segunda-feira, agosto 07, 2017

Segunda, 7.
Não fico muito tempo afastado de Frederico Lourenço. Estou rendido aos seus ensaios sobre helénicos e alemães. Evidentemente, através da frequência com que o leio, percebo melhor os seus interesses e às vezes até as obsessões. Mas nada disto desmerece do muito que aprendo com ele. E não é só o conhecimento tout court, é sobretudo a forma de olhar os clássicos, o sentimento de reconhecimento que ele nos transmite, a maneira como Lourenço dá a volta ao texto para acrescentar o comentário, o parecer, a análise que acaba por engrandecer a proposta de interligação entre o passado e o presente. Este Escritor (com maiúscula) é uma delicia! Eu que sou acusado de dizer mal de toda a gente, eis a prova do contrário.

         - O calor não nos larga e anda doido um pouco por toda a Europa onde os fogos são a danação da sua presença. Aqui em casa ainda assim está-se bem. Logo que acordo abro de par em par portas e janelas que ficam escancaradas até às nove. Depois, o interior sumido à meia-luz, movimento-me como os morcegos, leio e escrevo como eles, delicio-me com a fresquidão dos espaços. Às cinco vou nadar meia hora, estirar-me, enfim, ao sol a ler enquanto brônzeo este corpinho virgem dos encantos alheios... 

         - Dizem-me que os políticos estão de rabo alçado nas praias algarvias. Pois que se deixem estar. Do Alentejo ao Minho as populações folgam, o ar é menos rarefeito, a poluição menos perigosa, o descanso mais profundo, a atmosfera mais verdejante e saborosa. A partir de Setembro, pelo que sei, já se vendem tampões para os ouvidos dos pobres portugueses.


         - Black, quando desço para lhe abrir a porta da cozinha, deu em me dar uma sapatada de veludo nas pernas. Dá-me uma, depois outra, e só pára quando lhe passo a mão no pelo. É a forma felina de me desejar um bom-dia.