, 25.

Sem surpresa e apesar do que disse o arrogante ministro da pasta, todos os prejuízos da TAP serão pagos pelos contribuintes. O Estado está praticamente senhor da companhia e, assim sendo, utilizou os mesmos métodos que condenou aos antigos patrões: despedimentos em massa, emagrecimento da transportadora, aumentos de ordenados suspensos e tudo o que faz uma gestão privada para manter os seus interesses. Pergunta-se para que serve uma companhia de aviação nacional, quando seria muito mais barato e melhor viajarmos – como de resto fazemos – numa outra qualquer empresa.  

         - A propósito. Depois de ter escrito vários e-mails na língua expansionista que eu detesto para obter a restituição das centenas de euros que o hotel de Budapeste se apropriou, eis que vejo, ufa!, ser-me restituído o montante não obstante a bravata das condições: “The originally paid amount will be transferred back to the same account from which we received in max. 90 days.” A ver vamos se assim é. 

         - A coisa continua preta e bem escura. Multiplicam-se por todo o lado os novos casos de coronavírus. Ontem no Rossio, uma centena de pessoas incluindo um ou outro médico, protestou contra as medidas da DGS e do Governo. Não querem a máscara, o confinamento, dizem que isto é mais ou menos como a gripe anual e não gostam de ser privados dos seus direitos. É difícil tomar partido a favor ou contra este esquema mental. Para mim é evidente que Portugal não está a conseguir controlar o crescimento e isto depois da primeira vaga e dos meses que mediaram até à segunda onda. A DGS andou a dormir, entretida decerto a fazer política e não lhe sobrou tempo para pensar e agir em função da segunda leva. Em grande parte, os avanços e recuos nas medidas de controlo, centrados no poder, na arrogância e no “tens que amouxar”, traduziram-se para as pessoas num salve-se quem puder. Destruíram a boa imagem que tinham e hoje ninguém confia nos seus pareceres e ordens. Se antes não se sabia nada do vírus; hoje o conhecimento e estudos permitiria avançar com mais segurança. O que se passa nos lares que eles chamam “residências”, onde 40 por cento dos casos acontecem e são a imagem horrível, criminosa, não só dos socialistas como dos social-democratas que dirigem o país há praticamente 50 anos, é motivo para mim de não confiar em ninguém e classificar os políticos como ineptos, oportunistas, incompetentes. Idem quanto às outras doenças que estão em stand by, fazendo do país um imenso cemitério de mortos em espera. 

         - Choveu por ciclos. Estive hora e meia ao telefone com a Maria José e Carmo Pólvora. Uma é escultora, outra pintora. A primeira pede-me a comparência amanhã, em Setúbal, na inauguração da estátua de D. Manuel Martins; a segunda em Cascais na vernissage de uma colectiva. A ambas disse que não, porque fui convidado para um almoço em casa dos meus amigos franceses. 


sábado, outubro 24, 2020

Sábado, 24.

Eu, francamente, que me desculpem, mas assim que vejo Marcelo Rebelo de Sousa ou António Costa no ecrã, desligo imediatamente. Estou tão cansado destes governantes que não governam, só falam! Tagarelam a qualquer hora, todos os minutos, noite e dia, apregoam programas, promessas, planos que nunca verão a luz do dia. Gosto mais da acção séria, que da propaganda barata. Bendita pandemia que veio levantar o véu que escondia a realidade sinistra em que vivem os velhos, assim como muitas outras estruturas: ensino, hospitais, escolas, economia em geral, precariedade do emprego,  etc, etc.. Este dueto que mais parece a rábula do senhor Feliz e do senhor Contente, faz política com tal arte que não só adormece o povo, como consegue a partir da catástrofe pandémica um permanente jogo político.  Que azar o nosso viver num mundo onde tudo é endrómina e rapar o tacho do cofre do Estado uma monomania.  

         - Voltou à discussão a eutanásia. No Parlamento foi a votos a moção ao referendo sobre a matéria resultante de uma petição pública. Os senhores deputados, a quem eu não confio a minha vida e muito menos a minha morte, insistem que o tema não deve ser referenciado. Houve divisões entre eles - da direita à esquerda. Embora eu ache que a pergunta foi mal posta e dúbia, todos sabemos o que está em jogo. Não é difícil antever no que vai dar a autorização que uns quantos, em nome de 10 milhões, se permitem o direito de legislar. A ditadura parlamentar está em marcha. Se o afirmo, é porque querem fazer uma lei que quase ninguém conhece, que não foi debatida e dada a conhecer conveniente e seriamente aos portugueses. Resta confiar nos médicos, que já deram em muitas alturas provas de respeitar a vida humana.

         - A pouco e pouco vou restaurando a minha lista telefónica. Já foram recuperados 36 números. Temperatura amena. Sol aberto. Silêncio profundo onde não pildra um só pássaro.


sexta-feira, outubro 23, 2020

Sexta, 23. 

Coisas que aconteceram. A Piedade colocou o edredão de penas de ganso que vem da minha adolescência na cama; apanhei uma tijela de medronhos; colhi umas quantas romãs. No metro uma mulher acabou de entrar. Antes de se sentar, tateia o assento e opta pelo do lado que apalpa também. Esta atitude, lembro-me ser hábito na minha infância, acreditar-se que um banco quente das nádegas do anterior passageiro, podia transmitir doenças venéreas. Esta enormidade só podia ter saído da Igreja de então. Ou talvez não, atendendo ao que do passado se impõe hoje. Trabalhei ontem e esta manhã no romance, tendo escrito duas páginas, a última das quais na esplanada da Brasileira, depois de ter estado ausente do livro desde 30 de Setembro. Decidi seguir os conselhos de Jean-Paul Sartre a Simone de Beauvoir que são os mesmos que Jean Giraudoux deu a Julien Green e João Tordo exorta na mesma direcção: escrever n´importe quoi. Talvez por isso, isolado de tudo, acorriam ao meu cérebro as palavras como sombras de um bosque denso. Um pouco mais tarde, à mesa do pequeno café na fnac, grandes aluviões de ideias vieram engrandecer o bosque onde eu me achava perdido. 


quinta-feira, outubro 22, 2020

Quinta, 22.

Estou de acordo com todos quantos dizem que o Governo se perdeu no ataque à segunda vaga da pandemia. Aqui, mais uma vez, o Mágico apregoa a boa assistência do SNS, quando a realidade suplanta a propaganda. Não há estratégias, não há plano, não há pessoal qualificado, não há dinheiro. Milhares e milhares de doentes não têm confiança no sistema de saúde, milhares de operações estão suspensas, os centros de saúde inoperantes, as consultas médicas paradas, e ai de quem tem o revés de cair doente nesta altura. Morre só como só veio ao mundo -  é o fado nacional. Não vejo nada de assinalante nos anos de governação socialista, à parte o passe Andante e a manutenção da democracia no primeiro período Sars-Cov-2. 

