quarta-feira, janeiro 18, 2017


Quarta, 18.  
Fui fazer uma hora de natação. Água fria, chuveiro idem. Os velhotes protestavam debaixo do duche: “Dizem para não sairmos de casa e nós vimo-nos meter neste frigorífico.” Um outro grupo, revoltava-se  contra o Sporting que Jesus antes ufano hoje de queixo pendurado, dirige. Alguns falavam mal do presidente e afirmavam: “Também já se sabia como o gajo é, basta ver a mãe dele.” Eu que não percebo patavina deste ronrom, dizia para mim que queria escapar da gripe que por aí anda e pensava em Ernst Junger (sem trema porque o computador não tem) que toda a vida tomou banhos frios e viveu até aos 104 anos.

         - Todas as manhãs ao acordar olho o campo sonolento coberto do edredão branco de gelo. É simplesmente sublime! Parece que o silêncio tomou também a temperatura alva e se faz mais aninhado nos confins dos subterrâneos terrestres onde só a bichara corre contra a morte. Há um espelho na natureza que reflecte o contraste entre o verde das árvores e broto terno da madrugada. Olhá-lo acrescenta-me anos de vida.  

         - Hoje passei um certo tempo às voltas com as Tusculanae Disputationes. Queria escrever uma carta ao ilustre tradutor e distinto latinista José António Segurado e Campos e, a dada altura, deparo-me com este sublinhado do filósofo de quem penso ter lido quase tudo, Pierre Hadot. O filósofo (moderno) experimenta cruelmente o seu isolamento e a sua impotência num mundo dilacerado entre duas inconsciências: a provocada pela idolatria do dinheiro e do sofrimento de biliões de seres humanos. Em tais condições o filósofo, decididamente, nunca poderá atingir a serenidade absoluta do sábio. Filosofar será, portanto, sofrer também deste isolamento e desta impotência. Esta citação, levar-me-ia um pouco mais longe e talvez a esta interrogação: o isolamento de que fala Hadot advém das circunstâncias presentes ou do afastamento que a filosofia tem laboriosamente levado a cabo ao longo dos séculos, sabendo nós que a sua raiz grega era parte integrante da vivência humana, quero dizer do quotidiano das pessoas.