domingo, agosto 27, 2017

Domingo, 27.
Vivemos num manicómio. Há dois meses que milhares de bombeiros, helicópteros, aviões despejam hectolitros de água sobre serras e casario, aldeias e vilas, com a ajuda de outros soldados da paz vindos do estrangeiro, uma ministra chora diante do fogo que se apaga aqui para reacender mais adiante, noites e dias, velhas tontas e desesperadas são transportadas para sítios seguros, dezenas são colhidos de morte numa estrada que a polícia obrigou a seguir para fugir às labaredas, uma aeronave cai levando à morte o seu operador, se ouvem discursos dos políticos defendendo um sistema de comunicações uns, refutando-o outros, o Presidente dos afectos e o primeiro-ministro mágico, esfalfados, coitadinhos, correm ao norte, ao sul, a este e a oeste, prometendo, limpando as lágrimas dos desesperados que tudo perderam, remetendo para mais tarde o apuramento das responsabilidades, sempre para mais tarde possível até ao esquecimento, as televisões mostram o inferno em que se transformou o país, os entendidos exibem-se nas televisões, cátedra do saber a mostrar como são cultos, técnicos e estrategas competentíssimos, fazem-no, corajosos, diante das chamas a rabiar em fundo, os presidentes de câmara em uníssono a reclamar milhões para repor o que o fogo levou, eles que nem planos instalaram para o prevenir, e depois de todo este espectáculo, veio o Público há dias dizer que só 18 por cento dos fundos da nossa estimada União Europeia fora gastos na prevenção dos incêndios!!! Que fizeram eles ao resto, quero dizer, a 46 milhões de euros? Que pergunta! Gastaram-nos à boa maneira portuguesa em bonitos quartéis, em carros, em salários e nos brindes e foguetes de que os presidentes das câmaras e organismos oficiais são adoradores compulsivos... No manicómio quem tem olho é rei! Que o digam os dinossáurios autárquicos, que estão de novo a candidatar-se apesar de terem sido condenados e presos por corrupção, compadrio e roubo. Não é tão avançada, iluminada e terna a democracia à portuguesa? Digam-me, por favor! De contrário, morro já aqui.


         - Estive a conversar há pouco com as árvores e plantas a solicitar-lhes que aguentem até amanhã porque está prevista chuva abundante. Argumentei que estou tão estafado de calor, de regas, de preocupações com fogos que estou prestes a desfalecer.