quinta-feira, setembro 29, 2022

Quinta, 29.

A hipocrisia desta gente que nos governa não tem limites. Ao que parece, desde o começo da guerra na Ucrânia, mais de 300 mil toneladas de produtos petrolíferos entraram no país directamente para Sines adquiridos à Rússia de Putin. Uma no cravo, outra na ferradura. Às claras combate-se o ditador, às escuras fornecem-se-lhe os meios para se manter. Assim se ilude a opinião pública europeia com a alternativa de Portugal à dependência da Rússia. Bluf, bluf.   

         - Os números divulgados por Putin sobre a anexação dos povos ucranianos nos oblast do sul, mostram um povo vibrante em fazer parte de direito da Rússia em mais de 90 por cento! A comunidade internacional chama à consulta uma “farsa” . Eu chamo-lhe um acto à maneira soviética, tão ao gosto de Putin ao longo do seu sinistro reinado de vinte e dois anos.  

         - A propósito esta previsão da jornalista Politkovskaya mandada assassinar pelo prepotente, em 2006: “Se Putin construir mesmo um sistema neo-soviético, este possa desmoronar-se, como antes, devido à ineficácia económica. A marca registada da Administração Putin é construir o capitalismo de Estado, criando uma oligarquia burocrática leal através da tomada do controlo de todas as principais receitas nacionais (que estão na sua maior parte dependentes de adjuntos ou outros membros da Administração Presidencial).” 

         - Os povos oprimidos estão a caminho da emancipação. Tenhamos esperança. Olhemos o que se passa no Irão. Há mais de uma semana que as noites de várias cidades são incendiadas pela revolta dos jovens que recusam a tirania. Apesar do número de prisões não parar de aumentar e da ameaça violenta dos extremistas religiosos, eles fazem-lhes frente como nunca se viu depois da chegada de Khomeini ao poder. 

         - Acabei de apanhar uma sesta de dióspiros – os últimos da pouca safra deste ano. 


quarta-feira, setembro 28, 2022

Quarta, 28.

Apesar de me ter sido muito duro de ler, o livro de Anna Politkovskaya ensinou-me deveras sobre a Rússia e o seu presidente. Um homem tenebroso, desumano, tirano, verdadeiro criminoso que não sei como pôde iludir tanta gente não só entre os comunistas portugueses, como entre dirigentes políticos com responsabilidades a nível europeu. Bem sei que na origem dessa simpatia de plástico, esteve, estão sempre factores económicos, jogos de interesse comandados pela corrupção que leva a palma sobre causas sociais, políticas, ambientais e outras. No caso dos comunistas é ainda mais bizarro, vê-los a apoiar um capitalista sinistro, mais hediondo que todos os seus congéneres americanos, um regime opressivo, um grupo de oligarcas que subjugam milhões e reduzem as leis a meros apetrechos das suas ganâncias. Repare-se nesta passagem, (pág. 352): “O hábito de nos considerarmos “pessoas insignificantes” é como o botão vermelho da mala nuclear do presidente – basta que o prima e o país está nas suas mãos.” Um Diário Russo é um breviário de terrores. Desde que comecei a lê-lo evitei trazê-lo aos meus leitores, por mim e por todos os que defendem a liberdade e acreditam que cada vida é um hino divino, uma graça experiencial que nos foi outorgada. “Aquilo a que Lenine chamava “chauvinismo vulgar de grande potência”, de que sofre Putin, está de novo na moda.” Eu ouvi inúmeras vezes esta citação da boca de colegas jornalistas e de amigos de esquerda nos tempos da ditadura, mas arremessadas por Politkovskaya contra Putin é recontextualizar a verdade coisa que eles não admitem. 

A fuga à mobilização forçada na Rússia 
       

          - Deu-se o caso de ontem no Corte Inglês ter-me dado na fraqueza um relógio de pulso de uma beleza tentadora. Ainda mais quando a funcionária, uma negra lindíssima, agradável, delicada (que me redimiu das outras da sua raça que encontro no Fertagus), ter-me posto o objecto no pulso. Hesitei em comprá-lo, mais a mais porque o Dr. Gambeta me arruinou e a vaidade nunca foi apanágio para mim. Pelo sim, pelo não, pergunto o preço: 1499 euros! Senti de imediato o fogo a subir pelo braço e devolvi o objecto sedutor como um corpo juvenil e provocante que por nós se cruza e por magia nos devolve os nossos nostálgicos vinte anos... 

         - Fui visitar o Fortuna e passei para cima de uma hora com ele e com a mulher. Ambos muito fragilizados, a velhice rondando o resto de energia que ele ainda apregoa, mas que não acompanha o artista fantasista que ele foi. O atelier-museu, espécie de mausoléu, erguido depois de ter perdido o espaço com o seu nome, à entrada de Palmela, isto é, nos últimos dois anos, cresceu em dimensão, mas temo que ele não consiga ver a obra terminada. Porque o que está em execução, para qualquer pessoa com metade da sua idade (ele fez, julgo, 86 anos), é já um trabalho de monta. Obcecado como sempre foi, seguindo os seus sonhos sem olhar a ninguém nem a nada, não se dá conta que o peso dos anos se instalaram, não lhe dando tempo para os pôr em execução. Saí triste da visita, porque enquanto falava com ele, revi a minha própria existência quando aqui cheguei e logo o apoiei no projecto que acabou por perder devido ao seu modo de ser impulsivo. Ele e a mulher que tanto sofreu a seu lado e de tudo ele a privou, são um casal por quem tenho estima e na medida do possível gostaria de ajudar.   

                                               


terça-feira, setembro 27, 2022

Terça, 27.

Quando atravesso períodos de desespero e enquanto aguardo a protecção divina, socorro-me dos meus anjos da guarda: Julien Green e Ernst Junger. Nessas alturas, regresso aos seus diários e colho nas suas páginas a força e a esperança de que careço. No domínio prático, ponho os olhos no velhote da estrada que, na indiferença dos seus noventas anos, capina e tinge o muro da sua mansão com a brancura luminosa da cal. Três exemplos que tenho sempre por perto e aos primeiros desalentos suplico ajuda. Suponho que sempre assim aconteceu. Quando penso no fundo dos escombros de onde venho, atravessada a vida como saltimbanco abandonado à sua sorte, amante da solidão como fonte inspiradora, senti ao longo do tempo que alguém me protegia e olhava por mim. Uma luz cintilante brilhava abrindo o caminho que me trouxe aqui, a este espaço banhado pela natureza, a este lugar de santificação da vida... A morte só é real quando ressuscita cada instante roubado à desistência da luta. 

Julien Green


Ernst Junger

       - Acordei cedo para concluir o trabalho destes últimos dias. Após o pequeno-almoço e o Nespresso para dar energia, recomecei a rachar os troncos que restavam. Depois carreguei quatro carros de lenha para o sítio onde os armazenei e suspirei: Ufa! Enfim! Agora vou tomar um duche e despachar-me para o comboio que me levará à Lisboa. 


segunda-feira, setembro 26, 2022

Segunda, 26.

Depois de ter decretado a mobilização para a guerra, Putin foi confrontado com grandes manifestações por todas as principais cidades do grande país que é a Rússia. Calcula-se que foram presas pelo menos 2.000 pessoas. Assistiu-se de imediato a um espantoso êxodo de jovens russos em direcção à Finlândia, Cazaquistão, Geórgia, Turquia. Há muitos quilómetros de carros para chegar a estes países e as viaturas são abandonadas de qualquer maneira nas fronteiras. O ditador, ante isto, decretou 10 anos de prisão para todos os faltosos; estes têm de decidir morrer a combater numa guerra idiota ou ficar encarcerados uma década – a fuga a este clima de horror, é o exílio. Anna Politkovskaya, num livro publicado em 2007 pela editora Pedra da Lua, portanto antes deste que terminei de ler a semana passada e de que aqui falei diversas vezes, e pouco tempo antes de ser assassinada à porta de sua casa, aos 48 anos, em Outubro de 2006, escreve no A Rússia de Putin: “Vladimir Putin, produto dos mais obscuros serviços secretos do país, não conseguiu ultrapassar as suas origens e deixar de se comportar como um tenente-coronel do KGB soviético. Putin continua a estigmatizar com afã os seus compatriotas amantes da liberdade, persistindo em esmagar a liberdade, como sempre fez ao longo da carreira.” Recordo que Putin chega ao poder pelas mãos do alcoólico Boris Iéltsin, em 2000.  

