terça-feira, janeiro 31, 2017

Terça, 31.

Ouvi atentamente na televisão o debate sobre a eutanásia. O que mais me surpreendeu foi a ligeireza do deputado do BE José Manuel Beleza, a forma como ele pretende impor um crime, falando atabalhoadamente, como se estivesse a decidir um qualquer negócio de alfarroba ou beterraba, indo ao ponto de dizer que não admite o referendo para um tema, talvez o mais importante, da nossa existência. Ao debate não faltou a fatal canga dos célebres psiquiatras e psicólogos. A vulgarização da morte, a resolução do empecilho que já deu o que tinha a dar e deve ser despachado para qualquer parte desde que nunca mais ocupe o espaço que outros esperam preencher. Para não falar nos abusos e resoluções arbitrárias, nas urgências e vinganças dos familiares que se querem ver livre do carrego, do descartar dos médicos empurrados pelas orientações políticas, etc, etc. Eu já disse muito sobre o assunto algures nestas páginas. Mas repito que esta esquerda que aborda os assuntos de uma extrema importância pela rama, e nada se importa com o sofrimento humano e as modernas capacidades da ciência para o atenuar até ao fim, esta esquerda, não deve merecer a nossa confiança nem o nosso voto. Tem sido uma péssima surpresa ver o que nos espera se um dia ela chegar isolada ao poder. A lei já dispõe de mecanismos que dão ao cidadão a possibilidade de escolher como deseja morrer, a medicina tem processos de nos dar uma morte serena, para quê fazer tábua rasa disso tudo e oferecer com um pontapé a cova que todos temos por destino chegada a nossa hora. Para quê apressá-la! A vida foi-nos dada, devemos honrar até ao fim esta maravilhosa oferta. Deus, à medida que avançamos na idade, prepara-nos para a aceitação da morte.

segunda-feira, janeiro 30, 2017

Segunda, 30,
Abri ao acaso o terceiro volume de Soixante-dix s´efface. No dia 3 de Fevereiro de 1983, Ernst Junger regista: La maxime de Churchill n´était pas mal non plus: “Le capitalisme a pour défaut de ne pas repartir équitablement la richesse, alors que le socialisme offre l´avantage de repartir équitablement la misère.”

         - Benoît Hamon ganhou, folgado, a Walls. Grita, portanto, vitória. Mas aquilo é uma comédia que só dá força à senhora Le Pen que continua a ter a preferência dos franceses. A esquerda está estraçalhada. Em verdade não se pode falar hoje de esquerda, lá como aqui, como por toda a Europa. Há quando muito esquerdas. Pequenos reizinhos que disputam o poder cheios de ganância e ódio, nas tintas para os cidadãos e as necessidades sagradas da nação. O jogo de interesses está no centro da política nestes dias incertos e sombrios. E quando falamos de interesses queremos dizer negócios, riqueza, poder. Tudo o que prometem sabem que não é para cumprir. O poder acaba por os tolher e o que sobressai é o lado arrogante e prepotente com que exibem a sua incapacidade.

         - O PCP deu mais uma machadada na coligação. Desta vez está contra a passagem da Carris para a autarquia de Lisboa, propondo antes que ela faça parte do todo do tecido metropolitano. Com que eu concordo. Parece-me mais lógico e com menos tentações para um dia o PS engordar a galinha e ir oferecê-la aos privados por uma tuta e meia. Como já aconteceu noutras alturas. Os socialistas são mestres quando estão no poder em se desfazer das empresas estatais que dão lucro.

         - No Canadá onde o primeiro-ministro decidiu ir contra as directivas de Ronald Trump e abrir as portas aos imigrantes, houve um atentado que matou seis pessoas e feriu dezassete numa mesquita na região do Quebeque. O dirigente do Governo diz tratar-se de terrorismo e reafirma a intenção de prosseguir o programa de acolhimento.

         - Terminei a poda das hortênsias. Comecei a cortar a erva daninha no jardim, mas a máquina parou sem me pedir autorização. Amanhã vou falar-lhe ao ouvido como fazem os comediantes políticos quando bichanam uns com os outros no Parlamento. Nada de dores nos rins, uma bênção que desejo continue.


