Quarta, 18.
Fui
fazer uma hora de natação. Água fria, chuveiro idem. Os velhotes protestavam
debaixo do duche: “Dizem para não sairmos de casa e nós vimo-nos meter neste
frigorífico.” Um outro grupo, revoltava-se contra o Sporting que Jesus antes ufano hoje
de queixo pendurado, dirige. Alguns falavam mal do presidente e afirmavam:
“Também já se sabia como o gajo é, basta ver a mãe dele.” Eu que não percebo
patavina deste ronrom, dizia para mim que queria escapar da gripe que por aí
anda e pensava em Ernst Junger (sem trema porque o computador não tem) que
toda a vida tomou banhos frios e viveu até aos 104 anos.
- Todas as manhãs ao acordar olho o
campo sonolento coberto do edredão branco de gelo. É simplesmente sublime!
Parece que o silêncio tomou também a temperatura alva e se faz mais aninhado
nos confins dos subterrâneos terrestres onde só a bichara corre contra a morte.
Há um espelho na natureza que reflecte o contraste entre o verde das árvores e
broto terno da madrugada. Olhá-lo acrescenta-me anos de vida.
- Hoje passei um certo tempo às voltas
com as Tusculanae Disputationes.
Queria escrever uma carta ao ilustre tradutor e distinto latinista José António
Segurado e Campos e, a dada altura, deparo-me com este sublinhado do filósofo de
quem penso ter lido quase tudo, Pierre Hadot. O filósofo (moderno) experimenta cruelmente o seu isolamento e a sua
impotência num mundo dilacerado entre duas inconsciências: a provocada pela
idolatria do dinheiro e do sofrimento de biliões de seres humanos. Em tais
condições o filósofo, decididamente, nunca poderá atingir a serenidade absoluta
do sábio. Filosofar será, portanto, sofrer também deste isolamento e desta
impotência. Esta citação, levar-me-ia um pouco mais longe e talvez a esta
interrogação: o isolamento de que fala Hadot advém das circunstâncias presentes
ou do afastamento que a filosofia tem laboriosamente levado a cabo ao longo dos
séculos, sabendo nós que a sua raiz grega era parte integrante da vivência
humana, quero dizer do quotidiano das pessoas.