sexta-feira, outubro 23, 2020

Sexta, 23. 

Coisas que aconteceram. A Piedade colocou o edredão de penas de ganso que vem da minha adolescência na cama; apanhei uma tijela de medronhos; colhi umas quantas romãs. No metro uma mulher acabou de entrar. Antes de se sentar, tateia o assento e opta pelo do lado que apalpa também. Esta atitude, lembro-me ser hábito na minha infância, acreditar-se que um banco quente das nádegas do anterior passageiro, podia transmitir doenças venéreas. Esta enormidade só podia ter saído da Igreja de então. Ou talvez não, atendendo ao que do passado se impõe hoje. Trabalhei ontem e esta manhã no romance, tendo escrito duas páginas, a última das quais na esplanada da Brasileira, depois de ter estado ausente do livro desde 30 de Setembro. Decidi seguir os conselhos de Jean-Paul Sartre a Simone de Beauvoir que são os mesmos que Jean Giraudoux deu a Julien Green e João Tordo exorta na mesma direcção: escrever n´importe quoi. Talvez por isso, isolado de tudo, acorriam ao meu cérebro as palavras como sombras de um bosque denso. Um pouco mais tarde, à mesa do pequeno café na fnac, grandes aluviões de ideias vieram engrandecer o bosque onde eu me achava perdido.