sábado, setembro 30, 2017

Sábado, 30.

Amanhã é o ajuste de contas do povo com aqueles que o governaram ou se governaram. É isso que se vai saber. O meu acerto está feito: não voto num executivo, ainda por cima liderado por comunistas, que aplica a lei por ele feita cegamente. Ando ainda a pagar os 900 e tal euros que me cobraram por dois meses de água que não gastei, que eles detectaram ter sido um furo na canalização, mas porque estava dentro da minha propriedade, toca a pagar para a Câmara poder regar os seus jardins ao meio-dia, ter a água a correr à tripa-forra por aqui e por acolá, contribuindo ainda para um excedente para festas e romarias, onde gasta milhares que faltam em tanta coisa útil e imprescindível aos munícipes. Esta vereação pensa que é com rambóia que consegue o voto do povo - e talvez tenha razão atendendo a casta de gente que nós somos.

sexta-feira, setembro 29, 2017

Sexta, 29.
Ontem dei tréguas ao meu cérebro esgotado e fui almoçar com os amigos ao Príncipe que há vários dias reclamavam a minha presença. Estivemos apenas três: Carlos, o Mário e eu. Pouca clientela também. O que redundou em lucro para nós, não só com menos ruído, como mais celeridade no serviço. Dali, fui com o Irmão, revisitar os painéis de Pedro Alexandrino de Carvalho que ornam os altares na igreja de Nossa Senhora do Loreto. Belo trabalho do séc. XVIII que a pouca luz não deixa admirar como merecem. Na igreja meia dúzia de fiéis em oração. O ruído da rua não parecia interferir com a devoção. As igrejas são lugares de encontros divinos e purificação. Bastam cinco minutos para sairmos santificados.

         - No bar da Bertrand entrámos pela tarde dentro em conversa solta e muito riso. Mil recordações, vindas pela memória de elefante que é a do meu amigo. Temos imensa gente das artes e do jornalismo que se cruzaram connosco e entram de quando em vez na salada dos temas vadios: Ary dos Santos, a velha Cine Moro e o atelier que o Carlos teve em frente, o 25 de Abril e o espectáculo daqueles que sendo de esquerda correram a ficar com os bens dos homens de direita, do senhor Robert Gulbenkian a quem ele deu lições de escultura, etc. etc.

          - Um pouco mais tarde, encontrei-me com o Simão recém-chegado da Polónia e da República Checa. A grande novidade, foi a sociedade imobiliária que fez com um amigo do Norte. Disse-me imediatamente que me queria vender a quinta. Respondi que a última oferta foi 700 mil euros e logo ele: “vendo-ta pelo preço que pedires. - Onde vais tu encontrar comprador? - Temos uma base de dados de todo o mundo. Sr. empresário, por quem sois!

         - Anoto para memória futura, esta frase de Francisco Assis hoje no Público: “Macron alcançou uma credibilidade que nenhum outro Presidente francês logrou alcançar nos últimos 20 anos.”   

         - E esta para minha memória: o interessante documentário de anteontem na ARTE sobre Frederico Nietzsche e as lavagens que a irmã, Isabel, fez à sua obra.


         - Assim como este tempo de fim de verão, cheio da luz serena dos fins de tarde no terraço, o pensamento voando ao passado quando a vida tinha os tons e o olfato e os olhos daquele que aqui desembarcou em busca do silêncio e da solidão que a escrita lhe solicitava.

         - Há duas eleições no domingo: na Catalunha e em Portugal. As primeiras são de um povo vivo, as nossas de um povo moribundo. 

quarta-feira, setembro 27, 2017

Quarta, 27.
Nesta república onde quem mais barulho faz mais ganha, são os passivos anciãos, os jovens obrigados a aceitar estágios-empregos, muitos sem serem remunerados, os precários que formam um exército e vivem abaixo da dignidade com reformas e salários que só dão para as deslocações e pagar os impostos, é todo este mundo de pré-escravos quem devia insurgir-se ou, se estivéssemos num país decente e democrático, para quem os políticos sérios e honestos deveriam olhar. E não para os enfermeiros, os juízes, uns e outros com as suas ridículas imposições salariais, nas tintas para o todo do tecido social nacional. Os enfermeiros ao exigirem um aumento de 400 euros mensais, têm o propósito nítido de destruir o SNS; os juízes que pertencem a uma classe de privilegiados que pouco faz e deviam ter vergonha da justiça que praticam – a mais demorada, injusta e cruel de joelhos diante das grandes centrais de advocacia que são quem faz as leis e comanda os magistrados. Justiça inacessível ao comum dos mortais, acessível apenas aos ladrões de coturno, aos políticos corruptos, aos gestores postos em cargos administrativos sem capacidade nem consciência moral, como recompensa dos favores que fizeram aos partidos. Esta miséria é a nossa!