Segundo o orador domingueiro da SIC, muitos são os portugueses (imagino extremamente bem informados) que começam a cansar-se da guerra e das suas consequências nas suas vidas e acham que a UE devia fazer concepções à Rússia. Do púlpito e muito bem, o pregador informou os compatriotas egoístas o que estaria em causa se isso viesse a acontecer: em breve Putin subjugaria à sua tirania toda a Europa. Como aconteceu, acrescento eu, quando da guerra monstruosa da Chechénia que logo se estendeu às regiões circundantes: Daguestão, Ossétia do Norte, Ingúchia, Kabardino-Balcária e mais tarde Crimeia e o território do oblast e por fim a Ucrânia. O homem é louco e capaz de ultrapassar todas as barreiras inimagináveis. 

         - Das eleições (mais uma) na Itália, saiu vencedora a coligação de direita com o colecionador de Botox (ao lado dele só Ronaldo e o cómico Castelo Branco) em pleno, Matteo Salvini e a senhorita Giorgia Meloni, líder do partido Irmãos de Itália. Sobre a dita ida às urnas, lá como cá, embora lá a abstenção tenha pela primeira vez ultrapassado os 30%, ninguém parece importar-se com o voltar de costas à democracia por um substancial número de eleitores. A nossa esquerda ficou alarmada como se a direita italiana ou outra, não tivesse direito ao jogo aberto da democracia. Por mim, só o combate à globalização me une a senhorita, tudo o resto que ela defende é detestável, particularmente nesta ocasião o ódio que tem à imigração e não disfarça, contrário aos princípios da Igreja Católica que diz praticar. Enfim, que venha breve outra ida às urnas. De todo o modo, os italianos não estão preocupados com o retorno a qualquer forma de fascismo, e pragmaticamente apontam a sua defesa ao facto de o país estar na União Europeia. Foi a mesma razão que levou Mário Soares a candidatar Portugal à então CCE.  

         - A revolta não abranda. Há nove dias que a contestação ao regime odiento do Irão não larga as ruas, onde já foram mortos pela polícia dezenas de corajosos jovens, mulheres e homens. Lá como cá para os comunistas, tudo o que leve à revolta dos regimes opressores, é obra dos americanos. Eles dividem o mundo e deste modo sustentam as suas razões, entre quem está com a Rússia e contra a América ou quem está por esta contra aquela. 

         - Hoje não deixei este oásis. Trabalhei o dia todo em duas frentes: no corte dos taralhoucos, na escrita e leitura. Estou quase a terminar de rachar os monstros, mas para isso trabalhei no duro – acabei feito num oito de três troncos. Uma parte já foi recolhida no telheiro, a outra sê-lo-á amanhã se não for a Lisboa. 

         - Fabuloso concerto ontem à tarde no canal TV5Monde com a orquestra de Lucerna no auditório KKL da cidade, lindíssimo. 


sábado, setembro 24, 2022

Sábado, 24.

“Quando é que o PCP convoca uma manifestação pela paz contra Putin?” pergunta, oportuno, Pacheco Pereira no Público. Eu respondo: “Nós somos pela paz. Quando a Ucrânia voltar à posição territorial que tinha antes da invasão forçada dos nossos camaradas.”  

         - Sim, não se compreende a posição dos comunistas portugueses. Bem sei que a Rússia foi berço e protecção dos da velha guarda, mas apoiar um homem que encarna o capitalismo na sua versão mais abjecta, e pela arrogância e ambição está acima de todos os capitalistas americanos, dá que pensar. 

         - O Irão está a ferro e fogo. Todas as noites há distúrbios, já morreram uma vintena de pessoas, carros incendiados, multidões desceram às ruas, as mulheres queimam nas fogueiras véus e cabelo. Tudo pela morte de uma rapariga às mãos do regime ditatorial que apoia Putin, por não usar o véu conforme a Sharia. Tal como o algoz moscovita, os novos Khomeini querem o povo amouxado, cumpridor do Corão, subdesenvolvido e temente a Maomé. 

         - Desde que mandei cortar a grande mimosa que ameaçava cair para cima da casa, que ficaram no sítio do seu nascimento, um montão de troncos impossíveis de cortar ou rachar. Ali estiveram cinco longos anos até que anteontem, guardada a lenha para o Inverno, decidi afoitar-me a rachá-los em três partes. Como fiz eu? Comprei um ponteiro de ferro com uns 20 centímetros e com uma marreta de ferro, apontei ao tronco tentando fazê-lo entrar até ao fim (que linguagem, jovem!) e desse modo abri-lo em dois. Foi nesta operação que estive esta tarde para cima de uma hora, ao cabo da qual saí feito num tronco. Tenho ainda mais meia dúzia para rachar e de seguida uns quatro carros de lenha a levar para o dormitório de Inverno. O curioso, mesmo no limite da minha força, era invadido por um raio de felicidade que atravessava todo o meu ser. Sentia-me realizado, feliz por ter sido capaz de fazer um trabalho que me estava em princípio proibido. Bem diz a minha assistente operacional (vês como aprendeste!) quem o viu e quem o vê! 

Os monstros 

O silêncio do Inverno 

O Inverno do meu contentamento. (As ovelhas não são minhas, foram emprestadas para a fotografia...) 

sexta-feira, setembro 23, 2022

Sexta, 23.

Diz o Governo e repete-me no seu fanatismo insuportável o Corregedor: Portugal este ano cresceu 6 e qualquer coisa por cento. É óptimo? Seria se o país real, varrida a propaganda, estivesse sólido, apto a enfrentar a crise e os meses e decerto os anos que aí vêm. Aos dois milhões e meio de pobres, devem juntar-se mais uns milhares. Nenhum Governo, repito, nenhum depois do 25 de Abril afastou do nosso horizonte social este pesadelo. Mas Portugal, no crescimento dos papéis económicos, é o maior da União Europeia. Não há paciência! 

         - Chegou-me ao telemóvel o novo “apartamento de luxo” que António Costa comprou por 276.050 euros (a notícia vem acompanhada de fotos). O negócio, quanto a mim, não parece ter nenhum cambalacho típico das acções do nosso primeiro-ministro (pior e menos transparente foi a compra da casa do seu provinciano sacristão, adiante). Nasceu, por assim dizer, do primeiro andar, uma cave, que Costa adquiriu e onde morou e depois vendeu, comprou um andar e de seguida transaccionou até ter a soma que lhe permitiu agora oferecer-se o tal “apartamento de luxo” na zona de Benfica onde tem vivido. À parte os inúteis e insuspeitos 50 euros, eu não quereria viver naquele “luxo” liofilizado. Horror! horror!, excelência! Apesar de não gostar da sua política, pela simpatia que é, gostava de o ver a acabar os seus dias num ambiente onde se respirasse vida. Ali, a avaliar pelas fotografias, respira-se o tédio fastiento do vazio cheio de coisa nenhuma.    

         - Vou transcrever o Público. “Putin foi pressionado pelo povo russo, pelo seu partido e pelos seus ministros para criar esta operação especial”, disse Berlusconi à televisão pública italiana RAI na quinta-feira, utilizando a retórica oficial russa para a guerra. O plano da Rússia era, originalmente, conquistar Kiev “em apenas uma semana”, e substituir o Presidente ucraniano democraticamente eleito, Volodymyr Zelensky, por “um Governo de pessoas decentes”. Com isto feito, “Putin abandonaria a Ucrânia na semana seguinte”, acrescentou.

