terça-feira, agosto 29, 2017


Terça, 29.
Li com imenso interesse o ensaio de Frederico Lourenço sobre a intervenção de Homero na obra de Thomas Mann, Morte em Veneza. É justo, bem argumentado e uma surpresa que decerto passou despercebida à maioria dos críticos. Todavia, por algumas achegas, verifiquei que Frederico Lourenço não leu o Diário do ilustre escritor e desconhece as criticas que Marguerite Yourcenar fez à adaptação do romance para o cinema por Visconti. As deambulações que ele faz quanto à natureza sexual de Mann, não deixou por mãos alheias o visado. Quem não conhece a célebre viagem do filho Golo a Alemanha a mando do pai, com a expressa imposição de trazer (a família estava em fuga aos nazis em França) a mala que continha o seu diário íntimo, obrigando o rapaz sob jura que não leria nem uma só palavra do seu conteúdo. Do mesmo modo, o filme. Yourcenar que se correspondeu com Thomas Mann e admirava a sua obra, diz no volumoso livro Lettres à ses amis et quelques autres (carta dirigida a William Bast, datada e 7 de Julho de 1973) a propósito do trabalho do realizador italiano: “(...) les personnages principaux sont très mal représentés. Cet artiste hirsute et un peut ahuri n´a rien du rigide et aristocratique écrivain dont le drame, précisément, est de voir s´effondrer une à une ses disciplines. Quant au délicat petit garçon, trop joli, est loin d´être l´adolescent à la fois maladif et sublime, l´Hermès qui entraîne son admirateur dans les régions de l´autre monde. Le chef-d´oeuvre a été  tué entre les mains du realisateur.” Lourenço não chega a tanto. Mostra até que apreciou o trabalho de Luchino Visconti.

         - O boneco de borracha da Coreia do Norte, está cada vez mais parecido com Trump. Um e outro andam a brincar com o fogo. A região está já toda em estado de alerta, depois de mais três mísseis lançados pelo senhor todo poderoso.

         - Entretanto, as imagens que nos chegam do Texas, são aterradoras. Como pode um furacão desorganizar um estado, lançar em debandada milhares de pessoas, destruir tudo à sua passagem, e continuar impassível como se nada fosse para mundos outros que desconhecemos onde existem. Isto é também uma formidável lição para os humanos. A América que se diz a maior potencia mundial, é tocada no seu profundo sentir, por um monstro que se forma não se sabe aonde, mata e destrói e passa deixando para trás um país em lágrimas, devastação e morte.

         - Mesmo em manhãs pluviosas, não devemos parar. Assim, hoje, prossegui no corte substancial do medronheiro que já cobria uma parte da antiga casa. O barulho das pernadas robustas ao cair era tal que assustava. Só à conta da poda devo ter arranjado lenha para uma noite de inverno.

         - Uma grande editora, pediu-me um poema para uma antologia que pretende lançar no início do próximo ano, acrescentando esta misteriosa advertência: “aos antologiados não será exigida nem oferecida nenhuma contrapartida.” Não sei de onde vem a ideia que me faz poeta. Os meus amigos da Brasileira, chamam-me frequentes vezes “o poeta” a par de “o moço de Palmela”, “o jovem” e assim eu que nunca compus uma poesia!

         - Black saudou o dia outonal, descansando horas a fio. Ontem deve ter dormido o dia todo com um ligeiro intervalo para paparicar. Este felino humanizou-me um pouco mais. Quando me lembro dos meses que levei a atraí-lo para casa e depois os acenos selvagens dos primeiros tempos, dou comigo a pensar que não são só os homens que precisam de afecto, é toda a natureza que nos rodeia: animais, vegetação, os montes e vales, as praias e os campos, o mar e o céu. Não é por acaso que Deus descansou ao sétimo dia, depois de ter criado a vida que muitos de nós insistimos em matar.