         - O Papa Francisco, sem ter oferecido aos homossexuais a bênção matrimonial, fez história ao afirmar que “os homossexuais têm direito de fazer parte de uma família” e ainda: “ninguém deve ser deixado de fora ou sentir-se arrasado por causa disso.” Eu não compreendo este desejo de querer equiparar-se à família tradicional, mas cada um tem o direito de levar a vida que quer. Por mim, aplaudo a segunda parte desta nota, infinitamente mais reconfortante. A mudança para a tolerância é muito mais importante porque ajuda a mudar mentalidades e humaniza os relacionamentos em sociedade abolindo a discriminação. 

         - A Espanha alcançou já um milhão de doentes com coronavírus. Esta desgraça, agradeçam-na os nossos irmãos aos políticos. A ambição desvairada de uns quantos, é a morte de uns milhares. Quando os povos descrerem definitivamente da democracia, todos sabemos o que se segue. Para nos recordar que a praga de ditadores ainda subsiste, aí está a China, Rússia, Coreia do Norte, e todos os irmãos destes que proliferam pela América Latina, África, Turquia e passo. 

         - Depois das grandes chuvadas, Il pleuviote. Mesmo assim, manhã cedo, ensaquei dois sacos da boa terra da entrada e trouxe-os no carro de mão para debaixo do telheiro. Ficou lá ainda terra suficiente para mais duas carradas. Apesar de estarmos instalados no inverno, não devemos parar cedendo aos chineses que são os únicos que têm ganhado com a pandemia. Pudera! Gostava que algum desses economistas que acertam em tudo, nos dissesse quantos milhões saem do país para a China do ditador Xi Jinping ping ping. Ele é a eléctrica chinesa, o hospital da Luz, as empresas de construção, etc., etc.. Milhares de trabalhadores portugueses ao serviço de uma economia centralizadora que submete o povo aos ditames de um só homem. 


quarta-feira, outubro 21, 2020

Quarta, 21.

A Gi mandou-me este texto que na sua simplicidade é um retrato dos tempos presentes. 

Nevou em Beja !

8:00 horas : fiz um boneco de neve...

8:15: Uma feminista passou e perguntou-me porque não fiz uma mulher de neve.

8:20: Fiz uma boneca de neve...

8:25: A minha vizinha feminista achou voluptuoso, o perfil da mulher de neve, dizendo que é uma ofensa a todas     as mulheres!

8:30: Um casal gay que mora nas proximidades, teve um ataque de raiva e protestou porque deveriam ter sido dois bonecos de neve.

8:35: O transgénero que mora na outra rua, perguntou-me porque não fazia um boneco com as partes removíveis.

8:40: Os vegans no final da rua queixaram-se do nariz de cenoura, já que os vegetais são comida e não decoração para bonecos!

8:45: O cavalheiro muçulmano do outro lado da rua exige aos berros que a boneca deve usar uma burca.

8:50: A polícia chega dizendo que há uma denúncia anónima contra mim, de alguém que foi ofendido pelo meu racismo e discriminação, porque os meus bonecos" são totalmente brancos.

8:55: A vizinha feminista reclamou de novo, porque a vassoura da boneca de neve representa o papel doméstico e a submissão a que a mulher está sujeita!.

9:00: Um procurador chegou e ameaçou processar-me se eu não pedir desculpas públicas, pelo maldito boneco de neve.

9:05: Uma equipa de jornalismo da TV apareceu. Perguntaram-me se sabia a diferença entre bonecos de neve e bonecas de neve. Respondi "as bolas de neve" e chamaram-me sexista!

9:10: Estou no noticiário das 11, como um suspeito, terrorista, racista, delinquente, com tendências homofóbicas e agitador, durante o mau tempo!

Estou a passar por tudo isso por causa dos malditos bonecos de neve!

9:15: Quem me mandou fazer a merda dos bonecos de neve ?... Estão a perguntar nas redes sociais se tenho algum cúmplice ou se alguma organização me incentivou.

9:20: Os manifestantes da extrema-esquerda e da extrema-direita, ofendidos por tudo, estão a marchar pelas ruas exigindo que me linxem!

9:30: As feministas insultam-me e escrevem na fachada da minha casa a palavra machista.

9:45: Organizações ambientalistas acusam-me de poluir a neve

Moral da história :

Não há ! É apenas o mundo em que vivemos hoje - e vai piorar.

O que foi aqui narrado pode ocorrer, e muitas destas coisas já estão acontecendo.

De tudo isso, a coisa mais difícil de acontecer é nevar em Beja...

Autor anónimo

         - Esta manhã, ao sair de carro, esbarrei com o portão que não abria. Fui ver. Um montão de terra escura, folhas, bolota, raízes, tinha-se concentrado à entrada obstruindo os rolamentos de funcionar. Gritei: “Estou preso! Quem me acode!” Ninguém apareceu porque o vizinho da frente, do lado, atrás, estão tão distantes que o meu presbitério ficou transformado numa prisão. Abençoada diga-se em abono da verdade. Então, como não havia outra solução, meti mãos à obra e durante hora e meia desimpedi o caminho. A carrada foi tal que, a dada altura, optei por fazer um monte porque me apercebi que as propriedades da terra eram tais e tantas que seria bom guardá-la para as árvores e jardim. Cheguei ao fim alagado de transpiração - um bom duche recompôs o franciscano nos outeiros de Assis. E Voilà por hoje. 


terça-feira, outubro 20, 2020

Terça, 20. 

Temas prioritários que merecem reflecção até porque estão ligados à podridão que alastra pela classe política – governos, autarquias, organismos do Estado, juntas de freguesia, etc. – grudando-se nas empresas, bancos, centrais de advocacia, institutos disto e daquilo. Falo da corrupção. O sindicado dos juízes e procuradores, entrando na discussão pública sobre enriquecimento ilícito, considerando-o, à priori, um crime, mostraram-se pouco convencido que era desta que a malha se apartava em volta dos pervertidos. E têm razão. Nunca nada avançou de substancial nessa matéria com os socialistas, até porque na procissão dos criminosos estão os camaradas que roubaram milhões de milhões e cujos nomes são tantos que só relendo os milhares de páginas deste diário poderia fazer um balanço. “infelizmente, por falta de vontade política das sucessivas lideranças do país, o combate à corrupção foi sempre uma prioridade no discurso, mas nunca foi uma prioridade na acção”, argumentam os juízes. E vão mais longe, dizendo que a lei passou a isentar de “visto prévio do Tribunal de Contas certas parecerias público-privadas celebradas pelas autarquias, ou recentemente de flexibilização do Código de Contratação Publica”. E relembram ao Governo no presente documento em discussão no Parlamento onde estão as medidas para detectar a corrupção praticadas nos níveis superiores da direcção política dos órgãos do Estado – Presidência da República, Assembleia da República, Governo, entidades reguladoras e institutos públicos. E avisa que a jurisdição portuguesa continua a não dar cumprimento à Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção – protesto que eu ouço há muito tempo e recentemente até na Casa dos Portugueses que a reclamam. E todavia, oh, céus, todavia!, bastavam coisas simples, que todos nós conhecemos, fintas para fugir aos impostos, açambarcar fortunas... Chui! dá de novo a palavra aos magistrados: “Os casos em que os bens não estejam em nome do seu verdadeiro dono, uma vez provada a sua titularidade, o criminoso será punido, não por se presumir que enriqueceu ilicitamente, mas por ter enriquecido sem o declarar e justificar.” É aqui que está o busílis da questão!  

