Domingo,
20.
Por
onde quer que lhe peguemos, Klaus Mann é sempre um homem que nos empolga e nos
desafia a não desistirmos dos valores humanos e da liberdade que nenhuma
ditadura, moral ou ideologia pode extinguir. Neste grosso livro que comecei
agora a ler (Contre la barbarie),
reencontro-o com dezoito anos e já um vigor, uma lucidez contrária aos jovens
da sua idade, capaz de investir sobre Stefan Zweig como sobre todos aqueles que
em 1925 não detectaram em Hitler o tirano que encorpava a olhos vistos. A sua
lucidez, o seu olhar atento, a sua consciência humanista abrilhantam não só um
destino como uma carreira de combatente e de escritor participativo excepcionais.
O drogado, o homossexual, o marginal revelou-se uma voz de uma importância
absolutamente ímpar que mereceria da parte deste século o pedestal que outros
ocupam pelo cinismo e a hipocrisia, de boca cozida e a mente a crepitar de
importância, corrompidos por dez reis de mel coado.
- Nós podemos gritar que não temos
medo, que a vida tem de prosseguir, que os enfrentaremos com denodo, que a
democracia é mais forte que a disformidade. Todavia, começa a ser tempo de nos
interrogarmos para compreendermos como foi possível chegar até aqui. A desordem
mundial, em grande parte construída pelos Estados Unidos e pelas muitas
subserviências europeias, acham-se na origem deste mundo de horrores onde os
inocentes estão a ser queimados na fogueira de um imperialismo que tem as suas
bases não só nos interesses geo-estratégicos, como na prepotência e na expansão
de ideologias de caris económico de que a globalização é o seu expoente máximo
e, simultaneamente, de empobrecimento a todos os títulos do mundo do trabalho. Com
a globalização estamos a criar uma monstruosidade de escravos, de precários, de
vidas sem tapete, à mercê de todos os ditadores, políticos ou empresariais. De
nada serve à nossa imprensa medíocre apregoar que estamos a salvo dos crimes
hediondos levados a cabo pelos jihadistas. Com a importância do seu parecer,
constrói-se o crime e desafiam-se os extremismos. Veja-se o caso da Finlândia.
Era até ontem considerado o país mais seguro do mundo. Um rapaz marroquino de
dezoito anos, derrubou essa bandeira inútil matando e ferindo à facada umas
quantas mulheres nas ruas de Turku, a sudoeste do país.