Segunda, 9.
Acontece
que tenho estado sem antena parabólica e, portanto, circunscrito aos canais
nacionais. Logo numa altura em que não há insignificante nenhum que não tenha
uma palavra a dizer sobre o insigne falecido. Soares deve já ter dado várias
voltas no caixão ante tanta indecência que dele se disse e tanto oportunista
que em vida o atacou e agora surge nos ecrãs de televisão a desmultiplicar-se
em elogios, todos em sintonia, todos utilizando os mesmos adjectivos. Francamente,
o espectáculo é revoltante! Ao lado disso, há a realçar a extrema sensibilidade
e delicadeza dos seus filhos, que tentam passar por entre as lágrimas de
crocodilo dos milhares de admiradores do pai, com a reserva que o momento
requer. Por isso, ontem à noite, desmoralizado com o país tristíssimo que
somos, zarpei por aqui e por ali, de resto apenas quatro números de emissão.
Num deles o esplendor da nossa genuína natureza portuguesa, levantava arraiais e
transportava o espectador aos píncaros da excitação e da nobreza das palavras,
cantadas por uma rapariga em calções assertoados, mangas à cava, coxas redondas
que partiam em todas as direcções, bamboleando-se e contorcendo-se na mais pura
cena erótica dos filmes Y, a tal ponto que eu pensei iria saltar do ecrã para
vir largar um repenicado chocho neste que se assina:
“Cu
cu cu dá cá um bezo,
dá
cá um bezo
dá
cá dá cá.
Cu
cu cu dá cá um bezo
dá
cá dá cá...”
Viva
a TVI que nos dá um serviço público de primeira água!