“Eu nem entendi o porquê de as tropas russas se terem espalhado pela Ucrânia. Para mim, deveriam ter ficado apenas em Kiev”, disse Berlusconi, de 85 anos, que uma vez descreveu Putin como um “irmão mais novo”. O pobre milionário está visivelmente tatibitate. Que c´est triste vieillir! Aquilo de que me apercebo, é que Putin tem as boas graças da direita e da esquerda. Por que será? 

         - No Fertagus que me trouxe de regresso ao paraíso, sentados nos bancos prioritários, encontrava-se um casal curioso. Ela de grandes cabelos brancos, farto peito aberto à admiração de quem ousava olhá-lo, vestida com um conjunto florido em tafeta, uma perna traçada sobre a do seu acompanhante; ele um cota careca, gordo, a camisa aberta até ao umbigo, a peitaça peluda, em calções e barriga imponente. Ela, durante todo o trajecto até Pinhal Novo onde saí e os deixei, a cantarolar para quem a queria ouvir: “Quero amar perdidamente...” Com ou sem melodia, os dois não se calaram um segundo, o tempo todo a contar banalidades sem fim. Pergunto-me: como são estas almas em casa e, se me permitem, na cama?  


quinta-feira, setembro 22, 2022

Quinta, 22.

A questão é pertinente. Se o “sim” à pseudo-independência dos territórios anexados pela Rússia for avante e Putin sair vitorioso como tudo leva a crer, todo e qualquer ataque da Ucrânia ajudada pela NATO, passa a ser uma ofensiva contra a Rússia – e deste modo começar a Terceira Grande Guerra. 

         - As imagens que nos chegam de Moscovo, fazem lembrar o pior do salazarismo, quando o ditador atacava com a mesma violência os que desciam às ruas a manifestarem-se contra o regime. Na capital russa e noutras cidades, milhares contestam a guerra e a mobilização de reservistas ordenada esta quarta-feira pelo ditador. Para cima de um milhar foi barbaramente agredida pela polícia e levada para a prisão. O mundo prepara-se para o pior e o pior acontece com a pobreza que se estende por todo o lado. Só o nosso medíocre ministro das Finanças, sorry, do PS não enxerga o que está diante dos olhos de toda a gente. 

         - Ando agora sempre com o croché na mochila. Anteontem, sentei-me por duas horas no bem refrigerado Vitta Roma, e fui revendo o romance. Empanquei em duas ou três passagens e vou ter de refazer alguns parágrafos da história.  

         - Andou aí uma máquina infernal com um único homem a vindimar 350 mil cepas.  Precisou de apenas dois dias para percorrer um oceano de três hectares, mas largou a vinha num estado comatoso como se tivesse levado uma sova que a deixou exangue. 


quarta-feira, setembro 21, 2022

Quarta, 21.

Desde que começou a invasão da Ucrânia que pensei dificilmente escaparíamos de uma terceira guerra mundial. Nessa altura já tinha a percepção do louco que habitava o Kremlin e do sistema político que ele havia estabelecido na Rússia. O tempo passou, o país invadido, utilizando a inteligência e o orgulho nacionais, progrediu e obrigou o Ocidente e os Estados Unidos a olhá-lo com a consideração que merece. Sete longos meses de horror passaram, milhares de mortos, cidades reduzidas a escombros, famílias separadas, crianças mortas, êxodo e desespero para milhões de seres humanos. Na origem disto tudo, um só homem protegido por umas quantas luminárias fardadas. A idiota guerra aí está a intensificar-se e desde as primeiras horas da manhã de hoje, após discurso gravado do ditador, e os muitos revezes no campo de batalha, foi imposta a mobilização militar parcial para cidadãos que estejam hoje na reserva, e militares que serviram nas Forças Armadas, num total previsível de 300.000 homens. O criminoso, não deixou de brandir com as armas nucleares que promete utilizar se se vir atacado pela NATO seu principal inimigo. Disse-o várias vezes dirigindo-se à NATO: “Não é bluff.” “Quem tentar fazer chantagem nuclear deve saber que os ventos podem mudar de direcção para o seu lado.” Biden, respondeu: “Dont´t. Dont´t. Don´t.” E assim vamos vivendo.

         - Eu não me importo de morrer pela filosofia. Ontem fui à Fnac levantar o livro de Jeanne Hersch L´étonnement philosophique. Abrindo-o no capítulo sobre Santo Agostinho, deparo com este pensamento luminoso que me deixou paralisado: “La fatalité a quelque chose de rigide, de fixé d´avance, alors que la prédestination se réfère a une origine divine, présente en tout temps, et qui n´est pas impersonnelle. Le Dieu d´Augustin, c´est le Dieu vivant, inimaginable, auquel il croit et qui lui est plus intérieur que lui-même.” E mais adiante: “C´est la vie même de Dieu dans l´éternité qui engendre, dans l´éternité, cette prédestination – ou plutôt c´est que nous nommons ainsi, en y réintroduisant malgré nous, mais selon notre nature, la temporalité.” Ufa! Ufa! Isto promete. 

         - Deve ter chovido toda a noite, eu durmo agora directo sete horas. Não sei se devo esta tranquilidade de toda uma vida ao Triticum, se aos ciclos de joão-pestana que vêm e vão nestes derradeiros dois anos. Porque para adormecer nunca precisei de contar moscas ou cordeiros, caio à cama e em cinco minutos entro noutro mundo. Por isso, fico sem saber se a droga me prolonga o sono, se o sono está em bom ciclo comigo. Saramago, às vezes, falando da idade que avançava, dizia-me que com os anos tinha dores intermitentes no corpo, “até que um dia se instalem de vez”, concluía. 

         - E por fim a pobre rainha Isabel II encontrou o sossego eterno. Andou uma semana a subir e a descer do pedestal com os seus restos mortais para ser venerada pelos seus súbditos e líderes mundiais que a Londres chegaram com ar satisfeitos e por vezes divertidos. Quem não foi convidado para o espectáculo da morte, foi Vladimir Putin. Esta desconsideração, sentiu-a no corpo e disfarçou-a com dificuldade. Até porque a morte é o seu divertimento diário. O enorme e criminoso desprezo que tem pela vida humana, só o satisfaz quando na Terra inteira só ele viva. Ele e os jagunços oligarcas, generais e lambe botas que o mantêm. 


segunda-feira, setembro 19, 2022

 Segunda, 19.

Então foi assim. Mal me tinha sentado na esplanada, logo se apresentaram três empregados fardados para me servir. Conhecia dois deles. O terceiro, loiro, bigode biltre, sorridente, não. Imediatamente se instalou uma grande animação vinda não sei de onde nem a que propósito, pôs os três a perguntarem-me qual deles era isto e aquilo. Fui respondendo: “Este (o loiro) é suspeito; vocês os dois devem pertencer há muito ao sindicato”. Gargalha sonora, os fregueses esperavam, os meninos divertiam-se. Eis senão quando, surge um quarto rapaz, fardado, junta-se ao grupo e era o elemento que faltava no conjunto das queridas borboletas coloridas. Perguntam-me: “E este?” Respondo: “Esse é irmão daquele (o esbelto loiro).” A animação era tanta que os clientes na sua maioria estrangeiros, assistiam, aparvalhados. Ante o espectáculo, o polícia escapuliu-se, a atmosfera baixou, e antes que a patroa viesse pôr ordem, os restantes retomaram o trabalho e o loiro veio servir-me “a bica à maneira.”  A manhã rebentava de prazer e liberdade. 

         - Marcelo Rebelo de Sousa na sua euforia de agigantar Portugal, nem se dá conta ao insistir “na mais antiga Aliança com Inglaterra”, que foi graças a ela que a monarquia portuguesa se extinguiu. O mundo vive no efémero ou seja na morte. 

         - Afinal estamos pobres e miseráveis como, de resto, sempre estivemos. Ainda não há duas semanas, o sacristão dizia que dinheiro não faltava e por isso os organismos e instituições não passariam privação. Agora ai Jesus que a Segurança Social vai falir daqui a vinte anos e é necessário acautelar um tal fiasco. Daí a manobra do chico-esperto relativa ao cálculo das reformas a partir de 2024, criada pelos socialistas e depressa enterrado embora esteja na lei. “Modifica-se a lei” sentenciam o arcebispo e o sacristão. A propaganda, ante os problemas reais, esgota-se num ápice provando que a governação socialista tem sido um autêntico susto. 


domingo, setembro 18, 2022

Domingo, 18.