         - Nós a tudo nos habituamos: de António Costa à máscara chinesa. 

         - Temporal trazido por uma tal Bárbara. O vento rugiu, a chuva salmodiou toda a noite e todo o dia de hoje. Fui num ápice ao super fazer uma compra e voltei para me refugiar na leitura e na escrita. Como detesto casas hermeticamente calafetadas, sinto as rajadas do vento a atravessar o salão pelas frinchas das janelas. É saudável este arejamento que renova o ar e impede o corona de se instalar. Entrei no derradeiro capítulo da densa biografia de S. Paulo por Wright. Não saio dela exausto, mas enriquecido, rendido ao trabalho apostólico do Santo, que para espalhar a boa nova, passou por tormentos que não se deseja a ninguém: prisão, vergastadas, insultos, fome, nudez forçada, solidão e desalento...  

         - Justamente, Portugal atingiu hoje os 100 mil doentes com coronavírus. 18 por cento são jovens que o egoísmo leva a infectar os familiares e quem com eles privam. Por toda a Europa, novo confinamento impôs-se. De vacina credível, nem vista. 


      Black pai deixou-me este casal lindísssimo que adora a comodidade. (toque na foto)


domingo, outubro 18, 2020

Domingo, 18.

A França voltou a ser desafiada pelos jihadistas. Um professor de uma escola nos arredores de Paris que ousou ensinar aos alunos a liberdade de expressão escolhendo os desenhos de Maomé publicados pelo Charlie Hebdo, foi decapitado na rua por um muçulmano de 18 anos que, por sua vez, foi morto pela polícia. O que há surpreendente, é a facilidade com que estes tristes ajustes de contas acontecem, sem que a nação possa evitá-los. Se as coisas continuam assim, em breve temos religiões e teorias políticas a instalar-se por via do medo e da ameaça nas nossas sociedades democráticas. Há em tudo isto uma decadência latente que parece escapar a toda a gente. 

         - A grande trapalhada do Mágico sobre a utilização do programa-vigia que ele insiste em nos obrigar a instalar, mesmo que a União Europeia se tenha manifestado contra a sua obrigatoriedade, e sendo quase certo que não passa na Assembleia Nacional, diz muito da sua natureza profunda enquanto dirigente político. O nosso carácter está inteiro nas acções da nossa vida pessoal e pública. 

         - Outra personagem do Portugal reinadio da classe política, está hoje plasmada no Público com direito a várias páginas de palração: refiro-me a Paulo Portas. Dizem que o homem é inteligente, pois eu considero-o esperto. Preferia o Paulo que eu via num sobressalto, todas as noite até às tantas da madrugada, praticamente debaixo da minha janela quando vivi anos a fio no Príncipe Real. Aquele compulsivo desassossego, era infinitamente mais humano, digno de misericórdia e louvor, porque manifestava um ser humano rendido ao que não podemos evitar a menos que nos entreguemos inteiros à difícil doutrina de Deus  hoje malbaratada até pelos sacerdotes pedófilos. 

         - Vou-me acomodando como posso. Eu explico. Há muitos anos que não passo Outubro e Novembro em Portugal e por isso não sei como fazer face ao início do frio, da humidade e do clima em geral. Já me apeteceu acender a lareira - coisa que só fazia no fim de Novembro quando chegava de Paris - já tirei do armário camisola grossa, já enfiei nos pés pantufas, pus e tirei o cobertor da cama e ao serão, por diversas vezes, coloquei a manta inglesa sobre os joelhos. Todo este desassossego, consoante os dias, volta para trás e reinstala o verão, um verão periclitante, que afaga fora da estação. 

         - Acabei de serrar a madeira reciclada ao longo do ano. Também já foi arrumada debaixo do telheiro de modo a poder receber o Inverno em maior conforto. O que se segue? Talvez a barrela de cal nas árvores. Para isso tenho de me ungir de forças que suportem um trabalho de tal envergadura. (Anoto isto para me comprometer com a tarefa.) Tempo soalheiro para gatos (Blacka e Botas) em contemplação e apetite desvairado.   


sábado, outubro 17, 2020

Sábado, 17. 

Uma senhora que encontrei, disse-me que tem uma filha médica e esta lhe contou que tem colegas – médicos e enfermeiros – que pura e simplesmente abandonam os doentes com Covid à sua sorte. Não quero acreditar que a classe médica tenha chegado a este grau de desumanidade ou criminalidade. Mas, quando a vida humana é menos importante que os negócios, é provável que o contágio homicida se tenha estendido por todo o lado. Duma coisa estou certo: nem Costa nem Marcelo morrerão desse tipo de crime. E daí, não sei. 

          - Ontem encontrei-me com o João Corregedor na Brasileira. Levantada a tenda dos comiciais, tendo-se entretanto juntado a nós o Carlos, descemos o Chiado e fomos abancar no Caneca de Prata, na rua do mesmo nome, o restaurante preferido do nosso deputado ou, como eu prefiro, do meu colega jornalista. Longa e interessante conversa sobre um catálogo de assuntos que seria enfadonho enumerá-los, onde a política não podia faltar, bem entendido. O que eu venho notando e era disso que queria falar, é que o João está a deixar a capa da farfalheira comunista para se tornar um espírito mais aberto e menos sectário. O Carmo e os outros diz que isso deve-se a mim que não lhas poupo, mas eu acho que foi na confrontação por vezes acesa dos nossos pontos de vista, que ele se foi abrindo para si próprio. A discussão de ontem foi civilizada, com as buchas partidárias, nomeadamente, o elogio ao ditador da Coreia do Norte e os panegíricos a António Costa que tem nele um simpatizante seguro. Os dois, João e Carlos, estiveram frente a frente sem os habituais e tremendos contrastes político-sociais. Bom. Depois espreitámos o mundo daqui a dois milhões de anos que o escultor vai desenhado com traço seguro e delirante. Os desenhos saem em catadupa da pequena pasta que sempre o acompanha e onde guarda aquele tesouro que antecipa os séculos a advir. Eu conheço a sua colecção de desenhos eróticos fabulosos e incito-o a fazer uma exposição com eles, mas o Carlos contrapõe a família, os filhos e o neto nascido na China. Digo-lhe: “Se pensas na família nunca sairás do caixão de sândalo onde ela gosta de te sepultar. A família é por natureza reaccionária, limitativa, castradora.” Com isto, ele tira da pasta uns quantos trabalhos eróticos e o João que não sabia da sua existência, logo esbugalha os olhos para umas quantas toalhas de mesa onde ele perde horas a esboçar um trabalho de grande rigor e criatividade. Ofereceu um ao nosso amigo e eu escolhi um da fase erótica que juntarei a mais uns quantos que possuo. Terminado o almoço, fomos visitar a igreja de S. Nicolau recentemente reaberta ao público depois de obras de restauração. Estarreci ante uma Mater Dolorosa (da autoria de António Manuel da Fonseca?) é uma imagem que traduz humanidade e dor, mas simultaneamente uma presença que acolhe o coração de quantos a admiram. 

