Domingo,
15.
Este
registo arrisca-se a ser o relatório de um tempo de assassinos da democracia e
dos direitos dos povos ao competente e honesto exercício do poder por eles
legitimado. Quando não existem associações corporativas, logo se criam outras
na forma de máfias onde estão todos aqueles que traficam influências, roubam,
mentem, rapam do tacho do poder, conhecem os podres de uns e outros, de modo
que no final quem fica a perder são os cidadãos e o regime político que defende
a liberdade e fica em risco com esta espécie de malfeitores que se está nas
tintas para a democracia. Gente mal formada de origem, sem princípios morais,
montada em esquemas alimentados em muitos casos pelos seus progenitores, também
eles obcecados pela riqueza fácil, a cunha, o relacionamento pessoal que não
prestigia o filhinho querido, antes o atira para a fogueira de vaidades e
corrupção que de todo não o faz o homem honrado, ao serviço da comunidade, nem
tão-pouco o político lúcido em quem se possa confiar. Veja-se o mais recente
caso do desembargador Rui Rangel. É tão porco que me limito a pedir aos
leitores que leiam o artigo de Francisco Teixeira da Mota, também ele advogado
e cronista que muito aprecio, de sexta-feira,13.
- Nunca tinha visto o pequeno mercado
das Caldas da Rainha como ontem o vi. As pessoas atropelavam-se, com um crescendo
de franceses de meia-tigela, daqueles que falam alto, exibem grandes mamas
déspotas, elas, e arrogância saloia, eles, à mistura com um mundo antropologicamente
bizarro, indefinido, ou seja, igual a qualquer outro, sem identidade nem
características locais, um mundo de alguma forma híbrido onde parece estarmos a
mergulhar risonhamente. Fiz algumas compras e desandei, telefonando à Alice que
me veio recolher no cimo da praça que sofreu obras de beneficiação e me
pareceram correctas. Calor sufocante por todo o lado.
- Mas no salão da minha amiga
estava-se bem, fresco, paredes imaculadas onde ressaltavam obras de arte:
pintura, escultura, pequenos objectos de vidro, cerâmicas e assim. Em torno da
mesa de jantar, éramos quatro comensais, tagarelas até dizer chega, cercados da
simpatia dos donos da casa, que se estendeu sem darmos por isso até às quatro
da tarde. Sem tempo desta vez para ver os jardins, rumámos, urgente, vite ao museu Malhoa para a vernissage da
exposição de pintura do António Carmo – motivo que me levou à cidade de Bordalo
Pinheiro.