quinta-feira, agosto 31, 2017

Quinta, 31.
Não pára de aumentar o número de mortos nas cheias de Houston. Milhões de cidadãos foram obrigados a deixar as suas casas submersas por chuvas diluvianas. Os ecologistas, protetores do Planeta, recordam a Donald Trump, o Acordo de Paris. Mas eu lembro-me de um estudo feito no Tirol e na Gronelândia, julgo que em 1976, segundo o qual a Idade Média tinha sido quente, enquanto o século XVII muito frio. Dá que pensar, não dá? A martirizada Louisiana está na calha do monstro Harvey. Trinta mortes confirmadas até hoje. No outro ponto da terra, a Índia entrou na época das monções: pelo menos já mil e duzentas pessoas faleceram.


         - O nosso querido amigo Virgílio está no hospital com um AVC. O filho chegou a tempo prevenido pelo Carlos Soares que tem o atelier na Lapa onde são vizinhos. Não havia uma hora que tinham deixado o Príncipe. Vou visitá-lo amanhã e levar-lhe uma palavra de conforto.

quarta-feira, agosto 30, 2017


Quarta, 30.
Vieram a público os números trágicos destes dois últimos meses de incêndios contínuos: 12 mil fogos até agora, 37 por cento dos quais durante a noite, 188 mil hectares ardidos, quase uma centenas de mortos.                                         

         - O insuflável da Coreia do Norte, não se intimida com ameaças dos Estados Unidos ou das Nações Unidas. Há semanas, com a decisão da ONU, as coisas pareciam bem encaminhadas. O anafado homem havia amouxado. Mas Trump e auxiliares, cometeram mais um erro: a deslocação para a zona de exercícios militares. É evidente que a criatura hedionda, tem todo o direito a se proteger. É a formulação do velho ditado: “quem vai à guerra dá e leva”.  


         - Não sei francamente quem eu seria sem a escrita. A coisa é de tal modo obsidiante, que luto contra tudo e todos os que me obstam as três horas diárias de mergulho no trabalho. Esse tempo onde estou ailluers, é muito arrasante, mas compensa-me largamente do desespero da vida que escolhi.

terça-feira, agosto 29, 2017


Terça, 29.
Li com imenso interesse o ensaio de Frederico Lourenço sobre a intervenção de Homero na obra de Thomas Mann, Morte em Veneza. É justo, bem argumentado e uma surpresa que decerto passou despercebida à maioria dos críticos. Todavia, por algumas achegas, verifiquei que Frederico Lourenço não leu o Diário do ilustre escritor e desconhece as criticas que Marguerite Yourcenar fez à adaptação do romance para o cinema por Visconti. As deambulações que ele faz quanto à natureza sexual de Mann, não deixou por mãos alheias o visado. Quem não conhece a célebre viagem do filho Golo a Alemanha a mando do pai, com a expressa imposição de trazer (a família estava em fuga aos nazis em França) a mala que continha o seu diário íntimo, obrigando o rapaz sob jura que não leria nem uma só palavra do seu conteúdo. Do mesmo modo, o filme. Yourcenar que se correspondeu com Thomas Mann e admirava a sua obra, diz no volumoso livro Lettres à ses amis et quelques autres (carta dirigida a William Bast, datada e 7 de Julho de 1973) a propósito do trabalho do realizador italiano: “(...) les personnages principaux sont très mal représentés. Cet artiste hirsute et un peut ahuri n´a rien du rigide et aristocratique écrivain dont le drame, précisément, est de voir s´effondrer une à une ses disciplines. Quant au délicat petit garçon, trop joli, est loin d´être l´adolescent à la fois maladif et sublime, l´Hermès qui entraîne son admirateur dans les régions de l´autre monde. Le chef-d´oeuvre a été  tué entre les mains du realisateur.” Lourenço não chega a tanto. Mostra até que apreciou o trabalho de Luchino Visconti.

         - O boneco de borracha da Coreia do Norte, está cada vez mais parecido com Trump. Um e outro andam a brincar com o fogo. A região está já toda em estado de alerta, depois de mais três mísseis lançados pelo senhor todo poderoso.

         - Entretanto, as imagens que nos chegam do Texas, são aterradoras. Como pode um furacão desorganizar um estado, lançar em debandada milhares de pessoas, destruir tudo à sua passagem, e continuar impassível como se nada fosse para mundos outros que desconhecemos onde existem. Isto é também uma formidável lição para os humanos. A América que se diz a maior potencia mundial, é tocada no seu profundo sentir, por um monstro que se forma não se sabe aonde, mata e destrói e passa deixando para trás um país em lágrimas, devastação e morte.

         - Mesmo em manhãs pluviosas, não devemos parar. Assim, hoje, prossegui no corte substancial do medronheiro que já cobria uma parte da antiga casa. O barulho das pernadas robustas ao cair era tal que assustava. Só à conta da poda devo ter arranjado lenha para uma noite de inverno.