         -  Carlos seguiu caminho, nós demos uma volta pela desolada Baixa lisboeta. É quase um cemitério de revolta, um lugar abandonado, um sopro humano agonizante. Muitas lojas fechadas, uma espécie de desolação e sublevação estampadas nos prédios, a Rua da Prata um corredor onde o vento encana sacudindo os poucos veraneantes, levando memórias e lutas, sonhos e desesperanças. Tudo isto se deve à política desastrosa do Mágico. Apostou as cartas todas no turismo e agora sonha com o passado como se as feridas abertas se fechem por obra e graça do seu optismismo. Que tontaria! Que irresponsabilidade! Que forma de governar que só tem em conta o imediato! Portugal país de turismo, de serviços! Que merdelhice de perspectiva, com fundações de barro, dinheiro na mão e futuro desafortunado! Os velhos foram corridos dali a pontapé, os novos moradores partiram e puseram à venda as casas compradas para especulação, não há quem as queira, o mundo encolheu e só o vírus chinês é hoje rei de senhor dele.  

A revolta do antigo inquilino selada na montra. 

         - O Corregedor, quando saímos juntos, tem a mania ante os que nos servem – donos de restaurantes, empregados, lojistas e assim – de me tratar por “doutor”. Eu perdoo-lhe e até compreendo - aquilo são resquícios do Parlamento onde todos são doutores da mula ruça embora a maioria seja analfabeta. 


quinta-feira, outubro 15, 2020

Quinta, 15.

António Costa, impossibilitado de continuar a fazer magia, abriu as garras e atirou-se de cabeça ao país como qualquer vulgar ditador para quem a força esconde a fraqueza, a falta de competência, o desvario governativo, expondo deste modo o seu verdadeiro carácter. Eu nunca tive ilusões. Bastou-me a forma como ele correu com António Seguro, homem honesto, político equilibrado, que, como Passos Coelho, nunca aceitou ser comentador nos famigerados canais de televisão, nem cargos em bancos, instituições públicas ou privadas, mostrando assim que não precisa deles e tem na dignidade e na liberdade os princípios de vida. Ao contrário de Costa que se perdeu completamente na avidez do poder, no desnorte de uma governação sem pilares conectáveis com a realidade que a Covid veio pôr a nu. 

         “Aqui chegados” (como diz o outro banha da cobra), quer agora o dominador impor a obrigatoriedade da aplicação StayAwayCovid, uma merdelhice que permite detectar quem está infectado com o vírus na nossa vizinhança. Jura ele que aquilo não é invasor da nossa liberdade, na medida em que não identifica ninguém apenas o número do infeliz com a doença. Esquece-se de informar que os dados de cada app ficam lá, algures num lugar que pode ser mais tarde tratado por quem tem o poder. A China mostrou muito bem o poder de controlo que essas merdelhices tecnológicas  possuem. Mais: o presidente do Conselho Nacional de Saúde, Dr. Henrique Barros, que está contra a imposição do equipamento, e é enquanto presidente da organização conselheiro do Governo, diz que o órgão que dirige, nunca foi ouvido sobre o assunto. Afirma: “São medidas altamente autoritárias. Isto é um sinal evidente de uma imensa desorientação, não é política baseada na evidência, é política para tentar criar evidência. Isto indigna-me não só pelo lado autoritário, mas também pela estupidez, porque a história ensina-nos que nunca se consegue combater com eficácia uma crise sanitária com medidas repressivas.” Está tudo dito. 

         - Estará? Vejamos. Num país desigual, onde cada vez mais os velhos e os pobres são deixados para trás, impera a ditadura do futebol. Costa, como a maioria dos políticos, abençoa todos os dias os paletas corruptos daquele universo fechado, com leis próprias e sentimentos malbaratados. Até o vírus chinês é diferente embora, à partida, não escolha as suas vítimas: há um tipo brando para jogadores de futebol e outro atiçado para o comum dos portugueses. De acordo com essa evidência, as orientações da DGS são moles e tolerantes, não impondo as mesmas regras ao futebol que obriga ao resto dos cidadãos. Ao Ronaldo que andou na desbunda sem máscara nem distanciamento, e foi por isso contaminado, resta-lhe pegar um avião particular, deixar para trás uns quantos infectados e regressar tranquilamente a casa. É do mesmo jaez de Trump.  

         - Já agora mais uma observação que julgo pertinente. Se o povo for temeroso e instalar o programa que o primeiro-ministro acolitado pelo chefe de Estado quer arrogantemente impor, que acontecerá aos hospitais e aos doentes que às urgências acudam aos milhares! Outra: como vai ele fiscalizar a operação? Outra: que acontecerá aos que não possuam telemóveis compatíveis com a instalação do programa? E aos outros que nem telemóvel tenham? Bom. Cala-te. Já vomitaste a ira e a indignação de estares sob a alçada socialista que tanto tem feito por ti, a quem devias estar de joelhos e mãos postas a agradecer a graça da sua governação, o amor desinteressado à causa pública, a abnegação pessoal na construção de uma pátria feliz, sem corrupção, sem ladrões, sem lutas intestinas pelos seus interesses partidários ou pessoais, sem pobreza, fiéis guardiães dos valores de justiça, igualdade e fraternidade. 

         - Continuei serrador de lenha. Um montão foi cortado e arrumado debaixo do telheiro. O tempo refrescou bastante. Em breve o Outono dará lugar ao Inverno. Por aqui já as folhas caducas exibem um ocre sumptuoso, que atapeta o chão e faz barulho quando sobre ele caminho. Escrevo no salão, o computador sobre os joelhos. A Piedade acabou de sair e o silêncio abarcou toda a casa. 


quarta-feira, outubro 14, 2020

Quarta, 14.

O que eu pressagiava está a acontecer. A carta aberta dos bastonários médicos ao Governo é a prova. O DGS não aprendeu o suficiente para continuar o bom trabalho inicial. Por outro lado, o egoísmo e irresponsabilidade dos meninos e meninas habituados a não serem contrariados, aí está no seu esplendor: são eles que aumentaram em 20% o número de infectados com coronavírus. Nas tintas para pais, irmãos, tios e tias, avós levam para casa o vírus contagiando os mais frágeis. O importante é que tenham tudo aberto para satisfazerem os seus vícios e não serem contestados pela Covid -19. Primeiro nós, depois os outros. E mesmo que rebentem com o SNS, que se dane. Também em grande parte os emigrantes contribuíram para a desgraça que se está a abater sobre SNS. Vieram de férias e almoçaradas e jantaradas, festas e grandes encontros, encheram o Norte do bicho chinês. Esta juventude a quem tudo deram e não gosta de adversidades, transformou-se numa turbamulta de egoístas, seres frágeis, sem defesas, inconscientes e sem bagagem para enfrentar a vida. Por outro lado, agora se vê que a propaganda de António Costa não passa no crivo da realidade e em consequência o estado de calamidade foi hoje imposto.  2072 novos casos só hoje. 

