quarta-feira, outubro 07, 2020

Quarta, 7.  

Ontem entrei no maravilhoso B & B do Carlos e só de lá saí pelas oito da noite. O motivo de nos reencontrarmos - embora falemos ao telefone frequentes vezes -, foi tentar desbloquear o meu iphone. Foram umas seis horas sem descanso nem para uma bica, com telefonemas para os técnicos da Mac, de uma simpatia inexcedível, trabalho entre nós e ao cabo de toda esta trabalheira, instalando e desinstalando programas, actualizando e apagando, a coisa não desimpediu e eu vou ter que deixar o telemóvel numa oficina da marca. 

        Pois. Estou sem comunicar com ninguém vai fazer sexta-feira oito dias e, todavia, vivi muito bem sem aquela praga dos tempos modernos. Que sossego! Que liberdade! O Carlos diz-me que quando não tem telemóvel ou se esquece dele, chega a ter urticária! Pois eu aprendi com os meus mestre estoicos a refrear toda essa avidez e quando posso aligeiro a vida para me entregar ao viver de S. Francisco. Relativizo tudo, sobretudo o que a sociedade de consumo impõe e faz seus escravos milhões de ingénuos. 

         - Voltei tarde a casa. Andámos a jardinar pela zona, o meu cérebro embrulhado de assombro pelo que via nada conferindo com a imagem de outros tempos quando ali trabalhei. A um tempo aspecto de refugo e nota de modernidade semelhante ao que se vê por todo o lado, como se arquitectos e decoradores bebessem todos dos mesmos caldos turvos. O prédio onde a Prólogo esteve instalada, é agora um buraco à espera que da terra saia um qualquer monstro de vidro; a rua está encharcada de esplanadas foleiras, alimentadas por uma foule vulgar, respirando os mesmos odores culinários vindos da Índia ou do Nepal, da China ou de outra qualquer parte do mundo formatado por baixo, sem originalidade nem identidade, sem savoir-faire nem carácter. É a cidade Medina armada ao pingarelho, que se alimenta de torradas e leite, vive da aparência e da mentira, da propaganda e do novo-riquismo rústico. Lisboa ou Paris são gémeas no mau-gosto, no desumano, na recusa das origens culturais e artísticas, todos irmanados democraticamente num projecto de vida monótono, acrítico que esconde a pobreza envergonhada, o analfabetismo, a paralisia social e política. 

         - Costa justificou-se na Assembleia com o acordo que fez com o Presidente da República para não revogar o ex-presidente do Tribunal de Contas. Mas a imagem com que fiquei, tendo visto o debate, foi de um homem arrogante, que não gosta de ser contrariado, fraco, que emprega o poder porque não tem argumentos melhores. 

         - O vosso Ronaldo está de novo na berlinda. A modelo que teve relações (ela chama-lhe violação) com ele, insiste em manter o que disse na audiência que ilibou o craque. A mim que nada percebo de jogadores de futebol, ainda menos deste, mas tenho dois dedos de testa para pensar, dá-me para dizer: se foi relação consentida, porque raio o madeirense propôs à vítima um “acordo de confidencialidade” no valor de 375 mil dólares, em troca do silêncio! Este, quer-me parecer, é mais um alto serviço prestado aos vexados dos patetas do futebol por Rui Pinto, através das revelações do chamado Football Leaks.   

          - Por vezes os leitores, se fico uns dias sem aqui vir destilar o que me sufoca, logo avançam: “Não falte! Estou tão habituada a lê-lo todos os dias, que sinto falta do seu comentário”, dizia-me outro uma leitora. Já viram a responsabilidade que carrego aos ombros!