         - Comecei o artigo sobre a minha viagem a Klagenfurt para a revista de Maria Estela Guedes (www.triplov.com) deste mês.

domingo, janeiro 29, 2017

Domingo, 29.
A migração é perigosa. As massas humanas em deslocação forçada não têm defesa, nem sequer a das instituições humanitárias. Essas massas de gente podem a dado passo ser exterminadas, porque a banalidade do Mal isso legitima. Quais as condições para o extermínio? - O estarem fora do Estado cujas leis protegem os cidadãos dessa nacionalidade. Cidadãos num Estado a que não pertencem não têm direitos - a não ser, se não forem rasgados, os Direitos do Homem, mas parece que esses não existiam na Alemanha nazi, apesar de se inscreverem nas constituições democráticas modernas, a exemplo da dos Estados Unidos da América. Populações deslocadas do Estado de onde são nativas não têm direitos, tendem a ser vistas pelo Estado recetor como lixo, podendo assim ser descartadas por boas pessoas que se defenderão, caso sejam levadas a julgamento, com "Limitei-me a cumprir ordens superiores". Maria Estela Guedes, Revista Triplov, nº 62.

sábado, janeiro 28, 2017

Sábado, 28.
Ronald Trump decretou no sentido de a tortura regressar às cadeias americanas. O homem parece ter prazer em assinar decretos que exibe depois para as câmaras inchado de gozo. Mas uma coisa são as suas vontades, outra a votação no Congresso. E lembrar-me eu que este é o mesmo homem que no dia de posse como Presidente, assistiu a uma missa na catedral de Washington.

         - A propósito do bárbaro ao leme dos EUA, estou do lado do Presidente do México quando recusou ir ao seu encontro. A atitude de Trump é deplorável, arrogante, machista e eticamente reprovável ao retomar o muro entre os dois países. A autoridade exerce-se com justiça e equidade e não com muros facilitadores do ódio e da exclusão. Eu estaria de acordo que se impusesse regras de entrada nos países escolhidos pelos migrantes. Assim foi durante a Segunda Guerra Mundial. Lembro-me quando Green chega à nossa fronteira, António Ferro no seu ministério, em Lisboa, teve logo conhecimento da sua entrada.

         - Fui à piscina. Nos balneários, um grupo de velhotes animados. Dois deles vestiam umas cuecas de flanela à antiga que eu ignorava ainda existirem. Iam da cintura aos pés e faziam lembrar os anos Vinte, quando no primeiro dia do ano os homens mais afoitos tomavam banho gelado na praia vestidos daquele modo.


         - Todos os dias tenho três quatro “amigos” a pedirem-me amizade. Ontem uma rapariga de dezoito anos do Algarve, apareceu com o mesmo propósito, exibindo uma foto de rabo rechonchudo ao léu! Serão estes os teus leitores? Se sim, reforma-te.

sexta-feira, janeiro 27, 2017

Sexta, 27.
Trump prega todos os dias um susto ao pagode de esquerda. A personagem é repulsiva, mas está a abanar a Europa arrogante que andava adormecida e a falar para dentro, isto é, para os oportunistas da União Europeia. Só por isso já valeu a pena tê-lo no lugar onde os americanos pelo voto o colocaram.

         - Não percebo como podem os patrões não só aceitar como contentar-se com a mexida no Pagamento Especial por Conta. É uma das maiores violências e arrogâncias do quadro fiscal das sociedades que atinge todas as empresas, e sobretudo para as PMEs. Suponho que foi uma invenção dos socialistas há muitos anos.  

         - O rei da Ítaca francesa e sua esposa Penélope, armados em grandes defensores da moral e dos bons costumes, foram apanhados pelo jornal Canard Enchaînê a chafurdar no tacho público. Ulisses construiu uma imagem de homem honesto e íntegro e com ela propôs-se governar a França; a esposa querida preferiu a sombra ou melhor cumprir a máxima burguesa cínica segundo a qual “atrás de um grande homem está sempre uma grande mulher”. Ele diz que a contratou para sua  attaché de presse pagando-lhe, perdão, pagava o Parlamento francês ou seja os franceses, qualquer coisa como 7 mil euros por mês. A Justiça já está a investigar mais um caso de sofreguidão doentia pelo dinheiro. Marine Le Pen subiu mais um degrau do Eliseu.


         - Um só mês do ordenado do novo presidente da CGD chegava para tapar os buracos da escola secundária Alexandre Herculano, no Porto. Mas Portugal é governado por um mágico que de vez em quando deixa a descoberto os truques e assim não consegue enganar cabalmente os ingénuos. Somos tão saloios, valha-nos Deus! Somos os maiores, temos a maior árvore de Natal, os melhores cientistas, o maior jogador do mundo, gabamo-nos por irmos ficar em 2016 nos 2,3 % do défice, somos grandes em tudo, menos a tapar os buracos por onde a chuva e o frio entram nas nossas escolas, obrigando os alunos a abrir os guarda-chuvas nas salas de aula, a cobrirem-se com cobertores que levam de casa! Que miséria! Tantos governos, tantos partidos, numa alternância macabra e tudo fica igual ao que sempre existiu.