Terça, 29.
Li
com imenso interesse o ensaio de Frederico Lourenço sobre a intervenção de
Homero na obra de Thomas Mann, Morte em
Veneza. É justo, bem argumentado e uma surpresa que decerto passou
despercebida à maioria dos críticos. Todavia, por algumas achegas, verifiquei
que Frederico Lourenço não leu o Diário do ilustre escritor e desconhece as
criticas que Marguerite Yourcenar fez à adaptação do romance para o cinema por Visconti.
As deambulações que ele faz quanto à natureza sexual de Mann, não deixou por mãos
alheias o visado. Quem não conhece a célebre viagem do filho Golo a Alemanha a
mando do pai, com a expressa imposição de trazer (a família estava em fuga aos
nazis em França) a mala que continha o seu diário íntimo, obrigando o rapaz sob
jura que não leria nem uma só palavra do seu conteúdo. Do mesmo modo, o filme.
Yourcenar que se correspondeu com Thomas Mann e admirava a sua obra, diz no
volumoso livro Lettres à ses amis et
quelques autres (carta dirigida a William Bast, datada e 7 de Julho de
1973) a propósito do trabalho do realizador italiano: “(...) les personnages
principaux sont très mal représentés. Cet artiste hirsute et un peut ahuri n´a
rien du rigide et aristocratique écrivain dont le drame, précisément, est de
voir s´effondrer une à une ses disciplines. Quant au délicat petit garçon, trop
joli, est loin d´être l´adolescent à la fois maladif et sublime, l´Hermès qui
entraîne son admirateur dans les régions de l´autre monde. Le chef-d´oeuvre a
été tué entre les mains du realisateur.”
Lourenço não chega a tanto. Mostra até que apreciou o trabalho de Luchino
Visconti.
- O boneco de borracha da Coreia do
Norte, está cada vez mais parecido com Trump. Um e outro andam a brincar com o
fogo. A região está já toda em estado de alerta, depois de mais três mísseis
lançados pelo senhor todo poderoso.
- Entretanto, as imagens que nos
chegam do Texas, são aterradoras. Como pode um furacão desorganizar um estado,
lançar em debandada milhares de pessoas, destruir tudo à sua passagem, e continuar
impassível como se nada fosse para mundos outros que desconhecemos onde
existem. Isto é também uma formidável lição para os humanos. A América que se
diz a maior potencia mundial, é tocada no seu profundo sentir, por um monstro
que se forma não se sabe aonde, mata e destrói e passa deixando para trás um
país em lágrimas, devastação e morte.
- Mesmo em manhãs pluviosas, não
devemos parar. Assim, hoje, prossegui no corte substancial do medronheiro que
já cobria uma parte da antiga casa. O barulho das pernadas robustas ao cair era
tal que assustava. Só à conta da poda devo ter arranjado lenha para uma noite
de inverno.
- Uma grande editora, pediu-me um
poema para uma antologia que pretende lançar no início do próximo ano, acrescentando
esta misteriosa advertência: “aos antologiados não será exigida nem oferecida
nenhuma contrapartida.” Não sei de onde vem a ideia que me faz poeta. Os meus
amigos da Brasileira, chamam-me frequentes vezes “o poeta” a par de “o moço de
Palmela”, “o jovem” e assim eu que nunca compus uma poesia!
- Black saudou o dia outonal,
descansando horas a fio. Ontem deve ter dormido o dia todo com um ligeiro intervalo
para paparicar. Este felino humanizou-me um pouco mais. Quando me lembro dos
meses que levei a atraí-lo para casa e depois os acenos selvagens dos primeiros
tempos, dou comigo a pensar que não são só os homens que precisam de afecto, é toda
a natureza que nos rodeia: animais, vegetação, os montes e vales, as praias e
os campos, o mar e o céu. Não é por acaso que Deus descansou ao sétimo dia,
depois de ter criado a vida que muitos de nós insistimos em matar.