Segunda,
7.
Não
fico muito tempo afastado de Frederico Lourenço. Estou rendido aos seus ensaios
sobre helénicos e alemães. Evidentemente, através da frequência com que o leio,
percebo melhor os seus interesses e às vezes até as obsessões. Mas nada disto
desmerece do muito que aprendo com ele. E não é só o conhecimento tout court, é sobretudo a forma de olhar
os clássicos, o sentimento de reconhecimento que ele nos transmite, a maneira
como Lourenço dá a volta ao texto para acrescentar o comentário, o parecer, a
análise que acaba por engrandecer a proposta de interligação entre o passado e
o presente. Este Escritor (com maiúscula) é uma delicia! Eu que sou acusado de
dizer mal de toda a gente, eis a prova do contrário.
- O calor não nos larga e anda doido
um pouco por toda a Europa onde os fogos são a danação da sua presença. Aqui em
casa ainda assim está-se bem. Logo que acordo abro de par em par portas e
janelas que ficam escancaradas até às nove. Depois, o interior sumido à
meia-luz, movimento-me como os morcegos, leio e escrevo como eles, delicio-me
com a fresquidão dos espaços. Às cinco vou nadar meia hora, estirar-me, enfim,
ao sol a ler enquanto brônzeo este corpinho virgem dos encantos alheios...
- Dizem-me que os políticos estão de
rabo alçado nas praias algarvias. Pois que se deixem estar. Do Alentejo ao Minho
as populações folgam, o ar é menos rarefeito, a poluição menos perigosa, o
descanso mais profundo, a atmosfera mais verdejante e saborosa. A partir de
Setembro, pelo que sei, já se vendem tampões para os ouvidos dos pobres
portugueses.
- Black, quando desço para lhe abrir a
porta da cozinha, deu em me dar uma sapatada de veludo nas pernas. Dá-me uma,
depois outra, e só pára quando lhe passo a mão no pelo. É a forma felina de me desejar
um bom-dia.