         - O clima com os seus excessos, amadureceu precocemente os citrinos. Não me lembro de uma coisa assim, muito embora o sabor tradicional não esteja ainda lá. As árvores porém, exibem garbosamente esta abundância de frutos, mas falta-lhe o frio do inverno para lhes fornecer o açúcar. 

         - Hoje fui cortador de lenha. Apoiado pelo cavalete que o Raul fez, serrei uma quantidade de troncos e arrumei-os debaixo do telheiro antes que a chuva chegue. Depois fui almoçar a casa da Glória e regressei para leituras com uma dúzia de ovos e outros tantos dióspiros. Luz clara, temperatura branda, um certo ar de felícia pairando por todo o lado. A tarde agoniza. Calma. Serenidade. Horizonte onde o sol se esconde. Rajadas de Silêncio. Ah, como é bom viver no campo! São 19 horas e sete minutos aos catorze dias andados deste Outono luminoso. 


terça-feira, outubro 13, 2020

Terça, 13.

Há mais um foco a acrescentar incerteza ao mundo: o conflito entre arménios e azerbaijanos no doloroso enclave de Nagorno-Karabahk. O pobre e infeliz e digno povo arménio, que já passou por tantos genocídios, o primeiro dos quais no séc. XIX quando do declínio do Império Otomano e a sua queda em 1918 arrastou tragédias às comunidades cristãs por todo o Médio Oriente, e os jovens turcos, em 1915, levaram a cabo a maior aniquilação arménia, assim como egípcios, sírios e libaneses de maioria cristã, vê-se mais uma vez confrontado com uma guerra sem fim. Não bastou o problema no final do séc. XX, quando sob a batuta da União Soviética, o território azerbaijano povoado por arménios, requereu a incorporação na vizinha Arménia. O que requerem hoje os arménios, fartos de sofrer e quase terem desaparecido, é a manutenção da “faixa de segurança” em território do Azerbaijão, que este exige ser-lhe devolvido. Como sair desta complicação? 

         - In-te-re-ssan-tí-ssi-ma entrevista de António Barreto ontem na antena 1. Com pessoas como ele, a vida, a dele e a nossa, revela todo o significado, quando balizada pela inteligência, sensibilidade, lucidez, coragem e equidade. Até a entrevistadora que habitualmente não prima pela independência, esteve bem. Se o país tivesse uma dúzia de homens como ele... 

         - Exemplo do melhor jornalismo. As televisões ao serviço do senhor Costa e companhia, não tendo como elogiar o governo da nação, insistem num pormenor para eles, jornalistas, da maior importância: o Orçamento Geral do Estado este ano ter sido entregue ao presidente da Assembleia da República, antes das nove da noite por comparação com o do ano passado que chegou ao Parlamento pela meia-noite. Que ridículo, senhores! Se não têm notícias, metam um disco do Quim Barreiros que o povo agradece. Aquele “o bacalhau quer alho” (que não sei se é dele, mas bom). 

         - Vou ter de engordar um pouco. Toda a gente me diz que estou magro demais e o Carlos outro dia foi preciso: “estás bem fisicamente, mas de cara muito magro”. Comecei e acabei de limpar as palmeiras. Duas dúzias de ramos juntaram-se aos montes secos que aguardam o inverno para se transformarem em cinza. Que mais? Veio aí o Raul construir-me um cavalete com a madeira que vou reciclando recolhendo-a de estradas e caminhos para dentro da quinta. Vou iniciar agora a pintalgada de cal nos troncos das árvores de fruto. Trabalho mais duro tendo em vista o esforço de cintura. 


segunda-feira, outubro 12, 2020

Segunda, 12.

Desde que a China expulsou o coronavírus de Wuhan, que Portugal não tinha tantos casos num só dia. Aconteceu ontem: 1646! Costa, associado a Marcelo, fiel aos negócios recusa-se a voltar a confinar. A ver vamos como tudo isto vai terminar. Que ao menos os portugueses tenham mais senso que os governantes e recusem ir a restaurantes, jogos, bares, lojas e participação em ajuntamentos com frequência. Pelo que vou percebendo, a deontologia profissional nos hospitais vai de par com o Governo e coitados daqueles que tenham a pouca sorte de contrair o bicho nesta segunda fase pandémica. 

         - Um rapaz seráfico e sereno que encontrei na Vodafone do Chiado, no espaço de cinco minutos, pôs o iphone nos carris da conversação. Ainda há arestas a limar, mas já posso receber e fazer chamadas. O curioso, foi ver o seu ar de espanto, quando no telemóvel que tinha nas mãos, mal instalou os e-mails, entrarem 192 textos dum jacto. “Como vai responder a tudo isto? Não respondo. Sabe eu sou uma pessoa famosa e os famosos têm uma secretária que se ocupa dessas minudências.” Gargalha sonora. Porém, nem tudo correu bem: fiquei sem a minha lista telefónica, fotografias, várias páginas de pequenas anotações para o Matricida, este diário e coisas que passam por esta cabeça maluca. É a segunda vez que perco todos os contactos, ficando à mercê dos amigos que se lembrem de me ligar para eu repor o que perdi. 


domingo, outubro 11, 2020

Domingo, 11.

Ontem fui à feira dos brocantes em Setúbal. Num passeio pelo centro da cidade, dei com uma fila interminável de gente com máscara, mas colada uns aos outros para entrar no mercado do Livramento, os cafés e estabelecimentos cheios de gente aos montes a comer. Dizem e é verdade que os casos de doentes com Covid disparou. Todavia, ao olhar aquela serpente humana, a quem instruíram que a máscara os defende do contágio, esquecidos ou ignorados os principais escudos contra a infecção – distanciamento, lavagem de mãos, ajuntamentos (exteriores e interiores) – fiquei com a impressão que o vírus tem sido meigo para com os ignorantes portugueses. Numa cidade onde se agrupa uma quantidade de raças, estamos conversados, não é verdade. 

         - Parei por largo tempo a observar aquela torcida de gente. Não vi nenhum ministro, secretário de Estado, secretário do secretário de Estado, deputado, presidente de câmara, de junta de freguesia, elemento do Tribunal Constitucional, do gabinete do chefe de Estado, uma só menina ou menino do BE, PCP, PS, CDS, PSD ou dos grupelhos que formam a Assembleia da República.  Eu há muito que descri de Portugal. Como se costuma dizer: a merda é a mesma, só as moscas mudaram. Trato-os a todos como eles me tratam a mim – com desdém. 

