sexta-feira, setembro 16, 2022

Sexta, 16.

Vou ser sincero: sinto-me profundamente infeliz com o destino do meu país. Merecíamos melhores governantes, sérios, competentes e humanamente entregues à felicidade daqueles que juraram defender. Não aceito que quase tudo o que a esquerda condenou ao Estado Novo não tivessem sido  modificado de forma a fazer de Portugal um país de referência, onde houvesse dignidade de vida e políticas conformes. Quando um caríssimo amigo, a quem muito devo, desde a minha entrada no jornalismo ao tecto que me abrigou durante quarenta anos, aos autores que me deu a conhecer – Malreaux (A Condição Humana), René Guénon (La crise du monde moderne) entre tantos outros -  assim como as longas horas de discussão, que começavam na redação do jornal e terminavam à mesa do café, este querido amigo, com quarenta anos de jornalismo, dizia-me há dias que vive na pobreza. Quase desfaleci revoltado contra um sistema que parece viciado na pobreza e no bónus, e que um recente relatório do Eurostat confirmou com os assustadores índices: Portugal passou do 13º para o 8º dos países europeus de pobreza ou exclusão social. Utilizando o número: 25% da população (ele aponta para 22,4%) é pobre, alguns são indigentes. 

         - Mas o patuá não demove esta gente. Vai por aí um chorrilho de propostas, de aplicação dos milhões do PRR, mas a pobreza prossegue indiferente ao paleio de técnicos que se dizem conceituados e os mais afamados da Europa: por cada novo rico ou muito rico, caiem, desemparados, milhares de pobres. Quanto ao Governo e ainda por cima dito socialista, a desbunda é total, a atarantação oferece o espectáculo da ruína, da decadência, de fim de ciclo. A propaganda falhou, foi desmascarada pelos seus próprios resultados. As políticas não convencem ninguém, as empresas fecham portas, o desemprego cresce e com ele afunda-se uma vez mais Portugal. Estamos sempre a recomeçar e de cada vez mais fracos, mais miseráveis, mais arrogantes, mais sectários. Os ministros e comanditas, respondem ao partido – Portugal é apenas um apêndice. E os portugueses uns patetas que António Costa tenta ludibriar com promessas que no dia seguinte se revelam alçapões de armadilhas. Que o diga os dez mil milhões que o Estado ganhou com a guerra, e com tanto dinheiro pretende fazer proezas económicas de olhos postos em Bruxelas, de modo a que o primeiro-ministro seja reconhecido para um qualquer cargo na UE. As empresas e os portugueses estão fora desta ambição. 

         - Zelensky teve um misterioso acidente de automóvel ao regressar da frente de combate, em Kherson. Pouco tempo depois, com ferimentos ligeiros, recebeu a corajosa Presidente da União Europeia, Ursula von der Leyen. Que lhe foi renovar o auxílio e agradecer o seu combate pela liberdade na Europa. O método é próprio da tradição russa, onde se contam às centenas os assassinatos, O último dos quais a semana passada na pessoa de mais um oligarca que se tinha manifestado contra a invasão da Ucrânia: Ivan Pechorin, director administrativo da indústria de aviação da Corporação de Desenvolvimento do Extremo Oriente e do Ártico. O “acidente” aconteceu no Mar do Japão, dias antes do início do VII Fórum Económico Oriental organizado por Vladimir Putin, e deveu-se à queda do barco quando navegava na costa da Ilha Russhy, alcoolizado. Ao que consta, os companheiros tinham bebido tanto como ele, mas só o infeliz tombou e morreu. 

         - A qualidade de melancolia que entrava através das janelas e portas do salão, enquanto ao longe descia em lâminas de tons imprecisos o sol fúnebre, que mergulhava na noite perpendicular, deixou-me imóvel a participar de um momento único, de algum modo anúncio do princípio dos tempos, antes de todos os séculos, como lemos na Bíblia. Com ela entrava e acomodava-se um silêncio nunca outrora imperado, como cetim sacudido pelo vento, ou lábios que ciciam o drama que não contam a ninguém e jaz no declino do dia como mensagem que permita à luz renascer todas as manhãs.