Sábado,
28.
Este
Outono de lentejoulas que coabita com o Verão de doçura, invade a casa às
primeiras horas da manhã enchendo-a da luz que ambos irradiam. Trazem também
uma espécie de exultação salpicada de estrelas que crepitam quando me sento a
olhar estas paredes cobertas de livros, refúgio de um solitário que invoca o
silêncio por companhia e a beleza como alimento do espírito. Mas há qualquer
coisa mais que as palavras não encontram forma de exprimir que entra nestes
muros abençoados e fica como uma presença a passear ao longo do dia. As
estantes de alto abaixo, as telas nas paredes, à medida que as horas avançam,
tornam-se recordações de outros tempos quando a suavidade da vida imprimiu a
cada escolha o deslumbre do pobre ante o objecto dos seus sonhos. São memórias
vivas de verões e outonos que na sua azáfama mal conseguiam disfarçar o
precioso instante fixado no suspiro de satisfação que invade cada espaço,
pronto para o desabafo do coração ante a magnificência que ofusca o olhar. Uma
sequência de imagens confunde o passado e o presente, e o tempo, este que aqui
desaguou, como o rasto de um cometa, traz na cauda essas abertas tardias do
encontro com a obsidiante comparência desse outro eu, estático diante dos anos,
sem se aperceber que são as horas que dão forma e majestade ao tempo. As pontas
atravessam-no, e juntam-se em manchas de saudade que não despega dos sentidos,
magoam, agridem cada pedaço de sol que aqui se estabelece e inunda de harmonia
o espaço de uma humanidade pungente, rara, feita da recordação que se acumulou
nos fios dos dias, nos pedaços de mágoas, nas alegrias e tristezas... Oh, não
desças pelas escarpas dos pensamentos, fixa o presente e eterniza-o no teu
coração; faz de cada segundo a rampa de lançamento para outras horas, outros
dias, outros anos como se a vida fosse um eterno recomeço e o sol, a chuva e o
vento os companheiros que te levarão inteiro ao teu destino eterno...
- Não são só os chineses de Hong Kong
que me ouvem. São também os jovens portuguses que numa de folclore, incentivam
no vazio das suas propostas e slogans curiosamente em inglês, o governo a tomar
medias contra o aquecimento da Terra. Sem temas apaixonantes e revolucionários como
aqueles que nos moveram a nós – o fim da guerra, a libertação sexual, a ideia
da Esquerda contra a Direita, o amor como fonte de criação e transformação
social, a igualdade e união dos povos do mundo – sem nada que os preencha além
da fúria consumista, esta malta, na razia do analfabetismo, pega em tudo como
uma moda, uma paixão sem conhecimento do essencial nem forças para enfrentar os
autênticos problemas que afectam o nosso mundo. Os políticos aproveitam a onda
e surfam no populismo que a juventude na sua suposta inocência lhes oferece de
bandeja. Não ouvi uma única ideia em favor da alteração do status quo. A festa do Planeta está para durar. Enfim, do dia
consagrado ao clima, fica a concretização da minha ideia aqui há muito
sufragada: que os protestos sejam sentados nas ruas reivindicando o que acharem
de direito. Aconteceu em Hong Kong e ontem em Lisboa. Por este caminho, vou
registar o protótipo.
- A propósito, um tal André Silva, diz
que se lhe derem votos, com apenas 2 milhões de euros retira das ruas os
sem-abrigo. Registo para memória futura.
E para lembrar a Marcelo – que deixou cair os abandonados da sorte – que se una
ao neopolítico e ambos se batam pela dignidade daqueles que a sociedade só
recorda nos dias de eleições.
- Fortes braçadas apesar de a água ter
arrefecido um tanto. Se Deus quiser, este ano, vou poder nadar até 15 do
próximo mês de Outubro. Sim, Outubro! Momentos paisibles, voluptas in tranquilittate.