terça-feira, setembro 13, 2022

Terça, 13.

Não resisto a transcrever alguns parágrafos do artigo de António Lobo Antunes, que me foi enviado pelo amigo Filipe sempre atento ao essencial: “A SOCIEDADE PRECISA DE MEDÍOCRESA sociedade necessita de medíocres que não ponham em questão os princípios fundamentais e eles aí estão: Dirigem os países, as grandes empresas, os ministérios, etc. ... Eu oiço-os falar e pasmo não haver praticamente um único líder que não seja pateta, um único discurso que não seja um rol de lugares comuns. Mas os que giram em torno deles não são melhores.” Não julgue o leitor que está a ler um texto de um tal Helder de Sousa. Que fique claro, embora pareça este texto foi escrito e publicado em Das Culturas pelo autor de Os Cus de Judas, se bem me lembro o seu primeiro romance. Lobo Antunes, prossegue: “Mas todos os dias há paleios cretinos acerca de futebol em quase todos os canais. Porque não é perigoso. Porque tranquiliza. Os programas de televisão são quase sempre miseráveis mas é vital que sejam miseráveis.” O texto é longo e convidativo a espojarmo-nos deliciosamente sobre ele. “A criatividade foi sempre uma ameaça tremenda. E então, entronizamos meios-artistas, meios-cientistas, meios-escritores. Claro que há aqueles malucos como Picasso ou Miró e necessitamos de os ter no Zoológico do nosso espírito embora entreguemos o nosso dinheiro a IMBECIS OPORTUNISTAS a que chamamos gestores.” Se me permitem, junto estas palavras às de António Barreto (Domingo, 11) e temos nítida a radiografia do Portugal dos pequeninos. (As passagens em maiúsculas são do cronista.) 

         - Faleceu Jean-Luc Godart. Tous s´en vont! Que c´est triste rester! “Tout passe, tout casse, tout lasse et tout (non) se remplace” dizia Jean-Paul Dubois. Desculpem a minha intromissão.  

         - “O jornal, que no passado a opinião pública considerava um cavalheiro, tornou-se uma comadre.” Tempo Contado de Rentes de Carvalho. 

         - Luís Osório que possui um espaço onde se explana num tom contentinho da silva na TSF e eu ouço quando me vou deitar pelas onze da noite, pese embora o facto de estar às vezes de acordo com ele, acho que se excedeu, no tom e na forma, ao atacar Isabel Jonet, fundadora do Banco Alimentar. O curioso do palavreado, é todo o texto denotar que o cronista estacionou nos anos Sessenta, e por lá anda perdido. A argumentação é a mesma de antes do 25 de Abril quando a esquerda verberava contra a Organização e a sua Presidente e prometia fazer melhor logo que derrubasse a ditadura. Quem verdadeiramente conhece a pobreza é ela e não o bem instalado Luisinho. Os pobres não conhecem o jornalista e entre as suas palavras e os gestos de Jonet, eles optam, estou certo, pala “caridade” do Banco Alimentar. Diz o moralista de serviço com presunção: “Quero deixar-lhe um apelo sincero. Por favor, fique em silêncio. Por favor, deixe de insultar as pessoas com a sua doentia e patética arrogância de classe” (ela que é a simplicidade em pessoa). Este silêncio que ele exige, é “preocupação com a sua própria alma” de esquerda que não consegue perceber que a democracia tem já 50 anos e os pobres com ela são hoje dois milhões e meio. O que eu gostaria era que Osório pusesse a ideologia romântica de lado e se atirasse aos partidos que nos têm (des)governado. Não gosto da existência de bancos alimentares nem das centenas de associações de beneficência. Acho que se tivéssemos um Estado equilibrado que dignificasse as pessoas, não teríamos precisão da extraordinária senhora Isabel Jonet. Por isso, lhe peço, não abandone quem foi desprezado pelo Estado e os sucessivos governos (de direita e esquerda) e se tiver que exercer algum decoro no uso e, sobretudo, no abuso alimentar (como foi o caso em tempos quando disse que não é preciso comer bifes todos os dias), não hesite, os pobres agradecem. Como lhe estão gratos pela sua luta, a sua persistência, o seu trabalho discreto e caritativo (sim, caritativo, sem medo da palavra que tanta urticária causa às esquerdas instaladas e bem remuneradas). E já agora, caro Osório, não percas o pio, não mergulhes no silêncio.