domingo, agosto 20, 2017

Domingo, 20.
Por onde quer que lhe peguemos, Klaus Mann é sempre um homem que nos empolga e nos desafia a não desistirmos dos valores humanos e da liberdade que nenhuma ditadura, moral ou ideologia pode extinguir. Neste grosso livro que comecei agora a ler (Contre la barbarie), reencontro-o com dezoito anos e já um vigor, uma lucidez contrária aos jovens da sua idade, capaz de investir sobre Stefan Zweig como sobre todos aqueles que em 1925 não detectaram em Hitler o tirano que encorpava a olhos vistos. A sua lucidez, o seu olhar atento, a sua consciência humanista abrilhantam não só um destino como uma carreira de combatente e de escritor participativo excepcionais. O drogado, o homossexual, o marginal revelou-se uma voz de uma importância absolutamente ímpar que mereceria da parte deste século o pedestal que outros ocupam pelo cinismo e a hipocrisia, de boca cozida e a mente a crepitar de importância, corrompidos por dez reis de mel coado.


         - Nós podemos gritar que não temos medo, que a vida tem de prosseguir, que os enfrentaremos com denodo, que a democracia é mais forte que a disformidade. Todavia, começa a ser tempo de nos interrogarmos para compreendermos como foi possível chegar até aqui. A desordem mundial, em grande parte construída pelos Estados Unidos e pelas muitas subserviências europeias, acham-se na origem deste mundo de horrores onde os inocentes estão a ser queimados na fogueira de um imperialismo que tem as suas bases não só nos interesses geo-estratégicos, como na prepotência e na expansão de ideologias de caris económico de que a globalização é o seu expoente máximo e, simultaneamente, de empobrecimento a todos os títulos do mundo do trabalho. Com a globalização estamos a criar uma monstruosidade de escravos, de precários, de vidas sem tapete, à mercê de todos os ditadores, políticos ou empresariais. De nada serve à nossa imprensa medíocre apregoar que estamos a salvo dos crimes hediondos levados a cabo pelos jihadistas. Com a importância do seu parecer, constrói-se o crime e desafiam-se os extremismos. Veja-se o caso da Finlândia. Era até ontem considerado o país mais seguro do mundo. Um rapaz marroquino de dezoito anos, derrubou essa bandeira inútil matando e ferindo à facada umas quantas mulheres nas ruas de Turku, a sudoeste do país.