         - A seita de políticos que hoje governam o mundo é desprezível. Veja-se aquela sujeitinha de direita que está à frente da cidade de Madrid, e aquele ambicioso e pouco sério que governa a Espanha. Que jogo incrível eles fazem a ver qual deles mata mais madrilenos com coronavírus! Ela quer a vida rotineira como se a Covid -19 não existisse; ele sair bem no retrato de pai amantíssimo dos seus 47 milhões de filhos que o socialismo pôs à sua guarda. O resultado é este: uma de confina, o outro confina. No meio não está ninguém, quando muito uma multidão de ratos pestilentos a rabiar em busca de comida pelas ruas e bairros da capital, estupefacta a olhar o vazio que se instala por todo o lado e mete medo, aterroriza, e põe na mente das pessoas a morte como destino, alívio e salvação. 

         - Se é um só mandato que é preciso instituir, espero que Marcelo não se recandidate ao segundo e dê assim o exemplo. 

         - “Quem faz frente aos poderes ocultos que estão por trás da corrupção e da perversidade do mundo pode esperar que o combate tome aspectos inesperados e muito sinistro”, diz o bispo anglicano Nicholas Thomas Wright, pág, 266, da sua biografia, São Paulo, traçando um paralelo entre a luta do Apóstolo e o Templo judaico no s.c. I. A quem o dizes, caro confrade! 

         - Ao alvorecer, o ditador da Coreia do Norte, festejou o 75 aniversário daquela coisa que ele manobra com pulso sanguinário. Aproveitou para apresentar um míssil balístico intercontinental que parece poder atingir Washington D. C. e o seu amigo Donald Trump. Eu disse aqui na altura que não acreditava no acordo entre os dois homens sobre material nuclear, como continuo a achar que o bizarro governante, tem todo o direito de ter o material bélico que entenda para sua defesa. Se montes de países o têm, por que raio ele não deve possui-lo? O mal reside na sua existência e enquanto o mundo não se reunir para o destruir na totalidade, o terror e a morte está ao serviço dos tarados que nos governam. Quanto à cagança do homem forte do impropriamente chamado “Partido dos Trabalhadores” não ter nenhum caso de Covid -19, é evidentemente um embuste. A menos que ele liquide à nascença qualquer indivíduo que tenha contraído a doença – no que eu acredito. O país é o que o seu líder supremo quer que seja. Ponto final.  


sábado, outubro 10, 2020

Sábado, 18.

Fui à Avenida de Roma para continuar o calvário Mac, que ainda não ficou resolvido devido a uma série de mal-entendidos próprios das tecnologias, feitas para sugar dinheiro aos seus utilizadores e dar importância aos saloios que estão de joelhos perante elas. Bref. A dada altura ouvi uma voz feminina chamar pelo meu nome. Olhei mas não vi ninguém. Pensei que decerto aquele chamamento inusitado, saiu de algum carro logo posto em movimento à ordem dos semáforos. Bref. O que há de espantoso naquela artéria da cidade hoje em decadência, é o facto de ainda nela viver uma certa fauna de pessoas do antigamente que não passou de moda. Continuam a sentir-se importantes, vestem-se como se fossem para a ópera, pastam nos cafés como se estivessem na sala das suas casas, entopem as ruas com os seus carros luzidios, um braço pendente do vidro, o outro ao volante, quem vem atrás que se lixe porque eles estão reformados, são empregados bancários, professores, alguns políticos, cada um com a sua vidinha triste, alguns com ela dupla, todos convencidos que são alguém no lento e sonolento tempo que por ali parou exalando miasma que teima em demorara-se neles. Bref. 


quinta-feira, outubro 08, 2020

Quinta, 8.

Voltei a Lisboa para tentar resolver o impasse do telemóvel e acabei enfiado numa correria contra o quê? De relance tomei café com o Carmo na Brasileira; segui logo depois para o Fórum Chiado onde pensava me resolveriam o assunto; fui dali ao Rato e almocei à pressa no 1800, porque tinha consulta marcada no oftalmologista (no SNS de Costa, só daqui a dois anos!!), acelerei para a Av. de Roma onde, enfim, entreguei o emmerdeur para restaurar. Vai lá dormir esta noite e amanhã, se tudo correr bem, irei lá buscá-lo. 

         - Vamos ver se o chefe de Estado e o primeiro-ministro têm razão na opção para o cargo de presidente do Tribunal de Contas quando afirmam que esta foi livre e independente. Só saberemos quando o actual presidente, redisser tudo o que o anterior verificou estar a acontecer com os fundos de Bruxelas. 

         - Terminei a limpeza das oliveiras que este ano não deram nem uma azeitona. Cortei os rebentos selvagens que se acumularam no sopé das árvores e carreguei–os para os montes de inertes a queimar. Black, o meu querido amigo, morreu mesmo. Faz uma semana que não aparece. Aquele olhar de despedida!...

         - Suspendi o Green e a Sand porque o apóstolo Paulo é açambarcador. A biografia é arrebatadora e exigente, longa e compacta e tudo nela não pode ser visto como cão por vinha vindimada. A impressão que tive quando li as Cartas, é largamente confirmada com este ensaio de N. T. Wright. 

         - Dia de muito calor. No centro da capital deviam ter estado pelo menos 30 graus. Começo a pensar que foi estúpido ter dito bye bye à água. 


quarta-feira, outubro 07, 2020

Quarta, 7.  

Ontem entrei no maravilhoso B & B do Carlos e só de lá saí pelas oito da noite. O motivo de nos reencontrarmos - embora falemos ao telefone frequentes vezes -, foi tentar desbloquear o meu iphone. Foram umas seis horas sem descanso nem para uma bica, com telefonemas para os técnicos da Mac, de uma simpatia inexcedível, trabalho entre nós e ao cabo de toda esta trabalheira, instalando e desinstalando programas, actualizando e apagando, a coisa não desimpediu e eu vou ter que deixar o telemóvel numa oficina da marca. 

        Pois. Estou sem comunicar com ninguém vai fazer sexta-feira oito dias e, todavia, vivi muito bem sem aquela praga dos tempos modernos. Que sossego! Que liberdade! O Carlos diz-me que quando não tem telemóvel ou se esquece dele, chega a ter urticária! Pois eu aprendi com os meus mestre estoicos a refrear toda essa avidez e quando posso aligeiro a vida para me entregar ao viver de S. Francisco. Relativizo tudo, sobretudo o que a sociedade de consumo impõe e faz seus escravos milhões de ingénuos. 

         - Voltei tarde a casa. Andámos a jardinar pela zona, o meu cérebro embrulhado de assombro pelo que via nada conferindo com a imagem de outros tempos quando ali trabalhei. A um tempo aspecto de refugo e nota de modernidade semelhante ao que se vê por todo o lado, como se arquitectos e decoradores bebessem todos dos mesmos caldos turvos. O prédio onde a Prólogo esteve instalada, é agora um buraco à espera que da terra saia um qualquer monstro de vidro; a rua está encharcada de esplanadas foleiras, alimentadas por uma foule vulgar, respirando os mesmos odores culinários vindos da Índia ou do Nepal, da China ou de outra qualquer parte do mundo formatado por baixo, sem originalidade nem identidade, sem savoir-faire nem carácter. É a cidade Medina armada ao pingarelho, que se alimenta de torradas e leite, vive da aparência e da mentira, da propaganda e do novo-riquismo rústico. Lisboa ou Paris são gémeas no mau-gosto, no desumano, na recusa das origens culturais e artísticas, todos irmanados democraticamente num projecto de vida monótono, acrítico que esconde a pobreza envergonhada, o analfabetismo, a paralisia social e política. 