Não quero ser do contra, mas a dupla Manuel Pizarro/ Fernando Araújo tem tudo para não dar certo. A começar pela galinheiro onde Costa quer enfiar os dois homens dando, inclusivamente, um bónus (lá está o bónus tão caro ao primeiro-ministro) pelo bom exercício do cargo ao segundo. Marcelo acaba de aprovar o decreto-lei que define e regula a direcção executiva do Serviço Nacional de Saúde. Se funcionar, é a primeira infra-estrutura do governo socialista ao fim de seis anos! Cá estaremos para seguir o trabalho de um e outro, sendo certo que Pizarro não me convence como ministro da Saúde, por ser um homem demasiado pegado a António Costa e Araújo um técnico que honra as boas contas e o rigor – factores antagónicos para os socialistas.  

         - Fernando Medina, a semana passada na Assembleia da República, atacou o PSD dizendo que “não tem autoridade para falar sobre pensões”. Discutia-se o aumento das pensões para 2023 que, como toda a gente sabe, foi o maior imbróglio criado pelo eminente chefe das finanças e o seu amado patrão. A resposta de socialistas e partidos de esquerda, vem na ponta da língua: “Vocês fizeram a pior austeridade de que há memória.” Quando não se tem argumentos, não se sabe ou não se pode fazer melhor, recua-se aos anos da troiyca que até nós chegou devido aos roubos de toda a ordem perpetrados por José Sócrates e... ao famoso PEC IV que a esquerda não gosta nada de recordar e pelo qual cai o Governo do açambarcador. Neste PEC, está lá escrito a austeridade, mais um conjunto de medidas: aumento de impostos, corte de despesa, diminuição do nível de vida. Mais: no estado em que encontrou o país, a Passos Coelho que foi um homem sério e competente, não restavam outras alternativas se queria ter dinheiro para pagar ordenados e pensões no fim  do mês, que fazer o que fez. Eu não gostei e até fui para a rua contestar. Não contra o essencial das medidas, mas contra o excesso que foi além do que propunham os técnicos internacionais. Se os nossos políticos fossem honestos e não homens de propaganda, diriam que ao ufanoso Costa das reversões salariais, já Passos Coelho havia começado a repor os salários cortados. Mas sobre tudo isto: bico calado. E por favor, mais uma vez, por favor, não fales do PEC II e PEC III aplicado por Sócrates que trouxeram 10 mil milhões de austeridade. Lembram-se da humilhação dos velhos sem poderem às portas da Segurança Social obrigados a provar reformas miseráveis? Este bem-aventurado período socialista, é assombrado por tudo quanto se passou há dez anos. Entretanto, o seu grande obreiro, José Sócrates, anda pelo mundo a tirar cursos rápidos, em Paris esteve para aprender francês e tocar piano e agora goza da tranquilidade seráfica das areias calmas da Ericeira, o ripanço da sua conta bancária. Olarelas!  

         - Há pouco andei por aí a olhar as árvores. As oliveiras (meia dúzia) não se vê uma só azeitona. Ao invés os primeiros dióspiros, nada a ver em beleza, tamanho e sabor com os do ano passado, embora os tenha regado, apareceram em quantidade reduzida. Idem para as macieiras quase despidas. Quem  está florescente, são os marmeleiros, o medronheiro, e pouco as romanceias. Há dois dias colhi os derradeiros figos, pequenos e muito doces. 

          - Ao ditador de Moscovo, só lhe resta para salvar a face, incendiar o mundo com a arma nuclear. Em debandada da Ucrânia, graças aos seus bravos soldados e ao fogo espiritual do seu Presidente, deixa para trás um campo de sepulturas improvisadas, com mais de 450 mortos, entre soldados e civis. Destes muitos apresentam sinais de violentas torturas e todo o campo de Izium, no nordeste do país, é um lençol de crimes contra a humanidade. Bem fez Joe Biden que antes de deixar os EUA para integrar o corpo de dirigentes mundiais no funeral da rainha Isabel II, avisou:  “Dont´t. Dont´t. Don´t.” 

         - Itália, a bela Itália, conheceu um terrível temporal que arrasou aldeias e vilas na região central. Só quinta-feira à noite foram registados quase 400 milímetros de chuva, o equivalente a seis meses na região Ancona e na sublime Umbria. Morreram pelo menos 10 pessoas. 

         - O PCP cava todos os dias mais funda a sua sepultura. Numa semana votou contra o voto de pesar pela morte do grande estadista que foi Gorbatchev. E contra a adesão da Finlândia e Suécia à NATO. Ele e os chupa-galhetas do BE. Em ambos os votos, sós. 


sexta-feira, setembro 16, 2022

Sexta, 16.

Vou ser sincero: sinto-me profundamente infeliz com o destino do meu país. Merecíamos melhores governantes, sérios, competentes e humanamente entregues à felicidade daqueles que juraram defender. Não aceito que quase tudo o que a esquerda condenou ao Estado Novo não tivessem sido  modificado de forma a fazer de Portugal um país de referência, onde houvesse dignidade de vida e políticas conformes. Quando um caríssimo amigo, a quem muito devo, desde a minha entrada no jornalismo ao tecto que me abrigou durante quarenta anos, aos autores que me deu a conhecer – Malreaux (A Condição Humana), René Guénon (La crise du monde moderne) entre tantos outros -  assim como as longas horas de discussão, que começavam na redação do jornal e terminavam à mesa do café, este querido amigo, com quarenta anos de jornalismo, dizia-me há dias que vive na pobreza. Quase desfaleci revoltado contra um sistema que parece viciado na pobreza e no bónus, e que um recente relatório do Eurostat confirmou com os assustadores índices: Portugal passou do 13º para o 8º dos países europeus de pobreza ou exclusão social. Utilizando o número: 25% da população (ele aponta para 22,4%) é pobre, alguns são indigentes. 

         - Mas o patuá não demove esta gente. Vai por aí um chorrilho de propostas, de aplicação dos milhões do PRR, mas a pobreza prossegue indiferente ao paleio de técnicos que se dizem conceituados e os mais afamados da Europa: por cada novo rico ou muito rico, caiem, desemparados, milhares de pobres. Quanto ao Governo e ainda por cima dito socialista, a desbunda é total, a atarantação oferece o espectáculo da ruína, da decadência, de fim de ciclo. A propaganda falhou, foi desmascarada pelos seus próprios resultados. As políticas não convencem ninguém, as empresas fecham portas, o desemprego cresce e com ele afunda-se uma vez mais Portugal. Estamos sempre a recomeçar e de cada vez mais fracos, mais miseráveis, mais arrogantes, mais sectários. Os ministros e comanditas, respondem ao partido – Portugal é apenas um apêndice. E os portugueses uns patetas que António Costa tenta ludibriar com promessas que no dia seguinte se revelam alçapões de armadilhas. Que o diga os dez mil milhões que o Estado ganhou com a guerra, e com tanto dinheiro pretende fazer proezas económicas de olhos postos em Bruxelas, de modo a que o primeiro-ministro seja reconhecido para um qualquer cargo na UE. As empresas e os portugueses estão fora desta ambição. 

         - Zelensky teve um misterioso acidente de automóvel ao regressar da frente de combate, em Kherson. Pouco tempo depois, com ferimentos ligeiros, recebeu a corajosa Presidente da União Europeia, Ursula von der Leyen. Que lhe foi renovar o auxílio e agradecer o seu combate pela liberdade na Europa. O método é próprio da tradição russa, onde se contam às centenas os assassinatos, O último dos quais a semana passada na pessoa de mais um oligarca que se tinha manifestado contra a invasão da Ucrânia: Ivan Pechorin, director administrativo da indústria de aviação da Corporação de Desenvolvimento do Extremo Oriente e do Ártico. O “acidente” aconteceu no Mar do Japão, dias antes do início do VII Fórum Económico Oriental organizado por Vladimir Putin, e deveu-se à queda do barco quando navegava na costa da Ilha Russhy, alcoolizado. Ao que consta, os companheiros tinham bebido tanto como ele, mas só o infeliz tombou e morreu. 

