domingo, setembro 03, 2017

Domingo, 3.
Porque estamos em vésperas de eleições, os autarcas daqui, sem que houvesse ainda precisão, mandaram arranjar caminhos e estradas, e carregaram na brita que é coisa que há pelo menos quatro anos não faziam. Foi tudo a eito, até certos trilhos esquecidos. Agora digam-me: podemos acreditar nesta seita de políticos que governam apenas para o voto? É a isto que chamam democracia? Foi para isto que tantos conheceram as cadeias, o exílio, a falta de liberdade, a morte? Foi este género de democracia que almejavam? Um pormenor que devia fazer toda a diferença: esta câmara é comunista há uma data de anos.

         - O convento de Santa Marta onde está instalado o hospital do mesmo nome, possui azulejos lindíssimos do séc. XVIII em muito bom estado e alguns metros deles restaurados. Acontece que a igreja está atulhada de alto abaixo, em comprimento e largura, dos processos dos doentes e dos que ali faleceram. Os dossiers são aos milhares, amarelados, dispostos ao alto num equilíbrio instável, amparados uns aos outros, como se os seus titulares ainda ali estivessem em murmúrios de revolta. Um mundo kafkiano que nos arrepia, vigiado por um funcionário a um canto do vasto templo.

         - Para economizar energia e assim não dar lucro aos chineses e mais acções ao senhor Mexia, trabalho várias horas ao domingo que é o dia do Senhor. Começo às sete da manhã a regar e só termino depois das dez.


         - O artigo que Klaus Mann publicou em 1935 no Pariser Tageblatt, em forma de carta aberta à actriz Emmy Sonnemann que acabara de casar com Hermann Goring, a mesma que o autor em Mephisto imortaliza com o nome de Lotte Lindenthal, é um testemunho impressionante de arrojo, liberdade e coragem de um homem que enfrentou os nazis com a determinação de um missionário. Um documento que vale para todas as épocas e circunstâncias históricas, sempre que estiver em perigo a liberdade e a dignidade do ser humano.