quarta-feira, janeiro 04, 2017

Quarta, 4.
Ontem, em homenagem a Michel Déon, que faleceu quando me encontrava em Viena, vi pela enésima vez o filme Un Taxi Mauve adaptado do romance do interessante autor francês, com interpretação magistral de Peter Ustinov. Déon, recordo-me, quando o descobri, passei semanas na sala da Rua de S. Marçal, a devorar uma boa parte da sua diversificada obra: Les Poneys sauvages, Je vous écris d´Italie, Pages grecques, Le balcon de Spetsai, Mes arches de Noé, e outros mais porque me fascinou a sua forma de ver as ilhas (Madeira e Açores, inclusive) enquanto lugares mágicos com todo o mistério que lhes está associado. É um autor saudável, sem rococós literários, seguro do que aborda, profundo e original na maneira como trata os temas que lhe são caros.

         - A noite passada cruzamento de pesadelos. Explicava eu ao Simão que Vergílio Ferreira me tinha dito que estava a ler O Rés-do-Chão de Madame Juju. Mas Simão insistia que queria saber a opinião do autor de Manhã Submersa naquele instante. Perante tanta obstinação, decido ir procurar Vergílio, mas ele despacha-me fechando-me a porta na cara. Fico desesperado. Acordo sem me dar conta que tinha passado por um sonho e, por momentos, fico a olhar o quarto, a realidade que teimava em não me trazer a objectividade da vida. Estou imensamente triste. Digo que não escreverei nem mais uma linha, que prefiro morrer. A súbita depressão da manhã foi tão profunda, que decido bater-me e só então constato que tudo o que acabei de viver não passou de uma aterradora angústia.

         - No retorno aquelas quatro horas enfadonhas na enorme gare quase vazia do aeroporto de Madrid à espera de embarcar para Lisboa!


         - E esta tarde, quando o dia se afundava em sombras, súbito raio de sol descendo alado ao encontro da terra e dos lençóis que tinha a enxugar no jardim. Não os secou, mas deixou-os imaculados de encantamento!