terça-feira, setembro 27, 2022

Terça, 27.

Quando atravesso períodos de desespero e enquanto aguardo a protecção divina, socorro-me dos meus anjos da guarda: Julien Green e Ernst Junger. Nessas alturas, regresso aos seus diários e colho nas suas páginas a força e a esperança de que careço. No domínio prático, ponho os olhos no velhote da estrada que, na indiferença dos seus noventas anos, capina e tinge o muro da sua mansão com a brancura luminosa da cal. Três exemplos que tenho sempre por perto e aos primeiros desalentos suplico ajuda. Suponho que sempre assim aconteceu. Quando penso no fundo dos escombros de onde venho, atravessada a vida como saltimbanco abandonado à sua sorte, amante da solidão como fonte inspiradora, senti ao longo do tempo que alguém me protegia e olhava por mim. Uma luz cintilante brilhava abrindo o caminho que me trouxe aqui, a este espaço banhado pela natureza, a este lugar de santificação da vida... A morte só é real quando ressuscita cada instante roubado à desistência da luta. 

Julien Green


Ernst Junger

       - Acordei cedo para concluir o trabalho destes últimos dias. Após o pequeno-almoço e o Nespresso para dar energia, recomecei a rachar os troncos que restavam. Depois carreguei quatro carros de lenha para o sítio onde os armazenei e suspirei: Ufa! Enfim! Agora vou tomar um duche e despachar-me para o comboio que me levará à Lisboa.