segunda-feira, janeiro 09, 2017

Segunda, 9.
Acontece que tenho estado sem antena parabólica e, portanto, circunscrito aos canais nacionais. Logo numa altura em que não há insignificante nenhum que não tenha uma palavra a dizer sobre o insigne falecido. Soares deve já ter dado várias voltas no caixão ante tanta indecência que dele se disse e tanto oportunista que em vida o atacou e agora surge nos ecrãs de televisão a desmultiplicar-se em elogios, todos em sintonia, todos utilizando os mesmos adjectivos. Francamente, o espectáculo é revoltante! Ao lado disso, há a realçar a extrema sensibilidade e delicadeza dos seus filhos, que tentam passar por entre as lágrimas de crocodilo dos milhares de admiradores do pai, com a reserva que o momento requer. Por isso, ontem à noite, desmoralizado com o país tristíssimo que somos, zarpei por aqui e por ali, de resto apenas quatro números de emissão. Num deles o esplendor da nossa genuína natureza portuguesa, levantava arraiais e transportava o espectador aos píncaros da excitação e da nobreza das palavras, cantadas por uma rapariga em calções assertoados, mangas à cava, coxas redondas que partiam em todas as direcções, bamboleando-se e contorcendo-se na mais pura cena erótica dos filmes Y, a tal ponto que eu pensei iria saltar do ecrã para vir largar um repenicado chocho neste que se assina:

“Cu cu cu dá cá um bezo,
dá cá um bezo
dá cá dá cá.
Cu cu cu dá cá um bezo
dá cá dá cá...” 


Viva a TVI que nos dá um serviço público de primeira água!