         - Uma grande editora, pediu-me um poema para uma antologia que pretende lançar no início do próximo ano, acrescentando esta misteriosa advertência: “aos antologiados não será exigida nem oferecida nenhuma contrapartida.” Não sei de onde vem a ideia que me faz poeta. Os meus amigos da Brasileira, chamam-me frequentes vezes “o poeta” a par de “o moço de Palmela”, “o jovem” e assim eu que nunca compus uma poesia!

         - Black saudou o dia outonal, descansando horas a fio. Ontem deve ter dormido o dia todo com um ligeiro intervalo para paparicar. Este felino humanizou-me um pouco mais. Quando me lembro dos meses que levei a atraí-lo para casa e depois os acenos selvagens dos primeiros tempos, dou comigo a pensar que não são só os homens que precisam de afecto, é toda a natureza que nos rodeia: animais, vegetação, os montes e vales, as praias e os campos, o mar e o céu. Não é por acaso que Deus descansou ao sétimo dia, depois de ter criado a vida que muitos de nós insistimos em matar.  

segunda-feira, agosto 28, 2017

Segunda, 28.
Pelo menos cinco mortos e vários milhares de deslocados devido à passagem do furacão Harvey por Houston. Chuvas diluvianas, rajadas de vento extraordinárias, prejuízos consideráveis. Dizem os entendidos que todas estas tragédias, são devidas ao aquecimento do Planeta. Não sei. O que sei é que a humanidade consome, consome, como se a Terra fosse inesgotável e os seus recursos acompanhassem o prazer de todas as loucuras - o que não é verdade.  

         - Apesar da chuva, pelo norte, persistem os incêndios, havendo mesmo um que tendo sido extinto, voltou com violência. Mistério? Nem por isso. Há muita gente e empresas a ganhar milhões este ano com a tragédia acompanhada do patuá dos autarcas e Governo. Para o ano há mais.

         - Esta manhã, vinha eu de duas horas e meia com o juiz Apostolatos, quando deparo num ecoponto entre Setúbal e Palmela, com um montão de troços de árvores e tábuas diversas. Nem hesitei. Encostei o carro e pedi a um homem que ia a passar me ajudasse a enfiar na mala aquela oportunidade. A dois ainda levámos um certo tempo, tendo eu lamentado o braço grande de uma nespereira que não coube na bagageira. O meu oportuno passante, gozando-me, disse: “Venha cá logo e traga uma motosserra.” Aqui chegado, servindo-me da força que não tenho, descarreguei a talega no sítio onde antes tinha estado outra reciclagem entretanto cortada e armazenada. Não caibo de contentamento.


         - Enfim, a chuva!

domingo, agosto 27, 2017

Domingo, 27.
Vivemos num manicómio. Há dois meses que milhares de bombeiros, helicópteros, aviões despejam hectolitros de água sobre serras e casario, aldeias e vilas, com a ajuda de outros soldados da paz vindos do estrangeiro, uma ministra chora diante do fogo que se apaga aqui para reacender mais adiante, noites e dias, velhas tontas e desesperadas são transportadas para sítios seguros, dezenas são colhidos de morte numa estrada que a polícia obrigou a seguir para fugir às labaredas, uma aeronave cai levando à morte o seu operador, se ouvem discursos dos políticos defendendo um sistema de comunicações uns, refutando-o outros, o Presidente dos afectos e o primeiro-ministro mágico, esfalfados, coitadinhos, correm ao norte, ao sul, a este e a oeste, prometendo, limpando as lágrimas dos desesperados que tudo perderam, remetendo para mais tarde o apuramento das responsabilidades, sempre para mais tarde possível até ao esquecimento, as televisões mostram o inferno em que se transformou o país, os entendidos exibem-se nas televisões, cátedra do saber a mostrar como são cultos, técnicos e estrategas competentíssimos, fazem-no, corajosos, diante das chamas a rabiar em fundo, os presidentes de câmara em uníssono a reclamar milhões para repor o que o fogo levou, eles que nem planos instalaram para o prevenir, e depois de todo este espectáculo, veio o Público há dias dizer que só 18 por cento dos fundos da nossa estimada União Europeia fora gastos na prevenção dos incêndios!!! Que fizeram eles ao resto, quero dizer, a 46 milhões de euros? Que pergunta! Gastaram-nos à boa maneira portuguesa em bonitos quartéis, em carros, em salários e nos brindes e foguetes de que os presidentes das câmaras e organismos oficiais são adoradores compulsivos... No manicómio quem tem olho é rei! Que o digam os dinossáurios autárquicos, que estão de novo a candidatar-se apesar de terem sido condenados e presos por corrupção, compadrio e roubo. Não é tão avançada, iluminada e terna a democracia à portuguesa? Digam-me, por favor! De contrário, morro já aqui.


         - Estive a conversar há pouco com as árvores e plantas a solicitar-lhes que aguentem até amanhã porque está prevista chuva abundante. Argumentei que estou tão estafado de calor, de regas, de preocupações com fogos que estou prestes a desfalecer.