quinta-feira, outubro 15, 2020

Quinta, 15.

António Costa, impossibilitado de continuar a fazer magia, abriu as garras e atirou-se de cabeça ao país como qualquer vulgar ditador para quem a força esconde a fraqueza, a falta de competência, o desvario governativo, expondo deste modo o seu verdadeiro carácter. Eu nunca tive ilusões. Bastou-me a forma como ele correu com António Seguro, homem honesto, político equilibrado, que, como Passos Coelho, nunca aceitou ser comentador nos famigerados canais de televisão, nem cargos em bancos, instituições públicas ou privadas, mostrando assim que não precisa deles e tem na dignidade e na liberdade os princípios de vida. Ao contrário de Costa que se perdeu completamente na avidez do poder, no desnorte de uma governação sem pilares conectáveis com a realidade que a Covid veio pôr a nu. 

         “Aqui chegados” (como diz o outro banha da cobra), quer agora o dominador impor a obrigatoriedade da aplicação StayAwayCovid, uma merdelhice que permite detectar quem está infectado com o vírus na nossa vizinhança. Jura ele que aquilo não é invasor da nossa liberdade, na medida em que não identifica ninguém apenas o número do infeliz com a doença. Esquece-se de informar que os dados de cada app ficam lá, algures num lugar que pode ser mais tarde tratado por quem tem o poder. A China mostrou muito bem o poder de controlo que essas merdelhices tecnológicas  possuem. Mais: o presidente do Conselho Nacional de Saúde, Dr. Henrique Barros, que está contra a imposição do equipamento, e é enquanto presidente da organização conselheiro do Governo, diz que o órgão que dirige, nunca foi ouvido sobre o assunto. Afirma: “São medidas altamente autoritárias. Isto é um sinal evidente de uma imensa desorientação, não é política baseada na evidência, é política para tentar criar evidência. Isto indigna-me não só pelo lado autoritário, mas também pela estupidez, porque a história ensina-nos que nunca se consegue combater com eficácia uma crise sanitária com medidas repressivas.” Está tudo dito. 

         - Estará? Vejamos. Num país desigual, onde cada vez mais os velhos e os pobres são deixados para trás, impera a ditadura do futebol. Costa, como a maioria dos políticos, abençoa todos os dias os paletas corruptos daquele universo fechado, com leis próprias e sentimentos malbaratados. Até o vírus chinês é diferente embora, à partida, não escolha as suas vítimas: há um tipo brando para jogadores de futebol e outro atiçado para o comum dos portugueses. De acordo com essa evidência, as orientações da DGS são moles e tolerantes, não impondo as mesmas regras ao futebol que obriga ao resto dos cidadãos. Ao Ronaldo que andou na desbunda sem máscara nem distanciamento, e foi por isso contaminado, resta-lhe pegar um avião particular, deixar para trás uns quantos infectados e regressar tranquilamente a casa. É do mesmo jaez de Trump.  

         - Já agora mais uma observação que julgo pertinente. Se o povo for temeroso e instalar o programa que o primeiro-ministro acolitado pelo chefe de Estado quer arrogantemente impor, que acontecerá aos hospitais e aos doentes que às urgências acudam aos milhares! Outra: como vai ele fiscalizar a operação? Outra: que acontecerá aos que não possuam telemóveis compatíveis com a instalação do programa? E aos outros que nem telemóvel tenham? Bom. Cala-te. Já vomitaste a ira e a indignação de estares sob a alçada socialista que tanto tem feito por ti, a quem devias estar de joelhos e mãos postas a agradecer a graça da sua governação, o amor desinteressado à causa pública, a abnegação pessoal na construção de uma pátria feliz, sem corrupção, sem ladrões, sem lutas intestinas pelos seus interesses partidários ou pessoais, sem pobreza, fiéis guardiães dos valores de justiça, igualdade e fraternidade. 

         - Continuei serrador de lenha. Um montão foi cortado e arrumado debaixo do telheiro. O tempo refrescou bastante. Em breve o Outono dará lugar ao Inverno. Por aqui já as folhas caducas exibem um ocre sumptuoso, que atapeta o chão e faz barulho quando sobre ele caminho. Escrevo no salão, o computador sobre os joelhos. A Piedade acabou de sair e o silêncio abarcou toda a casa.