         - A qualidade de melancolia que entrava através das janelas e portas do salão, enquanto ao longe descia em lâminas de tons imprecisos o sol fúnebre, que mergulhava na noite perpendicular, deixou-me imóvel a participar de um momento único, de algum modo anúncio do princípio dos tempos, antes de todos os séculos, como lemos na Bíblia. Com ela entrava e acomodava-se um silêncio nunca outrora imperado, como cetim sacudido pelo vento, ou lábios que ciciam o drama que não contam a ninguém e jaz no declino do dia como mensagem que permita à luz renascer todas as manhãs. 




quinta-feira, setembro 15, 2022

Quinta, 15.

Outra coisa não seria de esperar da Justiça que temos e das inchadas autoridades ao serviço dos múltiplos interesses: o monstruoso desastre de Pedrógão com os 63 mortos e os onze arguidos nunca existiu. O tribunal de Leiria varreu de uma penada a sua existência com este acórdão: “(…) Não resultou provado que os óbitos e ofensas à integridade física verificados tenham resultado, por ação ou omissão, da conduta de quaisquer dos arguidos, as quais não são causais dos gravosos e múltiplos resultados desvaliosos verificados.” Deste modo: polícias, GNRs, autarcas, bombeiros foram ilibados de qualquer responsabilidade e gritam “fez-se justiça”. Se culpas houve, são “do sistema que falhou”, isto é, de ninguém. Ou quando muito da “convectiva/outflow e da coluna do incêndio/downburst”. Que chique, senhores juízes! Até a nossa língua foi desprezada!  Quanto ao mais: Ministério Público e vítimas que chorem no molhado.  

         - Ao fim de muito pesquisar, e tendo em conta que esta noite fiz uma directa, cheguei à conclusão que a perturbação de ontem se ficou a dever a um pedaço de gengibre que comi pelas seis da tarde. Triticum, desculpa. 

         - Ontem comecei a ceifar a alfazema. Recolhi uma braçada que ofereci parte à Piedade, perdão, à minha assistente operacional. Terminarei o trabalho decerto amanhã se não for almoçar com o João que já telefonou para. A sala de jantar está fechada no seu aroma que quero estender por toda a casa (wcs incluídos) em jarras, substituindo a do ano passado. Que mais? Na última semana de Agosto, detectei uma fuga de água no tubo que vai dos skimers à bomba. Logo desliguei o sistema dizendo adeus às saborosas braçadas de natação. Disse para mim mesmo que o Verão estava terminado e só voltaria a pensar no assunto no próximo ano. Parece que previa a alteração climática que veio a instalar-se dias depois. Que mais? Há mais, há sempre mais, mas calo-me para não falar demais. 


quarta-feira, setembro 14, 2022

Quarta, 14.

A gente pasma, encolhe os ombros e disfarça como pode. Estamos abandonados à nossa sorte e só imploramos a Deus nos proteja do pior. Porque o mal já o temos por penitência diariamente. A patetice de políticos que nos coube na rifa da farinha amparo da democracia, cambada de gente vinda não se sabe de onde, mal preparada, obcecada pelo poder, rafeira cheirando o perfume que o dinheiro possui e é nauseabundo, temo-los vaidosos, arrogantes, pimpões, a falar barato e mal todos os dias nas televisões, num coro de idiotas em uníssono clamando tudo e o seu contrário. Olhe-se para o exercício de rins a que obrigam milhares de consumidores de energia a fazer, com a transferência dos contratos dos fornecedores de preços livres para a EDP com preços fixos. Para que serviu criar estas empresas diversificadas dando ao consumidor a ilusão de que poupava, para agora o empurrar de novo para a EDP? Suponho que esta tramoia  é obra do tempo de Passos Coelho, e a verdade aí está a desdizer o logro em que caíram milhares de clientes. O mercado livre tão caro aos capitalistas, é uma arma de arremesso ao consumidor desprevenido ou crente na livre circulação dos interesses financeiros – mas então não se queixe. Um conselho pelo menos aos meus leitores: desconfie de tudo o que lhe chega desse mundo sinistro que como aranha gigante o pretende prender. Por outro lado, se a Europa está no estado em que se encontra, é culpa dos governantes que por ganância e promessas vãs, se entregaram nos braços da Rússia comprando-lhe confiadamente petróleo e gás, olvidando o regime e os laços criminosos e rios de corrupção que tentacularmente cruzavam um lado e outro do continente. A este milagre económico, junta-se a constante mudança das normas tidas por divinas, como é o caso da fórmula anual para o aumento de salários, pensões e reformas.  

         - Zelensky vibrou com a conquista a Sul de mais 8.000 quilómetros quadrados a Putin. A pouco e pouco os ucranianos vão reconquistando aquilo que lhes pertence. Resta Zaporíjia como vulcão pronto a explodir se não houver tino da Rússia e Ucrânia. 

         - Por aqui me quedo todo o dia, ouvindo a chuva cair de manso por entre os tímidos raios de sol. Ajudado pela droga que a médica dita de família me receitou e eu tomei ontem ao deitar o primeiro comprimido, a manhã aconteceu sob os auspícios do equilíbrio e serenidade. Mas não devia porque só consegui conciliar o sono pelas quatro da madrugada. Não sei que razão houve para o desastre, sendo certo que o Triticum foi concebido para sonos profundos e prolongados. Caído no meu organismo pouco dado a porcarias este reagiu, fulo e revoltado, combatendo o invasor – mas quem pagou fui eu. Farei a segunda experiência hoje; se a rebelião continuar, abandono o curandeiro. 

         - O eterno funeral da rainha Isabel II não pára. A urna salta de carro funerário para avião, de país para país, de cidade para cidade, de catedral para catedral num virote que a pobre defunta só conhecerá o descanso final lá para segunda-feira. Parece irreal, algo saído de um filme que só tem densidade e espectadores no Reino Unido. As ruas serpenteiam de público, choroso, respeitador, a televisão delira com o delírio dos súbditos de sua Majestade.  Este é talvez o derradeiro espectáculo do século. 


terça-feira, setembro 13, 2022

Terça, 13.

Não resisto a transcrever alguns parágrafos do artigo de António Lobo Antunes, que me foi enviado pelo amigo Filipe sempre atento ao essencial: “A SOCIEDADE PRECISA DE MEDÍOCRESA sociedade necessita de medíocres que não ponham em questão os princípios fundamentais e eles aí estão: Dirigem os países, as grandes empresas, os ministérios, etc. ... Eu oiço-os falar e pasmo não haver praticamente um único líder que não seja pateta, um único discurso que não seja um rol de lugares comuns. Mas os que giram em torno deles não são melhores.” Não julgue o leitor que está a ler um texto de um tal Helder de Sousa. Que fique claro, embora pareça este texto foi escrito e publicado em Das Culturas pelo autor de Os Cus de Judas, se bem me lembro o seu primeiro romance. Lobo Antunes, prossegue: “Mas todos os dias há paleios cretinos acerca de futebol em quase todos os canais. Porque não é perigoso. Porque tranquiliza. Os programas de televisão são quase sempre miseráveis mas é vital que sejam miseráveis.” O texto é longo e convidativo a espojarmo-nos deliciosamente sobre ele. “A criatividade foi sempre uma ameaça tremenda. E então, entronizamos meios-artistas, meios-cientistas, meios-escritores. Claro que há aqueles malucos como Picasso ou Miró e necessitamos de os ter no Zoológico do nosso espírito embora entreguemos o nosso dinheiro a IMBECIS OPORTUNISTAS a que chamamos gestores.” Se me permitem, junto estas palavras às de António Barreto (Domingo, 11) e temos nítida a radiografia do Portugal dos pequeninos. (As passagens em maiúsculas são do cronista.) 

