domingo, janeiro 15, 2017

Domingo, 15.
Tenho uma curiosidade não só, digamos, intelectual por conhecer o outro, mas também um fraco solidário de me confrontar com ele. Ontem aceitei, enfim, os sucessivos convites do meu canalizador e fui ao almoço que ele tem por hábito realizar todos os sábados e reúne uns quantos amigos debaixo da estrutura velha de uma antiga adega não muito distante daqui. O abrigo é rudimentar, o frio entra por todos os lados, o desconforto da mesa e cadeiras não pede tempo à confraternização. Ao repasto compareceu o “professor” como todos lhe chamam, a amante do proprietário, um agricultor e eu. O ágape foi do mais original que se possa imaginar: frango assado, acompanhado de batata palha comprada no supermercado, salada de alface e tomate a boiar em quantidades de azeite e vinagre, vinho carrascão e à sobremesa bolo inglês adquirido no Continente, queijo dos Açores untado de gordura, café de cafeteira e água-ardente ou bagaço como lhe queiram chamar. Tema de conversa: mulheres. O “professor” não me pareceu conhecer e gostar do género, o outro alargava-se com o anfitrião em considerações de natureza sexual, a mulher ouvia em silêncio, eu disfarçava a presença com um sorriso macaco que ia directo à simpatia do meu artista que na sua simplicidade e natureza anulava o frio glacial, a conversa boçal e o facto de eu não conseguir decifrar nada que de proveito houvesse. No final o “professor” atirou-se, literalmente, às laranjeiras e por pouco não despia uma dos seus maravilhosos frutos. Perdi o meu tempo? Não. Há sempre pequenos sopros humanos, minúsculas batidas do coração que se irmanam numa espécie vida paralela que nos reconforta da aridez e reenvia os instantes purificados pela magia das horas suspensas dos enigmas que não soubemos captar. 

         - Segundo o competente Ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, as fraudes, roubos e artimanhas representam 10% do orçamento da saúde, ou seja 0,5% do PIB. Ora 10 por cento são cerca de 900 milhões de euros! O que não se faria com esta soma! É por estas e por muitas outras ou razões que eu sou adepto de mão dura para os corruptos e ladrões. Com a saúde não se brinca.


         - Quando falta tema à informação, vai lá atrás e traz para encher os jornais, rádios e televisões os pobres dos migrantes. Eles nunca deixaram de estar aonde os levam os seus próprios passos, quer dizer ao mar, à costa, aos barcos-armadilha. Só que nesta altura, com a vaga de frio polar que varre a Europa, eles viram ampliar o seu sofrimento e ficar à mercê do destino, isto é, maior capacidade de adquirirem doenças e morrer de frio, sem pátria nem um ombro amigo.