Domingo, 24.
A
hora é das independências. Os curdos reclamam-na, os catalães também. Todos têm as
suas razões e legitimidades. No caso dos primeiros, absolutamente natural, é
mal vista pelas Nações Unidas, os mesmos países que antes a apoiavam. E
percebe-se porquê. Quando estive na Turquia a única coisa que me impediram de
falar, foi nos curdos. São uma ameaça para os países limítrofes onde a norte
vivem milhares de falantes da mesma língua e origens. A sua ramificação para
esses territórios contíguos será inevitável. Além de que o Daesh já por lá andou
e eles conseguiram escorraçá-los, com com a mesma determinação suportam o
Iraque e a Turquia. Se se operar a independência, toda a região vai ser abalada
com um forte tremor de terra político, social, económico. O mesmo se passará
com a Catalunha. Nada será como antes e a valentia dos catalães enfrentará a
supremacia que lhe impõe Madrid.
- Espera-se a vitória da senhora
Merkel nas eleições de hoje. Neste compasso de espera, Chou Chou levantou a
cabeça com umas quantas ideias mal alinhavadas que só enganam os distraídos
como o nosso caríssimo Vicente Jorge Silva. Seja como for, mil vezes ela, que o
socialista (curiosa a correcção que faz a Alemanha definindo-o por
social-democrata, como eu já diversas vezes quis que passassem a ser chamados os
socialistas de cá) Schulz.
- Há dias questionei ao meu médico se
tinha diabetes e acrescentei: “Pergunto-lhe porque a minha irmã padece horrores
por causa da doença.” Resposta: “Você não tem ar de quem tem diabetes,
parece-me uma pessoa muito activa. – Bem, talvez seja se descontarmos três
horas todos os dias sentado de manhã e outra à tarde a trabalhar no crochet.”
Sorriu. Todavia, pelo sim, pelo não, vou fazer análises. A propósito, consegui,
enfim, estabilizar nos 64 quilos!
- Esta manhã fui dar uma volta ao
mercado da Moita. Que prazer! O dia acordou deslumbrante, com um suave sol
outonal, o céu de um azul turquesa e uma quietude que abafa todas as iras e
desesperanças. Comprei um quilo de nozes (duas por dia evitam o colesterol),
dois vasos de alfazemas, o Público e um café na velha instituição em frente à
câmara. O tempo parou por lá. São ainda as conversas de antanho, os homens, as
vestes, a pele trigueira, o ar bonacheirão que esconde a malícia que o olhar
denuncia. Tudo tão perto da capital e tão longe! Quantas gerações vão ser
necessárias para modificar o português médio, afeiçoado ao salazarismo e à
igreja que o moldou em pedra e cal. Os instalados nas cadeiras do poder e dos
partidos, nas multinacionais e nos escritórios fantasmas da advocacia pós-25 de
Abril, dizem-nos que Portugal mudou muito. Quem cambiou foram eles: estão muito
mais abastados, inchados de poder, abastecidos de paleio ronceiro, arrotando
postas de modernidade trazia dos fundos dos mares lodacentos onde eles são reis
e senhores da mediocridade.
- Leio no Público que um senhor
economista escocês, de nome Gregory Clark, afirma que boa notícia é que “no
longo prazo, todos tendemos para a igualdade”; enquanto a má notícia “é que o
longo prazo demora 300 anos”. Ainda bem, digo eu.