         - Faleceu Jean-Luc Godart. Tous s´en vont! Que c´est triste rester! “Tout passe, tout casse, tout lasse et tout (non) se remplace” dizia Jean-Paul Dubois. Desculpem a minha intromissão.  

         - “O jornal, que no passado a opinião pública considerava um cavalheiro, tornou-se uma comadre.” Tempo Contado de Rentes de Carvalho. 

         - Luís Osório que possui um espaço onde se explana num tom contentinho da silva na TSF e eu ouço quando me vou deitar pelas onze da noite, pese embora o facto de estar às vezes de acordo com ele, acho que se excedeu, no tom e na forma, ao atacar Isabel Jonet, fundadora do Banco Alimentar. O curioso do palavreado, é todo o texto denotar que o cronista estacionou nos anos Sessenta, e por lá anda perdido. A argumentação é a mesma de antes do 25 de Abril quando a esquerda verberava contra a Organização e a sua Presidente e prometia fazer melhor logo que derrubasse a ditadura. Quem verdadeiramente conhece a pobreza é ela e não o bem instalado Luisinho. Os pobres não conhecem o jornalista e entre as suas palavras e os gestos de Jonet, eles optam, estou certo, pala “caridade” do Banco Alimentar. Diz o moralista de serviço com presunção: “Quero deixar-lhe um apelo sincero. Por favor, fique em silêncio. Por favor, deixe de insultar as pessoas com a sua doentia e patética arrogância de classe” (ela que é a simplicidade em pessoa). Este silêncio que ele exige, é “preocupação com a sua própria alma” de esquerda que não consegue perceber que a democracia tem já 50 anos e os pobres com ela são hoje dois milhões e meio. O que eu gostaria era que Osório pusesse a ideologia romântica de lado e se atirasse aos partidos que nos têm (des)governado. Não gosto da existência de bancos alimentares nem das centenas de associações de beneficência. Acho que se tivéssemos um Estado equilibrado que dignificasse as pessoas, não teríamos precisão da extraordinária senhora Isabel Jonet. Por isso, lhe peço, não abandone quem foi desprezado pelo Estado e os sucessivos governos (de direita e esquerda) e se tiver que exercer algum decoro no uso e, sobretudo, no abuso alimentar (como foi o caso em tempos quando disse que não é preciso comer bifes todos os dias), não hesite, os pobres agradecem. Como lhe estão gratos pela sua luta, a sua persistência, o seu trabalho discreto e caritativo (sim, caritativo, sem medo da palavra que tanta urticária causa às esquerdas instaladas e bem remuneradas). E já agora, caro Osório, não percas o pio, não mergulhes no silêncio.  


segunda-feira, setembro 12, 2022

Segunda, 12.

A sintonia entre os dois regentes da coroa, é no mínimo sinistra. O par António Costa e Fernando Medina, sempre muito juntos e aprovando as desgraças e golpes de asa de um e outro, é manifestamente uma união que prejudica Portugal e os portugueses. Se um diz mata, o outro diz esfola. É o que se passa sob pano de fundo da tragédia que devasta 90 por cento do povo. Ambos estão de acordo em não taxar os lucros abusivos das empresas de distribuição de energia. Falam da defesa do deficit, do equilíbrio das contas, da Segurança Social e assim, tudo o que ao longo da democracia tem servido aos governantes para alargar o fosso entre ricos e pobres. Se estivéssemos sob o regime da direita, não me espantaria; mas serem socialistas a praticar actos desta natureza, é de molde a descrer de tudo e todos. A menos que o plano de Costa esteja pensado até à última gota de sangue do mais miserável nosso concidadão: o futuro de Bruxelas e a imagem do bom aluno que depressa tomará o lugar do professor. Esta obsessão doentia, estará pensada para deixar o posto ao seu querido benjamim. De Bruxelas nem bom vento nem bom casamento. Esperemos. 

         - Tenho-me entretido ao serão a folhear o admirável livro de Paulo Santos, Fuzileiros 400 Anos de Histórias que o autor me ofereceu no dia do meu aniversário. Que obra admirável! Que serviço único presta à Armada um homem que nunca foi marinheiro tendo feito honroso serviço como consultor internacional dos Fundos Estruturais da União Europeia! A Armada deve-lhe muito pois na fiada do tempo algumas obras tem escrito que se traduzem em marcos históricos de pesquisa, conhecimento e devoção. 

         - Chegou, enfim, a chuva!   

         - Andei a correr Lisboa de lés-a-lés: de metro, autocarro, táxi. Comecei no Centro de Saúde para o meu check up anual e depois ao encontro, enfim, do Dr. Gambeta que vai ocupar-se da minha saúde oral. 


domingo, setembro 11, 2022

Domingo, 11.

O país, o autêntico, é isto que António Barreto expõem no seu artigo de ontem no Público de que extraio esta excelente perspectiva: “... as regras essências da filosofia gerais do serviço público estão em crise de modo permanente. As dificuldades de acesso são enormes. A burocracia é pesada e excessiva. Há uma grande desigualdade prática e efectiva. A proximidade, palavrão político de todos os dias, é inexistente. A transparência, outro lugar comum, é uma desilusão. Certidões, atestados, códigos de acesso... Só quem nunca passou por estas andanças imagina o que pode ser o martírio, a burocracia, e a espera. Os serviços exigem porque desconfiam dos cidadãos. Os sites dos serviços são óptimos exemplos de falta de clareza e de dificuldade. É provável que os mestrados em informática se desenrasquem, mas essa não é a maioria da população. Perdem-se horas e dias. Telefona-se e ninguém atende. O site remete para o telefone, o telefone para o site ...” Sim, é uma tristeza viver em Portugal. E não me venham dizer que é assim por todo o lado. 

         - O mundo parou como se a notícia viesse de extramuros e a morte a surpresa que deixou de apoquentar a humanidade: Isabel II faleceu dois dias depois de ter recebido a nova primeira-ministra do reino. Portanto, trabalhou até ao último sopro de vida e sempre de forma dedicada, nobre e simples durante setenta anos e 96 anos de vida! Rainha morta, rei posto. O sucessor já foi proclamado rei e escolheu o nome de Charles III. Esperemos que não tenha a mesma sorte dos seus antecessores monarcas Carlos I e Carlos II. E não terá decerto. Carlos é uma pessoa instruída, culta, que tem abraçado causas filantrópicas e sociais, sabe o que quer e tem vontade própria para levar acabo um reinado que estou certo irá surpreender. Acresce que tanto ele como sua mãe, são pessoas de fé. Por isso God save the King!  

         - Cansado das palavras, talvez também sob o rumor de uma pequena depressão, deixei este diário para me consagrar não ao romance, mas à ondulação do tempo suspenso de todas as descrenças. 


quarta-feira, setembro 07, 2022

Quarta, 7.

Já depois de ter publicado o que atrás está dito, durante o noticiário das oito na SIC, eles passaram a jura de Costa há um ano em manter o cálculo do aumento anual das reformas, “está na lei”, dizia o insigne mestre da prestidigitação, “por isso é para se cumprir”. Chegue aqui num instante menina Greta Thunberg: como se chama a isto: “Blá blá blá. Tem razão. Estávamos em campanha e em campanha – dizem eles – tudo é permitido. Depois vem a realidade e como a política e os políticos perderam o respeito por si e pelos cidadãos e  vivem endoidados pelo poder, acham que tudo lhes é permitido e os povos são um monte de palermas sem dignidade nem memória. Nem vale invocar o socialismo, comunismo, políticas liberais ou de extrema direita, no momento assanhado da conquista pelo poder, o que temos é gente drogada, louca, obcecada, gananciosa que debita toneladas de palavras e nenhuma é para levar a sério. Ou antes todas inundam a vida dos falantes e destroem a existência dos que são obrigados ao silêncio se querem sobreviver. Nunca o mundo esteve tão próximo da chegada de um qualquer salvador, e a culpa é destes “democratas” que tudo fazem para aplaudir a sua vinda. Bem fazem os jovens que há muito compreenderam a inutilidade deste jogo dito democrático e dele se apartam para mundos suaves onde o sonho e a realidade são uma e a mesma coisa, porque o esforço para abarcar algo que não faz sentido é pura perda de tempo. 

