Domingo, 27.
Vivemos
num manicómio. Há dois meses que milhares de bombeiros, helicópteros, aviões
despejam hectolitros de água sobre serras e casario, aldeias e vilas, com a
ajuda de outros soldados da paz vindos do estrangeiro, uma ministra chora
diante do fogo que se apaga aqui para reacender mais adiante, noites e dias,
velhas tontas e desesperadas são transportadas para sítios seguros, dezenas são
colhidos de morte numa estrada que a polícia obrigou a seguir para fugir às
labaredas, uma aeronave cai levando à morte o seu operador, se ouvem discursos
dos políticos defendendo um sistema de comunicações uns, refutando-o outros, o
Presidente dos afectos e o primeiro-ministro mágico, esfalfados, coitadinhos, correm
ao norte, ao sul, a este e a oeste, prometendo, limpando as lágrimas dos
desesperados que tudo perderam, remetendo para mais tarde o apuramento das
responsabilidades, sempre para mais tarde possível até ao esquecimento, as
televisões mostram o inferno em que se transformou o país, os entendidos exibem-se
nas televisões, cátedra do saber a mostrar como são cultos, técnicos e
estrategas competentíssimos, fazem-no, corajosos, diante das chamas a rabiar em
fundo, os presidentes de câmara em uníssono a reclamar milhões para repor o que
o fogo levou, eles que nem planos instalaram para o prevenir, e depois de todo
este espectáculo, veio o Público há dias dizer que só 18 por cento dos fundos
da nossa estimada União Europeia fora gastos na prevenção dos incêndios!!! Que
fizeram eles ao resto, quero dizer, a 46 milhões de euros? Que pergunta!
Gastaram-nos à boa maneira portuguesa em bonitos quartéis, em carros, em
salários e nos brindes e foguetes de que os presidentes das câmaras e
organismos oficiais são adoradores compulsivos... No manicómio quem tem olho é
rei! Que o digam os dinossáurios autárquicos, que estão de novo a candidatar-se
apesar de terem sido condenados e presos por corrupção, compadrio e roubo. Não
é tão avançada, iluminada e terna a democracia à portuguesa? Digam-me, por
favor! De contrário, morro já aqui.
- Estive a conversar há pouco com as árvores
e plantas a solicitar-lhes que aguentem até amanhã porque está prevista chuva
abundante. Argumentei que estou tão estafado de calor, de regas, de preocupações
com fogos que estou prestes a desfalecer.