Quarta,
4.
Ontem,
em homenagem a Michel Déon, que faleceu quando me encontrava em Viena, vi pela
enésima vez o filme Un Taxi Mauve adaptado
do romance do interessante autor francês, com interpretação magistral de Peter
Ustinov. Déon, recordo-me, quando o descobri, passei semanas na sala da Rua de
S. Marçal, a devorar uma boa parte da sua diversificada obra: Les Poneys sauvages, Je vous écris d´Italie, Pages grecques, Le balcon de Spetsai, Mes
arches de Noé, e outros mais porque me fascinou a sua forma de ver as ilhas
(Madeira e Açores, inclusive) enquanto lugares mágicos com todo o mistério que lhes
está associado. É um autor saudável, sem rococós literários, seguro do que aborda,
profundo e original na maneira como trata os temas que lhe são caros.
- A noite passada cruzamento de
pesadelos. Explicava eu ao Simão que Vergílio Ferreira me tinha dito que estava
a ler O Rés-do-Chão de Madame Juju. Mas
Simão insistia que queria saber a opinião do autor de Manhã Submersa naquele instante. Perante tanta obstinação, decido
ir procurar Vergílio, mas ele despacha-me fechando-me a porta na cara. Fico
desesperado. Acordo sem me dar conta que tinha passado por um sonho e, por momentos,
fico a olhar o quarto, a realidade que teimava em não me trazer a objectividade
da vida. Estou imensamente triste. Digo que não escreverei nem mais uma linha,
que prefiro morrer. A súbita depressão da manhã foi tão profunda, que decido
bater-me e só então constato que tudo o que acabei de viver não passou de uma aterradora
angústia.
- No retorno aquelas quatro horas
enfadonhas na enorme gare quase vazia do aeroporto de Madrid à espera de
embarcar para Lisboa!
- E esta tarde, quando o dia se
afundava em sombras, súbito raio de sol descendo alado ao encontro da terra e dos
lençóis que tinha a enxugar no jardim. Não os secou, mas deixou-os imaculados de
encantamento!