segunda-feira, setembro 16, 2019

Segunda, 16.
Na tarde muito quente, estava-se bem no interior do Museu Malhoa que já nada tem a ver com aquele que eu conheci em tempos. O director, depois de apresentar os “comprimentos”, falou do artista e da sua obra em traços tão largos que eu não a reconheci. Esta, com efeito, estava afixada num vasto rectângulo de paredes brancas, muito bem exposta museologicamente falando, uma vintena de telas e quatro desenhos, que o António tem vindo a dar a conhecer por todo o país. Na obra pictórica deste meu querido amigo, o que eu mais prezo é a capacidade criativa no desenho, provando que quem sabe desenhar sabe fazer tudo o resto, goste-se muito ou pouco. Não vou aqui e agora dissecar o trabalho do António Carmo, até porque já tive ocasião de lhe transmitir pessoalmente o que penso dele. Nesta mostra, encontrei sinais que anulam muito do que então lhe manifestei como, por exemplo, esta tela ou este desenho que são, do ponto de vista da técnica e da criação, um bom exemplo do seu talento. Quanto ao domínio da cor, prefiro a de outros tempos, quando o pintor estava inscrito no PCP e fazia ceifeiras e homens do campo, paisagens bucólicas e símbolos rurais, com domínio incrível da cor fria enquanto objecto de talento posto ao serviço de uma ideologia. Então era o deslumbre, a cor directa impunha-se, atirava a nossa atenção, era presença de uma voz, de um olhar, de um interior; aqui ela é dispersa, aromatizada de qualquer coisa de banda desenhada, amalgamada num conceito, disseminada num conjunto, que depois se multiplica e impõe a sua assinatura ou para falar como hoje se fala, a sua marca. Vale a pena uma visita.  


No atelier com Renoir 

A força do desenho de António Carmo

         - Em frente ao mercado do Livramento, uma mulher apregoava: “Aventais pá cozinha que não molham a barriga!”

         - Se tivermos em conta o que nos dizem os médicos e o desinteresse das pessoas pelos seus conselhos alimentares, metade da população devia estar morta. Cada vez vejo mais obesos, grandes barrigas de água, o número de diabéticos é elevado, os restaurantes e supers continuam a vender uma fardo de porcarias assassinas e ninguém faz nada para travar a catástrofe. Talvez os políticos, no intimo, pensem que é melhor assim – há gente a mais no Planeta.

         - A Annie telefonou, ansiosa pela minha chegada. Acontece, porém, que não partirei antes de corrigir O Juiz Apostolatos e o tempo de estada está também condicionado ou às ordens do juiz.  


         - Dei uma vista de olhos pelo programa dos socialistas. Aquilo começa por ser escrito (com mais de cem páginas!) para não ser lido por políticos, comentadores e jornalistas e, claro, muito menos pelos cidadãos. Depois é uma extensa manta cheia de buracos, que pretende encher o olho a quem nela pousa o olhar, mas que depressa nos arranca este desabafo: “Como é possível! Eles que em quatro anos não fizeram nem um terço do que aqui propõem!” O que me pareceu, é que o Estado vai tomar conta de nós, com tudo o que isso implica de liberdade, controlo e parasitismo. Prefiro gastar o meu tempo a ler os clássicos gregos.

   - Devo ter pra’ aí o dossier que a clínica Maló me forneceu para tratar dos dentes. O preço, se bem me lembro, ultrapassava os 10 mil euros! Agora vejo nos jornais que a rede do senhor, tem 88 credores à perna a reclamar 94,6 milhões de euros!! É o velho ditado: “Quem tudo quer, tudo perde.” Já nem o velho cliente senhor Aníbal Cavaco Silva, perdão, sua excelência o vale.