Sábado, 16.
O
Governo apregoa laudas todos os dias acerca dos feitos económicos: a crise
desapareceu, o dinheiro corre a céu aberto, o PIB está sólido, entra em
Portugal milhões trazidos pelos turistas, os funcionários sorriem com a
reposição do que lhe tirou o executivo anterior, os reformados foram aumentados
em três euros, os bancos voltaram a rir às gargalhadas com a ajuda dos nossos
impostos, a paz social foi contida porque os responsáveis habituais pela
desestabilização fazem parte da governação. Ufa! Que paraíso! Até uma agência de
rating deixou de nos tratar de lixo! Contudo...
se assim é, que os pobres, os reformados e o pessoal que se sente injustiçado
apresente a factura. É o caso dos enfermeiros, dos juízes, dos professores, não
sei mais quem. Só faltam os reformados que de todo o tecido social, são aqueles
que têm uma vida criminosamente miserável. Precisam de um guia que os convença
que são a arma mais mortífera que existe à face da terra e devem fazer uso
dela. Dito isto, é curioso observar os camaleões dos políticos. Quando as
agências na sua maioria americanas nos atiraram para o fundo do caixote do
lixo, disseram raios e coriscos delas e com razão. Afirmaram que Portugal não
devia ser dirigido por essas centrais capitalistas, que os seus pareceres eram
manipulados, que o país podia viver sem as suas decisões, etc. Agora que pelo
menos uma foi ao recipiente tirar-nos da imundice, estão todos contentes, dizem
que são competentes (eles não dizem assim, antes Portugal é competente),
sorriem ao capital que já faz fila para entrar as fronteiras que, de resto,
sempre estiveram abertas por imposição da nossa amiga União Europeia. Acredite
quem quiser. Por mim, não sei porquê, acho tudo isto uma fantasia que tarde ou
cedo se revelará na sua trágica dimensão. E não é por culpa do nosso Ministro
das Finanças que me parece um homem simples, competente, desprendido de honras
e foi capaz de construir um esquema (eles dizem engenharia) financeira que pôs
os iluminados de Bruxelas roídos de inveja e de rastos na sua competência
aprendida a granel nas universidades democráticas. De todo o grupo que forma a
dita geringonça, só Jerónimo de Sousa me parece o mais equilibrado, que não cai
na tentação de baralhar e tornar a dar. Move-se por princípios e daí a consistência
das suas ideias e modos de actuação.