         - Chou Chou posto praticamente de lado pelos franceses, volta-se para a União Europeia a exemplo do seu incompetente predecessor. Pobre homem! Anda à deriva em tão pouco tempo! Não tarda está a fazer tudo ao contrário do que prometeu. Como Hollande, como Theresa May, como, como... todos os governantes deste mundo sem governo. A França, no mês de Agosto, viu crescer o desemprego em 0,6 por cento!!

segunda-feira, setembro 25, 2017

Segunda, 25.
Depois dos sindicatos, da Frente Insubmissa, chegou agora a vez dos camionistas de bloquearam as estradas como derradeiro meio de luta contra a proposta da Lei do Trabalho ultra-liberal de Chou Chou. No entender do banqueiro-presidente, primeiro as empresas, depois os trabalhadores.


         - A Chanceler Merkel ganhou as eleições como se previa, mas sem maioria tendo até perdido votos relativamente às últimas eleições. O social-democrata, perdão socialista, Martin Schulz ainda andou mais para trás, tendo os pequenos partidos avançado substancialmente. Com particular preocupação a direita que tem pela primeira vez após a Segunda Grande Guerra, lugar no Bundestag. Eu sei que não estamos 1933, mas atendendo ao povo alemão, na sua quase totalidade desconhecedor do que foi o nazismo, é arrepiante. Aqui como por toda a Europa do euro, é o desagrado do povo a manifestar-se, a revolta por se saber menos importante que os números do PIB, a desconfiança em políticas que o empobrece enquanto os dirigentes roubam, traficam, enriquecem e a eles nunca falta os salários e as mordomias reprováveis. A Europa do euro é uma fantasia tal como como está, tal como a transformaram os Barrosos e quejandos. E ainda  Chou Chou a pretende alterar para um imenso estado federado. Cruzes, cruzes!

domingo, setembro 24, 2017

Domingo, 24.
A hora é das independências. Os curdos  reclamam-na, os catalães também. Todos têm as suas razões e legitimidades. No caso dos primeiros, absolutamente natural, é mal vista pelas Nações Unidas, os mesmos países que antes a apoiavam. E percebe-se porquê. Quando estive na Turquia a única coisa que me impediram de falar, foi nos curdos. São uma ameaça para os países limítrofes onde a norte vivem milhares de falantes da mesma língua e origens. A sua ramificação para esses territórios contíguos será inevitável. Além de que o Daesh já por lá andou e eles conseguiram escorraçá-los, com com a mesma determinação suportam o Iraque e a Turquia. Se se operar a independência, toda a região vai ser abalada com um forte tremor de terra político, social, económico. O mesmo se passará com a Catalunha. Nada será como antes e a valentia dos catalães enfrentará a supremacia que lhe impõe Madrid.

         - Espera-se a vitória da senhora Merkel nas eleições de hoje. Neste compasso de espera, Chou Chou levantou a cabeça com umas quantas ideias mal alinhavadas que só enganam os distraídos como o nosso caríssimo Vicente Jorge Silva. Seja como for, mil vezes ela, que o socialista (curiosa a correcção que faz a Alemanha definindo-o por social-democrata, como eu já diversas vezes quis que passassem a ser chamados os socialistas de cá) Schulz.

         - Há dias questionei ao meu médico se tinha diabetes e acrescentei: “Pergunto-lhe porque a minha irmã padece horrores por causa da doença.” Resposta: “Você não tem ar de quem tem diabetes, parece-me uma pessoa muito activa. – Bem, talvez seja se descontarmos três horas todos os dias sentado de manhã e outra à tarde a trabalhar no crochet.” Sorriu. Todavia, pelo sim, pelo não, vou fazer análises. A propósito, consegui, enfim, estabilizar nos 64 quilos!   

         - Esta manhã fui dar uma volta ao mercado da Moita. Que prazer! O dia acordou deslumbrante, com um suave sol outonal, o céu de um azul turquesa e uma quietude que abafa todas as iras e desesperanças. Comprei um quilo de nozes (duas por dia evitam o colesterol), dois vasos de alfazemas, o Público e um café na velha instituição em frente à câmara. O tempo parou por lá. São ainda as conversas de antanho, os homens, as vestes, a pele trigueira, o ar bonacheirão que esconde a malícia que o olhar denuncia. Tudo tão perto da capital e tão longe! Quantas gerações vão ser necessárias para modificar o português médio, afeiçoado ao salazarismo e à igreja que o moldou em pedra e cal. Os instalados nas cadeiras do poder e dos partidos, nas multinacionais e nos escritórios fantasmas da advocacia pós-25 de Abril, dizem-nos que Portugal mudou muito. Quem cambiou foram eles: estão muito mais abastados, inchados de poder, abastecidos de paleio ronceiro, arrotando postas de modernidade trazia dos fundos dos mares lodacentos onde eles são reis e senhores da mediocridade.  


         - Leio no Público que um senhor economista escocês, de nome Gregory Clark, afirma que boa notícia é que “no longo prazo, todos tendemos para a igualdade”; enquanto a má notícia “é que o longo prazo demora 300 anos”. Ainda bem, digo eu.