terça-feira, setembro 03, 2019

Terça, 3.

Eu não gostaria de viver sob a bota de Lenine, Estaline, Khrushchev, Brejnev, Putin, Mao Tsé –Tung, Jinping ping ping, Kim Jong-u ou Jerónimo de Sousa; não que este seja igual aos outros assassinos, mas porque a ideologia que o sustenta é sinistra e ameaçadora da minha liberdade e do equilibro do conjunto. Não preciso nem quero explanar o que acabei de registar, a História no-lo mostra sem paixões, nem urras de ódio. Os ditadores escrevem-na com sangue, suor e lágrimas e só conseguem manter o poder pela força ligada à escravidão, ao suplício, ao obscurantismo. Derrubam um ditador, para ocupar o seu lugar e prosseguirem a rota implacável do poder absoluto, do líder-deus, do senhor absoluto. Mas... justamente porque acho o Secretário Geral do PCP diferente, é que o ouvi ontem com imenso interesse na SIC. Face a um António Costa que até não esteve mal, roedor político de longa data, velha raposa com o rabo enorme, amável por natureza, de Sousa foi absolutamente superior, sem deixar cair aquela máscara hedionda onde não bate a bota com a perdigota. Costa é visível que tem respeito pelo velho comunista, até talvez uma pequena dose de simpatia. Mas do que queria reflectir, era sobre o conteúdo das promessas de ambos. Em que é que eles divergiram? Talvez na forma de fazer política, no facto de os grandes temas estarem mortos e enterrados e a retórica dos políticos reduzida à vulgaridade dos números. Dizer e bater-se pelo trabalho precário, acrescentando ou reduzindo um ou dois meses de experiência, é falar de métodos, um encostado aos patrões, outro aos trabalhadores. Isto prova o vazio da governação, e esvazia de sentido as grandes lutas do passado. Muitas delas não realizadas ainda, outras de geração espontânea não assimiladas, todas exibidas como piruetas que se desfazem nas promessas. Sejamos claros: hoje o ministro das Finanças é o membro do governo mais importante, mais influente que o próprio primeiro-ministro. O ser humano está grudado no que cai das mãos do homem que gere o país sentado sobre estatísticas, cifrões, relatórios, PIBs, deficits e a máquina diabólica de uma complexidade assustadora em que se tornaram as nações. Falar de socialismo, comunismo, direita e esquerda é uma abstracção incrível; um género de delírio do tempo ido, que hoje ninguém percebe e só empata e alimenta o gozo intelectual de uns quantos velhos que se alienaram ao lucro, ao orgulho, à importância que os cargos conferem - uma espécie de vitória de Pirros.