         - Atente-se na teimosia do primeiro-ministro em não querer taxar as grandes empresas de energia, trancado na ideia que até se compreenderia noutras circunstâncias, de que já pagam impostos elevados e mais elevados são quanto mais facturarem. Percebo. Mas se os lucros nesta altura vão todos para o seu lado, deixando meio mundo empobrecido e sujeito aos rigores do Inverno e as empresas na penúria, que lógica de mercado é esta senão egoísta, açambarcadora e prejudicial ao conjunto harmonioso da economia! Os outros países da UE que António Costa almeja pôr na ordem, há muito que tomaram medidas no sentindo de impostos extraordinários sobre os resultados das empresas para os distribuir por aqueles que sofrem não só de pobreza como do abandono profissional das suas empresas. Pedro Sánchez que eu tanto critico, nos momentos certos agiganta-se e enfrenta as dificuldades com medidas claras que tocam a todos: transportes gratuitos ou mais baratos, descida do IVA do gás natural, de 21% para 5%, sem complicações nem rabos de fora, como acontece com o nosso primeiro-ministro onde há sempre qualquer dado que não bate certo, não é limpo, net. O governante espanhol, não se fica pelas energéticas, ataca também os bancos, não só este ano como em 2023. A Hungria, que a nossa querida esquerda tanto agride, anunciou uma taxa de 40% (!) até 2023 às receitas das empresas de combustíveis, e em breve uma nova taxa de 65% sobre a produção de electricidade e sector bancário. A Roménia introduziu uma taxa de 80% sobre as receitas líquidas dos produtores de electricidade. O próprio Reino Unido, que vai ter de rever a sua posição sobre a electricidade, impôs a taxa de 65% aos sectores petrolíferos. A Grécia que é tão pobre como nós, foi a primeira a usar a taxa de 90% (!!) nos lucros inesperados dos produtores de electricidade. Portugal tem medo de tudo, a começar pelos lóbis, os interesses dos grandes, das minorias obtusas que governam o país na sombra e têm em sentido este como qualquer outro Governo nacional.    

         - Por outro lado, nós temos o que merecemos. Não me vou repetir quanto à impressão que tenho da minha gente. Dou a palavra a António Barreto: “A pergunta é simples: quem vai pagar? Aonde há recursos financeiros para distribuir, para pagar as benesses e os benefícios, para sustentar aumentos de salários, subsídios e pensões, assim como para custear o aumento das despesas com a saúde, a educação e Segurança Social? É tão estranho vivermos num país onde a principal preocupação é a de gastar dinheiro, mas nunca ou quase nunca de fazer dinheiro, criar negócios, desenvolver actividades, e, numa palavra, criar riqueza! Uma coisa sabemos: gastar sem criar pagar-se-á muito caro dentro de pouco tempo.” Bem prega, frei Tomaz! 

         - Liz Truss é a nova primeira-ministra do Reino Unido. Não sei o que vai sair dali, esperando que Boris Johnson regresse o mais depressa possível. Todavia, passei a olhar a antiga ministra dos Negócios Estrangeiros britânica, com curiosidade. Perguntaram à senhora Truss: “Macron, amigo ou inimigo?” Ela respondeu: “Se me tornar primeira-ministra, vou julgá-lo pelos seus actos e não pelas suas palavras.” O palrador Chou Chou não achou graça nenhuma e estou certo que a menina Thumberg também nunca achou piada a ele, rei da França. 

         - O Inverno já se pode hospedar. Terminei o trabalho que me assegurará o conforto nos dias frios. Ainda, talvez, não será no próximo ano que comprarei lenha – o que me resta debaixo de grandes plásticos noutro ponto da quinta, será suficiente. 




terça-feira, setembro 06, 2022

Terça, 6.

Jerónimo de Sousa: "O PCP não apoia a guerra. Isso é uma vergonhosa calúnia. O PCP tem um património inigualável na luta pela paz. O PCP não tem nada a ver com o Governo russo e o seu Presidente. A opção de classe do PCP é oposta à das forças políticas que governam a Rússia capitalista e dos seus grupos económicos." Certo. Mas então diga claramente que a Ucrânia foi invadida e que o povo ucraniano tem direito à autodeterminação e à liberdade, como frequentemente o partido tem advogado quando fala de outros povos. De contrário, o que se instala, é a certeza que são a favor da paz, mas com o império russo reconstituído. À medida que vou conhecendo melhor a política de Putin e os seus métodos sórdidos para com os seus adversários, sou levado a considerar que Salazar a seu lado era um santo. Ilustre Jerónimo de Sousa, em democracia podemos pensar alto e somos levados pela inteligência e sensibilidade a fazer comparações e a restabelecer a História de acordo com os padrões éticos e morais que a liberdade nos trouxe. Antes podíamos todos passar por comunistas porque combatíamos e estávamos do mesmo lado contra a ditadura – é simples e claro. 

         - É visível para mim que Costa pôs na cabeça e no seu orgulho, que só um posto relevante na UE o pode realizar e elevar ao nível da mediocridade que é Portugal e dos seus agentes políticos. Governar um pequeno país, cheio de galos e galinhas cantando o cocorocó de manhã à noite, é enfadonho, esgotante, frustrante. Isto é manifesto nas medidas que o primeiro-ministro acabou de apresentar com enfoque nas famílias. Aquilo é um jogo de malabarismo, de prestidigitação e corresponde, aliás, à sua forma de governar: António Costa andou sempre a reboque dos acontecimentos, da contestação, do alarido público, da revolta. Desde que chegou ao poder, agora com maioria e muito dinheiro vindo de Bruxelas, não pensou o país como um todo, foi-lhe dando esmolas na forma tão cara a sua excelência de bónus, de modo a acalmar a contestação e sabendo que o pobre contenta-se com pouco. Medidas estruturais não se lhe conhece alguma; quando dá com uma mão, tira com a outra, engana com aquele sorriso desmaiado no rosto trigueiro, ludibria com o sobrolho arqueado de encanto seguido da frase: “Vamos lá ver...”  

         - Vamos então lá ver. Grosso modo, as medidas para acudir ao escandaloso aumento do custo de vida, foram ainda a maneira que ele encontrou para ser como é: um mentiroso de sorriso simpático como são todos os da sua igualha, um avaro com o dinheiro dos contribuintes. Escolheu os mais pobres, que vivem na quase miséria mesmo antes da covid e da guerra na Ucrânia, a que chama reformados, isto é, aqueles que vegetam junto do muro que os separa da vida, à toa, o cérebro e o corpo cansados do trabalho da luta pela sobrevivência. A todos distribuiu 125 euros, mas aos pensionistas vai acrescentar metade do valor da reforma e, deste modo, pensa calar a maior parte da população. No segundo depois, os economistas, os comentadores, os políticos dos outros partidos, a população em geral, já havia descoberto a magia que lhe cheirou a esturro: em vez de para o ano terem o aumento correspondente fixado na lei de 7,1%, vão ter 4,2 por cento, ficando assim mais pobres. Pior: nos anos seguintes a indexação automática das pensões, vai ser encontrada na base dos 4,2%!!! Além de todo este jogo de cifrões não chegar para melhorar a vida das pessoas, vai ainda piorá-la. Em 2023, 24, 25 os reformados vão empobrecer ainda mais. Diz a brilhante inteligência da falcatrua e do chico-espertismo, que é para manter o sistema de Segurança Social. Todos os partidos, desonestamente, ao longo dos anos, têm jogado com esta máxima. Na cabeça deste primeiro-ministro, nada é claro. Tudo é enrodilhado para intrujar o cidadão, enquanto ele olha ao longe o momento em que voará para o paraíso de Bruxelas com um salário e reforma milionários. Atrevo-me a vaticinar desde hoje que, com a ajuda de Marcelo que já começou, o PSD vai ganhar o poder nas próximas eleições, conquanto saiba que António Costa se está nas tintas desde que esteja sentado no lugar por que vem lutando: Presidente da Comissão Europeia. 


domingo, setembro 04, 2022

Domingo, 4.