         - Costa justificou-se na Assembleia com o acordo que fez com o Presidente da República para não revogar o ex-presidente do Tribunal de Contas. Mas a imagem com que fiquei, tendo visto o debate, foi de um homem arrogante, que não gosta de ser contrariado, fraco, que emprega o poder porque não tem argumentos melhores. 

         - O vosso Ronaldo está de novo na berlinda. A modelo que teve relações (ela chama-lhe violação) com ele, insiste em manter o que disse na audiência que ilibou o craque. A mim que nada percebo de jogadores de futebol, ainda menos deste, mas tenho dois dedos de testa para pensar, dá-me para dizer: se foi relação consentida, porque raio o madeirense propôs à vítima um “acordo de confidencialidade” no valor de 375 mil dólares, em troca do silêncio! Este, quer-me parecer, é mais um alto serviço prestado aos vexados dos patetas do futebol por Rui Pinto, através das revelações do chamado Football Leaks.   

          - Por vezes os leitores, se fico uns dias sem aqui vir destilar o que me sufoca, logo avançam: “Não falte! Estou tão habituada a lê-lo todos os dias, que sinto falta do seu comentário”, dizia-me outro uma leitora. Já viram a responsabilidade que carrego aos ombros! 


segunda-feira, outubro 05, 2020

Segunda, 5.

Durão barroso, por incrível que pareça ou talvez nem tanto, foi nomeado presidente da GAVI, uma organização que trata das vacinas à escala mundial. Previne o próprio, que o cargo não é pago. Seja ou não remunerado, o que surpreende depois do que ele fez na UE tendo sido expulso, ainda haja quem se lembre da criatura de sorriso macaco. Isto anda tudo às avessas. 

         - António Costa despediu Vítor Caldeira do cargo de presidente do TdC. Dir-me-ão não foi posto fora, foi o período no cargo que findou. Se preferem, que assim seja. Todavia, essa vingança vem na sequência da advertência que ele fez às novas regas dos concursos públicos, fechando o campo à transparência e abrindo-o à corrupção, com os olhos e o apetite postos nos milhões da UE. O que até se compreende. Os socialistas, desde sempre, foram adversos a criar normas e decretos que controlassem a corrupção. O TdC tem sido para a democracia um pilar fundamental e por ele têm passado homens de grande gabarito, honestidade e imparcialidade. Caldeira não foge à regra, foi um gestor sério, competente e honesto. De resto na linha dum seu antecessor, grande senhor da política e intelectual de nível, quem me dera houvesse pelo menos mais uma dúzia como ele, refiro-me a Guilherme d´Oliveira Martins. Evidentemente que Medina, tem de estar de acordo com o patrão. 

         - Almocei no Corte Inglês depois de ter estado na Brasileira à conversa com o Carmo e a Teresa. Por ali, findo Setembro, os estorninhos estrangeiros levantaram voo. Talvez o coronavírus não se instale agora tão facilmente. Enquanto não chover, é lá fora que abancamos. Hoje as mesas em redor estavam vazias, antes todas preenchidas com gente sem máscara, que tossia e espirrava como selvagens largados num campo de ninguém. Que mais? Aceito de bom grado o Outono; pus um cobertor na cama, desliguei a máquina de tratamento da água da piscina, adormeci-a, desejei-lhe um longo sono e despedi-me até para o ano se Deus quiser. Mais? Tenho para mim que o Black morreu. Há três dias que não aparece e na última noite, antes de sair pelas onze, volveu-me um olhar tão meigo que eu interpretei como agradecimento de tudo o que eu fiz por ele e de adeus. Estava muito velho e os filhos que deixou, de quando em vez, faziam-lhe frente. Tenho uma mágoa a varar-me o coração. Nos muitos anos que aqui viveu, foi largando os hábitos selvagens para se fazer um gato tão empinocado como os de madame Colette.




domingo, outubro 04, 2020

 Domingo, 4.

A tempestade Alex semeou o pânico nos Alpes Maritimes na zona de Nice. Aldeias e vilas, casas a cair como baralho de cartas, pontes desfeitas, centenas de pessoas desalojadas à ultima hora, tudo levado na enxurrada de rios a transbordar. As imagens que a France 2 nos mostra são impressionantes e expõem a força que o Alex empregou para reduzir a arrogância e poder dos homens a simples bonecos articulados pelo seu poder. Há duas mortes e alguns desaparecidos. 

         - Trump deixou o bunker da Casa Branca para o hospital. O seu estado de saúde alimenta todo o tipo de especulações. A equipa de médicos que o trata, parecia uma guarda pretoriana. Que bom ter poder e dinheiro para ser assistido daquela forma exibicionista, quando milhões de americanos infectados por sua culpa falecem sem dignidade e assistência. O monstro primeiro, os outros podem esperar. Mas o monstro padece de obesidade e outras co-morbidades como tensão alta, colesterol, tem 74 anos, tudo factores de agrado do coronavírus. Dito isto, espero que melhor para assistir a derrocada da sua imagem de Presidente dos Estados Unidos da América.  

         - Em resultado de uma festa que o Presidente e a “primeira-dama” (forma ridícula como se todas as mulheres fossem de segunda classe; bem faz Marcelo que não tem primeira-dama e baralhou o estatuto de Presidente; a democracia agradece e julgo que os cidadãos também) deram na Casa Branca para anunciar a nova escolha para o Supremo Tribunal após a morte da memorável senhora Ruth Bader Ginsburg, onde toda a gente se beijou, abraçou, sem máscara nem distanciamento, como exigia o chefe fanfarrão. Em síntese: depois dos festejos, instalou-se o pânico. Logo foram anunciados os contágios com coronavírus do reverendo John Jenkins, do republicano da Carolina do Norte Thom Tillis, da conselheira do presidente Hope Hicks, Kellyanne Conway ex-assessora de Trump e por aí fora, todos festivaleiros da Casa Oval. A Casa Branca transformou-se no viveiro do minúsculo vírus. 

         - De facto, assim é. Graças em grande parte a Trump morreram já 200 mil americanos. Entre nós são infectados perto de 1000 por dia; a França anda pelos 12 mil, e a maior parte do país confinado; idêntico para Madrid que está totalmente restringida; além de Inglaterra, Israel e outros países porque a pandemia não conhece corpos nem povos, pura e simplesmente instala-se onde pode.    

         - “Cuidar de Portugal” é um péssimo slogan para a campanha de Ana Gomes. Portugal não precisa de iluminados, cuidadores ou salvadores. Basta alguém honesto que defenda a liberdade e a democracia. 

         - O Outono ai está: chuva, céu de chumbo, um pouco de frio. Acabei de apanhar os últimos dióspiros e vou para a semana recolher as romãs este ano em abundância. Inusitado porque não tivemos maçãs de nenhuma espécie, peras, uvas, amêndoas, uma razia que colocou o preço da fruta ao nível do que eu via em Paris. 

