terça-feira, setembro 19, 2017

Terça, 19.
Domingo passado descobri uma pequena igreja ao lado do campo de futebol, em Setúbal. Curioso, espreitei. Chama-se a igreja do Senhor do Bonfim, o mesmo nome com que os portugueses que foram daqui batizaram a Baía no Brasil. Acabei por assistir ao Santo Sacrifício da Missa que estava a começar. As dimensões são muito pequenas, talvez uns cento e cinquenta metros de comprimento por cinquenta de largura. O altar-mor do século XVIII com elementos do século XVI como as colunas, é esmagador de talha dourada de um barroco luxuriante. Ele só forma o todo da igreja, porque nós só temos olhos para aquele volume de madeira esculpida a rigor, com profundidade e altura que abafa os azulejos do séc. XVIII que contam a vida de Jesus e forram as paredes laterais do templo. O mais surpreendente ainda, é o mistério que se desprende dela, como que aproximando os fiéis do sacerdote, todos em união com o Senhor exposto no pequeno tabernáculo lateral fora do conjunto arquitectónico central. Adianto também o facto de ter a celebrar a missa o mesmo padre que encontro na igreja de S. Julião hora e meia depois. Simplesmente nesta do Senhor do Bonfim, com uma acústica maravilhosa, ao contrário daquela outra no Largo do Bocage, bebemos as palavras do celebrante não nos escapando nenhuma sílaba. A assistência devido talvez à hora (9 da manhã), era essencialmente formada por gente de mais idade, com vozes todavia cristalinas que enchiam os corações e nos aspiravam para o céu. É como se estivéssemos em nossa casa e um sacerdote amigo se deslocasse para dizer a missa só para nós. Doravante, irei lá ao domingo.

         - O furacão Maria à sua passagem pela ilha Dominica, só deixou pedra sobre pedra. Ficou tudo arrasado e as populações viram-se de súbito no meu do silêncio das ruínas com as suas próprias almas a errarem por lugares de terror. É impressionante e assustador. A Terra terá sempre desafios e segredos que a humanidade nunca desvendará.

         - Vou a meio das seiscentas e cinquenta páginas do romance histórico de Maria João Lopo de Carvalho, Marquesa de Alorna, ou seja Alcipe. O que há de surpreendente na forma narrativa, é o facto de o seu autor ser uma mulher. De facto, há detalhes, expressões, abalos de coração, feridas expostas que só uma escritora podia contar – e Lopo de Carvalho conta muito bem, sem que tropecemos nos capítulos e na marcha da narrativa.  


         - O tempo mudou. Ontem entrei na piscina e saí cheio de arrepios. Se assim continua, vou adormecer a água e passar a nadar nas instalações públicas da vila. Entretanto, apressando-me para conseguir ainda secar a lenha, acabei a poda do medronheiro. Este ano, no Inverno, gostava de aparar substancialmente os cedros em torno da quinta, de modo a deixá-los com no máximo cinco metros de altura. Toda a gente me desaconselha a fazê-lo. O Carlos Soares a semana passada disse-me para não lhes tocar porque me defendem do vento, são bonitos e não constituem perigo de arder. Mas eu assustei-me este Verão, sobretudo quando vi que o meu vizinho deixou a sua herdade ao abandono com o eucaliptal à solta.