Putin, como se previa, faltou ao funeral de Gorbatchev. Os nossos queridos comunistas também e nem um padre-nosso rezaram pela sua alma. Mas, com grandeza e hombridade, esteve aquele que estes detestam e apelam de extrema-direita, Viktor Orbán. Não houve funeral de Estado, mas as ruas de Moscovo encheram-se de russos a prestar a derradeira homenagem àquele que instalou no país a liberdade, o são convívio, e pôs fim ao domínio comunista e a Guerra Fria. Mikhail Gorbatchev tem já um lugar na História não só da Rússia como do mundo; quanto a Putin ninguém o recordará quando um dia for assassinado com o mesmo ódio e descrédito da vida que o tem levado a liquidar os seus adversários. 

         - Por falar no primeiro-ministro húngaro. Ainda não desisti de visitar a Hungria, embora a TAP chefiada por um homem dito da esquerda socialista, não tenha cumprido o que a lei manda: devolver o valor das viagens que a covid impediu de fazer. Acontece que, o tal país que a esquerda diz raios e coriscos, governado por um truculento homem de direita, há muito que me restituiu por inteiro o montante adiantado para estadia no hotel. Aqui está a diferença. Em Portugal não somos respeitados, vivemos sob o domínio da propagada terrível como nunca aconteceu, mas onde os resultados não são razoáveis – são simplesmente balofos. 

         - Apetecia-me transcrever o horror dos crimes praticados por Putin desde que assumiu o poder herdado de Boris Iéltsin. Anna Politkovskaya no seu livro de leitura obrigatória, Um Diário Russo, conta, bem documentada, o trajecto de um líder baseado no exercício da força discricionária, cruel, bárbara para quem o ser humano não serve para coisa nenhuma. A Federação Russa é uma reserva de assassinos, sem ideologias, praticando os crimes mais hediondos, com a bênção do homem que se trancou no Kremlin e daí, movimentando uma rede de oligarcas e homens de mão, tudo e todos controla. Vou tentar de quando em vez trazer passagens, de modo a oferecer aos meus leitores a imagem tridimensional do ditador russo. 



sábado, setembro 03, 2022

Sábado, 3.

Ravil Maganov, empregado superior da segunda maior empresa privada Rússia, a Lukoil, atirou-se do sexto andar do hospital onde se encontrava internado e teve morte instantânea. Foi ele que se suicidou e não mão criminosa que o lançou para a morte, informa o hospital. As autoridades confirmam que foi uma queda, os fanáticos admiradores de Putin, comunistas e quejandos, acreditam como crêem nas outras mortes do mesmo género que vêm acontecendo depois do começo da invasão da Ucrânia e montam já, se não estou em erro, a dez. Este presidente do conselho de administração da empresa de petróleo, Lukoil, das primeiras a assumir posição crítica em relação à guerra na Ucrânia, desaparece decerto às mãos dos assassinos do KGB/FSB a soldo de Putin. Chui isso não se diz! Eu acredito que assim tenha acontecido, porque assim aconteceu ao longo da história da Federação Russa chefiada por Putin e em memória da jornalista Anna Politkovskaya mandada matar pelo criminoso oligarca da Rússia. 

         - Ao entrar no supermercado, dou com uma fila enorme de jovens de ambos os sexos sentados no chão em fila. Pergunto a uma rapariga: “Vocês estão a cumprir alguma penitência?” Ela, sorrindo: “Estamos para comprar bilhete para o concerto X.” O empregado que ouviu a pergunta, responde-me: “Estão aí desde ontem à meia-noite, dormiram lá fora e tudo.” Depois, num tom que não deixava dúvidas: “Se fosse por uma causa importante, nenhum deles aparecia.” Na realidade, observando-os com atenção, metiam dó, e o espctáculo de rodilhas escuras alinhadas no chão, cabeças curvadas sobre os teclados dos telemóveis, apelava à compaixão. Lembrei-me dos pais: quantas privações para saciar as vidas vazias dos filhos! 

         - Mimos da nossa língua, oferecidos por políticos, jornalistas, apresentadores de televisão e outros defensores do português: 

“Desta vez não tive como não aceitar a demissão” - português de António Costa a propósito da saída da ministra da Saúde.

“Até há pouco muito pouco tempo atrás” – jornalista da SIC.

“Identificado que está” – jornalista da RTP1.

“As partes não estão a corresponder com as várias partes” – alguém na SIC.

“Qual é que é o prazo?” – faladar de ministro. 

“A criança vinda sabe-se lá da onde.” – expressão de advogado na SIC.

“Eles são mais intimistas que nós.” modo de contar na RTP1.

“De alguma forma arranjam formas.” – assim se fala na SIC.

“A Ucrânia está sobre uma guerra sem fim.” Modo de se exprimir todos os dias da actual repórter na Ucrânia da SIC. 

Infelizmente a Ucrânia está sob uma guerra e até um genocídio. 

         - No Paquistão onde a vida desapareceu engolida pelas monções e os habitantes ficaram apenas com os farrapos que lhes cobrem o corpo feito uma tira de ossos e pele translúcida, no actual estado do mundo, quem poderá acudir com ajuda que começa a rarear por todo o lado? A nossa pobreza europeia, comparada com aquilo que se vê nos jornais televisivos, tem excessos e desperdícios que ali seriam bênçãos celestes – não fôssemos tão egoístas. 

         - No mercado do Pinhal Novo, esta manhã, um pobre pedia esmola. Dei-lhe um euro e uma mulher que viu a moeda, diz-me: “Você dá um euro! É muito generoso.” Respondi:  “Que pode ele comer com um euro? - Oh, ainda assim...” 


quinta-feira, setembro 01, 2022

Quinta, 1 de Setembro.

Ontem fui a Lisboa. No comboio que me levou e trouxe, verifiquei com agrado que muita gente continua a usar máscara, nomeadamente, para meu espanto, os jovens. Um casal gay, ambos muito novos, um português outro inglês, não só traziam máscara como desinfectante para as mãos. O português apresentava braços e pernas muito peludos – o suficiente para ser excluído por Julien Green. 

         - “Pas travaillé à mon livre à cause de D.P. (Robert). Nous devions aller aux Ballets ce soir. Y aller seul m´assomme. Y aller avec Anne (a irmã) serait pire. Je ne puis sortir avec une femme: au bout de cinq minutes je suis dans un état d´exaspération tel que le plaisir est banni de toute la soirée.”  Oh, Monsieur Green, quand même! (p. 778, vol. 3, Toute Ma Vie). 

         - Os nossos queridos a amados comunistas, ante a morte de Gorbatchev, afirmam que ele abriu “caminho à contra-ofensiva do imperialismo”, e ainda à “hegemonia no plano mundial, com graves consequências (para) os direitos dos trabalhadores, a soberania dos povos, a segurança na Europa e a paz do mundo”. A cassete do costume. Contudo, quem exerce o imperialismo e para isso moveu a guerra idiota contra a Ucrânia, Chechénia e os “independentes” territórios vizinhos, não falando na tragédia da Ingúchia, é o querido e estimado Vladimir Vladimirovitch Putin, Primeiro Cidadão (como gosta de ser tratado, a exemplo das democracias onde as mulheres dos chefes de Estado são sobrenomeadas pela ridícula designação de primeiras damas), autocrático e dono do KGB/FSB. Quanto aos trabalhadores, basta conhecer um pouco da história da URSS para se perceber que estes, pobres e infelizes, nunca contaram para coisa nenhuma senão para serem escravos. E o PCP vai mais longe no seu ódio de estimação aos EUA, à UE e à NATO : Os “rasgados elogios dos principais responsáveis pela destruição da União Soviética e a restauração do capitalismo na Rússia (aqueles), quando o que se impunha era o aperfeiçoamento do socialismo”, ou seja a utopia que  continuou com  Estaline.