         - Comecei a reler o Diário Intégral de Green ao ritmo de 10 páginas/dia. Mesmo assim vou já nas 120. A par da biografia de São Paulo e do Diário Intimo de George Sand que adquiri num alfarrabista, em tradução portuguesa de Carla da Silva Pereira. 


sexta-feira, outubro 02, 2020

Sexta, 2.

Apresso-me a deixar aqui o primeiro parágrafo do artigo de António Barreto no Público de domingo com o título “Justiça e Corrupção”. Ele resume duma penada, o que é hoje o nosso infeliz país governado pela nata de gangsters de toda a espécie. “Chegámos a um cume nunca antes atingido! E ainda não vimos tudo. Um primeiro-ministro, um punhado de ministros, diversos secretários de Estado, vários directores-gerais, numerosos membros de gabinetes, muitos banqueiros, directores bancários sem fim, juízes, procuradores, presidentes da Relação, desembargadores, advogados, professores de Direito, deputados, presidentes de câmara, vereadores, dirigentes de partidos nacionais e locais, chefes da polícia e oficiais das Forças Armadas; há de tudo entre notoriamente suspeitos, investigados, sob inquérito, em curso de instrução, arguidos, à espera de julgamento, condenados, à espera de recurso, a cumprir pena, presos e em detenção domiciliária! O elenco de suspeitos de corrupção, é uma lista de celebridades. Não há paralelo na história do país. E parece haver poucos casos semelhantes, se é que existe algum, na história recente da Europa... “ Bom, meu caro Barreto, nalguma coisa temos de ser os maiores! 

         - Por esta altura, em anos normais, diz-me a Annie, já nós estávamos em conversações telefónicas para a minha chegada a Paris. Pelo menos há 25 anos que assim é: eu comecei por passar uma semana, depois 15 dias e já na retraite mês e meio juntos. A pandemia separou-nos e ela não se conforma e eu não tenho outro remédio senão aceitar a vida salgada a que o vírus chinês nos condenou. Mas faz-me falta aquela lufada de ar cosmopolita, as livrarias, os museus, a atmosfera que a cidade expande no Outono, uma certa soturnidade quando as luzes se acendem no Quartier Latin, as igrejas fecham portas e os parisienses correm para o metro aflitos por chegar a casa depois de um dia de trabalho, os jantares em casa de amigos, as viagens inopinadas - Lille, Quiberon, Strasbourg, Cambrai -, os serões fechado no quarto azul a trabalhar, a chauffage à boa temperatura, o silêncio, a paisagem do parque de la Courneuve, o frio, os vidros embaciados, a linha 13 do metro um susto que aqui e agora recordo com saudade, a Av. Romain Rolland deserta, o percurso de autocarro (três paragens) até casa a transbordar de negros, o salão iluminado como se fosse o hall da Ópera de Paris, a Annie e Robert à minha espera para que lhes conte as horas passadas no centro da cidade, os cafés e esplanadas em torno de Saint Michel, os autocarros vagarosos do centro, Notre-Dame adormecida depois do incêndio, os Champs-Élysées varridos pelo vento glacial, eu descendo para tomar o metro na estação do Manel Cargaleiro, misturado com os franceses, um entre iguais não fora o meu passo que felizmente me distingue dos demais, as noites serenas, dormidas no embalo do sonho, ternas recordações que um dia desaparecerão quando todos nós nos ausentarmos para outra vida onde espero possamos voltar a viver juntos... Lá haverá outra Paris, outras ruas e igrejas, outros dias e outras noites, outros encontros e desencontros, uma outra qualquer forma de vida que nos ofereça a possibilidade de balbuciar a palavra AMOR e LIBERDADE num sopro largo de eternidade... 

         - A trágico-comédia em que se transformou a vida dos americanos, conheceu o seu apogeu com o casal Trump infectado com coronavírus. Ele para que não haja veleidades em lhe ocuparem o lugar, barricou-se na Casa Branca onde receberá tratamento vip. Aquela é a maior humilhação que um pesporrente como Trump pode receber. 

         - O Governo socialista, pois então!, quer abreviar a entrega de empreitadas passando por cima dos cânones habituais de contratação pública; mas o Tribunal de Contas, sempre atento, saltou a terreiro a alertar para a corrupção que se perfila.

         - O laxismo dos organismos públicos, cujo pessoal ganha bem, não pode ser despedido, tem a reforma por inteiro, um sistema de saúde mais vantajoso que o SNS, faz o que quer e ainda lhe sobra tempo, é o mesmo que, apesar de se tratar de um quartel onde os migrantes marroquinos foram enclausurados, os ter deixado fugir utilizando lençóis como cordas para descerem pelas janelas e continuarem a fuga para Espanha. Não li em nenhum lado um reparo, revolta, simples nota, chamada à responsabilidade da instituição militar a quem foi confiada a guarda dos pobres marroquinos até à decisão do juiz.  


quinta-feira, outubro 01, 2020


Quarta, 1 de Outubro.

Continuo a leitura da monumental biografia São Paulo de N. T. Wright. Quando há dois anos li as suas Cartas na tradução de Frederico Lourenço, fiquei impressionadíssimo com a personalidade de Saulo de Tarso. Wright neste seu trabalho, dá-nos a conhecer o sentido expresso da célebre “Estrada de Damasco” que eu ouvira falar na adolescência, sem que compreendesse muito bem o que isso significava, posto que muitas vezes escutava derivações que não tinham nada a ver com alguém que vai de Jerusalém a Damasco no séc. I d. C.. Na realidade, se bem entendo, a dada altura, o jovem Saulo de Tarso, um pouco mais novo que Jesus Cristo, tem uma visão que o vai levar a mudar completamente o rumo da sua vida:  vê-se rosto a rosto com Jesus de Nazaré. A partir daí o evangelista S. Paulo parte a promover a palavra de Jesus morto e ressuscitado, deixando para trás as fórmulas que, sendo judeu e zelota, circunscrito à Torá, impediam que qualquer homem não-judeu fosse eleito de Deus. É ele (e Barnabé) que em seguimento vai depois abrir uma brecha deixando entrar todos sem precisão da circuncisão como selo divino dos descendentes de Moisés e David. Quanto ao sentido da frase, ela foi-se alargando para designar a mudança radical que o homem pode fazer ao derrubar os obstáculos que se levantam na estrada da vida, mas ainda quando forças interiores se conjugam para o reorientar para obras de dimensão metafísicas. 

         - Andou aí a Piedade. Enquanto isso, capinei em torno da casa das máquinas, levando dois carros de erva seca para o terceiro monte ao fundo da quinta. Este fim-de-semana vou adormecer a água e desejar-lhe bom e sereno sono até Junho do próximo ano. Que mais? Estou sem telemóvel há dois dias e que bom é. O controlo da Google não pára e eu tenho evitado fazer actualizações chegando ao ponto de o instrumento bloquear. Detesto este mundo informático onde há mais fantasmas que nas catacumbas do fim do mundo.