Domingo,
3.
Porque
estamos em vésperas de eleições, os autarcas daqui, sem que houvesse ainda
precisão, mandaram arranjar caminhos e estradas, e carregaram na brita que é
coisa que há pelo menos quatro anos não faziam. Foi tudo a eito, até certos trilhos
esquecidos. Agora digam-me: podemos acreditar nesta seita de políticos que
governam apenas para o voto? É a isto que chamam democracia? Foi para isto que
tantos conheceram as cadeias, o exílio, a falta de liberdade, a morte? Foi este
género de democracia que almejavam? Um pormenor que devia fazer toda a
diferença: esta câmara é comunista há uma data de anos.
- O convento de Santa Marta onde está
instalado o hospital do mesmo nome, possui azulejos lindíssimos do séc. XVIII
em muito bom estado e alguns metros deles restaurados. Acontece que a igreja
está atulhada de alto abaixo, em comprimento e largura, dos processos dos doentes
e dos que ali faleceram. Os dossiers são aos milhares, amarelados, dispostos ao
alto num equilíbrio instável, amparados uns aos outros, como se os seus
titulares ainda ali estivessem em murmúrios de revolta. Um mundo kafkiano que
nos arrepia, vigiado por um funcionário a um canto do vasto templo.
- Para economizar energia e assim não
dar lucro aos chineses e mais acções ao senhor Mexia, trabalho várias horas ao
domingo que é o dia do Senhor. Começo às sete da manhã a regar e só termino
depois das dez.
- O artigo que Klaus Mann publicou em
1935 no Pariser Tageblatt, em forma
de carta aberta à actriz Emmy Sonnemann que acabara de casar com Hermann
Goring, a mesma que o autor em Mephisto
imortaliza com o nome de Lotte Lindenthal, é um testemunho impressionante de
arrojo, liberdade e coragem de um homem que enfrentou os nazis com a
determinação de um missionário. Um documento que vale para todas as épocas e
circunstâncias históricas, sempre que estiver em perigo a liberdade e a
dignidade do ser humano.