Domingo, 26.
A
hipocrisia não tem limites. Ontem as televisões e as senhoritas altruístas,
apareceram a convidar os povos da terra inteira para um momento de reflexão,
afirmando que se quiséssemos ficar por cá mais tempo e com boa saúde, tínhamos
de começar por poupar o Planeta. A começar pelo consumo de energia. Logo ouvi o
mandão da eléctrica chinesa, senhor António Mexia, que ganhou o ano passado a
ridícula soma de 1,38 milhões de euros, a cuspir para o lado: “Já estão a
lixar-nos!.” As câmaras, para não serem acusadas de esbanjadoras, desligaram a
iluminação dos monumentos, alguns românticos jantaram à luz das velas, a
ladroagem desceu às ruas mergulhadas no escuro, em muitas casas a marrequinha
ficou a falar sozinha, coitadinha, os restaurantes viraram casas de fado e imaginem
só quem vivendo noutro planeta se esteve nas tintas para o contributo de tanta
gente filantropa - a nossa alegre comadre FIFA e os seus sabujos dirigentes
desportivos. A selecção nacional manteve a partida com a Hungria, indiferente às
questões morais e cívicas que sustentam o alerta. Num só jogo, foram gastos
tantos watts como os necessários para iluminar toda a noite a Baixa lisboeta. O
senhor António Mexia, mexeu-se, feliz, no sofá bordado a ouro da sua sala oval:
o futebol salvou-o de perder 5,5 mil euros! Eu sei que é uma bagatela, mas, bem
vistas as coisas, todas as migalhas contam.
- Esta manhã, sob chuva implacável,
fui ao mercado da Moita comprar duas macieiras, um vazo de coentros, um quilo
de nozes. Um feirante surpreendeu-se por me encontrar ali num dia tenebroso. Respondi
que nada nem ninguém me impede de fazer o que quero nem quando quero e
acrescentei: “O senhor também aqui está, não faltou ao seu trabalho.” O homem
sorriu visivelmente satisfeito pelo reconhecimento e disse: “Se não viesse quem
viria por mim! É assim a nossa vida!” Recolhi o troco e adiantei: “É também a
minha e não me lamento. Cada um deve responder ao seu destino sem hesitações.”
Ele com o sol de súbito desenhado no rosto trigueiro: “Tem toda a razão.”
- Quer-me parecer que a maioria dos “londrinos”
que saíram ontem à rua a enaltecer a União Europeia, são indivíduos que
beneficiam do gozo do Erasmus. De contrário, saberiam que o Reino Unido é uma
das mais velhas democracias do mundo e, como tal, tem em consideração a vontade
do povo genuíno que pelo voto expressou a sua vontade. Eu sei que se aquele resultado
eleitoral tivesse acontecido em Portugal, o governo logo trataria de dar o dito
pelo não dito... Entre nós o povo não tem querer e não conta para nada nas
manobras partidárias.
- A nossa fúnebre UE reunida em Roma,
pretende mostrar o rosto dos domingos e de vésperas eleitorais, ostentando a
florida aliança entre todos os países que a compõem. Os povos estão-se nas
tintas para o patuá e os copos e almoçaradas e visitas ao Papa e passeios
pedestres que ocorrem na Cidade Eterna. Eles sabem que passadas as eleições que
sempre a assustam, esta Europa das finanças voltará a pôr a pata cruel,
arrogante e dominadora no cachaço de cada um de nós. Se Emmanuel Macron ganhar
em França e Schulz na Alemanha, então seremos todos reduzidos à escravidão. Já
disse uma vez e repito: só nos libertaremos da tirania de Bruxelas, com uma
guerra civil.