Terça, 31.
Ouvi atentamente na televisão o debate sobre a
eutanásia. O que mais me surpreendeu foi a ligeireza do deputado do BE José
Manuel Beleza, a forma como ele pretende impor um crime, falando
atabalhoadamente, como se estivesse a decidir um qualquer negócio de alfarroba
ou beterraba, indo ao ponto de dizer que não admite o referendo para um tema,
talvez o mais importante, da nossa existência. Ao debate não faltou a fatal canga
dos célebres psiquiatras e psicólogos. A vulgarização da morte, a resolução do
empecilho que já deu o que tinha a dar e deve ser despachado para qualquer
parte desde que nunca mais ocupe o espaço que outros esperam preencher. Para não
falar nos abusos e resoluções arbitrárias, nas urgências e vinganças dos
familiares que se querem ver livre do carrego, do descartar dos médicos
empurrados pelas orientações políticas, etc, etc. Eu já disse muito sobre o
assunto algures nestas páginas. Mas repito que esta esquerda que aborda os assuntos
de uma extrema importância pela rama, e nada se importa com o sofrimento humano
e as modernas capacidades da ciência para o atenuar até ao fim, esta esquerda,
não deve merecer a nossa confiança nem o nosso voto. Tem sido uma péssima surpresa
ver o que nos espera se um dia ela chegar isolada ao poder. A lei já dispõe de
mecanismos que dão ao cidadão a possibilidade de escolher como deseja morrer, a
medicina tem processos de nos dar uma morte serena, para quê fazer tábua rasa
disso tudo e oferecer com um pontapé a cova que todos temos por destino chegada
a nossa hora. Para quê apressá-la! A vida foi-nos dada, devemos honrar até ao
fim esta maravilhosa oferta. Deus, à medida que avançamos na idade, prepara-nos
para a aceitação da morte.